3ª Dica p/ Novos Jogadores – 7 Cuidados ao Iniciar nos BGs
Esse texto 3ª Dica p/ Novos Jogadores – 7 Cuidados ao Iniciar nos BGs aborda os cuidados que os recém-chegados ao hobby dos board games devem ter. A ideia dessa série de textos é justamente ajudar os jogadores iniciantes a começar no hobby. Por isso, é muito importante que, desde cedo, eles sejam alertados a respeito dos cuidados que devem ser observados, ao se ingressar nesse universo dos jogos de tabuleiro modernos.
Dito isso, é bom destacar e recomendar a quem ainda não tiver feito isso, que leia o primeiro texto da série que explica de forma geral como surgiu e como funciona o hobby de board games. Para quem se interessar há também outro texto falando dos formatos das caixas de board games modernos. Esses textos estão disponíveis nos links:
1ª Dica P/ Novos Jogadores – Conheça Melhor o Hobby: https://maxiverso.com.br/blog/2022/07/15/1a-dica-p-novos-jogadores-conheca-melhor-os-board-games-modernos/
2ª Dica P/ Novos Jogadores – Conheça os Tipos de Caixas: https://maxiverso.com.br/blog/2022/12/05/2a-dica-p-novos-jogadores-conheca-as-caixas-dos-board-games/
Como se pode ver durante a leitura, alguns desses cuidados, listados abaixo, estão fortemente inter-relacionados entre si, e são apenas vários aspectos de uma boa prática no consumo e aproveitamento dos board games.
1º CUIDADO – A “SÍNDROME DO TEMPO PERDIDO”
Um conceito muito comum na vida humana é a “Síndrome do Tempo Perdido”, que também ocorre nos board games. A ideia é simples, e tem a ver com a recuperação do tempo, em que não se praticou uma atividade qualquer. Quando alguém fica impedido de exercer uma atividade com a qual está acostumado, após esse empecilho cessar, é natural que a pessoa queira recuperar o tempo que perdeu, durante o período de inatividade.
O mesmo acontece quando uma pessoa descobre um novo hobby, esporte, arte, ou qualquer outro passatempo. Esse é o caso, por exemplo, de alguém que aprende a tocar um instrumento musical, já na fase adulta. É muito comum que a pessoa gaste cada vez mais tempo praticando, até porque com a prática o desempenho vai melhorando, o que leva a mais prática e assim por diante. Da mesma forma, quando a pessoa começa a praticar um esporte, a tendência é que ela devote a maior parte do seu tempo livre aos treinos. A pessoa que se encanta, e acaba gostando muito, dessa nova atividade, fica se perguntando “por que não descobriu esse novo mundo anos atrás”.
No caso do hobby dos board games não poderia ser diferente. A pessoa vai à casa de um amigo, que lhe mostra um jogo de tabuleiro diferente dos jogos clássicos. Imediatamente vem à mente da pessoa o War, o Detetive, o Banco Imobiliário, Imagem & Ação, entre outros. Porém, quando ela se depara com os jogos de tabuleiro modernos, ela percebe que a situação é totalmente diferente. Se a pessoa gostar dos jogos, e se forem apresentados jogos adequados, normalmente o passo seguinte é descobrir onde comprar. Nesse momento, acontece aquele susto inicial com o preço, porque jogos clássicos custam dezenas de real, enquanto board games algumas centenas.
Imagem Google: Síndrome do Tempo Perdido
Mas a pessoa ficou apaixonada, e pretende entrar no hobby, independente do custo. É aí que entra em cena a “Síndrome do Tempo Perdido”, porque a pessoa descobre que os jogos modernos existem há quase trinta anos, e são lançados no Brasil há mais de uma década. O pensamento dela é algo como “mas como eu não soube disso antes? Tenho que fazer alguma coisa para recuperar todo esse tempo que eu deixei passar”. E logo em seguida ela começa a comprar jogos compulsivamente, para compensar o fato de não ter descoberto os board games dez anos atrás.
A situação piora quando a pessoa começa a freqüentar sites de board games e a assistir canais de jogos no Youtube, e descobre que diversos jogos estão OOP (Out of Print), ou fora de catálogo, e que será muito difícil, ou muito caro, adquirir uma cópia. Basta pensar em uma pessoa recém chegada ao hobby, que era muito fã da série Battlestar Galatica em 2004/2009, e que descobre que há um board game oficial, que ela dificilmente conseguirá comprar. Já que ela não consegue comprar esse board game, ela compensará comprando outro.
Imagem Ludopedia: Game of Thrones Card Game e Summoner Wars
Isso aconteceu com muita gente, que comprou o Game of Thrones Card Game ou o Summoner Wars na época do lançamento, sem se importar se os jogos eram bons. Elas fizeram isso só porque não havia muitos lançamentos nacionais na época e importar jogos era muito caro. Portanto comprava-se o que havia disponível no mercado nacional, sem parar para pensar se os jogos eram adequados ou não ao gosto pessoal de cada um. Como resultado, ao longo de uma década, mais ou menos, as pessoas vendiam as primeiras edições nacionais desses jogos, “a preço de banana”.
Atualmente acontece o extremo oposto, ou seja, são lançados tantos jogos anualmente, que a pessoa acaba ficando perdida com o que comprar, nesse mar de opções. Portanto, o cuidado que se deve ter ao ingressar no hobby, em relação á síndrome do tempo perdido, é saber que não é possível fazer isso, pelo menos em relação aos board games. É preciso entender que se a pessoa entrou tardiamente no hobby, o melhor a fazer é se concentrar no que pode ser feito, ao invés de tentar compensar, de uma forma equivocada, aquilo que poderia ter feito, caso tivesse descoberto o hobby antes.
2º CUIDADO – HYPE E FOMO
Existem dois termos que todo o boardgamer deve conhecer e tomar cuidado com eles: Hype e FOMO. O primeiro tem a ver com a comoção que o lançamento de um novo jogo causa, ou uma nova versão de um jogo antigo. Normalmente, a editora envolvida no lançamento é quem fomenta e cria o hype, como uma estratégia para aumentar o volume de vendas do jogo.
