A representatividade feminina nas HQs
Há uns dias atrás li um post muito bom no blog Não Me Khalo sobre a Mulher Maravilha, entre outras coisas abordava as mudanças no uniforme da nossa querida Diana e o machismo que envolvia essas mudanças, não só no uniforme como também nas medidas na amazona.
Acredito que existam excessos quando se trata de trajes femininos no universo das HQ’s, pois alguns uniformes são ridículos e impraticáveis para uma luta. Existe até um “projeto” chamado The Hawk Eye Initiative (Iniciativa Olhos de Falcão ao pé da letra) que pretende “arrumar” certas poses sexys das heroínas e seus uniformes.
Porém eu acredito que o foco da questão seja outro, acho que esses uniformes que são excessivos bem como as poses demasiadamente sexys sejam consequência de outro problema: o público feminino sente-se representado no universo das HQs?
É de conhecimento de todos que a indústria dos quadrinhos tem uma lenta adaptação, e entre outros fatores essa lenta adaptação quase levou à falência as duas maiores empresas de todos os tempos, Marvel e DC, que cansaram-se de fazer bagunça na década de 90 (reboots, renascimento de heróis, morte de heróis e mais renascimentos).
Atualmente nos EUA cerca de quase 50% os consumidores de HQ’s são mulheres conforme aponta pesquisa do ComicsBeat, e a tendência mantêm-se mundialmente. Assim sendo outra questão derivada da primeira faz-se necessária: as mulheres se identificam com os atuais modelos de heroínas?
Em uma conversa num grupo de quadrinhos, ao falarmos sobre a Thor (atualmente a personagem Thor é uma mulher e não mais Thor Odinson), um colega dizia que apesar de incentivar a filha a ler HQs, ela infelizmente não se sentia representada, ela não conseguia se identificar ou manter um elo com nenhuma personagem.
Infelizmente isso não é um caso isolado, é algo comum de se verificar. Algumas leitoras costumam criar elos com personagens masculinos e não com femininos.
Sim caro leitor, isso advém de uma sociedade machista, como você pode notar, onde o foco é majoritariamente em heróis masculinos: são eles os líderes e os que tem os melhores roteiristas. Porém, contudo, entretanto e todavia, com cerca de 50% do mercado consumidor tendo dificuldade em encontrar um ícone, essa história está para mudar, e para o bem do nosso universo de quadrinhos.
Não fique com medo do seu herói preferido perder lugar, isso não vai acontecer (a não ser que o seu personagem preferido seja, assim como o meu, Sandman, aí você senta e chora, colega). Sabe aquela indústria de lenta adaptação? Pois é, ela aprende, e até que aprende rápido, pelo menos quando envolve dinheiro. A Thor é um começo, e é apenas o começo. A Marvel, que está muito bem encaminhada sob a tutela da Disney, lançou no mês passado Spider-Gwen, que foi a terceira revista mais vendida no mês, perdendo para Orphan Black e para a primeira do ranking nos EUA, segundo o Comichron.
Sim caro leitor, duas personagens femininas desbancando Superman, Batman, Justice League, Avengers, X-Men e Spider, dentre outros. E não ficamos por aqui: a nova formação dos X-Men está cheia de mulheres, e ainda a Marvel prepara uma versão dos Vingadores apenas com mulheres.
As mulheres começam a ganhar foco no universo dos quadrinhos, e quem sabe isso venha a mudar o modo como elas são vistas, retirando de algumas o estigma de símbolo sexual, para ganhar o status de ícone. E resgatando esse status de ícone, o público feminino vai voltar a se identificar com os personagens femininos, e questões como as do uniformes ridículos e demasiados sexys não vão mais existir, porque o público que consome já não aceita mais isso.
Quem sabe quando as heroínas voltarem a ser ícones, comentários estúpidos e ridículos como os que apareceram criticando a escolha de Gal Gadot para o papel de Mulher Maravilha, porque a mesma não tem um busto avantajado, sejam parte de um passado nefasto da nossa história nas HQs.
Sérgio Godoy
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falando na Gadot… ela foi sexualizada no filme… o q vc acha disso?