Crítica: Um Pequeno Favor (A Simple Favor)
Diretor: Paul Feig
Elenco: Anna Kendrick, Blake Lively, Henry Golding, Andrews Rannells, Jean Smart, Bashir Salahuddin e Rupert Friend
Nota 3/5
Comédia, suspense, uma obra dicotômica entres suas personagens e estilos. Mas, de qualquer maneira, tal mistura, que poderia soar desastrosa (inclusive por ser apenas um “copia e cola”), se mostra eficaz durante boa parte de sua projeção.
Uma tragicomédia com doses hitchcockianas, com pitadas de Uma Garota Exemplar com Um Corpo que Cai e Diabolique equilibrando com um típico humor de Feig sobre o aspecto feminino. Claro que enumerando estas referências, podemos até ter alguma ilusão que tais aspectos possam elevar a obra a um patamar acima, mas mesmo que isso não ocorra, ainda assim compramos a ideia proposta.
E mesmo que fiquemos neste limbo de gêneros, quando nos damos conta estamos interessados no desenvolvimento daquela trama. Claro que seria impossível de deixar passar que por alguns momentos a necessidade de trazer a trama para o humor a todo o momento acaba por trazer risco à narrativa. Ou seja, por mais que Paul Feig tenha talento para criar tais elementos humorísticos, estes mesmo são prejudiciais quando quase beiram ao caricato e estereotipado, como por exemplo, o chefe da agência de moda em que trabalha Emily (interpretado por Rupert Friend) ou um dos vizinhos interpretado por Andrews Rannells – em ambos os casos, totalmente descartáveis.
Portanto, Anna Kendrick é fundamental para conseguirmos criar a empatia pela personagem e elo com o desenrolar da história, mesmo que jamais tenhamos um ponto de vista que nos insira no lugar da protagonista – até porque a história em determinado momento se torna mais que previsível. Com sua espontaneidade, a atriz consegue transitar de maneira quase instantânea entre o humor rápido e o suspense de uma dona de casa, viúva que vive seus dias cuidando do filho e gravando seu vlog sobre receitas, e que assume sua veia de detetive como uma personagem de Agatha Christie. Claro que para tal dinamismo, a presença de Blake Lively como a misteriosa Emily é o contraponto perfeito para o filme. A atriz que mostrou qualidades ao conduzir solitariamente o suspense aquático Águas Rasas, se mostra uma atriz segura e transitando de maneira fluida entre uma mulher misteriosa, provocadora, sedutora e perigosa. E é neste contraste que Stephanie se torna admiradora de Emily justamente por representar tudo aquilo que desejaria ser; uma espécie de lado sombrio que a jovem dona de casa não deseja revelar para ninguém. Inclusive, não é a toa que o figurino – um dos destaques do longa – reflete tal elemento, ao surgir quase sempre com acessórios como bengalas, chapelões e coletes como gravatas; isso sem esquecer que a troca simbólica de personalidades, digamos assim, se dá justamente pelo fato de Emily assumir um típico vestido de Stephanie e vice-versa.
A narrativa de Feig pode não soar das mais elegantes ou até mesmo criativas, mas ainda assim é funcional quando se pede, como o fato de criar algumas rimas que se tornam interessantes dentro do contexto, como em uma determinada cena em que Emily, ao falar do marido, traga um som dela puxando uma faca ou quando, por momentos, há pequenos sinais dos elementos em cena como quando alguém está nadando (criando uma rima com um acontecimento fundamental do filme) ou ainda tenta se torna previsível quando tentar antecipar uma cena de sexo tendo ao fundo uma parede vermelha. Ou quando em determinado momento, ao contar seu passado para Emily, vemos em flashback que não aconteceu exatamente aquilo, o que ajudar a incrementar o interessa pelos arcos das duas mulheres; principalmente quando conhecemos os traumas de Emily. Todavia, a trilha sonora que dá o tom de tensão em certos momentos, acaba por atravessar o filme algumas vezes com suas escolhas de músicas que combinam pouco com a situação, como no momento em que Stephanie vai em busca do passado de Emily.
Quanto à história em si, somos compelidos a acreditar naqueles fatos, mas no seu terceiro ato a direção parece se atrapalhar e quase que sabota o que foi construído até ali. Ao se assumir um novelão típico com toques de folhetim, a direção parece se atrapalhar com a necessidade de ficar criando e jogando várias reviravoltas, em conjunto com o humor (a cena que finaliza o clímax é das mais batidas possíveis). Mas ainda assim, não ficamos nos sentimos ofendidos, o que é uma grande vantagem!
Rodrigo Rodrigues
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vi um outro filme que vc recomendou um iraniano muito bom vou ver esse tb
Office
Bem vindo
É recompensador como critico ter despertado seu interesse pelo cinema iraniano. Espero que goste deste também!
Abraço
li e nao entendi do que se trata o filme, faltou uma sinopse que fosse pra que saibamos se a historia nos interessa ou nao
Espiralzinha
Bem vinda
Normalmente eu sempre coloco. Neste realmente não escrevi. Ato falho.
Abraços