Com isso, são distribuídas diversas cópias do jogo, para que a mídia especializada (canais de board game) faça inúmeros vídeos ensinando as regras, resenha do jogo (review), abertura de caixa (unboxing) e partidas completas (gameplay) no Youtube. Também são escritos diversos tópicos no Ludopedia e demais sites de board game, e realizadas várias lives falando no jogo, ou comparando o jogo recém lançado XYZ, com um mais antigo ZYX. Atualmente, existem até eventos no Youtube, só para divulgar os futuros lançamentos, nos quais as editoras mais apostam suas fichas. Esses eventos costumam deixar a comunidade boardgamer em polvorosa. Todo mundo fica querendo saber, se aquele jogo tão aguardado terá finalmente uma edição nacional, ou se haverá o relançamento de jogos antigos. Isso tudo é patrocinado pelas editoras, para convencer o público de que aquele novo lançamento é obrigatório em qualquer coleção de jogos de respeito.
Imagem Wikipedia: Don’t Believe the Hype – Public Enemy (grupo pioneiro de Hip Hop)
Na verdade, o Hype é um grande problema, porque faz com que as pessoas consumam alguma coisa (que é o objetivo da empresa que produziu essa coisa), sem nem parar para pensar se é aquilo mesmo que a pessoa quer. Por isso, quando a pessoa vê um jogo com muita badalação em volta, antes de entrar na onda, é fundamental que ela pesquise a respeito do jogo.
Nesse caso o mais indicado é assistir aos vídeos de partidas completas ou gameplay, muito mais do que vídeos de unboxing ou de review. Isso porque no vídeo da jogatina, é possível avaliar com o jogo é na realidade, sem floreios e sem exageros. No vídeo de review, nenhum canal de board games vai dizer que o jogo é uma porcaria, até porque se fizer isso a editora não manda mais jogos. Com isso, a geração de conteúdo fica muito mais complicada. Não é que os canais sejam “todos uns vendidos”, muito pelo contrário, eles são fundamentais para a divulgação do hobby. Porém o que ocorre é que eles acabam sempre fazendo vídeos de review de jogos que eles gostam, ou que pelo menos já conheçam a versão importada.
Imagem: Youtube – FOMO nos Board Games
Já o termo FOMO deriva da expressão em inglês “fear of missing out”, que significa “medo de ficar de fora”. Em outras palavras, FOMO representa o receio de deixar de participar de uma “onda”, ou de comprar um jogo que todos os outros estão comprando. Esse fenômeno está ligado a uma característica humana no nível instintivo, e não apenas do homem, mas de todos os mamíferos, que é o comportamento de manada.
Desde o início dos tempos os mamíferos, entre eles o homem, sempre se juntaram como uma forma de se protegerem de eventuais predadores. Por isso é até natural que as pessoas adotem um comportamento que está sendo seguido por todas as outras pessoas do grupo social próximo. De uma forma geral, as pessoas gostam de se iludir e pensar que isso não se aplica a elas, mas diversos experimentos sociais em programas televisivos já comprovaram que, quando não estão atentas, a maioria esmagadora das pessoas faz aquilo que elas vêem outras pessoas fazendo, mesmo sem entender e sem haver nenhuma justificativa aparente.
Imagem BBC: Comportamento de Manada
No caso dos jogos o raciocínio é o seguinte: “se todo mundo está comprando esse jogo, então ele deve ser obrigatoriamente bom, e, portanto, eu preciso comprar também”. E isso é feito, boa partes das vezes, sem a pessoa sequer pare para pensar se aquele board game é adequado a ela ou não. Afinal, “vai que o jogo se esgota, todo mundo consegue a sua cópia e só eu fico sem”!!!
Uma situação, muito corriqueira até, é um jogo fazer um enorme sucesso, todo mundo comprar e indicar, mas ele não ser do gosto de uma determinada pessoa. Se ela se deixar levar pelo FOMO, vai acabar comprando um jogo que não vai gostar, e acabará revendendo-o, muitas vezes com grande prejuízo. Alguns jogos até valorizam bastante com o passar do tempo, mas essa é uma aposta muito arriscada, porque nem sempre isso acontece.
3º CUIDADO – CONHEÇA A SI MESMO E O SEU GRUPO DE JOGO
Como todos sabem, o hobby dos board games é um passatempo eminentemente coletivo. Até existem alguns jogos solo, mas esses são a exceção e não a regra. Funciona mais ou menos como baralho, ou seja, basta comparar quantos jogos do tipo “solitaire” e quantos jogos para várias pessoas existem.
Esse é um fator muito importante a se considerar, quando se vai comprar um jogo, independente se a pessoa é um novato ou um veterano. É preciso ter sempre em mente se a pessoa terá com quem jogar aquele jogo. Basta perguntar àqueles com mais “tempo de janela”, que chegaram a pegar os wargames dos anos 70/80, sobre a dificuldade que é encontrar um parceiro de jogatina, para esses jogos. Os “wargames” são muito complexos, têm muitas regras, normalmente só comportam duas pessoas e demoram horas ou dias, de partida. Com isso, os entusiastas simplesmente deixam de jogar pelo simples fato de não ter com quem fazê-lo.
Imagem Pensador: Conhece-te a ti mesmo…
Essa situação ocorre, especialmente, em relação a board games de um gênero muito específico. Muitas pessoas idolatram o jogo, mas dá para imaginar o suplício que deve ser uma partida de 5 horas de Twilight Imperium IV para quem não gosta de ficção científica. Da mesma forma, deve ser uma tortura, quem não gosta de jogos com rolamento de dados, nem do gênero horror, uma partida igualmente longa de Arkham Horror. Na maior parte dos casos, a pessoa comparece a uma ou duas jogatinas, mas, misteriosamente, está sempre ocupado quando se tenta marcar a terceira.
Imagem Youtube: Boardgamer sem um grupo de board games
Quando uma pessoa conhece os board games, normalmente através de amigos e entra para o hobby, ela se depara com um mar de opções. São dezenas e dezenas de jogos lançados por ano e apenas no Brasil. Para agravar a situação, o recém chegado acaba caindo em um universo enorme, sem saber exatamente como as coisa funcionam. Nesse caso, a tendência natural é procurar a opinião de quem sabe mais sobre board games, quem é mais experiente e tem mais tempo de hobby. Com isso, os recém chegados ficam muito vulneráveis, tanto ao hype, quanto ao FOMO, tratados no item anterior.
