Análise: Porque os críticos não gostaram de Batman vs Superman
Desde que o filme Batman vs. Superman – A Origem da Justiça foi lançado, uma verdadeira guerra foi travada pelos fãs da DC (e dos seus personagens icônicos) contra os críticos de cinema que reprovaram o longa da Warner, dirigido por Zack Snyder.
Os fãs acusam os críticos de analisarem o filme de forma equivocada, dando notas baixas não por falta de qualidade do mesmo, mas sim por conta de outros motivos, como preferência pelo clima menos soturno dos longas da Marvel, ou por falta de conhecimento dos personagens retratados (e as toneladas de referências aos quadrinhos, consequentemente).
Algumas das opiniões de fãs hardcore sobre o assunto já foram muito bem abordadas nesse excelente (mais um) artigo do Quadrinheiros, que explicou como não é verdade que apenas os críticos especializados não gostaram do filme, que quem não gostou não é necessariamente “marvete”, que o fato do filme não ter humor não é o motivo da crítica negativa, e, principalmente, que quem não gostou do filme não o fez porque não o entendeu, além de outras explanações.
A verdade é que os críticos, de uma forma geral, não gostaram muito do filme, porque ele, tecnicamente, realmente não é muito bom, por mais que isso doa aos fãs. Ou talvez não doa tanto, já que é muito comum um fã confesso da DC, do Batman e do Superman, dizer nas redes sociais que “O filme tem problemas? Tem… mas eu gostei mesmo assim.”. Ora, se o filme tem problemas, como muitos admitem, então temos meio caminho andado para entender o motivo dos críticos não terem gostado muito de BvS.
Mas, para entendermos essa situação de forma completa, é necessário antes entendermos quem são eles e como eles pensam.
Os críticos:
O crítico de cinema, ao contrário do que se tem propagado nessa guerra, não é alguém – salvo exceções, como em toda profissão – mal intencionado, tendencioso ou que faça seu trabalho com má vontade quando trata-se de algo que não tem sua preferência (no caso de alguém preferir Marvel em detrimento da DC, por exemplo).
Aliás, se estamos falando de críticos especializados, dificilmente veremos, no meio deles, alguém que tenha uma preferência por uma das editoras, já que isso é mais coisa de fãs (e dos mais intolerantes, diga-se). Até mesmo porque a maioria dos críticos que hoje detratam BvS, elogiaram a trilogia do Batman do Nolan, principalmente o segundo filme, considerado por muitos como uma das melhores adaptações de super heróis para o cinema. O problema não é ser Marvel ou DC, o problema é o filme ser bom ou não, tecnicamente.
O crítico de cinema especializado e profissional é alguém que gosta muito de cinema (gosta mais do cinema em si, como formato, do que dos filmes e dos personagens), e estudou muito os aspectos técnicos da sétima arte, fazendo cursos, efetuando pesquisas e participando de grupos de estudo.
As diferenças entre o crítico e o espectador comum:
Tudo o acima citado faz com que a visão de um crítico de cinema não seja a mesma visão de um espectador simples, e isso nem sempre fica evidente para esse espectador. O crítico, quando assiste um filme, consegue captar detalhes e nuances que escapam aos olhos da pessoa que não tem a mesma bagagem técnica. Mas não são apenas as coisas pequenas: estrutura, montagem, edição, roteiro e direção também acabam sendo analisadas de forma muito mais adequada e criteriosa pelo crítico do que pelo espectador comum.
Pense nisso dessa maneira: quando você convida um amigo seu, que é um chef gourmet, para jantar em sua casa, e lhe prepara seu prato favorito, ele notará “problemas” que você, nem de longe, imagina que existam.
Por mais que tenha caprichado no preparo, com certeza, por não ser um cozinheiro profissional, cometerá errinhos bobos que farão com que, em seu íntimo – mesmo que ele não lhe diga – seu amigo não aprecie tanto a comida quanto você gostaria. Isso porque ele tem uma bagagem técnica que amplia sua percepção para tudo relacionado ao que está comendo e lhe permite ver problemas onde as pessoas que não são chefs não notam existir algo de errado – ou algo que não esteja tão bom quanto imaginam.
O mesmo se dá com um crítico de cinema, que por sua percepção técnica ampliada em relação ao espectador comum, percebe problemas onde os outros não os notam.
