Batman vs Superman Parte VI – Exemplos de lutas contra um Homem-de-Aço verossímil
Em complemento ao capítulo anterior, em que vimos o quão cheia de furos e situações pouco críveis foi a luta entre o Homem-Morcego e o Homem-de-Aço na história O Cavaleiro das Trevas e, consequentemente, como é um absurdo acreditar em um desenrolar parecido em caso de um confronto destes ocorrer, podemos pensar a respeito de uma luta entre ambos, em situações que de fato estejam conforme a realidade dos dois personagens.
Para quem gosta de histórias em quadrinhos de super-heróis, e não tem o cabresto da admiração pelo Batman como limitador de julgamento, a excelente Superman – Entre a Foice e o Martelo (Superman – Red Son – 2003 – DC Comics) de Mark Millar, mostra de forma bastante coerente como seria enfrentar o kryptoniano em uma batalha (apesar de, pelos motivos editoriais mostrados no Capítulo III, também haver uma parte em que Batman consegue ir mais longe do que deveria contra o Superman… ecos de DK?).
Entre a Foice e o Martelo – um elseworld, assim como O Cavaleiro das Trevas – conta como seria o mundo se a nave que trouxe Kal-El à Terra não caísse nos Estados Unidos, mas sim na então União Soviética. Com um Homem-de-Aço comunista, a geopolítica do planeta muda bastante em relação ao cenário tradicional.
Em determinado momento da história, vemos um exército de Lanternas Verdes, capitaneado por ninguém menos que Hal Jordan, rumando contra o Superman para tentar impedi-lo de invadir os EUA. A tropa (sim, foi um trocadilho), munida da “arma mais poderosa do universo”, tenta uma armadilha previamente ensaiada para aprisionar o Superman, mas falha.
Em seguida, vemos o que a experiência em batalha pode fazer, em conjunto com o uso adequado de seus poderes: Superman não tenta trocar socos com ninguém, nem fica esperando ser atacado para somente reagir… ele simplesmente usa sua super-velocidade e tira os anéis de todos os seus oponentes, antes que eles possam ver o que está acontecendo. E ainda explica, didaticamente, após acabar com o exército em um piscar de olhos:
“Usar uma arma baseada em pensamentos contra alguém que pode se mover dez vezes mais rápido do que o pensamento. Isso não foi muito inteligente, Coronel Jordan.”
Sensacional. Quer dizer… pensando melhor, à vista das capacidades do Superman, isso é o mínimo que se espera de quem passou a vida toda usando seus poderes em combates diversos e que deveria saber quando e como usá-los para minimizar sua duração. Aulinha básica de verossimilhança em Superman, de Millar para Miller.
Outro exemplo didático do que representa enfrentar alguém com os poderes de tamanha magnitude como os do kryptoniano pode ser visto na ótima história Olho por Olho? (What’s so Funny about Truth, Justice & the American Way? – 2001 – DC Comics), de Joe Kelly.
Na aventura, Superman enfrenta o supergrupo inglês chamado Elite, chefiado pelo implacável Manchester Black. A Elite mostra ao mundo, na prática, como seria o combate ao crime levando-se o lema “bandido bom é bandido morto” ao pé da letra, evitando levar os criminosos à Justiça, preferindo sempre finalizar em definitivo a carreira dos malfeitores, o que os leva, após algumas tentativas de conciliação, a um embate contra Kal-El, que precisa enfrentar e derrotar o grupo e mostrar ao mundo que os métodos violentos e populistas da Elite não são o melhor caminho para combater o crime.
A história, publicada originalmente na revista Action Comics #775, considerada uma das dez melhores narrações do Homem-de-Aço naquela década e que entrou na coletânea Superman: The Greatest Stories Ever Told, da revista americana Wizard, ficou ainda mais famosa quando virou animação sob o nome Superman contra a Elite (Superman vs. The Elite – 2012 – Warner), sob direção de Michael Chang e sob a batuta de Bruce Timm, o mesmo das demais principais animações da DC.