Obviamente, é muito importante ouvir a opinião de quem sabe mais, e no hobby existem pessoas com muito tempo de board game, alguns com duas ou mais décadas de jogatina. Do mesmo modo, os canais de board games do Youtube são importantíssimos, principalmente para a divulgação do diversos lançamentos. Entretanto, é muito importante receber e analisar essas informações com muita cautela. Não é porque aquele jogo é excelente e muito indicado para aquele expert do vídeo, que o jogo será excelente para absolutamente qualquer um. Não existem jogos que sejam obrigatórios em qualquer coleção. Ele pode até ser obrigatório, mas apenas na coleção daquela pessoa do vídeo, mas com certeza não é obrigatório na coleção de todo mundo.
Assim sendo, o que o recém chegado ao hobby deve fazer é experimentar a maior quantidade possível de jogos diferentes. Isso pode ser feito através de sites de board games, de jogatinas na casa de amigos boardgamers, frequentando luderias e lojas especializadas, participando de eventos de jogos de tabuleiro e até mesmo alugando alguns jogos. Com isso, a pessoa vai conseguir descobrir de que tipo de jogo ela gosta mais, e quais as mecânicas e temáticas melhor lhe agradam.
4º CUIDADO – A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA DE PREÇOS
Não há nenhuma dúvida de que o hobby dos jogos de tabuleiro modernos teve um crescimento enorme nos últimos dez anos. O mercado nacional de borda games que era praticamente inexistente, agora já conta com algumas editoras, e que tem um lançamento de dezenas de jogos anuais, em um curto espaço de tempo. Além disso, hoje já acontecem eventos regionais e um grande evento nacional o DOFF, e já é possível encontrar lojas e bares especializados em jogos, nas principais capitais do país.
Apesar de todo esse crescimento, em números totais, o mercado nacional de jogos ainda é mínimo, e o hobby é praticamente desconhecido para a maior parte da população. Um dos principais motivos disso é o preço dos board games ser muito alto, e proibitivo para maior parte das famílias. Esse preço alto também dificulta a divulgação do hobby, porque ele é muito superior ao preço dos jogos de tabuleiros clássicos (War, Banco Imobiliário, Detetive, etc). Nos anos 70/80 as empresas brasileiras lançavam essas “versões nacionais” de jogos estrangeiros consagrados, sem pagar o licenciamento, o que barateava muito o custo de produção. Além disso, esses jogos são produzidos integralmente nas fábricas próprias dessas empresas, ao invés de nas fábricas chinesas, uma exigência das editoras estrangeiras para licenciar o jogo. Esse é outro fator que torna a produção ainda mais barata.
Imagem Compara Jogos
Por último e não menos importante, durante quase quatro décadas, os jogos de tabuleiro clássicos foram os únicos jogos disponíveis no nosso país. Com isso foi sendo construída uma referência e uma memória afetiva, que faz com que as pessoas imediatamente pensem nos jogos clássicos, quando se fala em jogos de tabuleiro.
Somando isso tudo, mesmo que uma pessoa tenha algum contato com os board games, quando ela compara os preços, não há dúvida na escolha. Os jogos clássicos, que ela já conhece, custam em média R$ 100,00, enquanto que os board games modernos custam em média quatro ou cinco vezes mais. Por isso, mesmo os board games sendo muito melhores que os jogos clássicos, em componentes e mecânicas, na hora de comprar, as pessoas acabam optando pelos clássicos.
O problema do preço também é agravado pela quantidade de jogos modernos produzidos anualmente. A tiragem de cada jogo é de apenas 1.000 a 2.000 unidades por jogo, chegando a 3.000 no caso dos campeões de venda. Não há nenhuma confirmação desses números, porque as editoras não divulgam essa informação. Mas já existe um consenso dentro da comunidade de que os números são mais ou menos esses, com base nas poucas informações disponíveis. Com isso, as editoras nacionais preferem produzir menos e vender mais caro, ao invés de produzir mais e vender mais barato, lucrando mais com o maior volume de vendas.
Imagem Ludopedia – Ludostore
Por isso é fundamental pesquisar muito bem os preços dos jogos, porque sempre existem ofertas com preços melhores. Além disso, como os preços são altos, muitas pessoas acabam vendendo jogos antigos, para terem condições de comprar os novos lançamentos. Esse processo é chamado de “rodar a coleção”. Outra questão importante, é que o mercado de jogos ainda funciona muito na base da novidade. Com isso, as lojas precisam renovar seus estoques, o que faz com que periodicamente apareçam bons descontos. Isso sem falar que quando surge a nova edição de um jogo, aqueles que possuem a edição antiga normalmente correm para vendê-las antes, e conseguir juntar dinheiro para comprar a nova edição. Claro que, ao longo dos anos, nem todos os jogos têm uma grande redução de preço, mas com muitos anos é isso o que acontece.
Nesse aspecto, existem sites especializados em comparação de preços, e a seção Ludostore do “Ludopedia”, que são muito úteis para se encontrar as melhores ofertas.
5º CUIDADO – ALUGAR AO INVÉS DE COMPRAR
Existem alguns jogos que são verdadeiramente grandiosos, e suas partidas são verdadeiramente épicas. Normalmente essa característica está mais associada a jogos ameritrash do que a jogos euro, mas isso não é uma regra. Porém, as partidas épicas são ainda mais relacionadas aos jogos 4x, cujo nome deriva das suas quatro ações principais: eXplorar, eXpandir, eXtrair e eXterminar.
Os 4x são jogos cujas partidas normalmente demoram horas, a começar pela preparação inicial (set-up), porque são jogos com uma infinidade de componentes. Se for necessário explicar as regras a alguém, aí a partida fica ainda mais longa. Com isso, esses jogos maiores com uma estrutura gigantesca, uma infinidade de componentes e regras, e com partidas que duram horas, acabam se convertendo em verdadeiros eventos. Inclusive é exatamente assim que eles são chamados: “jogos evento”. Provavelmente, nenhum outro jogo represente isso melhor do que o Twilight Imperium 4th Edition, ou TI4. O jogo é excelente e têm um verdadeiro exército de fãs, porém, definitivamente, não é um jogo para qualquer pessoa ou grupo.
