Crítica: Halloween
Direção: David Gordon Green
Elenco: Jamie Lee Curtis, Judy Greer, Andi Matichak, Haluk Bilginer, Will Patton, Jefferson Hall, Toby Hoss e Nick Castle.
Nota 3/5
Escrever sobre Halloween não é uma das tarefas mais fáceis, senão ingrata. Seria como aquele disco de vinil que escutava no passado, mas que nos concentramos apenas na faixa principal e mais em uma ou outra música. Todavia, sempre que havia um relançamento (CD ou edições especiais com sobras de estúdio) acreditávamos que aquelas faixas poderiam melhorar com o tempo; para somente concluirmos, em uma análise mais profunda, que estávamos enganados e que por mais tentassem atualizar a forma, o conteúdo se demonstrava desgastado, sobrando apenas as lembranças.
Eu particularmente gosto do conceito mais psicológico criado por John Carpenter no clássico de 1978 que propriamente dos outros filmes de slasher influenciados por Michael Myers (Jason e Freddy Krueger), mesmo que o absurdo fosse cada vez maior no decorrer das continuações dos três, mesmo dentro deste contexto (ou acham legal um personagem começar um filme na floresta e termina dez filmes depois no espaço?). Assim, se em Halloween II (1982) tivemos um filme que, com erros e acertos, manteve a atmosfera, ficando à altura do original (que também tinha seus erros e acertos); contudo, a partir do quarto filme (o terceiro é algo independente dos outros), as coisas descambam de vez com alterações nas linhas temporais, das motivações, mudança na árvore genealógica da família Myers para justificarem a matança de Michael… ressurreições, tentativas de atualização para as novas gerações com H20 e ainda tivemos – óbvio – um reboot (e sua devida continuação) inesperadamente interessante e dirigido por Rob Zombie.
Assim, chegamos ao décimo primeiro filme da série (ou décimo, se contarmos que no terceiro filme não há a participação do Michael), que me soa ao mesmo tempo honesto pela sua reverência ao original, mas cada vez mais esgotado em suas motivações – que algo que já era absurdo, como dito antes. Tanto que este filme é visto como uma continuação direta do filme de 1978, ignorando completamente o que aconteceu nos filmes posteriores ao original e anteriores a este (alguns deles contanto com a própria Jamie Lee Curtis); ou seja, é impossível que tais elementos passem despercebidos ao analisar o filme atual. Mas é aquilo, se os próprios realizadores “esqueceram” estes detalhes, porque devemos nos importar, não?
Passados quarenta anos, Laurie (Curtis) vive isolada na floresta e atormentada pelos acontecimentos da “última” vez em que enfrentou Michael. Enquanto se prepara para o confronto que ela sabe que virá, ela deverá também proteger sua família que a trata como uma pessoa desequilibrada e paranóica. Inclusive, neste momento, o roteiro tenta criar uma espécie de drama familiar, uma herança maldita que passa de mãe para filha e neta (sim, passou tanto tempo depois primeiro filme que de musa do grito virou avó…). Inclusive, é importa comentar que o bom elenco tira um pouco o gosto amargo de ficar dependendo de adolescentes correndo para lá e para cá e tentam trazer um carga dramática para os personagens, como o fato da presença de Judy Greer como filha de Laurie, e Will Patton como o delegado que ajuda na perseguição à Michael.
A direção irregular e frágil do diretor David Gordon Green transita entre a homenagem (como dito anteriormente) e o fato de usar isso como algo essencial a obra (algo que acho errado), e ainda sem um pingo de capacidade para fugir de velhos clichês de terror e problemas narrativos, onde se salvam a presença de Jamie Lee Curtis e algumas cenas que imprimem a brutalidade de Michael de maneira eficiente. Fora que a narrativa do diretor se mostra bagunçada por abusar inicialmente de planos fechados sem justificativa, onde o mau uso da trilha sonora – sempre lá em cima – apenas serve para criar sustos de maneira expositiva.
Essa falta de climatização dentro de um suspense (algo que nove de cada dez diretores parecem não terem aprendido) me incomodou. Até porque, se levarmos em conta que Carpenter teve como influência o próprio mestre Hitchcock, me incomoda que David Gordon não faça bom uso destas influências, confundindo agilidade com pressa. Tanto que a própria abertura com uma imagem de uma abóbora ao som a clássica trilha sonora composta por John Carpenter (que para mim está na mesma prateleira que um trabalho de John Williams), é feita de maneira apressada sem conseguir criar o clima de suspense que a música traz. Fora que ao tentar atualizar a história para quem nunca acompanhou o(s) filme(s) anterior(es), o longa o faz de maneira ainda mais expositiva (mesmo) ao trazer dois repórteres com diálogos explicando os acontecimentos do(s) filme(s) anterior(es)…
Ainda temos a inclusão de personagens que simplesmente somem no meio do filme, ou a tentativa de criar versões de antigos personagens com algumas modificações que soam ainda mais desastrosas, como o fato do médico que cuida de Michael ser uma espécie de “novo” Loomis (o médico interpretado por Donald Pleasence nos filmes anteriores). E mesmo não entrando em detalhes de algumas situações que o descuidado roteiro apresenta, e convenções (sim, temos uma donzela correndo pela floresta e casais adolescentes sendo mortos), ainda assim o longa rende bons momentos quando o analisamos de maneira individual, como um realizado plano sequência quando Myers chega a Hadfield ou quando, ao atacar outra vítima, a direção usa de uma contra luz que funciona e cria um momento de tensão pela vítima não saber onde se encontra o assassino. Ratificando, para não pensarem que estou achando que este Halloween é execrável, todas as cenas com a presença de Michael são eficientes, mesmo que a direção tente a todo custo sabotá-las (inclusive, ao criar um momento reverencial quando Myers veste a icônica máscara pela primeira vez, a câmera lenta acaba não funcionando tanto como deveria, mas ainda assim demonstra o respeito que os fãs desejam); e esta imponência do personagem parecer sobreviver além disso.
Em seu clímax, Halloween se não rende sustos, consegue entregar tensão pelo embate final entre Laurie e seu perseguidor eterno. Claro que, com o final ambíguo, a saga da família Myers vai continua (caso decidam que ninguém ali é parente ou conhecido).
Rodrigo Rodrigues
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nao vejo muita graça nesses filmes com esses assassinos “imortais” superfortes que aparecem do nada onde querem, tipo Halloween, Sexta Feira 13, etc nao entendo como vcs gostam disso prefiro filme de espiritos malignos muito melhor
uma pena mesmo essa zona cronologica, filme que vale, filme que nao vale, filme que nao conta, filme que desconta o que outro contou, filme que reconta o que outro contou mudando coisas… mas blz, nao da pra exigir dessas franquias B o mesmo das A