Isso se aplica também ao espectador comum, que com o passar dos anos, também amadurece em suas percepções técnicas, ainda que as mesmas sejam adquiridas de forma empírica, enquanto que no crítico são adquiridas de forma “científica”, por meio de estudo, treinamento e pesquisa.
Assim, é comum que um espectador comum reveja um filme ou animação que lhe marcou na juventude e, quando revisitados, não lhe parecem mais tão bons. Isso porque sua memória afetiva se remete ao critério de análise de qualidade que ele tinha na época, e que hoje já amadureceu um pouco (ou muito).
Porém, mesmo que já mais maduro nesse sentido, o espectador comum – via de regra – continuará deixando de perceber detalhes técnicos que os críticos não só notam como ainda não conseguem deixar de atribuir a eles uma importância enorme dentro do conjunto de um filme.
“Gosto não se discute”:
Aqui cabe um esclarecimento quanto ao “gosto” das pessoas e o chavão “gosto não se discute”. Realmente, gosto é algo pessoal e cada um tem direito ao seu, mas não se pode confundir gosto com falta de conhecimento técnico sobre um assunto.
Por exemplo: é sabido que as músicas de Milton Nascimento são boas. Afirmar isso não é uma questão de gosto, é uma questão de se saber o que analistas, críticos e especialistas têm como consenso sobre a obra de Milton. “Gosto” é, mesmo sabendo-se que são boas, ainda assim não gostar delas, não querer ouvi-las. Eu sei que as músicas do Milton Nascimento são boas músicas, de qualidade, mas eu não gosto delas e nunca comprei um CD do Milton. Isso é “gosto”.
O mesmo pode ser dito dos livros de Shakespeare, ou Tolstoy, por exemplo. São obras aclamadas, consideradas fantásticas por praticamente todos os estudiosos da literatura que existem ou já existiram. E ainda assim, podem não cair no gosto de muitas pessoas. Eu gosto de Tolstoy, mas não de Shakespeare, mas não digo que os livros do inglês são ruins, eu apenas digo que não gosto de os ler.
Da mesa forma não aprecio muito o estilo de pintura do Van Gogh, mesmo ciente de que o mesmo é considerado um dos maiores pintores da humanidade, em todos os tempos. Sei que os quadros de Van Gogh são bons, mas não consigo “gostar” deles.
Isso é “gosto”. E funciona no inverso também, quando admitimos que gostamos de algo que não é bom, ou não tão bom quanto deveria para justificar nossa simpatia. Podemos gostar de coisas que não são boas (e isso é mais comum do que imaginamos).
É difícil achar alguém que defenda tecnicamente o programa Big Brother Brasil, ou as telenovelas – de qualquer país – mas ainda assim existem milhões de pessoas que gostam dessas coisas, mesmo com seus problemas conceituais (e até morais) e técnicos. Isso é “gosto”.
Assim, quando um crítico aponta falhas técnicas em um filme, isso não tem relação (pelo menos não deve ter) com o gosto pessoal dele, mas sim com a análise puramente técnica realizada. Se, por outro lado, o crítico informa que mesmo o filme sendo bom nesse sentido, ele ainda assim não conseguiu “simpatizar” com ele, aí estamos falando de gosto.
Isto posto, podemos analisar a visão dos críticos acerca do filme Batman vs. Superman – A Origem da Justiça sem confundirmos gosto com critério técnico.
Como os próprios fãs admitem, o filme tem vários problemas… e isso aos olhos dos “leigos”. Imaginem aos olhos treinados dos críticos especializados.
De fato, apesar de alguns bons momentos, o filme, tecnicamente, tem muitos problemas de roteiro e direção, principalmente. Tanto é que está sendo repensada a continuidade de Zack Snyder à frente do DCEU.
Por mais que a maior parte dos fãs tenham se deleitado com algumas seqüências, elas acabam não sendo, tecnicamente, bem vistas. É algo parecido com o que ocorre com a franquia Transformers, um fenômeno de bilheteria, mas incrivelmente problemática tecnicamente.
Os fãs gostam, mas é impossível – para quem tem bagagem técnica – não se aborrecer com os muitos problemas dos filmes do péssimo Michael Bay. Até para alguém fã dos robôs desde criança, como eu, ficou impossível gostar dos filmes, diante de tantos defeitos técnicos. Ainda assim, muita gente gosta.