Imagem BGG: Twilight Imperium IV
Entre os entusiastas de “jogos evento”, 4x ou não, o natural é que eles acabem formando um grupo fechado de amigos, dedicado a esse tipo de jogo. Isso por um lado facilita, porque todos os amigos do grupo já conhecem as regras. Por outro lado, isso dificulta, porque para jogar é necessário que todo o grupo tenha disponibilidade na mesma data. Quando se é mais jovem (recém saído da faculdade), solteiro, e sem filhos, ou maiores compromissos familiares, é mais fácil. Mas quando a pessoa já é um pouco mais velha e tem uma agenda mais apertada, a história é outra.
Com isso é muito comum que esses jogos eventos cheguem a ser jogados apenas uma ou duas vezes por ano, ou até menos ainda. Em uma situação dessas, provavelmente deve compensar mais alugar o jogo, em uma luderia, quando se conseguir reunir todos os amigos para aquela jogatina. Atualmente, existem diversos bares e lojas especializadas, que disponibilizam esse serviço.
Mas não é apenas a falta de oportunidade de jogar que torna o aluguel do jogo, uma opção muito atrativa. O fato é que jogos tão grandes, em tamanho e estrutura, também são normalmente muito caros. Se a pessoa vai jogar apenas uma vez por ano, isso significa dizer que em dez anos, serão apenas dez partidas. Por isso, é preciso levar muito em consideração, se a pessoa conseguirá jogar aquele jogo caríssimo, com alguma regularidade. Caso contrário, talvez valha muito a pena alugar ao invés de comprar.
6º CUIDADO – O PROBLEMA DAS FALHAS DE PRODUÇÃO
Outra questão que requer muito cuidado, por parte dos recém chegados ao hobby, é a questão dos jogos com problema de produção. O mercado nacional de board games se desenvolveu bastante, e em muito pouco tempo. Mais ou menos dez anos atrás, não havia nada, nenhum lançamento de jogos estrangeiros e praticamente nenhuma editora de jogos, salvo engano, apenas a Galápagos que começou muito pequena, e a Devir que era mais voltada para os RPGs, e talvez mais uma ou outra.
Assim, nesses pouco mais de dez anos, o mercado nacional se desenvolveu bastante, chegando num patamar que as pessoas jamais imaginariam. Porém, mesmo tendo se desenvolvido bastante, o mercado nacional de board games ainda é muito amador em alguns aspectos. Além disso, várias editoras surgem porque pessoas apaixonadas por board games, mas sem a menor vocação empresarial ou conhecimento sobre gestão, resolvem embarcar nesse mercado.
O setor produtivo em que esse amadorismo mais se verifica é no controle de qualidade, especialmente, em relação à tradução/localização e revisão. As editoras normalmente utilizam o serviço não de tradutores profissionais, mas sim pessoas que evidentemente tem grande conhecimento de inglês, e conhecem board games. Muitas vezes, quem traduz é um dos funcionários de outra área da empresa. Ter um diploma da Cultura Inglesa é uma coisa, mas ser tradutor profissional, e atuante nessa área, é outra muito diferente. Como atualmente boa parte do trabalho de tradução inclusive profissional é feito com a ajuda de programas e aplicativos, existe a idéia de que qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento pode fazer uma tradução.
Imagem Ludoedia: Carta “Guereira” do Masmorra do Mago Louco
Claro que um programa de tradução ajuda muito, tanto que praticamente todos os tradutores profissionais usam essa ferramenta. Não se cogita nos dias de hoje, até por uma questão de tempo, que alguém traduza um livro apenas lendo e com um dicionário físico do lado. E isso não faz nenhum sentido, porque normalmente o programa traduz “skeleton” como “esqueleto” e “closet” como armário. Só que o programa obviamente não faz tudo sozinho. É preciso o olho do profissional para “aparar as arestas” e resolver a questão das expressões idiomáticas.
Mantendo o mesmo exemplo, se no texto original aparecerem as palavras “skeletons” ou “closet” a tradução não tem problema. Mas se essas palavras aparecerem reunidas na expressão “skeletons in the closet” a tradução do programa será “esqueletos no armário”. Só que essa expressão traduzida, literalmente, não faz o menor sentido para um falante de português. É aí que entra o tradutor profissional, para adaptar “skeletons in the closet” como “fantasmas do passado”, e esse é o trabalho de localização.
Mas mesmo que as editoras realmente usassem tradutores profissionais (não apenas quem tem diploma de curso de inglês), existe outro problema que é a dificuldade de revisão. Não é possível ter certeza, a menos que se trabalhe lá, mas a impressão que dá é que as editoras não conseguem se organizar muito bem em termos de agenda, para acompanhar as tiragens mundiais dos jogos.
Imagem Ludopedia: Caixa da “Enpansão” Profecia dos Reis do TI4
O processo de produção de um jogo funciona mais ou menos da seguinte maneira. Uma editora internacional apresenta o projeto do jogo em Essen na Alemanha, ou na Gencon dos EUA, as principais feiras de board games do mundo. O projeto desperta interesse, faz sucesso e a editora anuncia que em breve fará uma tiragem mundial. Em seguida, as editoras locais entram em contato com a editora principal (ou vice-versa) informando o interesse de participar do projeto. Após isso, a editora responsável pelo projeto fixa um prazo final, para que cada editora local envie para as gráficas chinesas os arquivos do material do jogo (cartas, tabuleiro, tiles, marcadores, etc), traduzidos e adaptados para o seu próprio idioma.
Entretanto, tradução e revisão levam muito tempo, e se uma editora brasileira embarcar na tiragem mundial em cima da hora, esse prazo acaba ficando impraticável de tão curto. Como praticamente não se faz revisão alguma, o jogo acaba saindo eventualmente, com erros em seus componentes (cartas, tabuleiro, tiles, marcadores, manual etc). Esse é um problema que de tão comum, as pessoas nem se espantam mais.
