Crítica: O Lobo do Deserto
O Lobo do deserto (Theeb)
Direção: Naji Abu Nowar
Elenco: Jacir Eid Al-Hwietat, Hussein Salameh, Hassan Mutlag e Jack fox
O Lobo do Deserto poderia passar incógnito por ser uma produção Jordaniana de baixo orçamento e atores praticamente amadores. Entretanto, ao abordar com apreço seu contexto e aproveitando de maneira evocativas as paisagens, o diretor Naji Abu Nowar transforma o longa numa espécie de Road Movie de crescimento pessoal dentro de um cenário entre a tradição dos povos do deserto e a modernidade que inevitavelmente os ameaça.
Quando ficamos conhecendo Theeb (Al-Hwietat) e seu irmão mais velho Hussein (Salameh), dois beduínos em suas rotinas pelo deserto jordaniano, imediatamente estamos cientes das dificuldades impostas, contudo, em nenhum momento, isso influencia no relacionamento amável entre eles.
O primeiro ato se desenvolve lentamente, onde somos apresentados um pouco a cultura nômade, onde a reputação e conversa ao redor da fogueira é o máximo de informação que se possa ter sobre algo. Assim nada mais lógico assumirmos a visão do jovem Theeb ao conhecermos estas peculiaridades e tradições beduínas, com a câmera por vezes em ângulos baixos para assumirmos a visão do garoto durante as conversas entre adultos.
Como pano de fundo, há a guerra entre Árabes e Império Turco-Otomano, fazendo com que a chegada de um soldado Inglês (Fox), necessitando serviços de guia do Irmão de Theeb, acabe sendo o motivador para a jornada de amadurecimento do jovem que parte em viagem ao lado deles rumo ao outro lado do deserto.
A fotografia explora muito bem as paisagens fornecidas pela natureza e mesmo sem grandes recursos, no encantamos com as belas cenas entre os desfiladeiros e seus corredores escondidos pelas sombras.
A direção é sensível ao simbolizar toda interação daquele povo como o ambiente em gestos simples como um leve acariciar na terra, simbolizando a ligação milenar com aquele lugar. Assim como exaltar quase de maneira religiosa o uso dos poucos recursos naturais que o lugar fornece, com o fato dos poços artesianos escondidos nos desertos serem tratados com um local de referência e descanso, como um templo para viajantes desgastados.
A direção abusa de longos silêncios nas cenas, que tanto serve para engrandecer aquele cenário, como também criar de maneira eficiente o clima de tensão que surgirá.
A direção ainda usa constantemente os planos abertos para minimizar a presença dos viajantes perante o deserto (lembrando que beduíno em árabe – Al bedu – significa habitantes das terras abertas). Os viajantes são meros integrantes daquele mundo, antes intocado, atingido pela guerra e modernidade representando na figura das ferrovias que atravessam o deserto.
A estrutura do longa é bem definida sem jamais soarem heterogêneas entre si. Assim ao se apresentar definitivamente um Road Movie de amadurecimento, assumimos um ponto de vista de Theeb para acompanhar realmente o destino do jovem mediante as mudanças e todas as dores que sofreu até ali. Onde, mesmo criança, a tradição e religiosidade falam mais alto antes de seguir em frente e ter que confiar num mundo que ele não esta preparado para enfrentar.
Mundo este representado na figura de um ladrão que surge de maneira contraditória na vida de Theeb. Mas mesmo sem escolhas, o relacionamento entre eles é o teste final para a jornada pessoal e moral do jovem que precisa fazer escolhas nunca antes pensadas. Criando assim uma bela rima com seu conceito inicial de vida ou morte representando na figura do seu irmão.
Mas a pergunta que fazemos é se o futuro daquele povo, representando na figura de Theeb, sobreviverá mesmo com sua índole, tradições e dignidade sempre posta a prova . Tendo sempre a modernidade e a cobiça cortando seu caminho como um trem desgovernado.
Cotação 5/5
Rodrigo Rodrigues
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