Top 7 bons filmes de ficção não tão conhecidos
Se você gosta de garimpar filmes de ficção científica por aí, esta lista merece ser lida. São 7 sugestões de sci-fi de qualidade e não mainstream (ainda que alguns já sejam até razoavelmente conhecidos justamente por conta dos comentários na Internet). Saia da mesmice, esqueça um pouco as batalhas interestelares e mergulhe nessas obras pouco comuns e muito interessantes:
A Outra Terra (Another Earth – EUA – 2011):
Um drama melancólico com temática de ficção e uma realização surpreendente. Assim é A Outra Terra, de Mike Cahill, que até pode ser considerado lento a partir da sua metade, mas que trata de questões profundas da psiquê humana e da maneira como as pessoas lidam com seus traumas e suas escolhas. Vencedor do “Prêmio Especial do Júri” no renomado Festival de Sundance em 2011, A Outra Terra conta como em determinado dia a humanidade descobre um planeta idêntico ao nosso (uma Terra 2, podemos dizer), que é uma espécie de clone da “nossa” Terra (ou seria o inverso?). No outro planeta existem versões duplicadas de cada ser humano da Terra 1, que viveram uma vida idêntica à nossa até o momento da descoberta (que ocorreu de forma simultânea nos dois planetas). O que aconteceria se um acidente ocorrido na Terra 1 no dia da revelação tivesse um desfecho diferente na Terra 2? Seria uma oportunidade de redenção para alguém cuja vida se transformou drasticamente na Terra 1? Como a (nossa) humanidade lidaria com questões como essa, se de fato isso ocorresse? Uma obra recomendada pela solidez com que aborda essas situações, pelo bom trabalho dos atores e pela direção que nem parece independente, de tão firme, de Cahill.
Coherence (Coherence – EUA/Inglaterra – 2013):
Que tal ter em um mesmo longa elementos de física quântica, relatividade, Além da Imaginação, cordas cósmicas, Arquivo X, O gato de Schrödinger, paradoxos temporais, realidades paralelas e outros temas igualmente blowmind? Pois o resultado – apesar do risco cometido por juntar tamanha abordagem de uma só vez – é muito sólido e resulta num filme crescentemente interessante e perturbador, que junta aos elementos de sci-fi doses cada vez maiores de comportamento humano, relações interpessoais, ego, moralidade, ética e todas as suas consequências e interações. Também vencedor de prêmios como o Fantastic Fest 2013 e o Sitges 2013, Coherence nos apresenta a um grupo de amigos reunidos para um jantar comum, quando a passagem de um cometa pela Terra parece mudar todas as certezas existentes sobre o tempo, a realidade, a física, a alma e outros conceitos que em situações ordinárias nos soam tão firmes e sacramentados. Com um começo um pouco arrastado – mas perfeitamente alinhado com o andamento da narrativa – e uma tensão crescente a partir das primeiras suspeitas de que algo no mundo mudou, o filme embrenha-se por todos os temas citados no início e consegue não se perder nem nos seus círculos narrativos nem na condução da história.
O Universo no Olhar (I Origins – EUA – 2014):
Olha aqui o Mike Cahill de novo… Desta vez ele experimenta ainda mais e nos mostra a história de um cientista que praticamente vive em suas pesquisas que buscam algumas respostas relativas a evolução e genética, quando algumas guinadas em sua vida acabam abalando suas convicções mais fortes e até sua “fé na ciência”, se é que a coisa pode ser assim considerada. A confrontação constante entre ciência e espiritualidade, entre sentimento e racionalidade, pontua a obra do início ao fim e nos brinda com momentos sensacionais, onde a narrativa prepara todo um cenário dando a crer que a direção a ser seguida é a tradicional e esperada – a mais confortável e que certamente agradaria a mais pessoas – mas, inesperadamente, Cahill consegue, sem quebrar o ritmo ou mesmo causar um rompimento entre os atos, mudar o curso da narrativa e seguir por outro caminho, inesperado e muito mais instigante. Os atores dão conta do recado e conseguem trazer verossimilhança na medida correta, nos fazendo acreditar de fato em seus dramas e em seus conflitos. O filme venceu um prêmio especial no Festival de Sundance em 2014, concedido a longa-metragens que abordam ciência e tecnologia.
O Predestinado (Predestination – Austrália – 2014):
O mais mainstream dos filmes da lista, é também o que conta com o maior orçamento e os atores mais consagrados. Talvez por isso seja também o que vai agradar ao maior número de pessoas. O Predestinado é baseado no premiado conto All You Zombies de Robert A. Heinlein, um dos mais conceituados contos de ficção científica. Com atuações soberbas de Ethan Hawke, Sarah Snooke e Noah Taylor, o filme conta uma história de viagem no tempo e seus consequentes paradoxos, com o clássico formato de elipse temporal. Fácil? Muito pelo contrário: a complexidade da narrativa é daquelas poucas vezes vista no “cinemão” tradicional, mesmo o de sci-fi, de modo que a história aparentemente linear do começo se mostra, na verdade, um intrincado quebra-cabeças de idas e vindas do(s) personagem(ns)… e se não sei se o correto é colocar essa afirmação no singular ou no plural é porque por mais que as pontas soltas sejam – aparentemente – fechadas na parte final do longa, ainda assim os irmãos Michael e Peter Spierig conseguiram a proeza de deixar espaço para interpretações dúbias acerca do que, de fato, aconteceu. E com quem aconteceu. E quando aconteceu.