O problema é que comprar um jogo que custe na base de 800/1.000/1.200 reais, e receber um produto com defeito é o fim da picada. Mas mesmo assim, muitas pessoas simplesmente não ligam para esse problema e compram o jogo com defeito mesmo. A fissura com o jogo é tão grande, que elas aturam até mesmo isso, apesar dele ser tão caro. Obviamente, as editoras não erram de propósito, ou porque se divirtam vendo a enxurrada de reclamações. Mas se por um lado elas não fazem isso de propósito, por outro, elas simplesmente não ligam que isso aconteça, porque o jogo vai vender da mesma forma, com ou sem erro.
Imagem Ludopedia: Cartas do Jogo Everdell consertadas caseiramente
Além disso, investir em controle de qualidade, tradução/localização e revisão é algo que custa caro, e diminui a margem de lucro da empresa. Como a maioria dos consumidores também não dá muito valor para isso, e se contentam com jogos com erros, apesar de muito caros, as empresas não vêem muito sentido em gastar dinheiro com a prevenção de erros.
Desse modo, uma opção realista para evitar esse problema seria aguardar que os “afobados do hobby” comprem o lançamento primeiro, e em seguida dêem o seu “feedback”, sobre se há ou não algum erro de produção e qual é a sua gravidade. Depois de saber isso, se o jogo não tiver erros a pessoas compram. Mas se o jogo contiver defeitos, as pessoas só compram depois que a editora fizer a reposição das peças defeituosas.
Pelo menos, já se verifica em algumas editoras alguma preocupação com esses erros, e algumas empresas já adotam a solução de mandarem adesivos para colar em cima das peças com erros. Isso é na verdade outro absurdo, porque não há justificativa para resolver os problemas de um jogo custando quase um salário mínimo, com uma “gambiarra”. Mas ainda assim essa alternativa é um absurdo menor do que produzir o jogo com erros gritantes em primeiro lugar. Isso dá alguma esperança, que em algum ponto no futuro, as editoras comecem realmente a se preocupar, de verdade, em produzirem jogos sem erros. Por outro lado, também há a preocupação do mercado se contentar com essa “gambiarra dos adesivos”, e entender que essa solução já seja satisfatória.
7º CUIDADO – O APOIO NOS FINANCIAMENTOS COLETIVOS
Na indústria dos jogos de tabuleiro, na maioria dos casos as editoras não têm dinheiro para bancarem, sozinhas, os jogos que pretendem. Para isso elas lançam mão do recurso do financiamento coletivo. E nem é apenas uma questão de capital inicial, mas também porque esse sistema é uma forma segura de avaliar se aquele jogo tem mercado ou não, sem gastar dinheiro com isso. Duas das principais plataformas especializadas em financiamento coletivo, não apensa de jogos, mas de diversos outros projetos, são o Catarse e o Kickstarter.
O financiamento coletivo tem duas grandes vantagens. A primeira é que normalmente o preço apenas do jogo base, normalmente é mais barato que o seu preço de lançamento. Mas esse percentual de desconto pode variar bastante. A segunda vantagem é que no financiamento coletivo as empresas ou pessoas envolvidas estabelecem algumas metas referentes à quantidade de apoios obtidos. Quando se atinjem essas metas, ocorre a liberação de material extra, que normalmente não estará à venda nas lojas, e que sem que o apoiador precise pagar mais por isso. Assim, quanto maior a quantidade de gente apoiando financeiramente o projeto, mais material os apoiadores recebem, e de graça.
Apesar disso, o espírito do financiamento coletivo vai muito além de uma mera vantagem material ou econômica. Muitas pessoas ingressam nesses financiamentos porque acreditam no projeto daquele jogo, e querem vê-lo concretizado. Além disso, o financiamento coletivo também é um importante instrumento usado para viabilizar a versão nacional, em português, de um jogo de grande sucesso no mercado internacional. Sem isso, a única opção é importar o jogo, só que isso faz muita diferença no caso dos jogos com muito material escrito, ou seja, com alta dependência de idioma.
Imagem Ludopedia: Tsukiji
Mas o financiamento coletivo requer muito cuidado e pesquisa a respeito do histórico da editora envolvida. Isso porque o apoiador paga o jogo hoje e só recebe meses ou anos depois. Muitas editoras promovem financiamentos coletivos para poderem ingressar nas tiragens mundiais dos jogos, rodadas na China. Mas em caso de cancelamento ou adiamento dessa tiragem mundial, por um motivo ou outro, o prazo de entrega pode estourar. Com isso pode demorar anos para que os apoiadores recebam sua cópia do jogo. Nesse caso, muitas pessoas acabam pedindo reembolso do dinheiro, o que inclusive põe em risco a própria realização do projeto.
Existem alguns casos que se tornaram emblemáticos na história do board game nacional, por serem exemplos de problemas em financiamentos coletivos. Alguns anos atrás uma editora nacional anunciou o financiamento de um jogo chamado “Tsukiji”. O jogo despertou o interesse da comunidade o que implicou no sucesso do financiamento. O problema é que ele extrapolou a data de entrega, atrasando horrores. Os apoiadores começaram a reclamar bastante nos fóruns de board games, pela demora e ausência de informações claras. A situação chegou num nível tal de descontentamento, que a editora não teve alternativa, a não ser dar alguma satisfação aos seus apoiadores. Assim, a editora soltou um comunicado informando que as cópias do “Tsukiji”, já haviam chegado ao país, e o lançamento e entrega aos apoiadores só dependia da burocracia junto à alfândega.
Imagem Ludopedia: Ancient Terrible Things
O problema é que a editora disse isso, quando o navio com as cópias do jogo ainda estava em trânsito da China para cá. Evidentemente, a empresa imaginou que a viagem transcorreria sem nenhum problema. Mas, infelizmente para a editora o problema aconteceu e o navio com a carga dos jogos destinados ao Brasil naufragou no meio do caminho. Para piorar a situação, as cópias destinadas à feira de Essen na Alemanha, e ao mercado argentino, chegaram sem problemas ao seu destino.
