Axis and Allies – Um Livro, Um Filme, Um Jogo…

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Axis & Allies 1981

 

A ideia que serve de mote para essa nova série de artigos, como o título já diz é relacionar três diferentes formas de entretenimento, que mesmo distintas têm muito em comum. Portanto, o artigo explora os traços comuns envolvendo um livro, filme e um jogo, e a forma como eles se relacionam uns com os outros.

 

Nesse momento vale lembrar, que qualquer lista é intrinsecamente arbitrária e depende muito da opinião do autor da lista. Considerando que pessoas diferentes têm pontos de vistas diferentes, é natural que qualquer um que leia o artigo tenha uma lista ligeiramente diferente. É natural que se pergunte “por que esse jogo ou esse tema e não aquele?”, ou se ache que outro livro/filme/jogo se encaixaria melhor na lista.

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Isso dá espaço a uma das coisas muito interessantes de se escrever na Internet, que é a possibilidade de interação autor-leitor. Por isso a seção dos comentários está franqueada para que cada um deixe a sua opinião, ratificando as escolhas da lista, ou apresentando novas alternativas. Independente de se concordar ou discordar, todas as opiniões são muito bem vindas, com o único requisito de que se procure manter o respeito e o alto nível respeitoso e urbano dos comentários. As escolhas da lista serão justificadas, defendidas, e a divergência debatida, com quem se dispuser a isso, dentro do possível.

 

Seguindo nessa toada, há outro aspecto nessa série de artigos que vale a pena mencionar, em relação às de livros e filmes. Os board games citados certamente já são conhecidos de todos, mas as citações das outras duas “mídias” (literatura e áudio visual) nem tanto. Alguns livros e séries, bem como alguns livros e coleções são bem antigos ou bem obscuros.

 

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Imagem Google: O Hobbit (livro), o Hobbit (filme), A Batalha dos Cinco Exércitos (board game) – apelou perdeu camarada!!!!!

 

Isso foi proposital, justamente para sugerir novas possibilidades culturais, e de entretenimento puro e descompromissado, fora do lugar comum, para quem não conheça tais obras. Por isso a divergência e a apresentação de outras obras são tão importantes. A intenção é que surjam mais e mais citações alternativas, especialmente livros, para quem está órfão do George Martin e do Patrick Rothfuss, até hoje.

 

Outra coisa a se notar, como foi sugerido anteriormente, é que tanto livros quanto filmes não são usados aqui no sentido estrito. Por isso, “livro” engloba qualquer obrar escrita seja ela um livro, conto, reportagem, HQ, artigo científico, tese acadêmica e por aí vai. Do mesmo modo, o termo “filme” se refere aos filmes, mas também às séries, aos documentários, vídeos do Youtube e assemelhados. Só é interessante atentar para o detalhe, de que as três mídias devem ser relacionadas, mas preferencialmente não diretamente.

 

Não tem muita graça citar “O Hobbit” (livro), “O Hobbit” (filme) e “A Batalha dos Cincos Exércitos” (jogo).  Agora, citar: o Silmarillion (livro), O Senhor dos Anéis (filme) e Hobbit Tales from the Green Dragon Inn (jogo), já deixa a coisa mais interessante. Nesse segundo caso, mesmo que as obras citadas sejam muito próximas e com uma relação evidente, elas não têm uma ligação direta. O filme não é a versão cinematográfica do livro, nem o jogo sua versão board game, mesmo que todos compartilhem o mesmo autor e universo.

 

Dito isso tudo, e sem mais delongas segue abaixo o objeto da primeira lista de artigos: “Um Livro, Um Filme, Um Board Game”.

 

Um livro…

 

A Segunda Guerra Mundial foi sem dúvida um dos maiores eventos da história da humanidade, que só encontra paralelo, talvez, nas guerras greco-persas. Esse conflito simplesmente moldou o mundo como conhecemos hoje, colocando em tora de colisão de um lado o ocidente capitalista e o oriente comunista. Com isso o planeta inteiro mergulhou em quase cinco décadas de guerra fria, e para muitos ela dura até hoje. A Guerra da Ucrânia, os conflitos do Oriente Médio, e a batalha econômica e tecnológica entre China e EUA são exemplos disso.

 

Tudo isso tem origem na Segunda Guerra Mundial, ou para alguns autores, na Guerra Mundial. Para alguns estudiosos, entre eles Churchill, a primeira, e a segunda são uma guerra única, com uma trégua de vinte anos, entre as duas. Apesar desse entendimento, a verdade é que a Primeira e a Segunda Guerra foram conflitos muito diferentes. Em termos gerais a Primeira Guerra ainda adotou fortemente as táticas estratégias e doutrinas dos conflitos antigos. Já a Segunda Guerra foi o primeiro conflito armado realmente tecnológico, mas não apenas isso. O que se viu foi uma total quebra de paradigma com as guerras anteriores.

 

Até 1939, a guerra era um conflito armado posicional com exércitos quase estáticos e avançando muito lentamente. A luta ocorria em trincheiras, com as piores condições sanitárias possíveis. Aliás, reza a lenda que mais soldados morreram de doenças e principalmente infecções simples do que abatidos pelo inimigo. Só para lembrar a Primeira Guerra acabou em 1918, e a penicilina o primeiro antibiótico bem sucedido só ficou disponível em larga escala em 1941.

 

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Imagem Google: Ascensão e Queda do III Reich

 

Isso explica em boa parte o sucesso da bliztkrieg (guerra relâmpago) alemã nos primeiros anos, quando a Wehrmacht conquistou a Europa ocidental em semanas. Na verdade os alemães só não avançaram mais porque chegaram até o mar (Canal da Mancha), aproveitando as boas estradas da França, Holanda e Bélgica.

 

Na Europa oriental, com uma terra arrasada, muita lama, muito frio e um povo disposto alutar até a última bala, a história foi outra. Em 1940, seguindo doutrinas ultrapassadas os franceses estavam preparados para cavarem trincheiras na Linha Maginot e esperarem os alemães. Já os alemães, seguindo a novíssima doutrina de guerra móvel, simplesmente flanquearam a Linha Maginot, cercaram os franceses e penetraram fundo na Bélgica, na Holanda e na própria França.

