Picadeiro vs. SoleCorp: insólito do início ao fim
Senhoras e senhores, amigos da Rede Lôco de televisão, estamos aqui, ao vivo do estádio Tenda Principal, na cidade de Taubaté, para a realização da final do Campeonato Donco de Futebol 2015, que será entre o Picadeiro, dono da casa, e o SoleCorp, de Ubatuba.
Lembramos a todos que no jogo de ida, no Solerstadium, em Ubatuba, o placar foi 0x0, de modo que quem ganhar a partida de hoje leva o título!
Entram os times em campo… os artistas picadeiranos de preto e dourado contra os pragmáticos solecorpenses e seu tradicional uniforme laranja. Quem levará a melhor, a malemolência e a improvisação dos taubateanos ou a tática e a técnica dos ubatubenses?
Dá a saída o jogador Palhaço, do Picadeiro. O time aurinegro vai para o ataque com Domador, Trapezista e Macaco, um trio de respeito. Nos primeiros minutos de partida, o time da casa domina o adversário. O meia Malabarista finta os marcadores e não encontra quem lhe roube a bola, já que ele dá estrelas, saltos acrobáticos e mortais para escapar dos carrinhos e roubadas de bola do adversário. Uma pena que seus passes são impossíveis de se pegar, já que o atacante Contorcionista (mais acostumado com as jogadas de efeito) está contundido na espinha e ficou de fora da final.
Bom momento do Picadeiro. Palhaço conta uma piada ao zagueiro Hacker e enquanto esse racha o bico de dar risada, vai à linha de fundo e cruza. A bola chega à área, o goleiro do SoleCorp, Firewall, afasta mal e Equilibrista chuta forte, mas desequilibrado pelas sapatilhas, e erra o alvo. Apenas Tiro de meta.
O SoleCorp reage e vai ao ataque. Os meias Hub, Pirateador e Xerokeiro comandam a equipe, que tem no atacante Ping, seu destaque. O jogo passa a ser mais equilibrado e quase que a equipe de Ubatuba abre o placar. O zagueiro picadeirano Domador dá uma chicotada na cara do lateral solecorpense Nerd, que sai de maca e vai pro hospital. Na cobrança da falta, Office Boy alça a bola na área, o zagueiro Mágico se atrapalha com a cartola e deixa a bola sobrar para Ping, na cara do gol, só que o atacante solecorpense nem vê, já que estava tirando uma selfie com o campo ao fundo.
O susto acorda o Picadeiro, que joga em casa e precisa da vitória para alegrar sua torcida. Palhaço faz uma careta medonha, deixa o volante Winchester, do SoleCorp, encolhido de medo e faz um lançamento para Índio, que à galope em seu mangalarga, ganha fácil do zagueiro Digitador, muito sedentário e gordo. Índio chega à linha de fundo, desce do cavalo e arremessa a bola para a área, mas o zagueiro solecorpense Proxy intercepta, jogando-a pela lateral.
O primeiro tempo vai chegando ao fim e nos últimos minutos o Picadeiro abre o placar. A jogada toda é bonita: Mágico tira um coelho da cartola e o bichinho derruba seu marcador. O picadeirano toca então de letra para o meia Equilibrista, que pega a bola com uma varetinha e a equilibra tão alto que ninguém consegue roubá-la, nem mesmo Pirateador (que fica arremessando vários disquetes para tentar derrubá-la). Com sua técnica, Equilibrista passa por vários adversários e toca para Homem-Bala, na grande área. Ele então finta o goleiro Firewall, passando-lhe um vírus de computador, aponta seu canhão para a meta, entra nele segurando a bola e dispara. O tiro sai certeiro, arremessando Homem-Bala para as redes com a bola junto.
Golaço, um a zero no placar e vamos para o intervalo da partida.
No início do segundo tempo, o SoleCorp vem pra cima, já que está perdendo.
Sentindo a pressão, o zagueiro Domador mais uma vez prejudica a equipe do Picadeiro ao cometer uma falta violenta, arremessando uma cadeira de domar leões no atacante Ping. Domador é expulso e Xerokeiro cobra a falta diretamente ao gol, mas chuta fraco e o goleiro picadeirano faz a defesa.