Com isso, os apoiadores brasileiros (o jogo era nacional) que financiaram e viabilizaram a produção do jogo foram surpreendidos com a notícia de que o “Tsukiji” estava à venda, tanto em Essen, quanto na Argentina e Chile. E isso antes deles terem recebidos suas cópias antecipadamente, o que seria o correto. Como não poderia deixar de ser, o nome da editora ficou tão queimado no mercado, que ela até precisou trocar de nome. Ela acabou sendo absorvida por uma editora de jogos argentina.
Claro que a editora nacional não reconhece isso, de forma alguma e diz que a fusão, naquela época tão conturbada, foi apenas uma coincidência. Mas para quem acompanhou esse episódio não há dúvida alguma, de que o que aconteceu foi tudo, menos uma coincidência. Isso para não dizer que essa editora nacional tinha uma marca consolidada no mercado e com muita experiência, principalmente no setor de RPGs.
Isso também ocorreu com outro excelente jogo de horror “Ancient Terrible Things”, um financiamento coletivo da mesma editora. Esse é um jogo muito bom, que tinha tudo para agradar o público brasileiro. Mas devido ao atraso enorme na entrega, ele acabou ficado com a imagem manchada e a fama de jogo que deu problema. Isso afetou muito negativamente as vendas.
Imagem Ludopedia: High Frontier 4 All
Outro jogo com problema de prazo extrapolado e atraso na entrega é o High Frontier 4 All, que não é da mesma editora dos dois outros jogos. As pessoas acreditaram na empresa, apoiaram o financiamento coletivo, mas a editora simplesmente não dá notícias claras sobre em que pé está a produção. Isso obviamente aumenta muito a angústia das pessoas, em relação a quando elas vão finalmente receber o jogo que financiaram.
E esse não é um caso isolado, porque durante anos a empresa diz à comunidade que no ano corrente lançará outro jogo chamado Campeões de Midgard. Esse é um jogo que já se tornou uma verdadeira lenda dentro do mercado nacional de board games. Mas essa insistência da empresa em dizer periodicamente que vai lançar o jogo tem um motivo. O Campeões de Midgard não tem dependência de idioma, ou seja, uma pessoa pode jogar a versão importada, mesmo sem dominar o inglês. Desse modo, uma pessoa que queira muito o jogo, não precisa esperar eternamente pelo lançamento nacional e importá-lo diretamente. Isso não interessa à editora nacional, que precisa continuar insistindo que nesse ano, ou ano que vem o mais tardar, vai lançar o jogo.
Imagem BGG: Campeões de Midgard
Acresce ainda que o Campeões de Midgard é um ótimo jogo de 2015, quando jogos de viking estavam na moda. Portanto se o lançamento acontecesse somente um ou dois anos depois, certamente ele seria um sucesso de vendas. Porém, hoje em dia jogos de viking já não fazem tanto sucesso. Uma prova disso é que o reprint (nova tiragem mundial) já foi cancelada duas vezes, segundo informações da editora nacional. Isso causa certo receio muito bem fundamentado, de que esse jogo não seja mais tão interessante para as editoras ao redor do mundo, e que até o projeto seja eventualmente abandonado pela editora nacional, mesmo que ela diga o contrário.
Os atrasos nos financiamentos coletivos são tão comuns, que no meio do board game se diz que jogos financiados são iguais a consórcio, a pessoa paga, esquece e um belo dia ela é contemplada, recebendo sua cópia. Por conta disso tudo, conforme dito anteriormente é fundamental, não apenas para os recém chegados ao hobby, mas também para os mais experientes, terem muito cuidado e pesquisar bastante a respeito da empresa envolvida no projeto antes de embarcar em um financiamento coletivo.
Por fim, esses são os principais cuidados a serem observados ao se entrar para esse universo dos board games. Assim, espera-se que esse texto tenha sido útil para auxiliar os novos jogadores a compreender um pouco melhor esse maravilhoso hobby dos jogos de tabuleiro modernos.
Um abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
Iuri Buscácio
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onde estava esse texto qd eu precisava dele, 3 anos atras??? kkkkkkkkkkkkkkk teria deixado de ter um bom prejuizo se tivesse esse conhecimento antes rsrsrsrs
nos exemplos e nas imagens que vc colocou so tem jogao heim que triste saber que varios deles tiveram problemas na produção brasileira
Caro Teh-Leh
Você tem toda a razão. Esses jogos citados foram muito prejudicados, ou pelo atraso do lançamento (sem informações claras dadas aos apoiadores), ou pela produção com erros absurdos.
No caso do Campeões de Midgard nem dá para saber nem mesmo se o jogo vai ser lançado mesmo. Foram tantos os atrasos, que a onda de jogos vikings passou, e as editoras internacionais têm cada vez menos interesse em lançar o jogo. Como a Mosaico não tem condições de produzir e lançar o jogo sozinha, a cada ano que passa mais incerto fica esse lançamento. Uma pena porque esse é realmente um jogão. Pelo menos, como o Campeões de Midgard não tem nenhuma dependência de idioma, vez por outra aparece uma cópia sendo vendida no Mercado de Usados do Ludopedia. Foi assim que eu consegui a minha.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
Iury ola boa tarde tudo bem, to em duvida sobre comprar o HF4A ou o Eclipse Segundo Despertar… me parecem bastante similares, mas o preço é proibitivo pra ter dois (mesmo pra um, mas fazer o que eu sou teimoso ne) entao eu queria saber qual é melhor e pq?
nem tem o que pensar, Eclipse da de 10×0 no High Frontier… seja nos componentes, na jogabilidade ou nas mecanicas, entao como eles tem tempo de partida similar, vai de Eclipse sem medo de errar, alias me arrisco a dizer que o High Frontier é um joguinho boboca perto do Eclipse, um 4x de responsa, um jogao parrudo com produção impecável, sucesso absoluto no mundo todo
te digo que High Frontier for All é o melhor jogo de ficção científica ja feito!!!
Caro Lucas Rodrigo
Nenhum dos dois, vá de Twilight Imperium 4…
Brincadeirinha!!!!!
