Crítica: Doutor Estranho (Doctor Strange)
Doutor Estranho (Doctor Strange)
Direção : Scott Derrickson
Elenco: Benedict Cumberbatch,Tilda Swinton, Scott Adkins, Chiwetel Ejiofor, Amy Landecker, Rachel McAdams, Michael Stuhlbarg, Benedict Wong, Benjamin Bratt e Mads Mikkelsen
Obviamente servindo para apresentar um novo personagem e uma base para os futuros filmes do estúdio Marvel, Doutor Estranho é satisfatório e divertido para preencher estes quesitos apostando numa narrativa exclusivamente visual com toques lisérgicos. Contudo, isso não é o suficiente para ocultar os problemas de uma direção vacilante que, a esta altura do campeonato, mostra que os realizadores parecem não fazerem a mínima questão de lapidar os excessos e melhorar as obras apresentadas dentro do gênero – sempre apostando em subterfúgios e mesmices.
Dr. Stephen Strange (Cumberbatch) é o típico profissional arrogante que usas suas habilidades de cirurgião como forma de alimentar também seu ego (uma espécie de Dr. House, cuja concepção visual, pessoal e social remete obviamente ao Tony Stark de Robert Downey Jr.). Assim, depois de um sério acidente que o impossibilita de exercer sua profissão (mas não a arrogância), Strange parte para o oriente (com o velho clichê de país exótico, visto com pobreza, onde o visitante é assaltado assim que chega) em busca de reabilitação junto com uma espécie de uma Ordem Secreta liderada pela Anciã – interpretada com sarcasmo e ar messiânico pela sempre ótima Tilda Swinton, em mais um papel se baseando num visual andrógino.
Durante sua recuperação, o protagonista é apresentado a um mundo de poderes místicos que são usados para proteger o planeta ameaçado por uma entidade cósmica evocada pelo vilão Kaecilius (Mikkelsen), que se apoderou dos segredos da Ordem (Ordem esta estabelecida numa espécie de mosteiro que sofre um gravíssimo problema de segurança, uma vez que mantém a vista e a mão de todos, objetos e livros com poderes que podem destruir o universo, enfim…).
O roteiro de Jon Spaihts em conjunto com o próprio diretor não foge da regra do gênero e não consegue acrescentar muito mais do que diálogos expositivos e superficiais de auto ajuda e filosóficos como “O é que real?”, “Não importa quem você seja, mas o que faz”. Fora que não se vê qualquer tentativa louvável para apresentar melhores maneiras (ou fugir) da fórmula dos filme de heróis, como podemos constatar na premissa dos personagens da Ordem serem apresentados como defensores de um mundo esotérico, diferente dos Vingadores que defendem um ”mundo físico’’, mas que, todavia, a turma do Doutor Estranho não foge de um pancadaria.
Frágil também ao tentar desenvolver de maneira mais convincente as premissas e motivações dos personagens, o diretor Scott Derrickson insiste demasiadamente em piadas fora de tempo que acabam por criarem mais um anticlímax que propriamente um alívio cômico, que em conjunto com a exposição dos diálogos prejudicam até mesmo o ritmo do filme, como visto em duas sequencias de tensão ocorridas no hospital, em que os personagens envolvidos emendam uma tirada cômica ou um longo diálogo sobre vida e morte logo após as cenas, ou quando entra em cena a capa do herói – com vontade própria – apostando em gags físicas para arrancar o riso fácil da platéia.
Uma das poucas vezes em que as falas não caem na vala comum é justamente nos momentos mais mundanos como na cena em que Strange e Christine Palmer (Adams, subutilizada) discutem seu relacionamento. Mas digo isso somente graças a qualidade do elenco em si do que propriamente a qualidade dos diálogos. Assim, tanto Cumberbatch quanto Chiwetel Ejiofor e Mads Mikkelsen – e a própria Tilda – aceitam seus papéis e não deixam cair em estereótipo constantemente e abraçam a causa sem o menor constrangimento, conseguindo dar um pouco (disse um pouco) de credibilidade e identificação com seus personagens.
