Crítica: Creed II
Diretor: Steven Caple Jr.
Elenco: Michael B. Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson, Phylicia Rashad, Florian Munteanu, Russell Hornsby, Wood Harris, Milo Ventimiglia, Brigitte Nielsen e Dolph Lundgren
Nota 3/5
Anteriormente em Creed – Nascido para Lutar, havia o questionamento sobre se o personagem teria fôlego suficiente para seguir sua própria história sem ficar demasiadamente preso ao espólio de Rocky Balboa como suporte emocional e temático. Entretanto, mesmo a presença de Stallone sendo fundamental para trazer toda a empatia pela sua longevidade (até porque a história está ligada diretamente ao clássico Rocky IV e não há problema algum nisso, pois estamos falando de filmes se passando no mesmo universo), podemos dizer que Creed II é sim capaz de calçar sua próprias luvas, onde o protagonista enfrenta seus próprios dilemas. Inclusive, a obra é mais que um continuação de vingança, mas sobre personagens que buscam algumas redenções que passam longe de um ringue; conceito este que serve tanto para os “mocinhos” quantos para os “vilões”, pelo filme não tratar os dilemas de ambas as partes apenas em subterfúgios esportivos, devido às suas lutas.
Depois dos acontecimentos do filme anterior, Adonis Creed (Jordan) disputa o título mundial ao mesmo tempo em que é desafiado por Viktor Drago (Munteanu), filho do “lendário” Ivan Drago (Lundgren) que foi o rival “soviético” de seu pai no filme “guerra fria” de 1985. Para tal, Adonis busca ajuda do cada vez mais solitário “tio” Rocky Balboa (Stallone) para treiná-lo, e ainda precisa enfrentar os desafios pessoais que surgem dentro de sua família.
Não é por acaso que Stallone surja pela primeira vez encostado na parede, como se estivesse em um ringue metafórico de um homem isolado. Portanto, elogiável que o roteiro do próprio Sly seja capaz de inserir de maneira orgânica as motivações para os personagens, que acabam se interligando, mas não perdem sua individualidade. Expandido ainda mais como um ex-pugilista, velho e com cansaço expressado em cada olhar, Balboa é uma lenda andando entre os poucos que ainda lembram dos seus feitos do passado e vivendo de saudades pelos entes que se foram (ex-treinador, amigo, esposa, cunhado…). Mas ele ainda precisa enfrentar decisões daqueles que ama, principalmente pelas circunstâncias da morte de Apollo, décadas atrás, que ainda permeiam sua mente cada vez que Adonis entra no ringue (fora que o único laço sanguíneo ainda existente entre ambos, acaba se tornando uma luta difícil de encarar devido a distancia que se criou nos filmes anteriores). Contudo, é desnecessário comentar a atuação de Stallone por soar tão natural em seus trejeitos que acaba apenas comprovando a fusão eterna entre ator e personagem, principalmente quando ele evoca sua simplicidade nos diálogos com Adonis.
Assim, o jovem Creed precisa encontrar uma motivação, uma razão para se sentir realmente um campeão pois, apesar das vitórias, tal sentimento é algo que ele não possui; todavia, seu caminho precisa ser traçado de maneira que o fantasma do sobrenome Creed não seja um fardo e sim um orgulho. Além do mais, tanto Michael B. Jordan quanto Tessa Thompson se mostram totalmente confortáveis em seus papéis ao trazer os dramas e conflitos entres Bianca e Adonis, principalmente em um momento de surpresas em que a família Creed toma novos rumos. Elogiável que Michael B. Jordan consiga transitar entre imaturidade, arrogância e carisma, mantendo a força que o personagem exige e ainda permitindo até alguns leves momentos de introspectividade e reflexão filosófica, coisas pouco vistas na série.