As pessoas que gostam dos filmes Transformers ou fazem isso por “gosto”, ou seja, gostam de algo que elas têm ciência de que não é bom (“Ah, não to nem aí, gosto mesmo assim!”) ou então elas não possuem o conhecimento técnico de cinema necessário para que possam detectar os problemas do filme e, sem ter a consciência deles, se permitem gostar do que vêem.
Também existem filmes que os críticos gostam muito e são um primor, tecnicamente falando, mas ao espectador comum, não caem bem, pois ele não consegue detectar essas virtudes conceituais e técnicas, atendo-se apenas ao aspecto narrativo da obra, que, esvaziada por essa percepção menos profunda, acaba sendo incompleta.
Com relação a BvS, a Warner está cogitando relançar o filme, com os 30 minutos de extras que só sairiam no DVD e no Blu-Ray, justamente porque dizem que esse tempo a mais amarra melhor a trama e dá mais sentido ao longa. Isso é mais uma “confissão” (junto com o ato de se repensar Snyder) de que o filme não saiu a contento.
O que acontece é que o filme, ainda que com vários problemas, agradou a maioria dos fãs, que conseguiram se divertir ao assisti-lo, muito em parte pelo fato de ver materializado, de forma realista, pela primeira vez na vida, um encontro entre os dois maiores “heróis” já criados, do ponto de vista da mitologia desse gênero.
Aqui entra o “gosto”. Os fãs gostam do que vêem, mesmo diante das falhas perceptíveis, pois trata-se de algo que lhes agrada em um nível que suplanta a consciência dos erros existentes, até porque, por não os avaliarem com o nível de apuro de um crítico especializado, os mesmos parecem não ter tanto peso.
O fator chamado “Zack Snyder”:
Outro fator a ser levado em consideração aqui é o diretor Zack Snyder, que não desperta simpatia na maioria dos críticos. Isso ocorre porque seus maneirismos e excessos irritam aqueles que conhecem as técnicas cinematográficas que estão ali sendo preteridas em nome de soberba visual. Os que não percebem essas “heresias”, por não conhecê-las, acabam gostando do estilo do diretor.
Aliás, muitos fãs acabam gostando do estilo de Snyder justamente porque seus maneirismos emulam, de certa forma, o visto nos quadrinhos, e isso, evidentemente, evoca uma simpatia inconsciente do leitor de HQs pelo resultado entregue por Zack, ainda mais por – em sua maioria – desconhecerem os preceitos do bom cinema que ali estariam sendo infringidos. Coisa que o crítico não consegue deixar de levar em consideração.
O que vemos, portanto, é que Batman vs. Superman – A Origem da Justiça é um filme com vários problemas, que o impedem de ser, tecnicamente, muito elogiado. Desta feita, é difícil que um crítico especializado de cinema deixe de notar os defeitos da obra, que acabam influenciando sobremaneira a avaliação final.
Por outro lado, é inegável que, ainda que com esses problemas, o filme consegue divertir o fã de quadrinhos de um modo geral, sobretudo o fã da DC e dos heróis que estrelam o longa. Com alguns bons momentos e lutas empolgantes e bem mostradas, a obra entrega sim (de forma geral) o que o público quer, a despeito das falhas já comentadas.
As referências:
Outro fator que desagradou os críticos é a existência de muitas referências às HQs e animações DC constantes no filme. O que, para o fãs, é algo positivo e até aclamado, para o crítico, que tem como um dos preceitos fundamentais das artes cinematográficas o fato de que um filme precisa ser completo sem a necessidade de conhecimento prévio do material da qual ele se inspirou, passa a ser um defeito.
A cena do Flash, por exemplo, causou até aplausos em algumas sessões, pois os leitores de HQs sabem o que está acontecendo, porém quem não conhece as revistas e animações da DC e seu conceito de multiverso, não vê o menor sentido naquela cena, e isso é um problema. Referências precisam funcionar para fãs (o chamado fanservice) mas não podem se configurar em um elemento desconexo dentro de um filme. O crítico leva isso em conta quando analisa um filme. O fã, não.
Conclusão:
BvS podia ser melhor? Podia. Os próprios fãs e a Warner “admitem”. Existem motivos para os críticos terem torcido o nariz para a obra? Sim. Isso impede alguém de gostar da obra? Não. Você pode ter gostado do filme, mesmo diante das falhas, ou a despeito delas, caso não as tenha notado. Mas elas existem.
