Batman1989

batman-tim-burton Crítica: BatmanBatman

Direção: Tim Burton

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Elenco: Michael Keaton, Jack Nicholson,Kim Basinger, Robert Wuhl, Pat Hingle, Michael Gough e Billy Dee Williams.

Com a proximidade de Batman Vs Superman, escolhi o filme Batman de Tim Burton para fazer uma análise na sessão especial do site Maxiverso sobre os dois maiores ícones das HQs. Admito, como fã, que sempre tive um relacionamento de amor e ódio durante anos com o longa, mas por ter visto o filme nos cinemas quando tinha 11 anos de idade minha memória afetiva falou mais alto. Assim não poderia deixar de escrever sobre o filme com olhos mais experientes.

O longa de Tim Burton de 1989 é até hoje considerado um dos maiores filmes de super-heróis já feitos. Sua grandiosidade não se resume apenas na bilheteria monstruosa para época e respeitável para os padrões de hoje (mais de 400 milhões), que o deixou no Top 10 durante anos, atrás apenas do trio E.T, Indiana Jones e a Star Wars.

Fora dos bastidores, a polêmica comeu solta, principalmente depois que todos ficaram sabendo que, em uma jogada histórica de mestre, Jack Nicholson abriu mão do salário direto para ficar com parte da receita do filme. Resultado? 60 milhões foram para o bolso do Coringa, se tornando o maior salário já pago a um ator. Coisa que Robert Downey Jr chegou perto com Homem de Ferro, quando amealhou seus 50 milhões de dólares.

Como não poderia deixar de ser, a inédita campanha de marketing do filme foi algo até então jamais visto: comerciais de TV em horário nobre, bugigangas da Pepsi (eu tinha uma coleção de copos), camisas, etc, tudo elevado à décima potência.

Para culminar em tanto sucesso comercial, a obra teve a sua trilha sonora (a cargo do mestre Danny Elfman) interpretada por nada mais nada menos que a astro Prince, vestido de coringa, num clipe de grande produção (a la Thriller). A participação de Prince gerou um atrito entre Elfman e Tim Burton, pois o maestro não gostou da intromissão do astro pop e o desvio de atenção que isso causava. Como na época Burton era quase um desconhecido, o diretor não tinha força para confrontar a Warner e equilibrar os egos. Outra polêmica, obviamente a maior de todas e que rende discussões até hoje, foi a escolha de Michael Keaton para o papel principal. Comediante por natureza, Keaton deixou os fãs do homem morcego com calafrios e não era para menos. Porque!?

Na época do lançamento os fãs de Batman pareciam finalmente que teriam suas preces ouvidas. Depois de tanto tempo fora das telas e com a decadência da franquia do Superman, as portas para o Homem Morcego no cinema foram abertas. A expectativa dos fãs de ver um longa de verdade do seu herói preferido na telona era grande, pois o personagem ainda não tinha se recuperado totalmente no imaginário coletivo da humilhante série de TV dos anos 60. Outro ponto que aumentava a curiosidade era pelo fato do personagem ter passado recentemente por uma reformulação estética e ideológica nos quadrinhos, gerando HQs que se tornaram célebres (Cavaleiros das Trevas e Batman: Ano um).

Mas ver tudo isso em um ator relativamente baixo, no qual as lembranças são aos do filme Os Fantasmas se Divertem era como subir uma escadaria de joelhos para descobrir que a igreja e o santo estavam errados. Muitos fãs radicais (sim, naquela época já existiam) compararam a escolha do Michael Keaton como se o genial comediante Richard Pryor fosse chamado para interpretar Thor! Maldade…

Mesmo com a chiadeira dos fãs, Tim Burton bateu o pé e defendeu o amigo até o fim. Mesmo que o ator não tenha sido a primeira escolha – reza a lenda que Mel Gibson, Ray Liota e Pierce Brosnan foram cotados, o diretor se defendeu dizendo que buscava alguém “normal” para uma identificação com o público.

Assim chegamos ao filme em si.

