Crítica: Terra Selvagem (Wind River)
Terra Selvagem (Wind River)
Direção: Taylor Sheridan
Elenco: Jeremy Renner, Elizabeth Olsen, Graham Greene, Kelsey Asbille, Julia Jones, Tantoo Cardinal e Althea Sam
Na minha crítica de A Qualquer Custo (dirigido por Robert Mackenzie) mencionei que a revitalização de gêneros no cinema é sempre algo corriqueiro não é de hoje; e o faroeste sempre foi visto como um estilo constantemente inserido nos filmes sem exatamente ter os mesmos elementos do imaginário popular. Assim, portanto, não é coincidência que este eficiente Terra Selvagem – também seja escrito por Taylor Sheridan (que inclusive assume a direção)- e transfira seus personagens e seus respectivos conflitos das paisagens desérticas e empoeiradas do estado do Texas para as montanhas geladas de Wyoming (onde, por exemplo, a figura dos cavalos é substituída pela presença de snowmobile).
Personagens estes, inclusive, que não conseguem sair daquele contexto de perdas, injustiças e resignação, tanto que aqui os diálogos são sempre iniciados e pautados naquelas dores e lembranças familiares que raramente trazem algum tipo de alegria – onde a obra ainda serve de denúncia para os desaparecimentos dos nativos sem que as autoridades americanas tomem alguma providência ou sequer tenham alguma estatística confiável daqueles crimes cometidos. E mesmo que não se apresente tão complexa narrativamente em comparação ao filme dirigido por Mackenzie, Sheridan ainda demonstra dentro de sua visão, um respeito por aqueles personagens e seus dramas.
Depois de encontrar um corpo de uma jovem nativa com marcas de violência sexual durante uma caçada de rotina, o policial Cory Lambert (Renner) investigará o crime com a ajuda da agente federal Jane (Olsen) e do chefe da policia indígena Ben (Greene). Contudo, Cory tentará desvendar tal mistério ao mesmo tempo em que tenta lidar com o trauma da perda da filha nas mesma condições dentro de um cenário de personagens igualmente melancólicos que trazem também um peso de vidas destruídas. É eficaz e inteligente, portanto, que o roteiro já apresente o protagonista já inserido neste universo ao apresentar seu relacionamento com a ex-mulher esfacelado desde o início, não somente pela separação em si, mas pelo a perda em comum que eles jamais superarão , cuja única ligação entre eles hoje é o filho de oito anos. E mesmo que ainda tenha sido casado com uma descendente de índios e tenha tido filhos com ela, Cory ainda é visto como um elemento estranho à aquele cenário (inclusive, cabe aqui a discussão do velho problema do homem branco ser visto como o salvador dos índios)
Assim, Cory se mostra um homem prático em seus gestos e ações dentro de seu conhecimento de exímio caçador e rastreador (o que cria uma maior identificação com o local com estivesse eternamente preso ali), mas emanando sempre um tipo de dor e sem grandes motivações para seguir em frente . Isso não significa em autodestruição propriamente dita, até porque seu amor pelo filho mais novo é a sua grande felicidade, mas é evidente que sua perda no passado é visto como um fantasma sempre presente, um elemento de remorso para uma ferida que não se cura e que a resolução do crime talvez sirva como um placebo. E o chefe de polícia, interpretado pelo veteraníssimo Graham Greene, repete contextualmente seu papel de guardião das tradições indígenas, exalando na sua postura e expressão cansada (remetendo ao policial vivido por Jeff Bridges do próprio A Qualquer Custo), mas neste caso um misto de decepção com frustração por ver os jovens descendentes cometerem crimes diante de relacionamentos também destruídos e sem esperança que possam mudar algo. E até mesmo a personagem Jane é inserida de maneira orgânica – mesmo que pouco saibamos suas motivações – por não ser bem aceita pelos locais, e principalmente por ela cair de paraquedas naquele cenário, simbolizando a falta de consideração do governo por aquelas pessoas (algo visto quando Cory chega a reserva e observamos a bandeira americana de cabeça para baixo)
Se mostrando seguro e sem correr riscos durante toda sua projeção, a direção ainda é hábil a conduzir as sequências mais tensas ao apostar no conflito apostando sempre na construção da atmosfera, para quando atingirem seu clímax, estarmos suficientemente envolvidos na cena. Como visto na sequência em que os policiais, que liderados por Jane e Corby, confrontam os seguranças da estação de energia em que trabalhava um dos suspeitos, pois somos compelidos, mesmo suspeitando de algo, temermos pelos personagens. Ademais, a fotografia de Ben Richardson é correta por explorar as paisagens das montanhas e servir como elemento para criar o isolamento usado como cenário servindo para algum como gatilho (injustificável, claro) da selvageria e violência daquela terra em que os selvagens em si não são exatamente os nativos ou os animais das redondezas.
Contudo, o grande problema da obra talvez seja o próprio desfecho da própria sequência e que acaba por desvendar o crime principal, por usar um flashback um pouco abrupto e deslocado pela montagem – assim como a cena do conflito entre policiais e segurança soando inverossímil e pouco convincente . Inclusive poderia soar um anticlímax principalmente depois da obra construir com tanto cuidado toda aquela atmosfera de tensão e mistério para ser resolvida daquela maneira forçada, narrativamente falando. Cena esta, ainda sim, bem construída e tensa pela violência (tanto física quanto psicológica). Todavia, ainda é compreensível da direção tal resolução para que o filme se dedique as conclusões dos arcos dramáticos e a dinâmica dos personagens principais e até mesmo dos secundários que também sofreram com suas perdas. Onde tais resoluções se mostram sinceras e identificáveis, inclusive soando como um respiro depois de tudo que ocorreu para que possam ter, finalmente, um pouco de alento e assim seguirem em frente.
Nota 3/5
Rodrigo Rodrigues
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