Crítica: Antes que Eu Vá (Before I Fall)
Antes que Eu Vá (Before I Fall)
Diretor: Ry Russo-Young
Elenco: Zoey Deutch, Halston Sage, Cynthy Wu , Logan Miller, Erica Tremblay, Medalion Rahimi, Liv Hewson e Elena Kampouris
Um dos meus maiores descontentamentos com filmes tipo Antes que eu vá não é obviamente sua temática adolescente baseada em romances publicados para consequentemente se transformarem em longas metragens. Quanto mais os jovens se verem representados nas telas com seus conflitos, melhor – até porque também fui um. O problema é fato de tratarem tais elementos inerentes aquele universo – suas dúvidas, medos e dilemas fundamentais na transformação como adultos – como algo estereotipado, unidimensional sem qualquer identificação e por vezes melodramáticos. Até porque existem muitas outras obras que, fugindo deste padrão, se apresentam relevantes ao expor o contexto adolescente de maneira sensível tanto tematicamente quanto narrativamente; como Clube dos Cinco, As Vantagens de ser Invisível e Para Sempre na Memória. Obras tão diferentemente delicadas em seus tons e abordagens, mas que jamais tratam os envolvidos (e público) de maneira infantil e desrespeitosa e que acaba servindo como um reflexo independente da idade do espectador.
Assim voltamos a este Antes que eu vá, roteirizado por Maria Maggenti e Lauren Oliver baseado na obra homônima desta segunda cujo resultado não consegue desenvolver de maneira adulta (ou menos infantil) os dilemas de suas personagens totalmente sem identificação. Não me recordo de um diálogo ou momento sem que a discussão de tais elementos dos personagens que não abuse do melodrama e sentimentalismo forçado (isso quando o faz). Ou o fato de por várias vezes, os conflitos serem encaixados sem qualquer sutileza narrativa, com num determinado momento, antes de chegar à festa, a protagonista simplesmente (quebrando o fluxo fílmico) pára a cena e pergunta – do nada- sobre o relacionamento conjugal dos pais da amiga.
Zoey (Kingston) é um jovem da classe média alta americana como qualquer outra e vive seus dilemas com suas amigas de escola. Mas inexplicavelmente a garota acaba revivendo o dia dos namorados repetidamente (onde perderia sua virgindade na tal festa), abrindo margem para corrigir a maneira de repensar sua vida, seus amores e atos mediantes aos amigos e família. Não que o filme não tente discutir assuntos pertinentes a adolescência como a primeira vez, festas, bullying etc.; mas tudo é tão mal-ajambrado e apresentado superficialmente chato que acaba diluindo o pouco do interesse que poder haver. Não há um conflito válido ou algo (independente do espectador seja um adulto que passou por situações parecidas ou um jovem que ainda esteja passando) que possamos sentir e importar com aquelas jovens e o meio que as cercam. Onde todos os esforços resultam numa obra narrativamente pobre e perdendo a oportunidade (como muitas obras adolescentes atuais baseadas em romances) de fazerem um exame minucioso de temas importantes mesmo usando um contexto não tão original (no caso o personagem reviver o mesmo dia que rendeu obras tão distintas como Feitiço do Tempo, Efeito Borboleta, ARQ…).
Assim, para preencher este cenário, temos a “virgem”, a “bitch” (cuja primeira relação foi bêbada), as “submissas” que seguem as ordens da mais popular, o nerd bonzinho, o “babaca” (como seu “olhar demoníaco”, mas com a aparência de um moleque de 11 anos); personagens com seus gestuais exagerados e caricaturais, como visto na personagem Lindsay (Sage) elevando o máximo as expressões tipo “boca no canudo com um batom bem vermelho”. E para completar o panorama já nada interessante, temos de maneira exageradamente cômica a “esquisita” do colégio que anda com roupas largas, cabeça baixa, longos cabelos desgrenhados e que gosta beber suco vermelho (seria ela também uma vampira?). Interpretada pela atriz Elena Kampouris, a personagem Juliet Sykes é tida como um “Carrie”, uma psicopata, tanto que para tal, no único momento do filme em que a fotografia tenta dizer algo, é através do vermelho que toma conta da cena da festa, cuja presença de Juliet serve apenas para atender uma das várias convenções do roteiro para forçar o conflito e dramas entre os personagens. Porém, ainda há um único momento de lucidez no filme que é a cena entre a protagonista e outra jovem conversando dentro do banheiro sobre aquela fase se apresentar temporária, sobre a sexualidade e de como são vítimas de convenções covardes.