Ademais, ao começar o filme com o foco na dinâmica em Ivan Drago e seu filho (interessante que tal início seja algo mais velado, sem palavras e apenas sugerindo o estado de uma relação ou relações conflituosas), o longa acaba criando um arco dramático de uma família destruída e precisando seguir em frente; principalmente por Ivan ter sido abandonado pela sistema que o transformou em lutador e a esposa (interpretada novamente, para a surpresa dos mais antigos, pela sumida Brigitte Nielsen ressurgindo com o mesmo cabelo de 35 anos atrás e apenas limitada a fazer expressões de desaprovação em poucas palavra). Drago pai se mostra alguém que projeta tais frustrações na carreira e o relacionamento conturbado com o filho, criado apenas para lutar e expurgar suas frustrações. E neste contexto talvez a única ressalva seria pelo fato do reencontro de Ivan e Balboa (algo que ocorre poucas vezes no filme) se torne um pouco anti-climático por tudo que aconteceu, mas ainda assim compreensível tal decisão por tudo que aconteceu nestas últimas décadas.
Se a estrutura do longa se apresenta até por momentos apressada ao saltar de uma situação a outra de maneira abrupta (como a marcação da primeira luta entre Adonis e Viktor), e obviamente não foge do “gênero” (acho que já podemos chamar assim) com luta inicial, interlúdio e treino épico para a revanche final, Creed II ainda é suficientemente capaz de empolgar em sua lutas coreografadas e se dedicar ao conflitos dramáticos dos personagens. Tanto que no primeiro embate de Adonis e Drago, a direção insere vários momentos que remetem às própria falas e planos de Carl Weathers em Rocky IV e que chegamos a realmente temer pela integridade de Adonis durante a luta – algo que somente seria possível por estarmos cientes dos fatos acontecidos no filme 85. Fora que a direção toma algumas decisões narrativas que se mostram eficientes pela sua lógica, mas que fazem toda a diferença, como o fato de que, durante um momento de dificuldade durante a luta entre Creed e Drago, Balboa evita acompanhar o desfecho; mas em vez de cortar para a luta de maneira brusca, acompanhamos Balboa desligando a TV e nos pondo no ponto de vista do personagem.
Eficiente também a trilha sonora seja um misto do clássico tema de Bill Conti (se não estiver enganado, toca de maneira clara durante uma luta de Adonis, algo feito discretamente no filme anterior), com estilo mais contemporâneo e que busca dar personalidade própria ao protagonista. Reparem no momento em que Adonis pergunta para Rocky como foi o pedido de casamento para Adrian, e rapidamente a trilha sonora traz de maneira leve a música tema do casal no filme de 76. Ademais, é interessante e elogiável que o ufanismo – que foi o ponto falho de Rock IV – se moestre aqui com uma “disputa entre EUA e Rússia” mais velada em que o público russo que aplaude discretamente o americano, mais pela luta que pelo vencedor, sem a aura da guerra fria (não que tenha sido errado Rocky IV ter abordado tal tema, principalmente pela época, mas o problema é que Rocky deixou de ser uma pessoa comum e se transformou em uma propaganda); não sendo a toa que a bandeira do calção de Adonis não traz mais as cores azul e vermelho da vestimenta do pai (e também usada por Balboa), mas sim uma bandeira americana totalmente preta.
Usando toda o potencial que a saga de Rocky deixou para ele, Creed II consegue fazer nos importarmos com aqueles novos dilemas usando uma fórmula que deveria ter mostrado algum cansaço já há algum tempo – o que acaba não acontecendo. Portanto, independente se ser ou não o último filme com Stallone, se tem algo que o longa nos ensina é jamais duvidarmos da capacidade desses personagens e enredos se reinventarem.
Rodrigo Rodrigues
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bem legal esse filme tinha assistido o 1 e gostei e agora que soube que é derivado de uma franquia antigona k k k fui assistir o Rocky 1 e achei toscao demais
engraçado que desde Rocky IV eu nao me divertia tanto vendo um filme da franquia… resgatou mesmo o espirito da coisa, parabens, bom filme
melhor filme da franquia desde Rocky IV mesmo…
ranking:
Rocky II
Rocky
Rocky IV
Creed II
Rocky III
Creed
Rocky Balboa
Rocky V
Rocky Balboa merece estar em terceiro!
estou adorando essa onde de continuações tardias… Star Trek, Star Wars, Rambo, Rocky… com os atores originais e tudo que legal pena que perdemos duas decadas entre os filmes originais e essas continuacoes né podiam ter feito isso antes