Crítica: Invocação do Mal 2 (The Conjuring 2)
Invocação do Mal 2 (The Conjuring 2)
Direção : James Wan
Elenco: Vera Farmiga , Patrick Wilson, Madison Wolfe, Frances O’Connor, Simon McBurney e Maria Doyle Kennedy
Com a extenuação dos filmes de terror nos últimos anos fica cada vez mais difícil encontrar uma obra que se sobressaia que não seja pela repercussão do boca a boca nas redes sociais e por ser tema de pegadinhas no programa do Silvio Santos. Porém, mais preocupado em equilibrar o quesito técnico sem apelar constantemente para o terror explícito, esta continuação do filme de 2013 entrega aquilo que os espectadores desejam.
A Jovem Janet (Wolfe) vive com dificuldades com sua mãe e seus outros três irmãos numa velha casa no subúrbio de Londres, mas após uma série de eventos sobrenaturais, o famoso casal Ed (Patrick) e Lorraine Warren (Farmiga) é convocado para analisar se as aparições são verdadeiras ou apenas imaginação infantil, ao mesmo tempo em que Lorraine tem sua fé confrontada pelo próprio demônio em forma de freira. O casal protagonista vivido por Vera Farmiga e Patrick Wilson é um ponto forte que emana credibilidade à obra, que caso fosse entregue a qualquer casal adolescente com certeza seria prejudicial. E com a ajuda da jovem atriz Madison Wolfe como Janet, o filme tem na medida do possível uma base identificável diante do público.
O roteiro do próprio diretor, em conjunto com Chad e Carey Hayes, não é um primor de coerência e sendo o espectador um pouco mais exigente terá problema em se convencer entre um susto e outro. Em certo momento deixamos um pouco de lado (devemos?) o exercício lógico e o bom senso, como por exemplo no fato de Ed Warren pintar um quadro de imenso mau gosto e ainda expô-lo na sala apenas para servir para um previsível susto. Ou pelo fato que, seguidamente, mesmo com os fatos comprovados, haja a necessidade de criar uma dúvida do que realmente aconteceu mesmo sendo o casal experiente no assunto. Confesso, porém, que apesar disso, seria certo preciosismo ignorar que a funcionalidade do filme é alcançada durante vários momentos sem que o desenrolar da história se torne cansativo até o susto seguinte, principalmente ajudado pelo núcleo de atores e, como mencionado anteriormente, pela atenção à parte técnica dada pela direção.
Uma destas preocupações é o fato do diretor James Wan frequentemente tentar tirar o máximo possível com a câmera com planos curtos, plongée e planos sequência ou longos, como vista numa cena envolvendo Janet, quando a câmera deixa em primeiro plano o personagem de Patrick, enquanto ao fundo vamos acompanhando de maneira desfocada a transformação da menina no decorrer da gravação de uma possível possessão. Ou logo na cena inicial em que a câmera sai de um ambiente externo e percorre internamente uma casa para finalizar intimamente nos olhos da personagem de Vera Farmiga.
Todavia, trilha sonora expositiva infelizmente é um dos problemas deste longa ao insistentemente tentar invocar o sentimentalismo ou reforçar o medo, mas que que acaba incomodando pela falta de sutileza. Por vezes a direção exagera na mão ao incluir um ruído mais alto em vez de apostar no clima antecipadamente criado. Ou como, por exemplo, no início do longa a introduzir o clássico London Calling do The Clash, para salientar ao público que o filme se passa em…Londres !
Também devemos lembrar que um dos problemas constantes do filme do gênero atual é o mau uso dos efeitos digitais em excesso que acabam mais atrapalhando do que ajudando dentro da narrativa. Entretanto, mesmo que por alguns momentos se torne expositivos, (como a figura do ‘Homem Torto’) é visível que a direção tenta manter o controle e nem sempre entrega durante muito tempo tal elemento físico, deixando mais para o clímax em si.
Assim dentro das escolhas da direção, o design de produção faz um bom trabalho ao reconstituir o subúrbio de Londres nos anos 70 com fidelidade com uma fotografia cinzenta e aproveitando bem os locais em que ocorrem as cenas. Neste caso chegando a ter mesmo que usar tal reconstituição como alívio cômico, como o fato dos equipamentos eletrônicos se apresentarem tão ‘práticos’ para a época, mas que hoje soam peças de museu (assim como o figurino também tem grande papel na identificação, pois não torna algo chamativo ou caricato devido à época, mas sim natural).
Mesmo com alguns deslizes, este Invocação do Mal 2 é elogiável por possuir certa preocupação com estes aspectos cinematográficos além do padrão vigente. Todavia, é bom salientarmos, que mesmo assim, o longa não consegue se tornar uma obra incomum dentro do gênero de terror. Os sustos estão lá? Sim. Os mesmos elementos influenciados por ‘O Exorcista’? Sim. Então é difícil, diria impossível, que não nos cause a sensação eterna de déjà vu.
Cotação 3/5
Rodrigo Rodrigues
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