No longa, ficam ainda mais evidenciados os poderes do Superman e o que acontece quando ele os usa de forma crível, pois ali temos a noção de movimento que nos quadrinhos nos falta.
Na história, quando finalmente decide que é hora de confrontar definitivamente a Elite, Kal-El arma um teatrinho na Lua e em Metrópolis – palcos da batalha entre ele e a equipe de anti-heróis – e mostra do que é capaz, usando todos os seus poderes. À partir daquele ponto da história, por exemplo, Superman passa a ser de fato invulnerável aos ataques dos oponentes (quando estes conseguem acertá-lo, já que usando sua super-velocidade a todo instante, ele mal é visto pelos integrantes da Elite).
Num estalar de dedos, o supergrupo que passou a maior parte da história surrando o Homem-de-Aço, sente então o peso das capacidades do Superman sendo usadas devidamente e não consegue sequer fazer frente ao Azulão. Não dá nem graça. A temível equipe de vilões é facilmente batida.
Claro que a principal virtude da história evidencia seu maior defeito, já que é inadmissível que o herói passe todo o filme no vácuo da Elite, física e estrategicamente, para só quando decide dar uma lição de moral em quem os apóia e tirar o grupo de combate é que ele resolve desviar dos ataques adversários e bater firme nos oponentes.
E isso é um defeito da revista e da animação pois não é a decisão do Superman que o faz ser mais forte no fim da história, e sim o roteirista Joe Kelly, que a partir dali, solta o freio do kryptoniano e o deixa ser o que é de fato, pois mesmo quando ainda queria dialogar e tentar se aliar aos ingleses, Kal-El podia usar seus poderes de forma eficiente pra se defender ou pra desviar dos ataques, deixando apenas de contra-atacar. Nada justifica apanhar como apanhou no começo.
Tirando esse erro – compreensível do ponto de vista editorial, conforme visto no Capítulo III (clique aqui para ler) – a história é muito boa e trata-se de um conto moral, que enaltece os padrões de justiça responsável e mostra para a população do mundo todo, na prática, que partir para a violência e fazer justiça com as próprias mãos é fácil, mas ninguém, nem mesmo um super-herói deve seguir por esse caminho.
Existem outros exemplos, esparsos, de histórias nas quais o Superman aplica de forma plausível suas capacidades, e interage com os demais personagens de forma compatível com todo o imenso poder que tem. Mas, infelizmente, a maioria são elseworlds ou então, publicações especiais, já que – e esse é um mal que todos reconhecem – os roteiristas da linha regular de revistas do kryptoniano comumente não conseguem resultados verossímeis na tentativa de retratá-lo.
De qualquer forma estes exemplos citados são suficientes para vermos que, quando o roteiro é bem feito e não há amarras editoriais, o Superman é retratado de forma correta do ponto de vista do seu poder e, nesses casos, fica fácil – até mesmo para um batfan fanático – ver que o Homem-Morcego não duraria mais que alguns segundos frente ao Homem-de-Aço.
Fato.
Para encerrar os exemplos, veja os dois vídeos abaixo, de lutas do Superman contra oponentes com nível de poder similar ao dele, para se ter uma idéia do quão impossível fica parecendo se cogitar que o Batman, com uma armadura de metal comum plugada em uma tomada, possa sequer acertá-lo, quanto mais machucá-lo:
https://www.youtube.com/watch?v=6y6UYWQjUsc
Confira nos links abaixo os demais capítulos deste estudo:
Parte I – Frank Miller subverte o Batman e muda seu status
Parte II – Liga da Justiça de Grant Morrison perpetua a distorção
Parte III – A DC diminui o Superman e aumenta o Batman
Parte IV – Por que a maioria gosta mais do Homem-Morcego
Parte V – Analisando a famosa batalha usada como modelo
Parte VI – Exemplos de lutas contra um Homem-de-Aço verossímil (lendo este)
Parte VII – O veredito é: essa luta tem uma vitória fácil e lógica
Ralph Luiz Solera
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