Sinceramente, eu não acredito nisso de “esse jogo é melhor do que esse”. O que acredito é que “esse jogo é melhor do que esse, para essa pessoa”. Portanto, ao invés de te responder qual eu acho melhor, eu vou te dar alguns pontos que você deve considerar, antes de escolher um dos dois.
Tanto o “High Frontier 4 All” quanto o “Eclipse: O Segundo Despertar da Galáxia”têm pontos muito fortes a seu favor. No ranking geral do BGG, o Eclipse (23) ocupa um posição absurdamente superior ao High Frontier 4 All (1.054). Porém, isso está muito mais relacionado à popularidade de um jogo, do que ao fato dele ser melhor ou pior do que outro.
O High Frontier 4 All (peso 4.82) é muito mais pesado, ou seja, a princípio envolve um nível de estratégia e planejamento muito maior e mais profundo do que o Eclipse (peso 3.61). Já o Eclipse tem um tempo máximo indicado de partida de 200 minutos, que é bem menor (quase uma hora a menos), que o do High Frontier 4 All que é de 240 minutos. Os tempos mínimos podem ser desconsiderados, porque jogos desse porte não são jogados em menos de uma hora, a não ser em raríssimos casos. No caso do High Frontier 4 All, o designer Phil Eklund é um engenheiro aeroespacial e cientista de foguetes, inclusive reza a lenda que algumas cartas do jogo são baseadas em projetos reais da NASA. Isso torna o High Frontier 4 All, muito mais realista que o Eclipse.
For isso, é preciso considerar que o Eclipse veio com erro de impressão em 20 tiles, que a MeepleBR resolveu por enquanto não fazer a reposição, mas sim mandar um adesivo para colar por cima dos tiles errados. Muitas pessoas não se incomodam com esse tipo de solução, mas eu particularmente acho um absurdo pagar R$ 1.200,00, em um jogo, e ele além de vir com peças defeituosas, a editora resolver o problema com uma gambiarra.
Por outro lado, eu sou um grande crítico da Mosaico Editora, que lançou nacionalmente o High Frontier 4 All, porque ela não é transparente com seus apoiadores e tem uma péssima comunicação com a comunidade boardgamer. Alguns lançamentos da Mosaico atrasam anos (o próprio High Frontier 4 All é um exemplo), sem que as pessoas recebam sequer uma informação sólida, mas verdade seja dita, a Mosaico não costuma errar em impressão de componentes, nem em tradução.
Dito isso tudo, no final das contas, a escolha de um jogo, principalmente com características próximas, é sobretudo uma escolha pessoal. Basta ver que o Trajano CG prefere o Eclipse e o Marcelo Tenório prefere o High Frontier 4 All.
Por isso, meu conselho é que você pesquise bastante sobre os dois jogos e, principalmente, assista aos vídeos de regra e gameplay (dois links seguem abaixo), para que você tire suas próprias conclusões e escolha o melhor jogo para o seu perfil.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
High Frontier 4 All (regras e review)
https://www.youtube.com/watch?v=ssUD8fqwgDE
Eclipse: O Segundo Despertar da Galáxia (regras e gameplay)
https://www.youtube.com/watch?v=-yoic9U1peM
Excelente resposta, Iuri! Mas (não é culpa minha hahaha) vc agora ficou devendo a comparação deles com o TI4 que vc citou kkk ja deu pra ver que Eclipse é mais “vantajoso” que o HF4A pelo peso e complexidade e tempo de jogo. Fiquei curioso de ver o que vc falaria do TI4 pra poder comparar com os dois citados…
Caro Lucas Rodrigo
Na verdade a comparação entre o Eclipse e o Twilight Imperium já vem de longa data, desde a época do lançamento da primeira edição do Eclipse em 2011.
Isso é até natural, porque são dois jogos de peso, no mesmo estilo 4x, muito bem estruturados, com partidas de longa duração, e que exploram o mesmo tema de ficção científica e exploração espacial.
Todos os dois tem boa colocações no ranking do BGG (TI4 é o 5º da lista e Eclipse é o 23º). No geral, a base de fãs do Twilight Imperium 4 é muito maior, mas é preciso considerar que ele é um jogo muito mais antigo que o Eclipse. A primeira edição do TI4 é de 1995, e a primeira edição do Eclipse só foi lançada em 2011. Portanto, o TI4 teve dezesseis anos, antes do surgimento do Eclipse para construir a sua imensa legião de entusiastas. Isso faz muita diferença. Essa situação acabou se reproduzindo no Brasil em menor escala, porque o TI4 foi lançado em janeiro de 2019, ou seja quatro anos antes do lançamento do Eclipse, em dezembro de 2022.
Por isso, é perfeitamente compreensível, que o TI4 tenha mais fãs e isso afeta diretamente a sua posição nos rankings, tanto do Ludopedia quanto do BGG.
Mas antes de bater o martelo e sair correndo para comprar o TI4, existem outros fatores muito importantes a se se considerar. O TI4 é bem mais pesado que o Eclipse. O peso do primeiro é 4.29 e o do segundo 3.61, no BGG. Isso torna o TI4 muito mais complexo que o Eclipse, e maior complexidade significa maior quantidade de regras, maior tempo de partida, e maior curva de aprendizado. Isso diminui a quantidade de vezes que você conseguirá botar o jogo na mesa.
Em primeiro lugar é preciso ter um grupo de pessoas que também curta esse estilo de jogo (4X de ficção científica), a ponto de se dedicarem o suficiente para aprender e querer jogar. O Eclipse também é um jogo 4X de ficção científica, mas como é menos complexo, a chance de arrumar com quem jogar é maior.
Em segundo lugar, mesmo que você tenha um grupo de amigos, que curtem TI4, o tempo de partida continua sendo um empecilho. O TI4 é um jogo excelente, mas que precisa de pelo menos 4 ou 5 jogadores para brilhar e mostrar todo o seu valor. Isso aumenta o tempo de partida. No Ludopedia você verá alguns relatos de pessoas que conseguem jogar em duas horas e meia ou três horas, mas isso normalmente em 3 jogadores. Na maioria dos casos, as pessoas relatam que as partidas demoram entre cinco e sete horas, com uma quantidade maior de jogadores. Então mesmo tendo um grupo de jogo, a chance de jogar com regularidade é pequena, principalmente se os seus amigos já forem casado e tiverem filhos. Nesse cenário, fica muito difícil arrumar meio sábado ou meio domingo, todo final de semana para jogar.
