Crítica: Caça-Fantasmas (Ghostbusters)
Crítica publicada originalmente em 2016.
Impossível falar da abordagem cinematográfica dos anos 80 sem mencionar Os Caça-Fantasmas, onde o entrosamento do elenco e a direção de Ivan Reitman funcionam perfeitamente. O longa está completando 40 anos de seu lançamento e preparamos um especial sobre ele aqui.
Como neste espaço procuro falar de filmes de maneira menos convencional da crítica (até porque parte desse texto foi escrito muito tempo atrás), escrever sobre o longa é algo prazeiroso, principalmente pelas boas lembranças que o filme me impôs durante as seguidas vezes que o vi durante minha vida.
Acredito que o mais certo seja começar com um dos itens que o filme tem de melhor: a dinâmica entre os personagens – podemos incluir Rick Moranis ou não? Contando com um núcleo de primeira, formado pelos amigos do programa Saturday Night Live, Bill Murray e Dan Aykroyd, mais Harold Ramis e a estrela em ascensão da época Sigourney Weaver (que havia brilhado em Alien – O 8º Passageiro), o elenco mostra um ótimo entrosamento, tornando a identificação com o público mais fácil e orgânica.
Assim ficamos conhecendo mais os heróis: Dr. Peter Venkman (Murray, mais engraçado do que nunca, ao atingir o ápice do “método” Bill Murray de ser); Dr. Ray (Aykroyd); e Dr. Egon (o saudoso Harold Ramis, o ponto de equilíbrio do grupo), três cientistas desacreditados e com pouca grana que resolvem inovar ao abrirem um escritório para caçar fantasmas pela cidade de Nova Iorque – que pela quantidade de atendimentos parecia um problema mais recorrente do que se imaginava! Eles ainda contam com a ajuda de um quarto integrante, Zeddemore (Hudson), e a intrépida secretária Janine (Potts).
A direção de arte trouxe um charme especial ao filme ao transformar um velho quartel de bombeiros em base de operações dos caçadores, e claro o uso do famoso Cadillac Miller personalizado com aquela inesquecível sirene soando nos ouvidos dos apaixonados pelo filme como meio de transporte. Não podemos ainda esquecer os gadgets que eram o sonho de qualquer um: uma mochila de prótons que servia para capturar os fantasmas antes de serem aprisionados em uma “armadilha”. Ambos os casos soando plausíveis para aquele universo, se passando num área urbana, mas com um tom fantasioso.
Assim, o roteiro escrito por Ramis e Aykroyd tem como um dos méritos conseguir explicar de maneira simples e clara como funcionam os mecanismos dos heróis sem se aprofundar na questão científica, o que tornaria algo desnecessário para o entendimento do público. Assim como cria um perigo a altura dos heróis: Gozer, uma antiga entidade demoníaca que deseja abrir um portal na cidade de Nova Iorque (como sempre) e dominar a Terra, usando as personagens de Sigourney Weaver e Rick Moranis como avatares de seus “lacaios” antes de seu surgimento, para preparar a vinda do “chefão”.
A direção capta todos os climas e detalhes da cidade de Nova Iorque, tornando tudo mais razoável possível, com os protagonistas sempre interagindo com a população – decisão do roteiro final de Ramis que economizou no orçamento, levando a historia para o mundo real, ao contrario do roteiro original que levaria a historia para outras eras e dimensões.
As tiradas cômicas do filme são outro grande destaque, sendo obviamente a maioria a cargo das improvisações de Bill Murray, com sua eterna cara de cafajeste que todos adoramos e seu extraordinário timming para piadas (“Venha, eu quero você dentro de mim” – “Hoje não, já tem muito gente ai dentro!“). Outro diálogo que mostra o bom roteiro é dito entre Janine e Winston na entrevista deste ao entrar no grupo (“Você acredita em fantasma, possessão, demônios, manifestações paranormais, parapsicologia, monstro do lago Ness, teoria de Atlântida?” – “Me pagando bem, acredito em qualquer coisa que você quiser!”).
Tecnicamente falando, Caça-Fantasmas também é digno de elogios, independente dos efeitos especiais serem datados atualmente. Como eram recorrentes na época devidos às limitações tecnológicas, os efeitos especiais eram usados com parcimônia e as miniaturas e maquetes eram essenciais para trazer o “realismo” desejado aos longas. O crítico Roger Ebert comentou de maneira certeira sobre esse aspecto à época: “É um daqueles raros filmes em que a frágil e original visão cômica sobreviveu a uma produção multimilionária”, e completou: “E que tais efeitos servem como base para os atores, e não o contrário”.
Um grande exemplo desta limitação – ainda bem – é o surgimento de Gozer, que em uma boa sacada do roteiro, transforma um problema em solução, deixando que a entidade surja na forma escolhida pelos protagonistas. Assim no clímax, esta ideia resulta numa figura icônica da época: O gigante de marshmallow Staypuft– fruto das lembranças infantis de Ray, que ele julgava inofensiva – que para derrota-lo os heróis deverão correr o maior risco das suas vidas quando entrelaçam os feixes de prótons contra o monstro.
Mesmo sendo uma grande produção da época (custo de 25 milhões) o longa tem aquele clima inocente de fantasia que faz com que a obra se mantenha na mente do público – ao contrário de muitas produções milionárias de hoje – mesmo 40 anos depois do seu lançamento!
Rodrigo Rodrigues
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Um filme atemporal, magnífico, uma obra prima, mesmo sendo comédia “pastelão”! Maravilhoso!
faço minhas as suas palavras
esse filme me da umas das melhores lembranças da minha juventude
qd finalmente assisti esse filme na Globo (nao lembro de Tela Quente ou Super Cine) foi um extase… bons velhos tempos!
um dos meus filmes preferidos!