Crítica: Jason Bourne
Jason Bourne
Direção: Paul Greengrass
Elenco: Matt Damon, Tommy Lee Jones, Alicia Vikander, Vicent Cassel, Riz Ahmed, Scott Sheperd, Ato Essandoh e Julia Stiles
Depois de uma trilogia iniciada em 2002 e com um errôneo e descartável spin-off em 2012 chamado Legado Bourne, seria capaz este novo Jason Bourne de pelo menos soar relevante dentro de sua história já estabelecida? Bem, depende. Esta pergunta somente poderia ser respondida de maneira positiva se o projeto fosse entregue aos seus verdadeiros ‘donos’.
Mas ainda assim a resposta continua no meio do caminho, admito. A trilogia, que deu novos ares aos filmes de ação – e chegou até mesmo a ser referência para os filmes do 007 – agora, entretanto, parece pegar carona na sua própria fama neste novo capítulo da saga do espião que agora se lembra de tudo (quase tudo, claro).
Isso torna o novo filme do agente desmemoriado num filme ruim? Jamais. Pelo contrário. Este novo filme obviamente é um filme de cartas marcadas, mesmo assim, ainda é um bom exemplo dentro do gênero de ação.
Assim, para honrar o nome da trilogia (não que precisasse), a direção volta para as mãos do diretor Paul Greengrass (responsável pelos dois últimos filmes da trilogia, Supremacia Bourne e Ultimato Bourne) e ao ator Matt Damon no papel que o consagrou, como jamais tivesse saído dele. Provando que a série foi feita para ambos e somente eles poderiam resgatar uma nova aventura de Bourne (claro, até que provem o contrário).
Com seu extraordinário domínio sobre a câmera em movimento, o diretor Paul Greengrass não deixa a sua tradicional narrativa tornar o filme confuso para o espectador como a maioria dos filmes de ação fazem. A diferença visualmente pode parecer mínima, mas depois de algumas sequências de ação, você se pega envolvido na narrativa e aí que se vê a mão de um diretor que sabe o que faz.
As sequências (três grandes, sendo que a última se estende um pouco) são realmente dignas da capacidade de Greengrass e definem a estrutura do longa. Todas são envolventes com os cortes rápidos e movimentação constante da câmera, não somente sobre seu eixo, mas também com travelling, zoom, planos fechados alternando com mais curtos, etc. Tudo isso, repetindo, sem jamais cansar o público, porque Greengrass tem a capacidade, sensibilidade e controle de cada quadro.
O roteiro de Christopher Rouse atualiza rapidamente os fatos da antiga trilogia e estabelece Bourne (Damon) escondido nos guetos da Grécia, recebendo informações de sua antiga aliada Nicky Parsons (Stilles). Informações sobre o passado que Bourne não sabia (sim, mais um fato que ele não sabia, agora envolvendo o pai do agente e a famigerada operação secreta Treadstone, na qual Bourne foi treinado). Assim, com medo de ser desmascarada (mais uma vez), a CIA, sob o comando do diretor Robert Dewey (Jones), com a ajuda da agente Lee (Vikander) vai ao encalço do ex-agente.
Mas mesmo que se torne um filme de ação cujas sequências é que dão corpo ao filme, o roteiro não deixa de soar atualizado com a questão geopolítica atual. O filme insere questões como a crise grega e o fator Snowden que criou um medo que paira sobre aquele que detém e controlam as informações. Controle que cria uma política com empresas donas das redes sociais ao redor do mundo como visto na relação entre o empresário Aaron Kalloor (Ahmed) e o governo.
O elenco de apoio se destaca, assim não apenas criando ‘aliados’, mas como adversários à altura. Tanto Tommy Lee Jones como Alicia Vikander são capazes de gerarem antipatia e dubiedade com seus agentes e Vicent Cassel surge como um antagonista a altura. Todavia, ao incluir sua presença devida aos fatos da história principal, que sozinhos já são pouco coerentes, soa um pouco forçada, mas a intensidade do ator e dinâmica (mesmo dividindo pouco tempo de projeção com Damon) funciona e acarreta certa expectativa com o embate entre os dois.
Jason Bourne usa aquela receita de família que rende vários produtos e todos adoramos. Mas neste caso, estamos cientes que as futuras e possíveis novas obras (vamos falar o bom português? continuações!) somente farão ‘lógica’ se entregues nas mãos cuidadosas de quem sabe o que está fazendo mesmo que soe requentado. Senão desanda de vez.
Cotação 3/5
Rodrigo Rodrigues
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