Crítica: Perdido em Marte
Perdido em Marte (The Martian)
Direção: Ridley Scott
Elenco: Matt Damon, Jessica Chastein, Kristen Wiig, Jeff Daniels, Sean Bean, Michael Pena, Askel Hennie, Chiwetel Ejiofor e Kate Mara
Acredito que sempre será válido quando um filme usa de recursos para criar um contraste e engrandecer sua narrativa. O problema sempre será o excesso e certa falta de sensibilidade que possa prejudicar ou enfraquecer o longa como um todo – não necessariamente o tornando ruim. Isso foi que senti ao ver este Perdido em Marte (título em português mais que inapropriado), o novo filme do diretor Ridley Scott e estrelado por Matt Damon.
Inicialmente o longa se apresenta interessante com sua premissa que mistura um pouco de Apollo 13, Náufrago e o mais recente Gravidade: num futuro próximo a Agência Espacial Americana (NASA) finalmente consegue enviar uma expedição tripulada a Marte quando, devido a um acidente , um dos astronautas (Damon) fica para trás; e o mesmo tem que usar todo seu conhecimento para sobreviver durante anos no planeta vermelho enquanto a NASA planeja seu resgate.
Durante seu início, como fã de Ridley Scott, achei que o diretor em sua nova inserção na ficção científica pudesse ter adquirido novamente o feeling e evitar alguns escorregões cometidos, por exemplo, em Prometheus: personagens unidimensionais, caricatos e pouca profundidade nas questões levantam pelo filme. Entretanto neste Perdido em Marte, se o diretor tenta nos apresentar de maneira leve uma historia de sobrevivência num ambiente inóspito – o que por si só é o grande atrativo do filme – peca por inserir tramas que mesmo se voltando para o protagonista, enfraquecem o filme e desviam a atenção do espectador e por vezes desperdiçando o ótimo elenco que inclui Jessica Chastein, Sean Bean, Kate Mara e Jeff Daniels.
Matt Damon segura bem com seu carisma os monólogos ajudado pelo roteiro que cria situações e passagens engraçadas para manter a tensão, como por exemplo, na cena que Mark debocha de Neil Armstrong pelo fato dele ser o primeiro homem a colonizar Marte, como se pisar na lua fosse uma ato menor. Ou quando o protagonista sofre um dano em seu capacete e precisa repara-lo com dificuldade tendo poucos segundos antes que seu suprimento de vida acabasse.
A direção consegue tornar plausíveis também certas situações em que o protagonista necessita de seus conhecimentos para manter-se vivo cujas soluções deixariam qualquer MacGyver com inveja – e mesmo os diálogos expositivos de certa maneira são aceitáveis para poder explicar alguns mecanismos.
Tal análise por mais subjuntiva que seja precisa levadas em questão como, por exemplo, o fato de por vezes soar tudo como uma propaganda da NASA, ou fato de tentar desenvolver personagens em excesso de maneira pouca orgânica e deslocada. Como podemos ver os astronautas da espaçonave de resgate que conversam com os familiares na Terra, onde tudo soa forçado e sem alcançar a dramaticidade necessária. Ou a inclusão de personagens clichês como o cientista Nerd fazendo o estilo Gênio distraído que somente ele tem a solução para o problema que nenhum outro conseguiu pensar. Isso sem contar a inserção de cenas que parecem vindo de filmes catástrofes de Roland Emmerich onde o mundo se une e torce pela TV por uma causa em comum – evidenciado pela união das agencias espaciais americana e chinesa.
Quanto ao design de produção ele é feito com cuidado característico de Ridley Scott que mostra Marte um deserto vermelho – com belos planos e a fotografia obviamente avermelhada – mas sem qualquer elemento que a diferenciasse de um deserto na Terra a não ser claro o clima hostil e imprevisível, cujas tempestades lembram um pouco a ocorrida em Alien. Ponto também por trabalhar bem o visual e dar vida a pequena estação que se tornou o lar de Mark durante sua passagem.
Assim chegamos a trilha sonora que é um capítulo a parte no longa. Inserindo liricamente, mas de maneira óbvia o clássico Starman de David Bowie, a direção optou também por incluir como pano de fundo sucessos da Disco Music como Hot Stuff de Donna Summer e até mesmo It’s rainning man.
Tais elementos incialmente se tornam um contraponto ideal ao clima de isolamento e tristeza que Mark sofrendo em Marte, contudo em certos momentos tal insistência se torna cansativa e prejudicial a uma história que sabemos como vai acabar.
Como disse anteriormente qualquer análise subjuntiva carece de discussões alheias, mas acredito que algumas arestas aparadas, tornaria esta ficção científica a altura de seu realizador, mesmo que intencionalmente este seja o clima que o filme tenta passar – assim eu acho.
Cotação 3/5
Rodrigo Rodrigues
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se me permite, discordo um pouco do seu ponto de vista… Parafraseando o Siqueira, sem assistir o filme, muitos a comparam a predecessores recentes do gênero sci-fi, como “Gravidade” e “Interestelar”. Embora neste último Matt Damon também faça um náufrago estelar, as semelhanças entre os três filmes são circunstanciais. Enquanto “Gravidade” era sobre um difícil (re)nascimento e “Interestelar” apresentava ambições metafísicas mescladas em seu conteúdo científico, “Perdido em Marte” é, sobretudo, uma obra sobre empatia e como ela pode avançar nossa civilização. Sua mensagem é um tanto utópica em seu conteúdo, mas relevante nos tempos belicistas de hoje. Um conjunto de pessoas de diversos países e ideologias se unem para tentar salvar um único homem, avançando dando um grande passo para a humanidade, científica e moralmente falando. Ao mesmo tempo que “Perdido em Marte” conta uma história menor em escala que o filme de Nolan, o longa de Scott ousa ser otimista não apenas sobre o futuro tecnológico imediato do planeta, mas também quanto à consciência de seus habitantes. Ridley Scott foi feliz em pautar a narrativa na realidade. Usando “Apollo 13 – Do Desastre ao Triunfo” (1995, Ron Howard) como modelo – inclusive referenciando diretamente uma cena daquele filme -, Scott criou um universo absolutamente verossímil, aproximando aquele mundo do nosso, o que por consequência aproxima Watney de nós. Melhor filme de Scott em anos, o diretor entrega um filme emocionante, relevante e surpreendentemente divertido, equilibrando drama e o humor de maneira soberba, encontrando ainda tempo para apresentar uma bela seleção musical (embora Watney discorde) e o uso mais inteligente de uma música de David Bowie na história recente do cinema. “Perdido em Marte” mantém o ótimo nível que os grandes longas de ficção científica vêm apresentando nos últimos tempos e, mais importante ainda, nos faz ter um pouco de fé no futuro da humanidade quando o presente nos dá tão poucos motivos para tanto.