 

Na Primeira Guerra já haviam tanques e submarinos, mas que eram verdadeiros brinquedos perto dos equivalentes da Segunda Guerra. Do mesmo modo, a força aérea na Primeira Guerra era quase inexistente, até porque o próprio conceito de avião era bem recente na época. A Primeira Guerra teve início em 1914, e Santos Dumont voou pela primeira vez com o 14 Bis em 1906. E só para não ficar nenhuma dúvida a respeito, Santos Dumont voou de verdade, ou seja, ligou o aparelho, decolou e pousou à vista de todos e não entrou em um aparelho e foi catapultado em um campo deserto quase sem testemunhas. Assim sendo os primeiros aviões de combate tinham praticamente apenas uma metralhadora de mão acoplada, sincronizada com as hélices. Além disso, em muitos casos não havia nem isso e os pilotos ativam uns nos outros com seus próprios revólveres.

 

Outros dois fatores fundamentais em um conflito militar, e que mudaram da água para o vinho entre as duas grandes guerras foram as comunicações e a propaganda.

 

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Imagem Google: tanques, bombardeiros e caças da Primeira Guerra Mundial

 

Na primeira guerra mundial já havia telégrafo, rádio e até telefonia, mas essas tecnologias além de rudimentares eram muito vulneráveis à ação do inimigo. Por isso, na Primeira Guerra Mundial boa parte da comunicação entre tropas e comandantes ainda funcionava na base de mensageiros e até pombos correios. Já na Segunda Guerra, o rádio estava muito mais desenvolvido e era o principal meio de comunicação. Isso para não falar que muito mais residências já possuíam rádio o que facilitava muitíssimo o esforço de propaganda. Da mesma forma, o cinema também evoluiu muito e já era sonorizado desde 1927, fazendo as notícias chegarem às massas muito mais facilmente. E nenhum vai à guerra ou permanece nela sem uma grande mobilização popular.

 

Dessa forma, dada a importância da Segunda Guerra Mundial, é natural que exista uma miríade de livros, filmes, jogos, e outras obras sobre esse tema. No caso dos filmes e jogos, a escolha de apenas um é quase impossível, e segue muito mais critérios pessoais do que qualquer outra coisa. Já no caso dos livros a tarefa fica bem mais fácil.

 

A expressão “essa obra é obrigatória…” é dura de usar, principalmente em um contexto de board games, dada a enorme conotação negativa que ela carrega. Mas no caso de “Ascensão e Queda do III Reich”, de William Shirer, ela está corretíssima, porque esse livro é realmente obrigatório, para qualquer um que queira aprender sobre a Segunda Guerra Mundial. Algumas pessoas alegam que o livro é enviesado, porque foi escrito por um jornalista norte-americano, que minimiza a importância soviética no conflito. Essa crítica é totalmente falsa e o relato é bastante imparcial e de primeira mão, é importante que se diga. O texto é fácil de ler e entender e dirigido ao público leigo, e não acadêmicos ou historiadores.

 

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Imagem Google: William Shirer

 

William Shirer foi correspondente europeu dos jornais Chicago Tribune e New York Herald Tribune de 1925 em diante, testemunhando o pós-Primeira Guerra. Na década de 30 ele vai para Berlim, contratado pela CBS, testemunhado a chegada ao poder do nazismo, e os primeiros anos da Segunda Guerra. Só em 1941, quando a entrada dos EUA na guerra era eminente e uma questão de tempo, é que Shirer retorna à América. Em 1945 com a Segunda Guerra praticamente no fim, Shirer cobriu a Conferência de São Francisco que criou a ONU e os Julgamentos de Nuremberg.

 

O Status de Shirer de jornalista norte-americano na Berlim de 1930 permitiu que ele conhecesse pessoalmente diversas figuras centrais na Wehrmacht (forças armadas alemãs). Ele também testemunhou ao vivo, não o Holocausto propriamente dito, mas muitas das barbaridades e humilhações impostas aos judeus no início do nazismo. Mas isso não é nenhum diferencial, porque diversos outros jornalistas estavam na mesma situação, digamos “privilegiada”, para assistirem a História acontecendo, diante de seus olhos.

 

Porém, além disso, William Shirer também teve acesso, e isso foi muito restrito, a quase toda a documentação do governo nazista, capturada quase intacta pelos Aliados. Isso permitiu que a obra de Shirer fosse muito completa, e abordasse a Segunda Guerra Mundial tanto do ponto de vista militar, do conflito, como também do ponto de vista humano.

 

Ascensão e Queda do III Reich inicia após o fim da Primeira Guerra, mostrando todo o ressentimento dos alemães contra seus líderes, especialmente os militares. Para os alemães não havia explicação plausível para a derrota porque eles estavam ocupando a França, em outras palavras eles estavam ganhando. Segundo o entendimento militar antigo, se o seu exército está no país inimigo, você está vencendo e o outro lado perdendo.

 

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Imagem Google: Mein Kanpf o odioso manifesto nazista  

Atualmente com a visão moderna da guerra, que incluí mísseis intercontinentais, a coisa já não é tão assim, embora ainda seja em parte. Mas nos anos 1910/1920 era assim que se pensava especialmente em países onde as forças armadas eram a “alma da nação”, como a Alemanha. Tinha de haver um culpado, um inimigo interno, que sabotou o esforço de guerra, rapidamente identificados como os judeus.

 

Desse modo, o primeiro volume acompanha o surgimento e fortalecimento do nazismo, e o começo da campanha para combater os judeus, rearmar a Alemanha. Logo em seguida o segundo passo era ir à forra contra a França. Por fim a terceira etapa era aniquilar a União Soviética, conquistando o lebensraum (espaço vital) necessário ao desenvolvimento germânico, nas infindáveis espetes russas. O primeiro volume segue falando das repetidas violações das restrições militares do Tratado de Versalhes pela Alemanha, sem retaliação alguma, das potências ocidentais.

 

Além de mostrar os acontecimentos na Alemanha, o livro também acompanha os desdobramentos no restante da Europa, como a Guerra Civil Espanhola. No caso da Inglaterra, ele registra muito bem a apatia e condescendência dos ingleses, e os esforços para evitar a guerra a todo custo. Esse estado de espírito era personificado no primeiro-ministro Neville Chamberlain, fortemente combatido por Winston Churchill, o principal rival de Hitler e da Alemanha nazista. Já o final do primeiro volume trata da expansão da Alemanha nazista. Primeiro ocorre a unificação com a Áustria, a anexação dos Sudetos Tchecos, seguida da ocupação de toda a Tchecoslováquia, sem nenhuma reação francesa ou britânica. Por fim, a Alemanha invade a Polônia e aí a não tem volta, começa a maior guerra de todos os tempos.