Contudo, se a construção da própria protagonista já não era algo que possamos ter como interessante, mesmo que a atriz Zoey Deutch seja até carismática e demonstre certa segurança, o cenário chega ao inacreditável quando o longa em determinado momento tentar criar um mudança de personalidade da jovem; obviamente sem naturalidade, sem um motivo aparente ou sequer algo que justificasse suas atitudes que acaba soando risível, patético e desatinado. Outro exemplo dessa narrativa expositiva vem da trilha sonora atravessando várias vezes no meio do filme de maneira abrupta como tentasse atrair o público por algo que não consegue fazer com a história em si. Fora que visualmente, repetindo, a direção não consegue emular nada dentro de sua narrativa que você possa lembra depois, nada! A menos claro que sejam narrativas elogiáveis as amigas juntas andando lado a lado em direção a câmera e metáfora psicológica nada sutil como o fato da personagem correr por uma floresta escura (câmera lenta, diga-se de passagem) como cenário para o “clímax”.
Pelo menos, o diretor evita ficar contando os mesmo acontecimentos de maneira exagerada correndo o risco de causar certa sensação de cansaço no público (algo quase inevitável ao tipo de história), mas infelizmente reviver aqueles fatos através daqueles jovens pelo menos uma segunda vez, já é suficientemente capaz de tornar tudo insuportável. Claro, a menos que você caia na armadilha fácil e fique suspirando para a tela e dizendo: ”Oh, ele é fofo!”- algo absurdamente inacreditável ocorrida na sessão que estava presente. E estruturalmente o filme é um desastre, pois a direção parece não conseguir criar um arco temático simples ou compreensível, usando as “repetições” como não tivesse nada a apresentar e jamais fazendo que o filme siga em frente ou alguma direção que seja. Fora que ao tentar inserir de maneira pedante o conceito do mito de Sísifo (pelo menos esta aí uma razão para os jovens pesquisarem um assunto interessante), relacionado diretamente a trama principal, a direção parece levar o assunto ao “pé da letra” devido do mito de estar ligado metaforicamente ao conceito filosófico de uma vida mais pautado nas rotinas adultas. Não que aproveitar a vida e odiar a morte relacionados a mito sejam algo não inerentes a uma determinada fase da vida, mas é um fardo muito pesado que a direção sequer se mostre capaz de transformar em algo identificável ocasionando um show melodramático sem qualquer efeito.
Assim, sem causar a surpresa que o longa se propunha em seu mais ainda melodramático final (até porque o próprio título entrega o desfecho desde o início), e inofensivo ao tentar criar algum tipo de profundidade , Antes que eu vá é uma obra sem qualquer elemento de peso que possa justificar algum retrato do contexto que aborda.
Cotação 2/5
Rodrigo Rodrigues
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O que vou falar pode soar grotesco, desafiador ou difamatório, mas esse foi um dos pouquíssimos filmes adolescentes que colocam a culpa da tal fase juvenil neles mesmos e não em terceiros. Essa é a temática do filme. Mostrar que não havia quem culpar a não ser ela mesma pelos erros que cometeu, e como ela não percebia que cometia. Não achei risível como disse, achei interessante e profundo, acredito que não entendeu o objetivo e a magnificência desta obra.
É claro que não pude deixar de notar o seu breve currículo: “contra o fundamentalismo da sociedade conservadora”. Sério? HAHAHA nunca pensei que iria encontrar um revolucionário num blog de resenhas e críticas, amigo, se você é contra o “fundamentalismo” conservador você é contra a todos os valores familiares, econômicos e sociais que existem e existirão.