Com isso o TI4 é o jogo-evento por excelência, porque conseguir jogar é um verdadeiro evento, e muita gente só joga uma ou duas vezes por ano. Porém, verdade seja dita, mesmo jogando tão pouco, as pessoas adoram o jogo, e segundo alguns relatos as partidas costumam ser épicas.
Assim sendo, na comparação, o TI4 é um jogo superior, mas que você jogará menos. Já o Eclipse é um jogo com um nível pouca coisa abaixo, mas que você jogará mais vezes. Já em relação ao High Frontier 4 All, o mesmo que foi dito em relação ao Eclipse também vale em relação ao TI4. Enquanto o Eclipse e o TI4 tem mais aquela levada de civilizações em guerra uma contra a outra, o High Frontier4 All é mais técnico e mais científico, e o tema central é muito mais focado na exploração do que no combate.
Para resumir, e eu não sei se essa é a comparação mais adequada, mas é possível dizer que, TI4 e Eclipse estão mais para Star Wars e High Frontir 4 All, mais para Star Trek.
Espero ter ajudado.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
essas comparações entre jogos são verdadeiras aulas hahaha parabens
muito proveitosa essa serie de textos, acabei de linkar essa parte pra um grupo de BG no whatsapp cujo um dos participantes me acusa de ter causado a ele um prejuizo de mais de 3 mil pq indiquei uns BGs pra ele e o cara ficou maluco com isso e saiu comprando jogo que nem doido e agora tem uns 8 jogos que ele sequer abriu e ta la na estante e ele vai ter que vender pq ja faz mais de 1 ano e nunca vai reunir um grupo que jogue eles mas eu nao tenho culpa se ele pirou na batatinha qd começou a conhecer boargames modernos hahaha fala serio bom 2023 pra todos ai e vamo por nossos jogos na mesa galera!
Cara Maristela Solzinho
É justamente para evitar problemas como esse, que eu quase nunca dou indicação de jogos. Nas poucas vezes que faço isso, sempre insisto para que as pessoas pesquisem bastante e, principalmente, que assistam vídeos de partidas completas, antes de comprar o jogo.
Independente disso, esse furor inicial e esse consumismo desenfreado é muito comum, em praticamente todas as pessoas que iniciam no hobby. Seu amigo não é o primeiro, nem será o último a incorrer nesse erro.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
Dani Charles
Eu te agradeço o elogio, mas sempre gosto de relembrar que essas comparações, mesmo baseadas em dados objetivos dentro do possível, refletem eminentemente a minha opinião. O meu entendimento, nem é a verdade absoluta, de forma alguma, nem combina necessariamente com a sua própria opinião, ou de quem mais vier a ler esses comentários.
Por isso, é fundamental que cada um pesquise outras opiniões (opinião sobre jogos é o que não falta no Youtube), e principalmente assista a muitos vídeos de gameplay, para que possa tirar as suas próprias conclusões.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
muito bom esse texto uma bela ideia ter ele pros novatos
Caro Marco
Muito obrigado, pelo elogio. Os dais textos da série, são todos nesse sentido, de esclarecer os recém chegados os hobby, os diversos aspectos a cerca dos board games
Um abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
Já comprei jogo só pq tava bem no ranking do BGG, já comprei pq todo mundo elogiava… Perdi uma boa grana assim. Hj só compro o q tenho certeza q vou gostar e jogar.
Caro Aline
Eu concordo totalmente com essa postura. Por isso os vídeos de gameplay são tão importantes, porque só assim dá para saber se o jogo é para você ou não.
Já deixei de comprar diversos jogos, que me interessarem em um primeiro momento, mas quando vi como eles eram “na real”, ou seja, na jogatina, vi que o jogo não era para mim
Portanto, é fundamental pesquisar bem para saber se aquele jogo “super hypado”, é do seu agrado ou não, antes de comprar
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
Caro Alone
Foi mal aparecer Aline, no Lugar de Alone. A culpa foi do corretor automático, que vive me fazendo passar vergonha.
Um abraço.
Iuri Buscácio
Caro Aline
Perdão, mas na minha resposta constou Aline o invés de Alone. Foi culpa exclusiva desse corretor automático que só me faz passar vergonha.
Um abraço
Iuri Buscácio
olha, se eu tivesse esse “guia” qd comecei nisso de BG 4 anos atras eu tinha economizado uns bons 5 mil Reais acho viu, parabens pela iniciativa!
Caro Quis Mobil
Eu acho que todo mundo que já tem algum tempo de hobby, já passou por isso. No meu caso, eu já caí em cada uma dessas armadilhas, mais de uma vez, até aprender a consumir board games de uma forma mais consciente.
Essa foi a minha motivação para escrever esse texto, para que novos jogadores não cometam os mesmos erros que eu.
E de uma certa forma, acho que a comunidade boardgamer está mais seletiva hoje em dia. Até porque os jogos estão tão caros, e são tantos lançamentos a cada ano, que só dá pra comprar aquilo que realmente se vai jogar.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
achei que era um texto sobre cuidados com mofo e amassados nas caixas kkk mas achei otimo o texto
Caro Americano
Na verdade esses cuidados com mofo e amassados são mais direcionados para quem já está no hobby, e a ideia do texto é orientar quem ainda via entrar. Mas mesmo assim, sua ideia é muito boa. Isso porque as pessoas podem comprar jogos com mofo, e como existem jogos assim no mercado, e seria bom saber como resolver.
Eu só fico receoso de indicar qualquer coisa nesse sentido, porque tomo mundo sabe que mofo se resolve com aplicação de Sanol. O problema é que a todos momento eu vejo uma grande discussão a respeito de exposição ao sol, tempo de duração dessa exposição e etc. Alguns dizem que mancha se ficar muito tempo, ou empena o tabuleiro, outros dizem que se não ficar muito tempo não adianta, etc. Por isso para não correr o risco de alguém seguir a minha orientação e acabar estragando o seu jogo, eu prefiro não falar a esse respeito.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio