Crítica: O Apartamento
Direção: Asghar Farhadi
Elenco: Shahab Hosseini, Taraneh Alidoosti, Babak Karimi e Mina Sadati
Cotação 3/5
Depois dos excelentes Procurando Elly, A Separação e O Passado, o diretor Asghar Farhadi continua, neste O Apartamento, trazendo os dilemas e conflitos de pessoas comuns dentro da sociedade iraniana, sempre com grande poder de identificação e usando uma delicada narrativa. Sem nunca deixa de usar as próprias particularidades da cultura do país Islâmico, o que acaba sendo um ingrediente a parte.
Emad (Hosseini) e Rana (Alidoosti) formam um casal de atores, que após um problema estrutural no prédio que moram, vão aos poucos tendo suas vidas transformadas depois que a esposa sofre uma agressão no apartamento que foram morar provisoriamente e que pertencia a uma misteriosa mulher. Tanto Hosseini quanto Alidoosti são competentes ao construir um relacionamento que vai sendo atingindo pelo medo, temor e conflitos que acabam influenciando um ao outro, tornando a convivência cada vez mais instável – tanto pessoal quanto profissional. Como por exemplo, numa determinada cena em que Rana se assusta com a porta abrindo, para em seguida, devido esta simbiose, o próprio marido se assustar quando é chamado como fosse cooptado pelo clima instaurado. Ou podemos mensurar o relacionamento até mesmo através do design de produção que transforma o segundo apartamento , apesar que espaçoso, em algo antigo e precisando de um reforma criando a metáfora para o estado do casal. A boa narrativa de Farhadi é imediatamente notada logo nos primeiros minutos do longa, com movimentos e enquadramentos dos personagens criando um interessante mosaico nas escadarias do prédio quando os moradores deixam as pressas seus lares. Assim como a direção aposta nos pequenos detalhes, como de um vidro rachando, que acaba se tornando um delicado e eficaz elemento de tensão. Tal lógica é usada outras vezes durante o longa servindo cada vez mais na imersão do espectador sempre a espreita, como podemos comprovar na sequência do interfone tocando e porta sendo deixada aberta por Rana sugerindo que algo poderá acontecer.
Quanto ao ingrediente religioso e opressor, é interessante ratificar que tal conceito é algo sempre presente no contexto do filme (e nos trabalhos de Farhadi obviamente), mas não somente para contextualizar o cenário da história, mas também como um agente catalisador das reações dos personagens . Como podemos comprovar pelo fato do casal representar A Morte do Caixeiro Viajante e a peça sofrer com a censura , quando o diretor informa que partes da obra contém elementos contrários aos códigos morais do islã. Assim como o fato de Rana se negar a expor o fato da agressão sofrida a policia, justamente por medo a associarem de algum modo ao comportamento da antiga moradora. E neste ponto a direção economiza – mas não a tornando ineficaz – ao trazer poucas informações sobre a mulher, além de um vestido curto jogado no armário (o que infelizmente numa sociedade misógina é algo promiscuo ), e pela presença de desenhos nas paredes que denunciam uma presença infantil – o que traz no mínimo um momento de reflexão para analisarmos a persona oculta da inquilina (mesmo sendo promíscua, seria mesmo esta a intenção ou uma mulher em busca de uma vida nova?).
Se mantendo crescente em seu desenvolvimento dos conflitos, vamos acompanhando o desfecho para o casal que antes se mostrava tão ligado, mas devido a um fator externo e praticamente ocasional fazem com que suas vidas estão a ponto de mudarem para sempre. Um comportamento que parece ficar num purgatório moral quando nos aproximamos do seu clímax, quando Emad confronta a verdade com um misto de revolta e sentimento de negação. Revolta por não atender exatamente aquilo que o instintos anseiam – violência e honra – e incrédulo por ser obrigado a encarar a situação sem nenhuma reação diferente que não seja aceitar os fatos , tornando-se a única opção contra qualquer humilhação como forma de vingança.
Rodrigo Rodrigues
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