Bem, se hoje temos a trilogia de Christopher Nolan para nos levarmos ao nirvana, exatos vinte e sete anos antes, Tim Burton talvez fosse o nome certo para o filme. Com sua origem em animação, influências do expressionismo alemão e estilo gótico visto nos seus trabalhos anteriores, ele seria a aposta para o casamento perfeito para levar o personagem de maneira icônica para as telas.

Mas claro nem tudo são flores: sua inexperiência e a falta de uma direção mais firme prejudicaram o filme em seu ritmo. O roteiro de Sam Hamm trabalha bem os aspectos do personagem, tem uma econômica e eficiente premissa do herói e faz referências às origens do Coringa de Ano Um. Entretanto, o roteirista cometeu um erro antológico: atribuiu a origem do Batman ao Coringa (“Você nunca dançou com o demônio sob a luz do luar?“’), comprometendo profundamente a essência do herói e seu contexto. Esta sim é um tipo de reclamação coerente que os fãs estavam certos de fazerem.

Uma coisa é você adaptar o personagem mudando alguns aspectos. Se estas mudanças não comprometerem a essência do personagem, como linguagem cinematográfica, é válido. Entretanto, a decisão de tornar o Coringa como estopim da criação do herói, além de ser forçada, soou equivocada, pois a vingança que classicamente move o herói não tem rosto e nem nome.

Outro ponto que me incomoda cada vez que revejo o filme é a escalação do elenco de apoio e como a direção os trabalhou. Temos uma Kim Basinger fazendo papel de Kim Basinger, sem química alguma com o protagonista ou com ninguém. A atriz surge apenas para fazer caras e bocas e servir como objeto de disputa sexual entre os personagens masculinos.

Também temos um chatíssimo Robert Wuhl no papel de repórter apaixonado e Pat Hingle com um comissário Gordon descaracterizado, subutilizado e não fazendo falta alguma. Assim como Billy Dee Williams, fazendo um Harvey Dent que somente estava ali para os fãs e talvez para o personagem ser aproveitado para um futuro Duas Caras (o que não aconteceu).

Em contrapartida tínhamos o simpático ator  Michael Gough emprestando sua experiência a serviços do fiel mordomo Alfred, que deu ao personagem a dignidade e altiveza necessária e foi o único (junto com Pat Hingle) que ficou até o barco afundar com os filmes de Joel Schumacher.

Chegamos aos protagonistas. Neste quesito posso dizer: Michael Keaton foi um bom Batman! Talvez eu tenha problema com relação a presença física dele como Bruce Wayne, mas mesmo assim, como um bom ator que é, ele se sai bem. Mesmo com um roteiro fraco que não permite desenvolver melhor seus conflitos internos (e quando o faz é de maneira bruta, frágil ou para servir a uma necessidade do roteiro). Como por exemplo,  na cena em que mesmo sem conhecer tão bem Vick Vale, ele decide contar seu segredo apenas para ser interrompido pelo Coringa.

Ao contrário de Batman Begins, Tim Burton preferiu partir da premissa do herói já estabelecido na cidade de Gotham como vigilante. Em vez de trabalhar todos os dramas interno e as motivações que o levaram até ali como feito no filme de Nolan. Problema? Nenhum. Naquele mundo fantasioso do diretor, isso era mais que permitido.

Com o posicionamento de câmera sempre de baixo para cima,  ajudado pela fotografia esfumaçada e sombras que o deixam sempre na penumbra (decisão da direção para esconder as limitações da roupa que jamais o deixava virar o pescoço e, claro, os 1,77m de altura do ator) Batman transmite seriedade e é assustador como sempre imaginamos o personagem. Pontos também para Keaton, que antes de mesmo de Christian Bale (claro, sem a mesma intensidade) teve o cuidado de alterar a voz e personificar sua psique quando incorporado ao herói.

E chegamos ao Coringa de Jack Nicholson com sua interpretação icônica que caiu como uma luva para o ator que nem precisaria de maquiagem para transmitir a insanidade do personagem. Mas, contudo, sabíamos a todo o momento que era o ator (mesmo detalhe em O Iluminado) e não o personagem em si que víamos em cena. Entretanto ficar comparando com Heather Ledger é perda de tempo e desnecessário. Este coringa é uma das melhores personificações de personagens baseados em quadrinhos já feito e consegue ser assustadora mantendo o contexto circense do personagem.