 

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Imagem Google: Neville Chamberlain e a “Paz com Hitler”

 

O segundo volume do livro (algumas edições mais antigas dividem o livro em quatro volumes), trata do início da guerra ao seu final. Ele começa com a queda da Polônia, o Pacto Ribentrop-Molotov de não agressão com a União Soviética, e a Guerra de Inverno entre russos e finlandeses. Em seguida o volume trata do período da “Phony War” (Guerra de Mentira), em que nenhum lado atacava o outro. Depois ele trata das conquistas alemãs na Dinamarca e Noruega, e de Churchill se tornando primeiro-ministro substituindo Chamberlain. Depois vem a conquista da Bélgica, Holanda e França e da retirada de Dunquerque.

 

O segundo volume prossegue com os ingleses, agora sozinhos, lutando na Batalha da Inglaterra. Após os ingleses frustrarem a Operação Leão Marinho (Invasão da Inglaterra), o segundo volume trata da Operação Barbarossa (Invasão da União Soviética). Em sequência o livro aborda o ataque à Pearl Harbor pelos japoneses, que levou ao ingresso norte-americano na guerra. A primeira parte do segundo volume termina com a Batalha de Stalingrado e com a campanha no norte da África, especialmente El Alamien.

 

A segunda parte do segundo volume trata do ponto de virada na guerra e o começo da derrocada da Alemanha Nazista. Além de não conseguir avançar no território russo, os alemães sofrem seguidas derrotas, recuando pouco a pouco. No norte da África ocorre a Operação Tocha com o desembarque aliado, e a derrota das forças do Eixo. Em seguida acontece a queda de Mussolini, depois resgatado e levado para a Alemanha. Esses acontecimentos junto com o adiamento do Dia D, leva à invasão da Sicília, e à tomada de Nápoles e todo o sul da Itália. No final dessa segunda parte, o livro trata do dia D, com o desembarque na Normandia, e dos planos e conspirações para matar Hitler.

 

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Imagem Google: Dia D

 

A terceira parte do segundo volume aborda a retomada do território europeu, bem como a invasão da Alemanha pelo Exército Vermelho da União Soviética.  Ele termina com os alemães recuando cada vez mais até Berlim, chagando finalmente ao suicídio de Hitler e o fim do “Reich de Mil Anos”.

 

Como se pode ver, Ascensão e Queda do III Reich e muito focado no teatro de operações europeu e no norte da África, durante a Segunda Guerra. Ele praticamente não fala da guerra no Pacífico, nem na China e no sudoeste asiático. Basta dizer que o livro termina logo após o suicídio de Hitler e a rendição alemã. Ele não trata, por exemplo, da continuidade da guerra entre EUA e Japão, nem das bombas atômicas. E isso faz todo sentido porque o livro é um relato do 3º Reich e não propriamente da Segunda Guerra. Porém, mesmo focando apenas na Europa, ainda assim não há melhor obra abordando o conflito.

 

O fato do livro não focar exclusivamente nas batalhas e campanhas militares, ao longo do desenrolar da guerra, é outro de seus pontos fortes. Ele também aborda magistralmente as intrigas políticas e a luta pelo poder nos bastidores. E isso tanto em relação à Alemanha, quanto em relação à Inglaterra, antes e durante a guerra, já com as potências aliadas e do Eixo. Isso está bem claro no início do livro, quando ele narra a ascensão de Hitler e do nazismo até a conquista do poder. O livro explica como um simples “cabo austríaco”, munido de um carisma gigantesco e uma retórica muito convincente, apesar de falaciosa, conquistou a Alemanha. Hitler pegou uma nação arrasada, prostrada e muito ressentida, e transformou-a na grande potência de outrora, capaz de rivalizar com as demais potências da época.

 

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Imagem Google: Convenção do Partido Nazista

 

Claro que não se pode esquecer que esse glorioso ressurgimento da Alemanha foi à custa de muita violência, ódio, perseguição, sofrimento, sangue, e verdadeiras atrocidades. Certamente a vida do alemão médio melhorou bastante, desde que ele não fosse judeu, comunista, homossexual, deficiente físico ou cigano. E também desde que esses “bons alemães” estivessem dispostos a fechar os olhos e ignorar o destino tenebroso daqueles que se encaixassem nessas categorias.

 

Na verdade apenas uma pequena parcela da população alemã era verdadeira e fervorosamente nazista. A maioria esmagadora dos alemães queria apenas melhorar de vida e voltar a poder sentir orgulho de ser alemão. Se para isso o preço fosse abdicar da liberdade de expressão, colocar a bandeira com a suástica na porta de casa e deixar um bando de lunáticos e degenerados fazerem o que quiserem, os “bons alemães” avaliaram que esse era um preço pequeno a se pagar. Isso torna ainda mais sinistro pensar no nível de barbaridades que o ser humano é capaz de tolerar, para melhorar um pouco de vida, desde que ele não seja afetado por essas barbaridades, nem sacrificado em nome delas.

 

O “perigo vermelho”, ou a ameaça comunista, também foi fundamental para a ascensão nazista. O medo de que a Revolução Russa se espalhasse por toda a Europa fez como muitos setores enxergassem no nazismo, uma forma desagradável, mas útil de conter os russos. Afinal, o nazismo podia até ameaçar os judeus e outras minorias, mas ameaçava apenas a eles. Em contrapartida o nazismo ferrenhamente contra o comunismo, além de garantia tanto a propriedade privada, quanto o cristianismo. Esse pensamento era muito comum entre as elites tanto dentro, como fora da Alemanha, entre ingleses e franceses. Nesse aspecto como se vê, não foram apenas os “bons alemães” que fecharam os olhos.

 

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Imagem Google: Guernica de Pablo Picasso, a mais famosa imagem da ação nazista na Guerra Civil Espanhola

 

Do mesmo modo, o livro também relata a acirrada disputa pelo poder na Inglaterra e pelo cargo de primeiro-ministro. De uma lado havia Churchill que enxergava no nazismo um grave ameaça aso interesses britânicos e à própria nação. Do outro havia Chamberlain que procurava a todo custo evitar uma nova guerra, mesmo que para isso tivesse que ceder o que Hitler quisesse.