Primer (Primer – EUA – 2004):
O mais cult da lista é também o mais difícil de se assistir. A obra foi filmada com um orçamento pífio e é mais do que independente, é quase amadora. Quase. Shane Carruth virou sinônimo de sci-fi depois desse filme, onde aborda uma questão já bastante debatida nos meios acadêmico e científico, a idéia de que a próxima grande descoberta tecnológica possa sair de uma garagem, de um experimento realizado por “curiosos”, e não por uma grande empresa ou uma corporação de pesquisa. Em Primer, Carruth mostra justamente isso, ao contar a história de dois amigos que acidentalmente criam uma máquina do tempo e decidem usá-la. As consequências de suas viagens temporais são abordadas de uma forma diferente, cujo foco é mostrar o resultado da interação das várias versões dos personagens, após aparentes várias viagens para se corrigir o efeito de uma ação anterior. Mas não se engane, Primer é o filme de viagem no tempo mais complexo e intrincado já feito, de tal modo que existem na Internet diversos diagramas explicando as muitas linhas temporais mostradas no filme e as versões dos personagens que estão em cada uma delas. A obra foi a vencedora do Festival de Sundance de 2004 e só deve ser assistido por quem consegue curtir um filme totalmente fora do padrão convencional e que é um desafio cerebral de alto nível.
Time Lapse (Time Lapse – EUA – 2014):
O diretor Bradley King até podia ter obtido um resultado melhor se não optasse, no final, por algumas saídas fáceis. Mas mesmo assim, Time Lapse não deixa de ser um interessante filme de elipse temporal. Na trama, um casal e um amigo – que moram juntos em um apartamento de um condomínio fechado – descobrem que um dos vizinhos morreu em circunstâncias estranhas. E no apartamento do finado, o trio faz outra descoberta fantástica: uma espécie de máquia fotográfica temporal, que tira fotos do dia seguinte. Isso mesmo, uma máquina que fotografa um local mostrando a cena que nele ocorrerá no dia seguinte! Os três jovens então, de posse dessa incrível descoberta, tentam usá-la para ganhar dinheiro e acabam se enrolando com alguns vigaristas… mas o maior problema nem são as interações com os criminosos, mas sim entre o próprio trio, cujo uso da máquina começa a afetar o relacionamento entre eles, fazendo aflorar sentimentos diferentes e mostrando que em situações excepcionais, o comportamento das pessoas tende a não ser o usual. Vale conferir, mas a expectativa não deve ser a mesma dos outros filmes da lista.
Upstream Color (Upstream Color – EUA – 2014):
Shane Carruth, de Primer, mostra que realmente não é um diretor “normal”. Se em Primer ele desafiou a capacidade de raciocínio e dedução de suas platéias, em Upstream Color ele não teme em abraçar o nonsense e realiza uma obra quase onírica de tão “viajada”, mas que ainda assim consegue ter uma estrutura principal e uma narrativa que faça (algum) sentido. Na verdade, é quase impossível de se classificar o gênero deste filme, mas alguns elementos presentes nos permitem pelo menos dizer que há temática sci-fi no longa, ainda que seja algo mais para o estilo expressionista (!) ou… melhor não tentar explicar. Basicamente, a história é sobre um golpista que droga suas vítimas com uma toxina, digamos, “orgânica”, que as deixa praticamente hipnotizadas e prontas para seguir qualquer ordem dada por quem a ministra. Vemos então o drama da vítima escolhida pelo criminoso e o ciclo que se repete com outras pessoas que também passaram pelo mesmo golpe, incluindo uma via-crúcis para se livrar dos efeitos da droga e suas sequelas que insistem em nublar a vida das vítimas a partir de então. O surreal flerta com a realidade em vários momentos do filme, principalmente nos encontros com o algoz/curador, que não sabemos se são atemporais ou imateriais. Sim, é complicado mesmo. E perturbador.
Ralph Luiz Solera
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muito bacana a lista, ja to procurando esses filmes pra assisitir atiçou minha curiosidade
Excelente lista. Ainda não vi o Upstream, os outros já vi. Ao contrário do comentário abaixo, adorei Primer, vc não percebe todos os detalhes, de fato, mas no geral dá pra sacar o que está aocntecendo sim.
Primer não dá pra entender NADA. Nada. Precisei entrar num site em ingles que explica o que ocorre o filme todo. Sem isso é impossível. Pelo menos pra mim.
Excelente lista, ainda que o Predestinado hj em dia seja bastante conhecido sim. Mas, claro, na época não era. Adorei o Coherence. Upstream Color é doidera, viagem, maluquice pura.
Destes aí só assisti “O Predestinado” e achei simplesmente horrível ;(
nossa eu A-M-E-I o Predestinado, tive que assistir 3 vezes pra satisfazer-me hahahahaha
Só assisti o Coherence e O presdetinado, dois ótimos filmes.
Os outros já deixei na minha lista pra assistir tbm.
Ótimas dicas!
Tirando o Upstream Color, que é muito difícil de ser apreciado, os demais acho que vc vai curtir!!!