Crítica: Guerra Civil (Civil War)
Direção: Alex Garland
Elenco: Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Stephen McKinley Henderson, Evan Lai, Nelson Lee, Jefferson White e Nick Offerman
A análise política trazida é clara e irredutível, portanto, o diretor Alex Garland é mais uma vez contundente ao discutir a contemporaneidade em forma de [pausa] ficção. Nesse caso a política atual quando EUA estão vivendo um conflito depois da insurgência de vários estados contra o governo. Se, por exemplo, no intrigante Ex-Machina o diretor usa a inteligência artificial como ponto de partida para discutir a natureza humana, nesse ótimo Guerra Civil, temos um road movie com tons apocalípticos de um exercício de contexto futurológico testemunhado na visão de fotógrafos em crise existenciais ao presenciar tantas barbaridades ao redor do mundo, seja numa cidade americana ou em Gaza.
Assim, quando Lee (Dunst), Joe (Moura), Sammy (Henderson) e a jovem Jessie (Spaeny) viajam em direção à capital americana na tentativa de entrevistar o então presidente (Offerman), enquanto forças militares ocidentais de oposição ao governo se dirigem à capital em que a imprensa tradicional – já com sinais de decadência – é vista como inimiga, a equipe acaba passando pelos questionamentos da profissão de jornalistas em tempos de urgência; quando suas vidas podem ser ceifadas instantaneamente devido aos perigos pelo caminho num país semidestruído, com suas estruturas sociais e educacionais sem qualquer índice de normalidade, onde a miséria escancarada e disputa por direitos básicos desconsideram qualquer aspecto de civilidade.
O filme permite, inclusive, questionarmos a profissão: iriam até o limite para trazer a verdade ao mundo ou apoiariam um governo em nome de suas carreiras diante de uma concorrência? Ou sempre estiveram do lado dos opressores não sendo mais que porta vozes das grandes corporações comandadas pelo extremismo?
Dependendo do veículo e país, isso não é difícil de responder.
Potente em sua mensagem durante todo filme, é interessante notar que jamais fica claro quem ou como tudo começou para que chegássemos àquela situação ou até mesmo pessoas que estariam do mesmo lado lutando um contra o outro. Mas isso não significa um problema: como obra de arte, Guerra Civil é suficientemente capaz de deixar o espectador ciente dos atores políticos (governamentais ou não) envolvidos e suas intenções; não podendo deixar de comentar duas sequências específicas – e tensas – que resumem esse comportamento geral: uma com Jesse Plemons e outra que se passa num posto de combustível onde constatamos que essas pessoas sentem-se confortáveis para vomitarem seu ódio e psicopatia em nome da pátria sem qualquer receio de punição.
O desempenho de Dunst é preciso ao trazer Lee como uma profissional cansada daquele exercício diário de perseguir a morte em nome da necessidade de informar o mundo das tragédias numa época em que a própria imprensa precisa sobreviver a si mesma, ao mesmo tempo tendo que lidar com a presença de Jessie que a vê como fonte de inspiração.
Lee não procura assumir tal responsabilidade e ao ver a jovem seguindo seus passos tem um sentimento frio e distante inicialmente entre elas num profissionalismo que pode chegar ao extremo pelo fato de suas vidas correrem riscos constantes, ao ponto de Wagner Moura ter espaço para criar em seu Joe um ciclo completo e até mesmo servindo como importante símbolo psicológico do filme: inicialmente empolgado pelo perigo constante, o personagem vai sendo levado ao limite com doses distorcidas de personalidade mediante aquele cenário de satisfação doentia e morte (seria exagero que tal elemento do estado dos personagens tenha conceitualmente certa pitada de Denis Hopper de Apocalipse Now?).
A direção de Alex Garland é igualmente eficaz ao servir também como um exercício narrativo devido à boa coordenação das boas sequências de conflito, deixando o espectador inserido nas cenas de maneira eficiente; auxiliado principalmente pelo bom trabalho de mixagem de som onde os estampidos dos tiros – usados até mesmo como corte entres a cenas – criam o impacto no espectador que sente que todos estão constantemente em perigo. Aliás, o uso do som é usado também como pausa dramática para quando, em determinado momento importante do filme, os cliques da máquina fotográfica servem como contagem de tempo e pausas, como se representando as batidas de coração desacelerando; ou quando o diretor toma a decisão de dosar a falta de som quase total em algumas cenas, aumentado ainda mais percepção da gravidade dos acontecimentos. Até porque, devemos sempre ter em mente que Guerra Civil é também sobre jornalismo, não sendo coincidência que constantemente coloquem o público no ponto de vista dessas câmeras fotográficas ao alternar em vários momentos o foco dos personagens, como se procurassem o ângulo perfeito entre o horror do conflito e a expressão de delicadeza escondida em um sorriso delicado diante de uma pequena flor.