Com um homem a menos, o Picadeiro se encolhe. O time cai de produção e começa a errar muito. Malabarista recebe a bola mas devolve bolinhas de tênis e taças de champanhe para os companheiros, que não as equilibram e derrubam tudo. Palhaço passa a contar piadas sem graça e seu nariz vermelho cai. Equilibrista consegue a façanha de cair de cima de um simples banquinho de madeira.
Aproveitando-se do mau momento do adversário, o SoleCorp tenta o empate. Xerokeiro tira uma cópia da bola e deixa o zagueiro picadeirano com ela. Enquanto isso, segue com a verdadeira e passa para Hub, que com um toque genial, lança Ping. O atacante solecorpense alcança a bola e cruza na área, onde Hacker cabeceia, mas o goleiro espalma.
O SoleCorp segue dominando. Após falta de Equilibrista, que joga um cilindro de madeira no peito de Office Boy, ocorre um princípio de confusão, com Geek tirando a camisa e chamando Equilibrista pro pau, enquanto executa seus kati de kung fu que ele aprendeu via Internet. Acalmados os ânimos, Digitador fala que faz o TCC de Trapezista de graça se ele sair da frente (ele topa), e cruza para a área. Na tentativa de interceptar a bola, Mágico mais uma vez se atrapalha com a cartola e Ping, de peixinho, cabeceia. A bola vai e não volta, parando no fundo das redes circenses. Um a um.
Com o empate, a partida ganha tons dramáticos. O Picadeiro, com um homem a menos e na raça, tenta equilibrar o jogo e vai ao ataque. Elefante, que entrou no segundo tempo, dá um chega pra lá em quatro defensores ubatubenses simultaneamente, e toca com sua tromba para Homem-Bala chutar da entrada da área. O zagueiro Proxy consegue travar em cima da hora e arma o contra-ataque. Supersônico (atacante do SoleCorp que acabara de entrar) ganha na corrida do lateral picadeirano Rei Momo e entra na área, quando é derrubado pelas cordas da rede de proteção do zagueiro Trapezista. Pênalti.
A torcida que lota as arquibancadas da Tenda Principal prende a respiração. O capitão do SoleCorp, Hacker, se prepara para a cobrança. O goleiro picadeirano, Contra-Regra, abre os braços. A torcida não pisca. O árbitro apita e Hacker corre para a bola, chega perto dela, retira do bolso um blackberry pesadão e arremessa-o contra o goleiro, acertando em cheio na sua cara. Contra-Regra cai inconsciente e não tem a menor chance de pegar a bola chutada por Hacker, que entra mansamente na meta e mal balança a rede. Dois a um pro SoleCorp, de virada, apesar dos protestos picadeiranos acerca da legalidade da jogada, rebatidos com a justificativa do juiz de que “o tutorial é claro”.
Um silêncio sepucral toma conta da torcida do Picadeiro, que lota o estádio. Mesmo assim, num último e desesperado ato, o técnico taubateano coloca Arremessador de Facas no lugar do zagueiro Mágico (que havia falhado duas vezes) e manda a equipe ir para a área adversária. Mas apesar dos esforços do time da casa, e do massacre que Arremessador de Facas faz na defesa adversária (sendo, claro, punido com cartão vermelho pela violência de suas jogadas), acontece o inevitável, cinco minutos depois: choro dos picadeiranos e festa dos solecorpenses, os novos campeões do “Doncão” de futebol.
Enquanto os jogadores do Picadeiro se jogam ao chão desolados, os do SoleCorp se abraçam e comemoram, jogando chips de computador para o alto como se fossem confete. No auge da histeria, nem percebem que o mestre de cerimônias já está para iniciar a entrega dos prêmios, falando ao microfone:
– Respeitável públicooo…
Ralph Luiz Solera
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Não me lembro dessa partida assim não. Na minha límpida e circense memória o Picadeiro tinha virado o jogo.
hahahahahahahahahahaha e a “intermitência do botão” ?!