Crítica: O Contador (The Accountant)
Direção: Gavin O’Connor
Elenco: Ben Affleck , Anna Kendrick , J.K. Simmons , Jon Bernthal, Cynthia Addai-Robinson , John Lithgow , Jean Smart , Alison Wright , Robert C. Treveiler , Jeffrey Tambor
Imagine que houvesse um universo paralelo e que neste lugar Bruce Wayne fosse um personagem influenciado por Dustin Hoffman em Rain Man e Russel Crowe de Uma mente brilhante com o treinamento militar e de artes marciais do Jason Bourne. Tudo isso acrescido, como pano de fundo , um enredo com doses típicas de novelas mexicanas. Imaginou?
Christian Wolff é um menino autista que, depois do abandono materno e vivendo num ambiente familiar instável por conta do pai militar que cria os filhos para uma guerra, não obtém o tratamento correto para seus sintomas. Assim ao se tornar adulto (Affleck) se torna um homem antissocial, mas com incrível conhecimento em defesa pessoal, armamentos e, aproveitado seu poder (o termo é este) com números, ele se torna também contador de grandes fortunas de origens criminosas.
Mas ao ser contratado para uma auditoria contábil por uma empresa de Robótica, ele se envolve numa trama onde é caçado pela polícia que não sabem exatamente quem seja o tal contador do crime, apesar de possuir inúmeras fotos de Christian que não faz questão nenhuma de se esconder ao trabalhar como contador para pessoas comuns. Perseguição esta liderada pela policial Medina (Robinson) que, depois de anos no departamento, tem seu passado de crime revelados coincidentemente apenas para causar certo impacto dramático e forçá-la a participar da força tarefa.
Confuso? Pois é. O roteiro de Bill Dubuque (do fraco O Juiz) é tão desastroso em desenvolver sua história que em determinado momento o espectador não sabe exatamente do que a trama se trata ou que caminho poderá tomar (não foi elogio), principalmente pela tentativa de desviar a atenção do público em quem estaria por trás de tudo aquilo. Para piorar, o roteirista introduz um drama familiar (a tal pitada de novela mexicana) que acaba quebrando qualquer desenvolvimento anterior, apenas para tentar engrandecer o arco dramático do personagem de Ben Affleck.
Soa tão descarado a construção do protagonista que eu acho que estou sendo perverso demais e mesmo que a direção de Gavin O’Connor tente salvar com algumas boas sequencias de ação, fiquei sempre com a sensação que alguém ia perguntar para Ben Affleck “Who are you? e prontamente ele responderia “I’m Batman ou I’m Accountant” (lembrando, claro, que o ator em nenhum momento consegue tirar a aquela expressão petrificada do rosto que até acho que ele entrou em acordo com a produção para poder treinar mais a personalidade do Homem Morcego para futuros filmes do Vigilante)
Acham que estou exagerando? Vamos lá!
Christian Wolff é excêntrico? Sim. Possui grande quantia de dinheiro e tem um lugar de refúgio onde sua psique se altera? Sim. Ele é visto como criminoso por parte das autoridades, mas tem ajuda de um policial experiente em cargo de chefia? Sim. Tem um “vilão” que se chama Solomon Grundy? Sim. Tem suporte tecnológico de aliados que estão fisicamente incapacitados? Sim. Tem treinamento em artes marciais num exótico país asiático? Sim. Sua motivação é baseada na vingança? Sim. Isso sem contar que, dentro de tantas riquezas no seu refúgio, ele possui um exemplar da primeira HQ do Superman (uma ironia poética?).
Mas não ficaria somente nisso, pois o restante do elenco é incrivelmente pasteurizado e sem conteúdo, com exceção de J. K. Simmons como comissário Gordon, ops, como Ray King, que mesmo com diálogos expositivos, consegue dar um pouco de credibilidade dramática a história. Entretanto, Anna Kendrick somente aparece em cena para ser salva pelo paladino num momento de perigo e Jon Bernthal se especializando em papeis de psicóticos fica apenas fazendo caras e bocas com seu topete para lá de amedrontador. Temos também o personagem de John Lithgow , que mesmo no meio de um intenso tiroteio fica questionando o que esta acontecendo, tem seu arco moral confuso onde suas ações acabam que por ser um ato cíclico da trama a ponto do próprio personagem parecer adivinhar o que passa na cabeça do público ao perguntar por que tomou certas decisões que começaram tudo aquilo.
Contudo, a direção de Gavin O’Connor por breves momentos ainda consegue envolver o público com sequências de ações elaboradas e mais cruas (como visto em Jason Bourne) não apelando para cortes rápidos, apesar de que esta narrativa seja adotada em seu clímax. No restante não apresenta nada de novo, inclusive temos até os velhos clichês como um personagem descobrindo os segredos de alguém através de uma pesquisa pela internet somente para a câmera focar em seu rosto com a expressão de “Oh My God“.Ou revelações de um imporante personagens que passava o tempo toda a margem dos fatos, mas que no fundo sabia de tudo.
O design de produção, mesmo servindo a propósito frágil do protagonista, não se pode dizer que não cumpriu seu papel quando exigido. Assim quando vemos o apartamento de Wolff, estamos diante de um homem sistemático, vivendo numa local sem cor e com poucas recordações visíveis, onde vemos o personagem sendo focado atrás de uma abertura na parede para enfatizar seu modo de viver metódico e “quadrado”. Mas ao adentramos seu mundo secreto, as cores e a decoração do trailer é um contra ponto do ambiente anterior, onde sua verdadeira personalidade se destaca.
Para ver que a direção não estava preocupada com nenhuma retórica ou com bom senso, o longa aposta em soluções rocambolesca, amarra as “pontas soltas” com moralismo e apostando na capacidade do espectador não levar sério o que acabou de ver. Bem, resumidamente este O Contador se torna uma obra tão risível por não se preocupar com seus absurdos e falta de originalidade, que chega ao ponto de sabotar qualquer qualidade possa ter, me atrevendo a dizer que o filme chega a “divertir”.
Nota 2/5
Rodrigo Rodrigues
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caramba destruiu o filme kkkkkkkkkkkkkkkk acho que nem vou assistir
Laiz,
Obrigado pelo comentário.
Veja o filme sim, se puder.
A crítica é feita pela opiniões diferentes. A pessoa que escreve críticas jamais deve dizer se a pessoa deve ver ou não um filme.
Pois na maioria dos casos, o que eu vi no filme, para você pode ter um sentido completamente diferente por várias influencias (pessoais , profissionais e obviamente cinematográficas) e até mesmo tenha algo que tenha chamado mais atenção que para mim passou despercebido.
Esta sua opinião que vai engrandecer a discussão…
Abraços e espero que continue a acompanhar os textos.