Crítica: Brooklin
Direção: John Crowley
Elenco: Saoirse Ronan, Emory Cohen, Domhnall Gleeson, Jim Broadbent, Julie Walters, Emily Bett Richards
Irlandeses (e tantos outros estrangeiros) sempre foram tratados com desmerecimento mesmo sendo uma das bases da sociedade americana, ajudando literalmente na construção do país como mão de obra. Mas, caso fosse este o pano de fundo de Brooklin, mesmo trabalhado de maneira rasa, talvez o longa do diretor John Crowley fosse mais relevante.
Eillis (Ronan) é uma jovem vivendo as rotinas do interior da Irlanda nos anos 50 e sonhando com um futuro melhor. Com a ajuda do Padre Flood (Broadbent) a moça consegue se alojar numa pensão no bairro do Brooklin, em NY, comandada pela Senhora Keogh (Walters). Durante sua nova vida ela conhece o jovem ítalo americano Tony (Cohen) e começa um romance e assim abre a oportunidade para ficar definitivamente nos EUA. Mas a dúvida que paira é se ela conseguiu esquecer totalmente sua terra natal e assim surge o dilema entre razão e coração.
A atriz Saoirse Ronan, que seria a única responsável na identificação da causa e dificuldades retratadas, surge em todo o longa de maneira inexpressiva e até chata. Uma garota sonhadora que nenhum momento consegue passar ao público o que sua personagem pensa ou pretende sobre a vida ou aqueles que amam. Os conflitos são mal explorados sem que realmente nos importemos com o destino da protagonista. Claro que não podemos condenar suas decisões, como mulher adulta ela poderia se relacionar e decidir seu destino com quem ela quiser. Mas o filme apresenta isso de maneira tão abrupta e contraditória, que podemos tomar suas ações apenas mais por interesse que propriamente um conflito interno.
A incursão descartável de uma personagem, durante a viagem de Eillis para os Estados Unidos, abre margem para a ideia que todas as mulheres do longa existem apenas para serem suscetíveis à necessidade de se aparentarem sempre sexies e de precisarem do casamento para mudarem de vida. Como visto no núcleo em que Eillis vive, onde a matriarca Senhora Keogh (Walters) que parece transformar sua casa num retiro onde as mulheres não aparentam outras preocupações que não sejam seus romances. Demonstrando seu bairrismo, a direção constantemente transforma os EUA numa terra de salvação, quase espiritual, onde a imigração é vista como uma ‘passagem’ para a vida eterna (visto que a portão que entre a imigração e o aeroporto é quase um portal mediúnico devido à luz forte da fotografia). Local este em que a ‘regra principal’ para as moças vindo da Irlanda é que para passar pela imigração elas devem “pensar como americanas”, seja lá o que isso for.
Ao tentar mostrar ao público todas as dificuldades que os irlandeses passaram em suas sagas dentro de navios, por exemplo, (com efeitos do mar bem incômodos pela artificialidade) a direção falha, por falta de sensibilidade, restando poucos momentos de beleza, como o visto na cena num albergue, que a câmera expõe os rostos marcados de imigrantes que não possuem nada além de lembranças. A fotografia esquemática, e nem um pouco discreta, realça corretamente a época de maneira até interessante, mesmo que óbvia, com seus figurinos coloridamente anos 50. Onde a direção abusa do verde (cor símbolo da Irlanda) em Eillis para representar sua terra natal que sempre carrega com ela.
Assim como é valido o fato de usar o amarelo com representante de sua prosperidade social diante de seus conterrâneos por morar nos EUA mesmo que isso nãos seja verdade. Contudo, ao querer contrastar tal fato de maneira explícita, além de enfraquecer a ideia de que Eillis não se identifica com suas origens, soa quase um momento cômico. Como por exemplo, na cena que a protagonista anda pelas ruas da cidade natal vestida com uma típica jovem americana.
Assim, quase como uma novela mexicana, o roteiro acaba criando uma vilã e prepara para uma reviravolta (previsível) na trama. Além de soar forçado (como uma novela), é frágil ao tentar transformar tal argumento como motivação dramática para a decisão da protagonista, anunciada com todas as pompas. Tal ação é típica de folhetim que tenta engrandecer a resposta da heroína diante da vilã (algo tipo : “Eu sei que foi você… Manuela Augusta”). Fora que, além de artificial, a personagem acaba generalizando negativamente o seu próprio povo como todos fossem capazes de atos de mau-caratismo.
Falho (injustificável sua presença na disputa do Oscar de Melhor filme), Brooklin apresenta apenas com um drama novelesco, sem que consiga tirar aquele gosto insípido, sem qualquer grande chamariz, tanto de roteiro, atuações e objetivos. Ou seja, sem grandes consequências.
Cotação 2/5
Rodrigo Rodrigues
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