Guerra Civil é um filme dilema de uma profissão de risco, a força do jornalismo de verdade em nome da informação, a destruição moral e do estado de direito de uma nação.
Imagina um país elegendo um político de extrema direita redundantemente norteado com ideologias ditatoriais, cuja permanência no cargo vai além daquilo que a lei permite? Um país possuidor de uma cultura armamentista e um profundo ódio a minorias ou a qualquer tipo de pensamento que confronte seus privilégios brancos; criando violentas milícias de “cidadãos de bem” exterminando – em nome de Deus, da pátria, e claro, da família tradicional – todos que ousarem atravessar seu caminho. Até porque, não podemos deixar de comentar que esse ano tem eleições americanas para presidente, e uma analogia e documento de época não é algo que simplesmente se descarte como uma discussão temática de seus elementos, como reflexo dos dias atuais.
Mas ainda bem que é somente um filme de ficção. Não é?
Rodrigo Rodrigues
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Olha, tirando o pano de fundo político (que é bem partidário, ou seja, se é a favor do “seu” lado, é bom, senão, é ruim), o filme é bem capenga. Um road movie que não é road movie, uma crítica política que não é crítica, um drama incompleto, um suspense fraquíssimo. Ao contrário do crítico, vi um Wagner Moura bem apático, que está interessado nao em perigos ou aventuras mas sim na própria fama e carreira, quer pq quer entrevistar o presida antes dele cair pra ter uma “exclusiva” e sei la ganhar um Pullitzer. Kirsten Dunst parece que fez o filme forçada, a mesma expressão o filme inteiro, inclusive ela se mostra tão desinteressada que é difícil entender pq topou ir pra Washington. Falando na capital dos EUA, difícil acreditar que apesar de considerarem imprensa “inimiga”, os dois lados sejam tão bonzinhos com os repórteres… qd chegam na capital, em meio a tiroteios e a invasão da Casa Branca, só faltou carregarem os jornalistas no colo, tamanho o cuidado e amizade com eles… chega a ser ridículo ver os repórteres entrando junto dos soldados e até recebendo deles dicas de qd avançar, qd parar, qd se abaixar, etc… fora o fato de que tamo falando da Casa Branca, o lugar mais bem guardado do planeta, o presida ta ali de boas esperando a hora do vamo ve, não se esconde, não entra num bunker secreto, não foge de helicóptero qd ve que “Olympus has fallen” nem nada, é conveniente demais pro filme. Ah quase esquecí dos personagens jornalistas asiáticos colocados no filme de abrupto só pra serem mortos 5 minutos depois numa sequencia digna dos Trapalhoes: so os asiáticos morrem, os demais ficam sãos e salvo, saem correndo e dirigindo, os soldadecos se atrapalham sozinhos e até “somem”, reaparecendo só qd o carro ta meio longe demais pra sofrer danos reais. E quem ai nao sacou que o jornalista velhaco ia acabar tomando um tiro no carro naquela hora levanta a mão! Enfim, um filme que se vc vê com lente política, e for do mesmo “lado”, vai gostar. Se vc é dos que se libertaram de “lados” e consegue ver de forma imparcial, acha ele bem ruinzinho.
bom filme, da pra assistir… o viés político não é predominante, da pra ver sem se irritar com a farofada ideológica… e antes que me chamem de Minion, falei o mesmo sobre o O Som da Liberdade: da pra ver ignorando a parte ideológica… os dois filmes são panfletários (cada vertente acha o “seu” filme maravilhoso e o outro horroroso), não são excelentes, são medianos/bons, da pra ver se vc não se importa com essa praga maldita da política ideológica
vcs pelo jeito adoram filmes só de um espectro ne, como se o mundo tivesse so uma visao, e os politicos so fossem bons de um lado, sendo que na verdade sao tudo farinha do mesmo saco
A esquerda na era Lula/Dilma chamava a imprensa de PIG: partido da imprensa golpista… a direita Bolsonarista e etceterista chama a imprensa de Extrema Imprensa. As duas vertentes odeiam a imprensa pq ela revela as mazelas dos governos e dos governantes, mostra que a corrupção nao tem lados e tanto um qt outro (e o centrão tb) são péssimos, são os causadores do mal do país (e o mesmo vale para todos países). Vc que está lendo isso, nao acredite que tem um lado melhor: vote numa boa pessoa nao importa qual o partido dela, nunca vote num partido! Nao acredite que tem um lado melhor!