Impessoalidade, o preço do progresso

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Identidade 38.991.324-x, Conta corrente nº 0002.0008.0018.00003123-5, Segurança Social nº 990.312.312, passaport YCX 980423, um dos 45% que votou no candidato Fulano. Não sou eu, não é você, são números aleatórios, mas poderia ser. Já reparou o que na verdade somos? Um número, mais um para a estatística, você tem um nome, mas é o seu número do R.G., B.I., I.D. ou passaporte que importa.

Sim, existe uma explicação para isso, facilita a burocracia, e ninguém quer que a burocracia seja mais complicada do que já é, não é isso que está em causa aqui, e sim, a impessoalidade.

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A globalização, a modernidade, o novo século veio trazer coisas fantásticas, computadores superpotentes, Internet super rápida, smartphones, robôs com IA etc, etc, etc. E junto nos trás a impessoalidade.

É talvez o efeito perverso do progresso, talvez o custo que tenhamos que pagar por ter muita coisa facilitada. Tomamos como exemplo as redes sociais, você tem inúmeros seguidores no twitter, mais de 1.000 amigos no Facebook, e quando faz aniversário recebe muitos parabéns, quantos desses amigos você realmente conhece? Quantas dessas pessoas se nesse momento, você perder tudo, ficar sem nada, vão te amparar, te acolher em casa, te ajudar a recomeçar?

É culpa delas? Sim, assim como é culpa minha e sua, é uma culpabilidade que todos temos, essa impessoalidade vem com o comodismo associado ao progresso, é tudo facilitado então não nos damos o trabalho de fazer muito.

Isso me lembra um livro escrito por Asiaac Asimov, Naked Sun, no Brasil editado como Os Robôs, e como na época eu procurava o conto Eu, Robô acabei pegando outro livro, mas que me surpreendeu,  esse livro conta a história de um detetive terráqueo que é convidado a ir em outro planeta para resolver um assassinato, esse crime não acontecia a tantas centenas de anos que a sociedade em questão não sabia como tratar, chegando lá o detetive se confronta com um planeta onde vivem cerca de 10 a 20 mil habitantes, em propriedades gigantescas, e onde o contato físico foi a muito tempo abolido, mesmo as pessoas casadas tem propriedades separadas, se comunicam através de hologramas e telas enormes que ocupam paredes, não saem de suas propriedades pra nada, nada mesmo.

O livro foi escrito em finais de 1950, qualquer semelhança com a realidade não é coincidencia, Asimov era um gênio, e já previa que com uma tecnologia avançadíssima vem também a impessoalidade, a morte das interações sociais como conhecemos e o adentrar as interações sociais da rede, onde um like vale mais que um sorriso ou abraço.

O problema maior gerado é a banalização do ser, em detrimento do ter, é desvalorização da vida, que passa a ser tratada como um número, um mero número, e só nos assusta quando esse número é grande, para efeito de comparação, mais de 100 pessoas por dia foram mortas em conflitos no Iraque em 2014, todos civis, não está nessa conta soldados norte-americanos e milícias locais / terroristas.

Você tem muitos amigos, mas as vezes carece de alguém que realmente te ouça, sem ser através da tela. Você tem medo da morte, mas já nem tem nenhum tipo de emoção quando ouve a contagem de mortos no noticiário.

Seja bem vindo ao Século 21, onde o preço do progresso é alto, e a impessoalidade é uma das parcelas mais caras.

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Sérgio Godoy

Não gosta de mini-biografias, tenta ser roteirista e escritor, faz origamis às vezes, gosta de saber coisas e precisa ler mais, é amante de sci-fi e fantasia, RPGista aposentado momentaneamente, gamer viciado... quando não esta dando rages e reports, posta por aqui.

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