Claro que há exageros, para baixo, provavelmente ocasionados – aí sim – por misturarem gosto com opinião técnica, pois Batman vs. Superman também não é um filme ruim, como alguns críticos dizem e algumas avaliações ficaram totalmente descabidas, como essa imagem abaixo demonstra.
Ralph Luiz Solera
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Interessante artigo. Obrigado. Batman é um super-herói envolta em mistério, escuridão, força e fúria. Eu acho que o papel foi deixado para Ben Aflleck porque reflete todas as características do personagem. Anteriormente, ele havia trabalhado um super-herói em Daredevil. No início do filme é um pouco lento, no entanto, é necessário fornecer o contexto e tem ação, drama, mal, desespero, romance, tudo que você precisa para ficar no banco.
Sharknado vs BvS!!! Que comecem os debates!!!Rss…
Brincadeiras a parte, achei o texto totalmente coerente, e como o mesmo diz, gosto é uma coisa e aspectos técnicos são outros. quinhentos. Eu particularmente assisti e me deleitei com o filme. Muitas referências bacanas e diversão pura. Um filme longo (que poderia e deveria ser mais ainda) que passou muito rápido!!!
Muita babação de ovo em relação aos críticos; isso somado a falta de argumentos. Desculpa, não convenceu, isso foi chamar o fã de idiota.
Vc que pareceu idiota com esse comentário babaca… haja paciência…
O texto é bom mas tem pontos que acho problemático. Os fãs implicaram com argumentos usados pelos própios críticos, como: “Não ser divertido” e “filmes de heróis sem piadas” como se fosse ruim. Outra coisa é admitir que os críticos tem implicância e não gostam dos MANEIRISMOS do Znyder ou a “soberba visual”. Isso é o estilo dele, você pode não gostar mas, quem tem o direito de dizer que é errado? Tim Burton e Quentin Tarantino comentem exageros e maneirismo então eles são ruins? Os erros de direção ok mas acho que esse tipo de coisa tu não pode dizer que é ruim por que tu não gosta do estilo, tem que ver se ele cumpre o que promete. E por ultimo os exageros da critica, revi vários filmes de heróis nessas ultimas semanas para me preparar para o CW hehehe reparando em erros de roteiros e incoerências todos tem (afinal são filmes de heróis não é Casablaca) mas deram notas piores que Lanterna Verde e os Quartetos Fantástico ai também não.
Porra, o texto só parar pra defender os críticos, mas não apresenta UM dos argumentos que os mesmos utilizariam, muita comparação desnecessária que eu nem me importei, li tranquilamente, parece só mais alguém que não gostou e tenta ser pacífico ao dizer isso, trazendo teses chatas sobre algo da qual ele acredita ser o certo.
Sou formado em audiovisual, cinema, reconheço muitos dos erros do filme e nada me tirar o prazer de ter amado o mesmo. Quanta balela.
O texto é pra explicar como os críticos pensam, meu filho rs… não é pra defender, atacar, listar argumentos, nada disso… eita ele deixa claro que isso não tem relação com o gosto do fã que em geral amou o filme… texto ótimo. Explica todas facetas envolvidas no complexo sistema de analisar, criticar, entender… abordou todos os pontos dos criticos, explicando como eles vêem os filmes, como os analisam. Não é uma crítica do filme, não se propos a concordar ou nao com cada ponto dos críticos (por isso não citou as falhas técnicas do filme… pra citar elas, tem trocentas críticas por ai). Mas esclareceu pro hater como é possivel um critico ver o mesmo filme que vc e achar tao diferente. Eu gostei muito do filme, adorei na verdade, mas concordo com o que foi falado, é fato que tem problemas, todos sabemos, então temos que parar de achar ruim qd crítico fala mal do que a gente gosta e ver se tem ou não veracidade.
formado em audiovisual, diz no fim que reconhece os erros do filme, e ainda assim não entendeu merd#* nenhuma do artigo kkk que burro da zero pra ele!!! Mauricio sua anta, o que o texto diz é justamente isso (anta²), que vc mesmo reconhecendo os erros, pode adorar o filme (anta³), e que um crítico faz o mesmo, ele aponta o aspecto técnico (anta³), e cabe a vc – mesmo diante disso – gostar ou não!! ANTAAAAAAaaaaaaaa….