 

O livro também destaca as conquistas nazistas através da diplomacia, sem que fosse disparado um único tiro, por conta da absurda e inacreditável complacência de Inglaterra e França. Aqui vale lembrar as palavras de Winston Churchill, que em retrospectiva disse que “nenhuma outra guerra jamais foi tão previsível e tão fácil de ser evitada, por diversas vezes, e com um custo mínimo”.

 

Se os franceses tivessem mobilizado e envido o seu poderoso exército para a fronteira alemã durante a crise de re-militarização da Renânia em 1936, talvez a Segunda Guerra não tivesse acontecido. Caso os ingleses e franceses tivessem interferido na Guerra Civil Espanhola, ainda em 1936, ao lado dos republicanos, quando os alemães interferiram à favor de Franco, talvez a Segunda Guerra não tivesse acontecido. Se os ingleses tivessem enviado sua poderosa frota para a costa alemã no Mar do Norte, durante o Ansclhuss, a anexação da Áustria, talvez a Segunda Guerra não tivesse ocorrido.

 

Até mesmo se Inglaterra e França tivessem negado as pretensões territoriais nazistas, ao invés de entregar de bandeja, primeiro a região dos Sudetos e depois toda a Tchecoslováquia a Hitler, certamente a Segunda Guerra Mundial teria começado antes e durado muito menos, ou talvez nem tivesse ocorrido.

 

São muitos “se”, e muitos “talvez”, mas mesmo assim dá para afirmar que se apenas algumas dessas condições tivessem ocorrido, a história seria outra.

 

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Imagem Google: Churchill, Roosevelt e Stalin em Yalta

Assim sendo, todas essas conquistas “diplomáticas”, com custo zero para a Wehrmacht, só fizeram aumentar e consolidar ainda mais o poder e prestígio de Hitler. Isso convenceu definitivamente os alemães, especialmente o Alto Comando das Forças Armadas, que somente ele realmente sabia como levar a Alemanha à vitória.

 

No lado dos aliados Shirer também analisa muito bem, a relutância de França e Inglaterra em fazer frente à Hitler. Foi necessária a humilhação pública de Chamberlain, para que a Inglaterra desse um ultimato aos nazistas em relação à Polônia. Quando Chamberlain retornou à Inglaterra após covardemente entregar a Tchecoslováquia a Hitler, com a ajuda dos franceses, ele, na saída do avião, sacudia o tratado assinado, dizendo que aquele era o documento da paz, e que Hitler pessoalmente garantiu que não haveria mais invasões. Quando meses depois os nazistas invadiram a Polônia, Chamberlain ficou totalmente desmoralizado. Mesmo declarando guerra à Alemanha ele não teve outra saída a não ser renunciar, e entrar para a história como um líder fraco, ingênuo e acovardado.

 

No campo político, o livro também fala dos impactos do Tratado Ribentrop-Molotov de não agressão entre a União Soviética e a Alemanha Nazista. Do mesmo modo ele também aborda a relutância da opinião pública norte-americana em entrar na guerra, antes do ataque a Pearl Harbor. Posteriormente Shirer também aborda as repetidas exigências de Stalin da criação de uma segunda frente ocidental, após a derrota da França e invasão da União Soviética. Também não ficam de fora as principais conferências durante a guerra como Casablanca, Moscou, Cairo, Teerã e Yalta.

 

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Imagem Google: outros bons livros sobre a Segunda Guerra e o Nazismo

 

Evidentemente, mesmo indispensável, “Ascensão e Queda do III Reich” não é o único livro sobre a Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido vale destacar as obras de três bons historiadores. O primeiro é o professor Martin Gilbert com o seu “A Segunda Guerra”, que apresenta um relato detalhados do conflito. O segundo é a trilogia “O Terceiro Reich” de Richard J. Evans, que foca mais em como vivia a população alemã durante o nazismo. O terceiro é “Memórias da Segunda Guerra” de ninguém menos que Winston Churchill em pessoa, ele mesmo um bom historiador e testemunha ocular do conflito. Outros bons livros são “A Era dos Extremos” de Erick Hobsbawm e “Inferno: O Mundo em Conflito” de Max Hastings.

 

 

Um filme…

 

Realmente existe uma quantidade incontável de livros sobre a Segunda Guerra, mas filmes são muito mais. Portanto, se escolher um livro sobre o conflito já é absurdamente difícil, escolher um único filme é praticamente impossível. É sempre bom lembrar que no período 1939/1945 o mundo inteiro estava em conflito, por isso todos os aspectos nacionais giravam em torno da guerra. Nesse cenário praticamente tudo se volta para o esforço de guerra. Mesmo os países neutros ou não ligados diretamente à guerra são impactados ou porque importavam produtos ou porque exportavam produtos para os países beligerantes. A Suécia é um bom exemplo disso, porque exportava minério de ferro para a Alemanha e equipamentos industriais para a Inglaterra.

 

Além disso, é preciso considerar também que um país só entra em uma guerra, e só permanece nessa guerra se contar com o apoio popular, mesmo que forçado. Antes de Pearl Harbor a opinião pública norte-americana era fortemente contrária ao ingresso dos EUA na guerra. Isso pressionava o congresso norte-americano, que por sua vez não dava espaço para qualquer iniciativa nesse sentido, por parte do Presidente Roosevelt. Do mesmo modo, mesmo toda a retórica formidável de Churchill não evitaria uma paz com a Alemanha, caso essa fosse a vontade do povo inglês.

 

Outro exemplo claro disso foi a queda de Mussolini. Mesmo vivendo em uma ditadura violenta e repressora, o povo italiano derrubou o ditador quando deixou de apoiar a permanência da Itália no conflito. A própria Guerra do Vietnã foi perdida mais em casa nos EUA, do que propriamente no sudeste asiático. Por isso é fundamental conquistar “corações e mentes” da população, para que esta apoie, e siga apoiando, o esforço de guerra.

