Crítica: Um Dia Perfeito (A Perfect Day) – Netflix
Um dia perfeito (A Perfect Day)
Direção: Fernando Leon de Aranoa
Elenco: Benicio Del Toro, Tim Robbin, Melaine Thierry, Olga Kurylenko, Fedja Stukan, Sergi Lopez e Eldar Residovic.
- Crítica publicada anteriormente no Maxiverso em 28/07/2016
Possuindo um contexto maior que possa aparentar nas motivações de seus personagens e da trama em si, Um dia perfeito se mostra um Road Movie ambientado na península dos Bálcãs durante a guerra no inicio dos anos 90, sem precisar exatamente o local. Onde, apesar de focar nas rotinas e relacionamentos dos estrangeiros da ajuda humanitária que trabalham em conjunto com a ONU, é mesmo o povo local, seus conflitos e coragem que são as forças do filme.
Quando a equipe liderada por Mambrú (Del Toro) e composta também por B (Robins), o intérprete Damir (Stukan) e Sophie (Thierry) precisam ajudar um pequeno vilarejo a retirar um corpo do único poço com água potável da região, o agentes enfrentam a burocracia e percalços para completar a tarefa de localizar uma simples corda para poder laçar o cadáver. A partir daí o grupo acrescido da personagem Katya (Kurylenko) uma ex- namorada de Mambrú e do jovem Nikola (Residovic), partem numa jornada inusitada de conhecimentos sobre vidas modificadas pelos horrores da guerra e as conseqüências em seus próprios relacionamentos.
Pessoas que precisam manter suas convicções e esperanças mesmo diante de um cenário de desesperanças. Assim, quando num determinado momento, um soldado num avançado posto de observação nega ajuda a equipe de Mambrú por um motivo que poderia soar banal, percebemos a representatividade e a mensagem atrás do gesto do indivíduo.
Lendo assim dá a entender que o roteiro do próprio diretor Fernando Leon de Aranoa soe como um drama de guerra com uma motivação rasa para desenvolver a história (de certa maneira não é incorreto afirmar isso), mas o diretor conduz com competência equilibrando a narrativa com humor eficiente e fugaz. Onde apesar das aparências não existe um vilão visível, mas apenas uma lacuna de esperança de um povo em reconstrução e em alguns casos longe de sua terra natal. Isso é mais que suficiente para chamar a atenção.
Com sua narrativa, a direção ainda é capaz de extrair momentos de tensão, medo e insegurança que chegamos mesmo a temer pelo destino dos personagens principais no meio destas situações inusitadas. Como podemos comprovar na cena em que o comboio é interpelado por militares que fazem moradores de reféns ou quando, numa bela sequencia , Mambrú percorre uma casa destruída e a cena termina de maneira tensa apenas ao insinuar discretamente que ali aconteceu uma tragédia correlacionada a um dos personagens.
Para tais cenas funcionarem, fora todo o conjunto da direção segura de Aranoa, a presença de Del Toro é um fator primordial. O ator, como de costume, transmite carisma e segurança natural. O ator transforma seu Mambrú num homem que por mais profissionalismo e responsável pela segurança de todos é suscetível ao drama alheio depois de tanto tempo convivendo naquele cenário. Todavia, que mesmo fazendo o possível para ajudar aquelas pessoas, sempre será um corpo estranho.
A fotografia sempre quente usa as vastas montanhas e paisagens em geral com seus desfiladeiros como homenagem ao povo dos Bálcãs e as peculiaridades e tradições de seu povo. Assim, quando em seus últimos momentos, a direção insere os rostos de vários daqueles personagens que participaram da jornada, soa como homenagem e reafirmam suas histórias (vale notar também a direção na maioria das vezes, ao focalizar o poço de dentro para fora, coloca o público no ponto de vista daqueles indivíduos necessitando de ajuda).
A trilha sonora também é um dos destaques e ajudam a pontuar todo aquele cenário melancólico com certa ironia, com destaque para Where Have All the Flowers Gone interpretada por Marlene Dietrich. Assim, no contra ponto e para ‘equilibrar’ com o visual do filme, a direção não oculta as cidades destruídas pela guerra, lugares quase inabitáveis, ao som de Sweet Dreams na versão de Marylin Mason.
O filme também abre espaço de maneira orgânica e delicada para uma rápida mensagem desarmamentista. Não somente pelo fato de não haver uma seqüência de perseguição ou tiroteios sequer, mas como o fato dos veículos de apoio estarem adesivados com um símbolo não armamentista que ficam em evidência principalmente quando na presença do jovem Nikola.
Assim Um dia perfeito é sensível e agradável surpresa. Um longa que deve ser apreciado com calma pelo público, mas sem desleixo com a causa de um povo que , mesmo com toda a herança de guerra, não perderam a sua dignidade.
Cotação 4/5
Rodrigo Rodrigues
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discordo… a direção perde a mão e o filme pende pro melodramatico…
muito interessante… engraçado que nunca tinha ouvido falar desse filme
que filme! que elenco! que bela critica hahaha parabens adorei sua visao de cinema!