Leia “Como ser um conservador” de Roger Scruton entenda o que é o conservadorismo e então, só então, critique-o. Antes de rejeitar o último pedido entenda que muito embora discorde absolutamente de Marx eu fui antes ler o seu livro “Manifesto Comunista” aí então pude ter certeza de que ele está errado.
Abraços Amigo.
Reveja o filme!
Discordo de ambos hehehehehe acho que taxar toda a sociedade como conservadora como o autor fez nao corresponde a realidade afinal ela é dividida, mais ou menos pela metade, ou seja, meio a meio entre os conservadores e os progressistas. E há absurdos nos ideais progressistas, como a identidade de genero, que ignora a biologia em prol de uma politica demagogica apenas, que nao tem lastro nenhum com a realidade. Todo homem e mulher nasce homem e mulher SIM, afinal, sao mamiferos, se quiserem mudar E TEM TODO DIREITO, tem que entao MUDAR, e so se muda algo que já é (ninguem teria que MUDAR de homem pra mulher se nao nascesse homem). O que precisa é acabar a hipocrisia e preconceito qt a quem quer mudar. Por outro lado o leitor, que tem direito a sua opiniao, tb deve saber que não há só virtudes no conservadorismo, há tb ideias engessadas, fundamentalismo religioso e outras idiotices. Agregar tudo como “valores familiares, economicos e sociais” como algo bom e relativo apenas ao conservadorismo tb nao corresponde à realidade. Exemplo: o tal estatudo da familia diz que uma familia sem pai nao é familia. Ou seja, uma familia que perdeu o pai, ou cujos pai e mae se separaram, ou cujo pai se casa com outro homem ou a mae com outra mulher nao eh familia. Se vc um dia perdeu seu pai, como eu, deixa de ser familia na visao dos conservadores. Conclusao: nao escolham lados extremos, ha bizarrices conceituais na direita e na esquerda, nos conservadores e nos progressistas. Parem de achar que só seu “lado” é o certo!!!
Sou o Francisco novamente. Gostaria de dizer que discordo de tudo que falei nesse comentário. Eu era um adolescente sem muito conhecimento sobre o mundo.
Hoje, vejo a bizarrice que eu escrevi, mas que infelizmente não consigo excluir da internet.
Vim para dizer isso. Tchauuuu 🙂
me lembrou o Como eu Era Antes de Você… comedinha dramática clichezaço sem sal com atuações medianas/ruins e de bom apenas um final que fugiu do lugar-comum e nos faz pensar pq o diretor e o roteirista, ja que tiveram essa coragem no final, pq nao fugiram dos clichês tb no resto do filme… que desperdício
Clinton
Bem vindo
Infelizmente estes tipos de filmes tornou-se padrão para representar os jovens.
Pena.
Abraços
pq os criticos vao contra todas as adaptações de livros adolescentes, como Crepusculo, Maze Runner, Antes que eu Vá e etc? só pode ser bom se for adaptação de Sheikispere ou do Charles Dickens?
Laurinha
Bem vinda,
Conforme o texto, jamais disse que sou contra filmes baseados em novelas adolescentes; pelo contrário, inclusive mencionei quanto mais os jovens se identificarem nos cinema melhor (ratificando que mencionei no texto, TRÊS exemplos de filmes como temáticas adolescentes que são bem sucedidos e me agradam imensamente – inclusive sendo um deles baseado numa obra literária).
Todavia, independente da fonte de inspiração (livro, peça de teatro, HQ etc), um filme deve ser avaliado através do “como ele é”, e não “Pelo o que ele é”.
Infelizmente, boa parte destes filmes (não todos) são narrativamente ruins.
Ademais, informei nos texto, usado exemplos tirados do próprio filme, os motivos que levaram a não apreciar a obra em questão.
Abraços e obrigado pelo cometário.