Crítica: 13 Minutos (Elser)
Direção: Oliver Hirschbiegel
Elenco: Christian Friedel , Burghart Klaubner , Katharina Schüttler , Johann von Bülow , David Zimmerschied e Felix Eitner.
Apostando exclusivamente no desenvolvimento das motivações do protagonista e todo contexto histórico, 13 minutos é inteligente em não ficar preso demasiadamente no mecanismo do atentado direcionado a Hitler antes mesmo da 2° Guerra Mundial começar. Pois, como todos nós sabemos, o plano não foi bem sucedido e trabalhar tal conceito – um desfecho sem surpresas – não seria uma das tarefas mais fáceis, mesmo tendo bons exemplos neste quesito como Operação Valquíria de Brian Singer.
A sensação de “frustração” inicial ao constatar que o filme não focaria exatamente do ato em si, mas sim o que nos trouxe até ali (e sua consequências) e logo dissipada quando o diretor Oliver Hirschbiegel (do excelente e inesquecível As ultimas horas de Hitler) vai apresentando todo o cenário político, social e pessoal visto pelos olhos do Georg Elser
Georg Elser (Friedel) é um jovem musico do interior da Alemanha que testemunha a crescente onda do fascismo nazista que aos poucos vai dominando os costumes e pensamentos da população. Sem uma posição ideológica assumida, avesso a violência que não seja em ultimo caso ou qualquer filiação com partido comunista, Elser decide levar a cabo uma plano para tentar por fim a ameaça que surgia. Entre suas convicções e planos Elser vive um romance com uma Elsa (Schüttler) , uma mulher casada que sofre violência domestica, e assim vamos acompanhado suas motivações e todo o sofrimento quando capturado pela Gestapo, ele sofria as mais brutais praticas de tortura para confessar quem estaria por trás do atentado.
(Algo que os nazistas insistiam por acharem que tudo é uma conspiração comunista e assim desejam uma confissão dele. Ratificando que Elser jamais se diz associado a qualquer partido, mas como todo regime fascista, defender o proletariado é ser comunista, como visto na cena em que a população comemora a vitoria do partido nazista do o partido KPD)
A direção de Hirschbiegel é elogiável tanto por equilibrar as contexto histórico e o pessoal quanto na sua narrativa em si, onde não podemos deixar de comentar alguns cortes e montagens planejadas de maneira interessante e fluida, como por exemplo, na cena em que o protagonista confronta um personagem (e aguardamos a reação física deste) para somente na cena seguinte, com Elser já sendo interrogado, a tal reação física em completada . Assim também, no único momento que usa um Fade-out (tela escurecendo e depois surge outra cena) é justamente para mostrar o nazismo já estabelecido na cidade natal de Elser e conseqüentemente no país inteiro.
O longa é mais ainda eficaz ao demonstrar todo crescimento do nazismo dentro da Alemanha, mas não exatamente explicitando Hitler com discurso inflamado (na única vez que isso acontece ele é visto na maior parte de longe ou de costas) ou inúmeras tropas marchando, mas sim nos detalhes do cotidiano – que acaba sendo o mais perigoso e como sempre acontece nestes casos. Assim temos situações como um “Bom dia” sendo substituído por “Heil Hitler”, cartazes de propaganda nazista sendo colados nas paredes da cidade que acabam culminando em xingamentos, inclusive feitos por crianças a padres ou qualquer pessoa que seja contra o regime nazista. Assim, claro, como humilhações públicas de judeus nas fábricas numa espécie de embrião dos campos de concentração.
Duas cenas particularmente são emblemáticas (não que as outras não sejam), e que me chamaram muita atenção, foram as ocorridas dentro de um cinema improvisado na pequena cidade. Mesmo parecendo esteticamente iguais, a diferença no que é exibido na tela é fundamental para retratar como um detalhe pode resumir todo um contexto.
Se na primeira temos um filme de uma tradicional festa, onde os interlocutores fazem discurso inflamado da extrema direita que usam as necessidades do povo para alcançarem o poder e jogar posteriormente a população na guerra, é revelador e chocantemente triste que já segunda exibição, as comemorações são substituídas por propaganda do poderia bélico nazista. Tudo isso ao olhar incrédulo de Elser como tentasse nos dizer a não cometermos o mesmo erro daquelas pessoas que estão ali aplaudindo uma ideologia que esta usando apenas a raiva e inconformismo para instalar o fascismo e fazê-lo permissível.
Terminado de maneira melancólica que remete um pouco ao “O Pianista” de Polanski , o longa finaliza a epopeia de um homem marcado por sofrimento pelo que se transformou seu país e principalmente pelo peso de que a historia esteve a poucos 13 minutos de ser alterada. Em um mundo onde o fascismo cada vez mais expõe sua face, filmes como 13 minutos se tornam relevantes e primordiais e que sejam compreendido e assimilados sempre.
Cotação 4/5
Rodrigo Rodrigues
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