 

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Imagem Google: Triunfo da Vontade – um marco nos filmes de propaganda política, que infelizmente exalta Hitler e o Nazismo 

 

Para conseguir esse apoio, a propaganda é essencial como demonstrou Goebbels, e, na década de 1930, o cinema e o rádio eram as melhores armas. Foi através do rádio e do cinema que Hitler levou a Alemanha à guerra, e também foi através do rádio e do cinema que Churchill convenceu os ingleses a permanecerem lutando. Do mesmo modo, nos EUA o cinema também foi usado ao extremo como forma de validar a guerra. E mesmo depois de findado o conflito, o cinema continuou sendo fundamental durante a Guerra Fria e as Guerras da Coreia e do Vietnã. Com isso, não é nenhuma surpresa que exista um verdadeiro oceano de filmes de guerra, especialmente norte-americanos.

 

Assim sendo, mesmo focando apenas na Segunda Guerra Mundial a quantidade de filmes é muito grande e um melhor que o outro. E o fato da Segunda Guerra Mundial ser um conflito de proporções “gargantuescas”, muito abrangente e extremamente complexo só piora a situação. Durante a guerra ocorreram uma infinidade de episódios fantásticos, cada um merecendo um filme específico, e foi exatamente isso que ocorreu.

 

Tratando do Dia D, há os excelentes “O Mais Longo dos Dias”, “Resgate do Soldado Ryan”, e “36 Horas”, esse último menos conhecido, mas excelente.  Falando sobre a Batalha da Inglaterra há “A Batalha da Grã-Bretanha”, o documentário “Spitfire” e “Missão de Honra”. Sobre espionagem e inteligência de guerra há “O Buraco da Agulha”, “Jogo da Imitação”, “O Soldado Que Não Existiu”, “Uma Luz na Escuridão” e “Aliados”. No caso de ações de comando existem “Os Doze Condenados”, “A Águia Pousou”, “Os Canhões de Navarone”, “Bastardos Inglórios” e “O Desafio da Águias”. Sobre batalhas e campanhas há “Uma Ponte Longe Demais”, “Batalha no Inferno”, “Ponte do Rio Kwai”, “Círculo de Fogo”, “Cruz de Ferro”, “Dunquerque” e “Stalingrado”.

 

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Imagem Google: bons filmes sobre a Segunda Guerra Mundial

 

A guerra no mar é retratada em “Das Boot”, “Greyhound”, “Batalha do Atlântico”, “O Mar É Nosso Túmulo”, “Afundem o Bismark” e “Raposa do Mar”. Os dramas, conflitos humanos e política renderam “Casablanca”, “A Lista de Schindler”, “Julgamento em Nuremberg”, “Oppenheimer”, “A Vida é Bela”, “Operação Valquíria”, “Conspiração”, “Munique – No Limiar da Guerra”, “O Menino do Pijama Listrado”, “A Menina que Roubava Livros” e “Um Ato de Liberdade”. A guerra aérea tem “Memphis Belle”, “Prova de Fogo”, “Mestres do Ar”, “Esquadrão Red Tails” “Inferno nos Céus”, “Esquadrão Mosquito” e “Labaredas do Inferno”.

 

O conflito no Pacífico está presente em “A Batalha de Midway”, “Tora, Tora, Tora”, “Pearl Harbor”, “Midway – Batalha em Alto Mar”, “Cartas de Iwo Jima”, “A Conquista da Honra” “The Pacific” e “Além da Linha Vermelha” e “Império do Sol”. Entre os filmes sobre os principais personagens da guerra estão “O Destino de Uma Nação”, “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”, “Ike – O Dia D”, Cinzas Sem Glória”, Stalin, “Patton – Rebelde ou Herói”, “MacArthur – General Rebelde”, “Raposa do Deserto”, “Mussolini – Story Untold”.

 

Todos esses filmes (alguns mais conhecidos, outros menos – alguns mais antigos outros mais recentes) são excelentes indicações, e alguns são verdadeiros marcos do cinema. E esses são apenas alguns, porque vários filmes sensacionais tiveram de ficar de fora da lista, por questão de espaço. Dessa maneira seria verdadeiramente inviável escolher apenas um filme, que representasse toda a Segunda Guerra Mundial. A solução foi escolher não um filme, mas uma série, que cobrisse a maior parte dos aspectos do conflito.

 

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Imagem Google: Band of Brothers

 

Band of Brothers é sem dúvida, uma das maiores séries de televisão de todos os tempos, e não apenas sobre a Segunda Guerra Mundial. Essa série da HBO, produzida por Steven Spielberg e Tom Hanks é simplesmente espetacular, em todos os sentidos. O orçamento da série superou “O Resgate do Soldado Ryan”, dos mesmos Spielberg e Hanks, que já custou uma fortuna. Em Band of Brothers há um extremo cuidado e eficiência com a recriação tanto dos eventos, quanto das batalhas, quanto dos dramas pessoais. A série fala de pessoas reais que fizeram coisas extraordinárias, suportando pressões inimagináveis. Alguns sucumbiram, outros não. Assim sendo, outro destaque são os depoimentos dos veteranos reais retratados no filme que encerram cada episódio. O trabalho de pesquisa também é magistral e poder entrevistar quem realmente viveu a guerra foi fundamental para a construção e representação dos personagens, outro ponto alto da série.

 

O foco de Band of Brothers é a Companhia Easy, do 506º Regimento, da 101ª Divisão Aerotransportada, do treinamento até o final da guerra. A série se baseia no romance homônimo de       Stephen E. Ambrose. A história se inicia em 1942, no Campo Toccoa na Geórgia, com o treinamento dos soldados, que posteriormente são enviados para a Inglaterra. Em seguida a série mostra o Dia D, com a Companhia Easy saltando atrás das linhas alemãs, para desestabilizar o inimigo e dificultar a defesa. Depois disso a série prossegue mostrando o avanço dos Aliados pela Europa ocupando, disputando cada quilômetro quadrado do terreno com os alemães.

 

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Imagem Google: Alguns dos veteranos reais da Companhia Easy

 

Primeiro a Companhia Easy participa da tomada da cidade francesa de Caretan, enfrentando um acirrado combate urbano. Depois a série narra a participação dos soldados na fracassada Operação Market Garden na Holanda. A ação segue para a Batalha do Bulge, especificamente em Bastogne, onde a Companhia Easy enfrenta as piores condições possíveis, frio congelante, e poucos suprimentos. Em seguida a Companhia Easy segue para conquistar a cidade de Foy e barrar o contra-ataque alemão nas Ardenas. Finalmente os soldados adentram o território alemão e testemunham os horrores do nazismo ao encontrarem um campo de concentração. A série termina com a Companhia Easy chegando ao Ninho da Águia, a fortaleza pessoal de Hitler, em Berchtesgaden na Bavária. Com o final da guerra na Europa, alguns soldados descobrem que o pesadelo não acabou, e alguns deles serão enviados para lutar contra os japoneses no Pacífico.

