Crítica: Taxi Teerã
Diretor: Jafar Panahi
Elenco: Jafar Panahi
Nota 5/5
O diretor iraniano Jafar Panahi teve seus filmes taxados de obscenos e proibidos em todo o país por causa de sua posição política contrária ao presidente Mahmoud Ahmadnejad. Sua residência foi invadida e seus rolos de filmes apreendidos (inclusive sua coleção pessoal de filmes com clássicos do cinema!) e o mesmo foi transformado em um prisioneiro dentro de sua própria casa, tendo sido proibido de viajar para o exterior, dentre outras sanções aplicadas pelo governo iraniano. Para finalizar, ele também foi proibido de filmar no país durante vários anos – o que deve ter se tornando provavelmente, a maior dor como profissional que ele poderia sofrer. Portanto é mais do que necessário contextualizar tais fatos para darmos a dimensão de Taxi Teerã como um grito contra a violenta censura que lhe foi imposta.
Os acontecimentos acima descritos não foram capazes de conter ou matar – em seu âmago – aquilo que move o diretor e que o mesmo faz questão de compartilhar com todo o mundo: seu amor pelo cinema.
Devido às censuras que lhe foram impostas, Panahi usou toda a criatividade au seu alcance ao se passar por um taxista comum na capital iraniana, transformando sua conversa com os “passageiros” em uma metáfora para a sua própria situação, e conseqüentemente uma bela homenagem ao cinema em si, ainda que ele sequer possa dar os merecidos créditos a aqueles que o ajudaram a realizar a obra, por medo de retaliações e mais sanções do governo.
Como o uso de câmeras denunciaria sua presença nas ruas de Teerã, nada mais apropriado que fazer com que a câmera instalada no painel do táxi se transformasse não somente na sua fuga para filmar como também no olhar subjetivo do público para com os acontecimentos, como por exemplo nos planos que abrem e fecham o filme, que acabam se completando, de modo que assim temos no início um mundo, uma sociedade ainda a ser descoberta e no final temos um lindíssimo agradecimento a aqueles que puderam compartilhar daquelas experiências junto com o diretor, apesar de todo o clima de repreensão na qual ele se encontram os envolvidos (o que torna ainda mais nobre a constatação do tom leve e por vezes cômico por parte da narrativa do filme).
Interessante notar que tais passageiros são as metáforas exatas para o contexto do filme, portanto podemos identificar em cada um deles uma situação na qual o diretor esteja (ou tenha estado) diretamente ligado, demonstrando toda sua capacidade em passar sua mensagem e denúncias. Por exemplo, temos o fato dos primeiros passageiros de ocupações diferentes levantarem a questão da pena de morte no país, que pode ser a condenação de um delator ou um criminoso comum. Neste momento é evidente a representatividade do governo do país na figura de um dos passageiros, que terá seu arco completado mais para o final do filme (ou a hilária figura do vendedor de DVDs piratas, que faz a alusão direta à perda material do diretor).
Claro que não é necessário (mas acabei fazendo) discutir todos os aspectos de tais elementos, mas é preciso que se faça uma ressalva também a presença de duas importantes figuras no longa: a pequena sobrinha do diretor que representa a inocência e o futuro do cinema no país e, claro, a figura da advogada que com toda sua dignidade, senso de justiça e presença nos comove; principalmente por ela ser a responsável por um dos mais belos planos e homenagens ao cinema (e cinéfilos) dos últimos tempos. É realmente emocionante!
Assim, Taxi Teerã consegue reunir um gama de sentimentos pessoais e denúncias numa história de um amante da sétima arte que desejava mostrar seu país e sua cultura livre de qualquer tipo de censura, mas que infelizmente foi obrigado a se esconder da violência de maneira criativa, e não menos mágica; algo que somente o cinema é capaz de fazer.
Rodrigo Rodrigues
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