O design de produção abusa do colorido ao apresentar os universos paralelos, o que provavelmente será muito útil para o futuro da própria franquia do personagem como de outros personagens. Também não podemos deixar de comentar como a direção usa o conceito de espaço-tempo visto em A Origem ao ter em suas sequências de ação sempre entre prédios sendo desdobrados e personagens desafiando a gravidade com efeitos que reforçam o efeito caleidoscópio do longa, acrescidos do constante uso do efeito de avançar e retroceder determinada cena (como se usasse os botões FF e REW).
Claro que a direção não economiza e por diversas vezes se excede, como se usasse qualquer motivação para apresentar um cena que demonstra tais efeitos que acabam, em vários momentos, prejudicados pela falta de mise-en-scene e cortes rápidos, o que acaba quase comprometendo os conceitos metafísicos abordados. Ou como num determinado momento do clímax, a direção abusa de uma concepção temporal que acaba cansando literalmente não somente os personagens envolvidos na cena como o próprio público.
Enfim, se apoiando no carisma do seu protagonista, Doutor Estranho enche os olhos mas falha em não aprofundar seus ambiciosos conceitos abordados que poderiam render melhores e mais significantes momentos, restando somente atingir seu objetivos escapistas.
Cotação 3/5
Rodrigo Rodrigues
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O filme, visualmente bonito, leve, engraçado, com cenas de ação legais e só. Para mim um filme de super herói só precisa ser isso. Se eu quero ver algo profundo vou ao cine arte aqui em Maceió ver um drama francês ou alemão. Entendo sua crítica, mas acho que o grande público vai ver filmes de quadrinhos só pra dar risada e ver cenas de ação legais, e a Marvel que não é boba ta ai jogando dinheiro para cima.
Pedro Fortunato.
Obrigado pelo seu comentário.
Se para você ver um filme é apenas atender a estes aspectos jamais conseguirei mudar sua opinião. Mas infelizmente muitas das obras apresentadas não são tão boas.
Acima de tudo ainda estamos falando de cinema, que é uma expressão artística com gramática própria. A partir do momento que há um advento de filmes de HQ, estes filmes são e devem sere avaliados como uma obra cinematográfica, independente do gênero.
Enfim,o problema é que ciente da pouca exigência do público, os estúdios não se atentam muito a todas as questões técnicas que não sejam para adestrar os olhos do publico e esvaziando o cérebro- lembrando que a qualidade de um filme nunca foi medido pela bilheteria.
Quanto ao fato de mencionar um cinema de arte (alemão ou francês), alem de aconselhar que veja bastante estes filmes, afirmo que não existe esta diferenciação de filmes Cult x comercial (ambos são obras cinematográficas sem um juízo de valor que possa separa-los)
No nosso site tem um belo texto sobre esta “disputa” entre críticos x filmes de HQ baseado no filme Batman x Superman (http://maxiverso.com.br/blog/2016/04/13/porque-os-criticos-nao-gostaram-de-batman-vs-superman/)
Abraços e bons filmes
Ainda bem que o cinema – e as críticas – não dependem de como vc entende o cinema – e as críticas – meu caro Pedro. O que vc disse é algo como “sou assim, porque sim, e quero continuar assim”. Evolua, meu caro. Aprenda. Se informe. Cresça como pessoa. É possível se divertir com filmes leves e bons, mesmo de super-heróis. Saia da mediocridade.
ah mais tb viu se é da DC vcs naum gostam pq nao é essa fórmula, aí se é da Marvel critica pq segue a fórmula assim fica dificil kkk
Toninho,
Obrigado pelo comentário.
Em nenhum momento mencionei no texto que alguma formula pertence a Marvel ou DC. Quando o critico faz a análise, o faz sem considera suas origens (pelo menos deveriam)
Ou seja, não tem esta de preferir DC ou Marvel. A análise foi feita baseada no que foi visto e em critérios cinematográfico e você tem todo o direito de discordar ou não.
Agradeço novamente sua opinião
Abraço e bons filmes.