 

Um dos grandes méritos da série é justamente não focar em um único aspecto da guerra, mas sim em todos os aspectos de modo geral. Em Band of Brothers há um pouco de tudo. A série mostra os bons líderes de homens e os líderes ruins. Há o companheirismo e a camaradagem. Existem grandes cenas de ação, com batalhas realmente realistas e não os exageros de costume de Hollywood. Alguns personagens principais morrem, enquanto outros são mutilados ou feridos gravemente. As decisões políticas e as batalhas de ego também são mostradas.

 

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Imagem Google: Campos de Concentração

 

Mas acima de tudo Band of Brothers mostra os conflitos humanos da Segunda Guerra Mundial. Os soldados são corajosos e determinados em alguns momentos, mas em outros eles sentem medo e incertezas, como qualquer ser humano. A série também mostra que os alemães não foram todos os monstros sem alma ou remorso, como normalmente são retratados nos filmes. Muitos deles estavam lutando pelo seu país, tal qual americanos e ingleses. Mas os horrores dos campos de concentração, e a indiferença de parte do povo alemão também aparece na série.

 

Por fim, Band of Brothers é uma série documental que mostra a guerra com todas as suas facetas. Em momento algum a produção procura minimizar o lado sombrio e perverso da Segunda Guerra Mundial. Muito pelo contrário Band of Brothers mostra toda a realidade violenta, suja, sofrida, assustadora e estúpida da guerra. Simplesmente imperdível.

 

Um Jogo…

 

Do mesmo modo como ocorre com livros e filmes, também existe uma enormidade de jogos de tabuleiro temas bélicos, inclusive abordando especificamente a Segunda Guerra Mundial. Basta dizer que dentro do hobby dos board games há toda uma categoria de jogos tratando da guerra, os famosos wargames. Aqui cabe um parêntese importante. Todo o wargame é um jogo de guerra, mas nem todo jogo de guerra é um wargame. Na sua acepção mais comum e mais aceita, wargames são jogos de tabuleiro, que utilizam grade hexagonal, altamente realísticos e complexos, contrapondo dois exércitos inimigos, com suas unidades representadas por tiles (peças hexagonais).

 

Assim sendo, partindo desse ponto de vista estrito, WAR e Destemidos são dois jogos de guerra, mas não são wargames. Já Advanced Patrol Leader e Path of Glory são tanto jogos de guerra quanto wargames.

 

A Época de Ouro dos wargames foi o período entre 1975-1985, quando esse tipo de jogo começou a perder popularidade. Nesse sentido a maior virtude dos wargames talvez também seja o seu maior pecado. Os wargames são jogos de tabuleiro altamente estratégicos, mas acima de tudo absurdamente detalhados. A ideia por trás dos wargames é mostrar que uma campanha militar vai muito além de apenas lançar dados e avançar pecinhas. Nos wargames há diversos outros fatores e táticas a se considerar. As unidades (tiles) têm pontos de vida, por isso não se elimina uma unidade em um único lance de dados. Elas têm poder de fogo e deslocamento diferentes, o que interfere na estratégia, quando se quer atacar frontalmente, ou flanquear o inimigo. E esses são apenas alguns detalhes, porque em alguns títulos ainda é preciso considerar linhas de suprimento, entre outras coisas.

 

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Imagem BGG: Alguns Bons Wargames da Era de Ouro (1975-1985)

 

O resultado de todo esse detalhamento, é que os wargames são incrivelmente complexos, até mesmo de se aprender, quanto mais de dominar. Os livros de regras de um wargame são realmente livros. Um exemplo que sempre se dá quando se fala isso é o lendário Advanced Patrol Leader. Reza a lenda, que o livro de regras da versão original desse wargame tão emblemático possuía mais de 400 páginas. Isso era muito até para os padrões dos wargames, e por isso o Advanced Patrol Leader foi dividido em três kits, que é a versão mais atual.

 

Toda essa complexidade dos wargames acabava afastando alguns jogadores, que queriam jogar um bom jogo de guerra, mas sem ter de fazer tanto esforço. Porém, os jogadores também não queriam algo simples demais, como o Risk (a inspiração para o WAR da Grow). Justamente para atender essa necessidade, surgiu Axis & Allies, uma das franquias de jogos de tabuleiro, mais bem sucedidas da história dos board games.

 

O Axis & Allies representa exatamente um meio termo entre o Risk e os wargames. O mapa do tabuleiro do jogo não utiliza a grade hexagonal, consagrada nos wargames, e nesse aspecto ele está bem mais próximo do Risk. Por outro lado, no Axis & Allies o jogador dispõe não apenas do Exército, mas da Marinha e da Força Aérea, o que o torna mais complexo e estratégico. Outra inovação foram as miniaturas do Axis & Allies que tornaram o jogo ainda mais sensacional. Na sequencia do sucesso do jogo, diversas empresas também lançaram miniaturas de modelos diferentes de soldados, tanques, aviões e navios, na mesma escala. Isso enriquece ainda mais o Axis & Allies.

 

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Imagem BGG: Axis & Allies original

 

O jogo fez um sucesso estrondoso, principalmente por se passar na Segunda Guerra Mundial, colocando de um lado os Aliados e do outro as forças do Eixo. Assim sendo, três jogadores lutam por Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética, enquanto dois outros lutam por Alemanha e Japão. Para balancear o jogo, Alemanha e Japão são nações militarmente mais fortes do que as nações aliadas. A França e a Itália não são representadas no jogo. Isso porque a França se rendeu logo no início da guerra, e a Itália porque nunca teve uma vitória muito expressiva durante o conflito. Além disso, a inclusão de França e Itália elevaria o número de jogadores para sete, o que é muito.

 

De um modo geral, Axis & Allies funciona de forma semelhante ao Risk e ao WAR, em que os combates se resolvem através de rolagem de dados. Nisso, o jogo segue mais ou menos uma receita já consagrada na época. Porém, a inclusão das duas outras forças armadas além do Exército torna tudo muito mais estratégico e interessante. E isso aumenta ainda mais o caráter temático e a imersão do jogo, além de retratar muito mais fielmente a Segunda Guerra Mundial.

