Review: Boku Dake ga Inai Machi (ERASED)
No começo do ano passado, a temporada de inverno deixou alguns títulos de grande destaque. Um desses animes lançados um ano atrás foi Boku Dake ga Inai Machi, também conhecido como ERASED. O título em japonês poderia ser traduzido como “a cidade onde só eu não existo”. O anime de 2016 é uma adaptação do mangá de mesmo nome, de autoria de Kei Sanbe, e que foi serializado na revista Young Ace de 2012 a 2016, sendo assim, pertence à demografia seinen, ou seja, voltada para o público masculino de jovens adultos. Ainda assim, tem grande potencial para ser apreciado até por espectadores mais jovens ou do sexo feminino. O anime se encontra atualmente na 54ª posição no MyAnimeList, posição um tanto alta considerado a enorme base de dados do site, e também continua como um dos mais populares.
Apesar do hype na época, só resolvi assisti-lo depois de uma forte recomendação do editor Claudio Balbino. Realmente, eu estaria perdendo uma boa história caso continuasse sem assistir. Só o primeiro episódio foi o suficiente para me manter interessada e finalizar os 11 episódios restantes em apenas dois dias.
Uma habilidade especial e um mistério desenterrado
Temos como protagonista Satoru Fujinuma, que sonha em ser mangaká, mas no momento trabalha como entregador de pizzas. Satoru parece um rapaz relativamente rabugento, com uma personalidade de oyaji apesar de nem ter completado trinta anos de idade, passando a impressão de viver desinteressadamente e de não ter nada de especial. No entanto, Satoru possui um poder único: sempre que uma tragédia está prestes a ocorrer perto dele, o rapaz volta ao passado involuntariamente, retornando o tempo necessário para impedir que a tragédia ocorra. Ele chama essa capacidade de “revival“. Além de ocorrer sem que ele queira, o interessante é que nem sempre é evidente o tipo de tragédia que ele pode impedir, ficando à cargo da sua intuição ou investigação.
É claro que nem sempre há garantia de que ele poderá impedir o que quer que vá acontecer, e pode ser que, ao alterar o curso dos acontecimentos, algo ruim acabe ocorrendo. Vemos isso logo no primeiro episódio, quando ele sai para fazer uma entrega com sua moto e, no meio do percurso, sente que o tempo irá voltar. Ele nunca sabe quanto, geralmente alguns segundos ou vários minutos e, de repente, ele se vê de volta ao passado recente. No caso citado, Satoru acaba voltando alguns segundos no tempo, então ele tenta descobrir qual será a tragédia iminente. Rapidamente, ele descobre que o motorista do caminhão que acaba de passar do seu lado está desacordado, então ele persegue o caminhão para tentar acordá-lo e impedir que ele atropele um garotinho na rua. Felizmente, ele consegue impedir que isso aconteça, mas ele mesmo acaba se envolvendo num acidente, batendo de frente com um carro.
Satoru sobrevive e acorda no hospital algum tempo depois. Quando volta para casa, vê que sua mãe está lá para cuidar dele enquanto ele se recupera. Sua mãe é uma mulher de meia idade que aparenta ser muito mais jovem, uma ex-jornalista de instinto aguçado. O reencontro dos dois acaba trazendo à tona alguns fatos do passado, e Satoru acaba relembrando os estranhos desaparecimentos de alguns de seus coleguinhas de ensino fundamental, entre eles a garota Kayo Hinazuki e seu amigo Hiromi Sugita. Sua mãe parece saber mais do que ele a respeito do caso, suspeitando tratar-se de um sequestrador/assassino em série, e apesar de não revelar tudo imediatamente ao filho, Satoru e sua mãe começam a investigar os desaparecimentos, mas nem tudo acaba como o esperado: sua mãe é assassinada por alguém que invade sua casa depois de dias investigando por conta própria.
Atordoado ao se deparar com a cena do crime, na hora e no local errado, ele é visto por uma vizinha que imagina ser ele o assassino, e a polícia é acionada para capturá-lo como o principal suspeito. Porém, antes que isso aconteça, ele tem um “revival” e volta no tempo: de volta para o ensino fundamental, 18 anos antes. É a primeira vez que ele volta tanto no tempo. Apesar de não saber exatamente o que pode ser feito, Satoru tem a chance de mudar o passado e, portanto, o futuro.
Visual e trilha sonora
ERASED foi dirigido por Tomohiko Itou, o mesmo diretor de Sword Art Online e da ótima adaptação de Gin no Saji. O anime, que tem uma boa carga de slice of life, drama e mistério, ficou envolvente do começo ao fim, com a qualidade de ser imprevisível em muitos momentos. As cenas foram bem trabalhadas, com uma atenção especial a certos detalhes aparentemente triviais, mas significativos. Para quem já assistiu, um bom exemplo disso é uma cena do episódio 6, em que Satoru comenta que, ao tentar fazer a coisa certa, às vezes acaba piorando a situação. Enquanto comenta isso, um aviãozinho de papel que ele havia arrumado para algumas crianças aparece boiando no rio, simbolizando o que ele acabara de dizer.
A animação é acima da média, e apesar de ter algumas semelhanças com a arte do mangá, é diferente desta, um pouco mais próxima do character design padrão de anime, mas sem perder a singularidade, com consistência e certo detalhamento. As cores são levemente apagadas, e a pouca saturação combina com a atmosfera misteriosa do anime. Além disso, alguns recursos são utilizados nos momentos de narração do próprio protagonista, como as bordas de rolo de filme que aparecem quando Satoru esclarece a lógica por trás de suas ações. Sendo assim, o anime esclarece qualquer dúvida que o espectador possa ter quanto às ações tomadas pelo protagonista, nos mantendo sempre cientes do que ocorre. Nem sempre as explicações são necessárias, mas para aqueles que costumam se perder com histórias de mistério, é um recurso que facilita bastante.
Por fim, a bela trilha sonora produzida pela renomada compositora Yuki Kajiura contribui ainda mais para a imersão na história. Suas músicas seguem o estilo musical de outras OSTs suas, mas adequadas ao clima da história. As composições melancólicas caem bem com o drama do anime, que apesar de não ser exagerado, me fez chorar na maioria dos episódios. Recomendo àqueles que querem um anime curto, envolvente e imprevisível.
Karina Moreira
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