Com todo recurso de uma grande produção (da época) de 35 milhões de dólares, a direção de artes, inspirada no clássico Metropolis de Fritz Lang nos apresentou uma aglomerada e sombria Gotham City com todas as características que se esperavam: prédios altos, catedrais, atmosfera sufocante ratificada em planos fechados, clima noir e influências do expressionismo alemão.

Mesmo que o tom soe como uma fábula estilizada, não podemos de deixar de entender a decisão de Burton pelo mesmo, por este ser seu estilo de direção e abordagem. Estilo este que funcionou e se tornou referência para os filmes seguintes (infelizmente gradualmente arruinados nos filmes de Joel Schumacher e seus neons).

O visual do herói fez sucesso e se tornou item básico para as versões futuras (já imaginou o que seria dos atores sem a roupa de couro?). Se hoje temos personagens com uniformes moldados, não correndo o risco de virar um Batman de Adam West, devemos agradecer a Tim Burton ao surpreender com o visual revestido de couro e borracha (no caso um tormento para os atores que o interpretaram). Tal visual se tornou padrão para todos os filmes de super-heróis seguintes, ratificando que nem sempre ser fiel visualmente aos quadrinhos é uma boa ideia.

Temos que mencionar também o mítico batmóvel, com seu visual futurista, mas sem destoar na proposta do filme, passando pela Bat-Caverna High-Tech e, claro, a famosa cena de Batman adentrando o museu pela claraboia gerando a famosa frase do Coringa (“Onde ele arruma estes brinquedos?“).

E é claro o Batwing, que é protagonista da melhor sequência do longa, fazendo alusão ao símbolo do herói na lua, antes de atacar o Coringa e seus balões nas ruas de Gotham City. Símbolo este que já ficamos conhecendo na abertura em que a câmera percorre o contorno como tivesse (re)construindo a lenda, como tão bem disse a professora Ana Lúcia Andrade.

Batman de Tim Burton merece nosso respeito e acredito ter sido uma boa estreia para o personagem na tela grande (isso sem contar os filmes matinês nos anos 40), apesar dos seus defeitos no roteiro (alguns graves), equívocos e situações que poderiam ter sido evitadas ou melhoradas.

Batman inaugurou de verdade a era de super-heróis nos cinemas, e mesmo com as desgraças seguinte (Batman Eternamente e Batman & Robin) os erros foram assimilados, para que hoje os fãs possam dormir sossegados sabendo que seu herói preferido se reergueu. Para qualquer problema é só pegar os filmes de Christopher Nolan (e Tim Burton) e assistir, imaginado que o caminho percorrido pelo personagem foi árduo, mas redentor.

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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a história ou acharem que Cinema começou nos anos 2000! De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

10 thoughts on “Crítica: Batman

  1. esse filme é bem ruim so lembramos dele com carinho pq na epoca a regua pra adaptacoes de herois era bem baixa, argumentos bobos, roteiro quase infantil, passo longe disso ai, na epoca ate curti mas hj em dia nao acho bom

  2. Bacana relembrar esse filme, que pra mim foi um marco. E porque no especial Batman vs Superman vcs nao colocaram a critica do filme? Ja faz quase uma semana que estreou!

    1. Nemo Nox

      Obrigado pelo comentário.
      Realmente o filme foi um marco até hoje.
      A critica de BVS esta disponível no site.

      Abraço e espero que continue nos acompanhando.

  3. Parabens ao senhor Rodrigo. Esta foi a melhor critica que ja li sobre o filme do Burton. Congratulações.

    1. James,

      Muito Obrigado pelo comentário e elogio. Tento sempre fazer o melhor para os leitores.
      Espero que continue sempre aqui acompanhando nossas criticas.

      Abraços

    1. Terra Casp,

      Obrigado por comentar. Realmente, não tem muito o que falar sobre esta cena.
      Foi um belo tiro. rs

      Abraços e espero que continuem nos acompanhando

    1. Marco Greta

      Obrigado pelo comentário.

      A memoria afetiva sempre melhora (rs). Mas não podemos deixar isso influenciar nossa analise.

      Abraços e espero que continue nos acompanhando

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