 

No início do conflito, a Segunda Guerra Mundial envolveu muito mais o Exército, com a imparável blitzkrieg alemã. Mas logo após a França cair, não havia mais para onde o exército alemão avançar. Nesse momento da guerra entram em cena as forças aéreas, a Luftwaffe pelos alemães e a RAF pelos ingleses. Só quando se iniciou a Operação Barbarossa na metade de 1941 é que o Exército voltou a entrar em ação, de ambos os lados. Até o final de 1941 a Marinha tinha um papel secundário, focando basicamente na escolta de comboios pelo Atlântico, no afundamento desses comboios.

 

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Imagem BGG: tabuleiro do Axis & Allies

 

Tudo mudou com o ataque a Pearl Harbor, quando os EUA entraram no conflito e o teatro do Pacífico ganhou enorme importância. Assim sendo, estabeleceu-se a diferença dos teatros de guerra durante a Segunda Guerra mundial, em termos de forças armadas. Na Europa a guerra era basicamente focada no Exército e na Força Aérea. Já no Pacífico a guerra era basicamente focada na Marinha e na Força Aérea. Isso está muito presente no Axis & Allies. Enquanto EUA e Japão lutam entre prioritariamente com navios, alemães lutam contra ingleses e russos usando exércitos, e nos dois casos se usa aviões.

 

Para os dias atuais, Axis & Allies talvez seja um tanto o quanto datado e ultrapassado, do mesmo modo como ocorre com os wargames tradicionais. Não se pode esquecer que Axis & Allies surgiu quinze anos antes de Catan revolucionar os board games. Mas com tudo isso, é interessante notar como o sucesso da série Axis & Allies reproduz no mercado exterior, aquilo que acontece no Brasil com o WAR. Mesmo ambos sendo ultrapassados e datados ainda assim eles vendem horrores. No Brasil, o WAR assim como o Banco Imobiliário e o Detetive ainda são as principais referências em termos de jogos de tabuleiro. No exterior a situação não é igual. Isso porque mesmo com todo o sucesso da linha Axis & Allies, ela ainda está a anos luz de distância da relevância e do sucesso de Monopoly e Clue.

 

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Imagem Google: outros jogos da linha Axis & Allies

 

Mas independente disso, Axis & Allies não é exatamente apenas um jogo, mas sim uma série de jogos, que representa praticamente um hobby dentro do hobby. Ao longo das últimas quatro décadas desde o lançamento do jogo original, já saíram diversas outras versões explorando tanto batalhas, quando períodos específicos da Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido há as versões Axis & Allies 1940, Axis & Allies 1941, Axis & Allies 1942, além de Axis & Allies Guadacanal e Axis & Allies Battle of Bulge, só para citar algumas.

 

Do mesmo modo, essas versões também não ficaram restritas às décadas de 1980 ou 1990. A versão Axis & Allies 1942 é de 2009, e a segunda edição do jogo original (Axis & Allies 2nd Edition) é de 2012. Já a recentíssima Axis & Allies North Africa é desse ano (2024), o que comprova que essa série de jogos está mais viva e mais forte do que nunca.

 

Os boardgamers modernos, especialmente quem não jogou WAR na juventude, quando esse clássico estava no auge, talvez não gostem do Axis & Allies. Além das partidas serem muito longas, o fator sorte é preponderante e a mecânica base do jogo é praticamente apenas rolagem de dados. Nesse sentido Axis & Allies tem um apelo muito maior, para o pessoal mais velho que curtiu, e ainda curte, o bom e velho WAR “véio de guerra”. Essa rapaziada certamente vai curtir o Axis & Allies justamente porque ele tem aquele gostinho do WAR, mas vai muito além, em termos estratégicos. Além disso, o Axis & Allies tem a vantagem de ser um jogo cooperativo de times e não haver eliminação de jogadores. Quando um dos lados vence a partida acaba.

 

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Imagem Google: Axis & Allies – Miniaturas

 

Mas mesmo com todas as incompatibilidades do jogo, em relação aos padrões de board games atuais, o Axis & Allies tem um grande atrativo, mesmo para os boardgamers modernos. Existem discussões intermináveis, muita especulação acadêmica e uma infinidade de livros sobre como a Segunda Guerra teria se desenrolado se os alemães tivessem tomado outras decisões estratégicas. E se o Japão não tivesse atacado Pearl Harbor e os EUA não tivessem entrado na guerra? Do mesmo modo, e se os alemães tivessem derrotado primeiro a Inglaterra, e só depois se voltado contra a União Soviética? Mesmo mantendo as condições gerais do conflito, e se os alemães não tivessem insistido tanto na conquista de Stalingrado e simplesmente tivessem dado a volta e evitado o movimento de pinça das forças soviéticas comandadas pelo General Júkov (Operação Urano), que cercou e depois aniquilou todo o 6º Exército do General Paulus?

 

Em Axis & Allies os jogadores podem experimentar todos esses “se”, ao menos de alguma forma semelhante, e traçar as suas próprias estratégias durante o conflito. Dito isso, Axis & Allies é um jogo clássico, que ainda vale muito a pena experimentar. E isso especialmente para aqueles que apreciam um bom jogo de guerra, mas não dispõem de tempo ou a dedicação necessária para encarar os consagrados wargames de outrora da saudosa Avalon Hill.

 

Por fim, “Ascensão e Queda do 3º Reich”, “Band of Brothers” e “Axis & Allies”, são excelentes obras para conhecer melhor e, de certo modo, “vivenciar” o que aconteceu na Segunda Guerra Mundial. Portanto tanto o livro, quanto a série, quanto o jogo, são verdadeiramente fundamentais para qualquer interessado no tema, desse que foi talvez o maior conflito humano da história da humanidade.

 

Um forte abraço e boas jogatinas!

 

Iuri Buscácio

 

P.S. Quem porventura tiver interesse em textos no mesmo estilo pode encontrá-los acessando o canal iuribuscacio no Ludopedia ou a seção de Jogos de Tabuleiro no portal maxiverso.com.

