Crítica: 13ª Emenda
13ª Emenda
Direção: Ava Duvernay
“Não haverá, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito a sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados, salvo como punição de um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado”.
“De cada quatro presos no mundo, um está preso nos EUA”.
“Os negros representam 12 % da população americana e 40% dos presos”.
“Quem tem antecedente criminal, jamais poderá votar”.
Com os dados acima, não fica difícil para o espectador deduzir e pensar sobre a questão racial e social cujas conseqüências se propagam até os dias de hoje, onde tal ideologia é copiada por determinados países que investem mais em presídios que escolas. Dirigido por Ava Duvernay, 13ª Emenda é um dos favoritos ao Oscar de melhor documentário ao fazer uma contundente análise correlacionando a tal emenda como estopim de todo o problema racial americano, como o fato do aumento da população carcerária americana de 300 mil na década de 70 para atuais dois milhões e meio (a maior do mundo).
Diante de tantos fatos do documentário, é impossível não se revoltar com toda lógica de uma elite que usa todas as ferramentas sociais e políticas para manter seu controle diante de minorias e seu poder. Por exemplo, logo após a abolição, se um negro fosse visto andando nas ruas ele era condenado (num julgamento praticamente protocolar) no crime de “vagabundagem”. Ou seja, uma brecha criada pela emenda permitiu que os senhores de escravos e detentores do poder pudessem manter seus privilégios diante de parte da população que, de um dia para o outro, não tinha para onde ir e acabou sendo vítima da lei que foi criada para sua própria liberdade, ocasionando uma nova escravidão (assim como no Brasil).
Mas este é apenas o ponto de partida deste documentário essencial para se entender as entrelinhas deste processo que perpetua até hoje (as imagens de uma convenção do partido republicano não deixam mentir, de tão assustadoras), inclusive com apoio da mídia e jornais do passado, por exemplo, que demonizam os negros como precursores da violência (algo que o filme O Nascimento de uma Nação de Griffith ratificou na cultura popular da época). Mas a direção de Duvernay não deixa nada sem explicação, indo além e sempre deixando o espectador estupefato de como nossa sociedade chegou (ou se manteve) a este ponto. Como tão bem disse um dos entrevistados, ao responder às pessoas que se revoltam com tantos absurdos do passado mas que se fecham para os dias atuais: “Isso ainda acontece…, e estamos permitindo”.
Muito deste contexto é atualizado para os dias atuais, como o fato das empresas privadas no controle das prisões americanas apoiadas por políticos (lembrando, vagamente, um determinado país que acha que a privatização é o caminho para o fim da violência nos presídios). E o mais grave, tal processo não é apenas usado como moeda de troca para manter um sistema financeiro que usa vidas humanas, mas conseqüentemente um controle de minorias que sempre são vistas como “vitimistas” sem que nos perguntemos o que aconteceu para que chegassem a aquela situação. Assim quando reagem às autoridades policiais, por exemplo, muitos sequer param para raciocinar sobre todo o contexto histórico, social e racial.
Como diria o escritor alemão Bertolt Brecht: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem”. Portanto, 13ª Emenda é fundamental para entendermos como certas tragédias sociais se mantêm em voga com todo consentimento histórico por parte da população construída simplesmente à base do ódio e da ignorância contra outros seres humanos.
Cotação 5/5
Rodrigo Rodrigues
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bela crítica… filmaço, recomendo!
Andressa,
Bem vinda e obrigado pelo comentário.
Realmente ninguém fica indiferente ao documentário.
Abraço