Crítica: Nahid – Amor e Liberdade
Direção: Ida Panahandeh
Elenco: Sarah Bayat, Milad HosseinPour, Navid Mohammadzadeh, Pouria Rahimi, Pejman Bazeghi
Mais um belo exemplo do cinema Iraniano, o longa Nahid – Amor e Liberdade se junta ao plantel de filmes contemporâneos como uma peça do retrato social do país Islâmico. Mesmo não causando o impacto ou possuindo uma consistência dramática do espetacular A Separação ou do belo Taxi Teerã, o longo de Ida Panahandeh tem também como maior atrativo justamente as rotinas e dilemas enfrentados pelos seus personagens num país ainda visto com surpresa e desconhecimento dentro de suas características religiosas e sociais.
Vivendo com dificuldades financeiras devido a um processo de divórcio, Nahid (Bayat) é uma datilógrafa que ainda enfrenta dificuldades para acompanhar as rotinas do seu filho Amir. Nahid ainda vive um romance com o próspero empresário Masoud (Bazeghi) e entra em conflito para assumir seu relacionamento, pois ainda diante das leias islâmicas é uma mulher casada e não poderia se envolver com outro homem. Neste ponto podemos até contextualizar o longa com um pós A Separação, pois sendo uma mulher no processo de divórcio, o roteiro da própria diretora esmiúça as conseqüências deste atos.
Assim, se aproveitando deste mosaico, a diretora Ida Panahandeh torna seu filme um desafio de julgamento moral constante de sua protagonista diante de seus relacionamentos. Mesmo que por vezes cheguemos a condenar algumas atitudes, jamais devemos deixar de elogiar a obra dentro do contexto humano, passível de erros, alegrias e dificuldades que devemos levar em conta (ratificando que não estou defendendo as atitudes de Nahid), principalmente no terceiro ato quando o roteiro faz um giro de 180° – e particularmente neste caso, reprovo a conduta da personagem.
Os fatos em sua maioria jamais se mostram a favor da protagonista. Com sua dificuldade financeira e uma displicência com relação ao filho, que fica entregue às tentações, perigos das ruas e principalmente à personalidade do pai (com quem disputa a guarda), seria fácil criar uma antipatia com a personagem.
São situações como deixar de pagar o aluguel em detrimento à compra de um móvel para a casa, por não conseguir economizar dinheiro que amenizaria suas condições ou não aceitar uma gorjeta que vão sendo implantados para construir o panorama de Nahid junto ao público.
Assim quando vemos Nahid usando o fato do casamento ser visto aos olhos ocidentais como um trabalho remunerado, que a protagonista dá todos os ingredientes definitivos para o julgamento (lembrando que no divórcio a mulher perde a guarda dos filhos caso cometa alguma indisciplina). Mas obviamente a questão não é exatamente centrada na questão financeira. Claro que as motivações estão girando em torno disso, mas neste momento que a diretora Ida Panahandeh – dentro de uma tendência feminista e humana – usa as próprias condições e características do país para incrementar e pontuar a história que se torna o diferencial de um drama qualquer.
Para enfatizar este mundo de conflitos, a fotografia de Morteza Gheidi ressalta as paisagens litorâneas e acinzentadas, fugindo um pouco do tradicional centro tumultuado de Teerã, onde as areias iranianas são usadas como um divã dos dramas e conflitos pessoais que têm Nahid como figura canalizadora e as metáforas religiosas (não necessariamente islâmicas), como na bela cena em que Nahid carrega Amir no colo após seu desaparecimento.
Nahid – Amor e Liberdade não precisa de grande reviravoltas ou dramas extremos para atrair o público, mas apenas conflitos ‘comuns’ com pessoas comuns, independente do país de origem. Sentimentos já são belos os suficientes para se analisar.
Cotação 3/5
Rodrigo Rodrigues
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