 

https://ludopedia.com.br/canal/iuribuscacio

https://maxiverso.com.br/blog/category/nerdgeek/jogostabuleiro/

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Iuri Buscácio

Leitor voraz de filosofia, teatro, literatura brasileira e estrangeira, suspense, e de romances históricos, de fantasia e ficção científica, além de ser fã de quadrinhos americanos e europeus, desde os tempos da saudosa Ebal, amante do cinema e das séries, e também um grande entusiasta e pesquisador dos jogos de tabuleiro, tanto clássicos quanto modernos, cuja trilha sonora é o bom samba, a MPB de qualidade, black music e música pop dos anos 70 e 80.

8 thoughts on “Axis and Allies – Um Livro, Um Filme, Um Jogo…

  1. Rapaz te respondi em outro lugar, ai achei aqui, muito bom.

    Eu to vendo varias opcoes disso e acrescentando outras, tendo ideias e transportando para meu trabalho.

    Viagens.

    Obrigado pelo texto.

    Abraço!

    1. Caro Marcelo Bezouro

      Rapaz, é porque eu publico meus textos aqui no Maxiverso, além de publicar no Ludopedia também.

      Um forte abraço e boas jogatinas.

      Iuri Buscácio

  2. Caro Paulo Don

    Seu ponto de vista realmente é uma forma de ver a questão. O problema é que não se pode negar que o WAR usa basicamente rolagem de dados e movimentação das peças. E a força das peças reside unicamente na sua quantidade. Ao contrário disso, os jogos modernos são muito mais estratégicos e tem uma série de outros fatores a se considerar.

    E mesmo entre jogos antigos existem alguns que são muito mais estratégicos e menos dependentes de sorte do que o WAR. No Brasil mesmo foram lançados o Supremacia e o Diplomacia, muito mais focado na estratégia do que nos dados. O Diplomacia inclusive nem tem dados. Foi justamente essas maior complexidade e profundidades estratégicas que impediram tanto o Diplomacia quanto o Supremacia de se tornarem tão populares quanto o WAR. aliados a outros fatores, como época de lançamento, licenciamento internacional, investimento em marketing, etc. E quando se vai além, e se inclui na equação os wargames, com toda a sua complexidade, realismo e imersão, em comparação, o peso que a sorte tem no WAR fica ainda mais evidente.

    Agora, o fato de se basear quase que exclusivamente em rolagem de dados, ter partidas muito longas fazendo quase que sempre a mesma coisa e de ainda por cima ter eliminação de jogadores, não torna o WAR um jogo necessariamente ruim. Ele apenas é um jogo ultrapassado, do mesmo modo que Clue/Detetive também é, mesmo ainda sendo divertido. E nem poderia ser diferente, pois estamos falando de um jogo com mais 50 anos de lançado, e que pouco mudou ao longo dessas cinco décadas.

    Veja que eu também gosto do WAR, e não acho que ele seja o “lixo”, que muitos “sommeliers de board gamers modernos” afetadamente gostam de alardear. Porém o fato de ainda gostar do WAR, e de ter enorme respeito por tudo que ele representou, e ainda representa para o mercado nacional de jogos de tabuleiro, não me impede de enxergar suas evidentes limitações.

    É desse modo que eu enxergo a questão.

    Um forte abraço e boas jogatinas!

    Iuri Buscácio

    1. Caro Telhanova Thales

      Com todo o respeito à legião de fãs brasileiros do WAR, mas com toda a certeza, o Axies & Allies é bem melhor, tanto em relação ao Risk quanto ao WAR.

      O Axis & Allies fica exatamente entre a simplicidade demasiada de Risk e WAR, e a complexidade exagerada dos wargames da lendária editora Avalon Hill. Ele é um jogo que vale muito a pena, principalmente para quem já conhece o WAR e quer tentar um algo a mais.

      Também merece destaque o fato dele ser cooperativo em parte, o que é bastante temático, e não ter eliminação de jogadores. Isso acaba com uma crítica forte em relação ao WAR, quando o primeiro jogador é eliminado, ou logo no início da partida fica com pouquíssimas chances de ganhar, jogando apenas como coadjuvante e para cumprir tabela. No Axis & Allies, os jogadores são do Eixo ou dos Aliados, como o próprio nome já diz, de modo que todo mundo ganha junto e também perde junto, sem que ninguém tenha de ficar esperando mais de uma hora para voltar a jogar, após ser eliminado.

      O único porém do Axis & Allies é que justamente por n!ao haver eliminação de jogadores, as partidas costumam ser muito longas, tanto quanto as do WAR. Mas para quem não tem problemas com isso, o Axis & Allies é realmente uma ótima pedida.

      Um forte abraço e boas jogatinas!

      Iuri Buscácio

  3. Nunca concordei que War tivesse na sorte um fator preponderante. Joguei perto de uma centena de partidas, algumas com mais de 8 horas, e nunca, isso mesmo, nunca vi a sorte definir uma partida. Ah, mas tem os dados que resolvem as batalhas na sorte. Errado. Os dados trazem o fator aleatoriedade, mas – a matemática é maravilhosa – tudo dentro de uma ciência chamada “probabilidade”. Então vc mitiga a sorte com sua estratégia e com a quantidade de exércitos necessários para, mesmo dando “azar” nos dados, ter uma probabilidade maior de vitória na batalha. Já vi nessas partidas um território com 1 exército dizimar um atacante que veio com 6 ou mais exércitos. Altamente improvável, mas ainda assim dentro de uma margem de probabilidade. Mas ocorre muito isso? Não. Ocorre raramente. O que define a vitória em War é 99% das vezes a estratégia (que tem que levar a probabilidade dos dados em conta). Por isso sempre amei War mesmo sabendo hoje em dia que ele é datadíssimo e cheio de problemas que os jogos modernos resolveram.

  4. adorei o texto! parabens! ta favoritado aqui junto com aquela lista de vcs de top melhores filmes de guerra! parabens galera!

    1. Cara Carol

      Muito obrigado e que bom que você gostou do artigo. Fico muito satisfeito com isso.

      No mais, na minha humilde opinião, e deixando a modéstia de lado, mas as indicações de livros e filmes são muito boas, e todos valem muito a pena, para quem quiser saber mais sobre a 2ª Guerra Mundial. Infelizmente alguns filmes são bem antigos (alguns filmados durante o conflito como propaganda de guerra)< ent!ao acaba sendo mais difícil e trabalhoso encontrá-los.

      Um forte abraço e boas jogatinas!

      Iuri Buscácio

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