Crítica: Ave, César (Hail, Caesar)
Direção: Ethan e Joel Coen
Elenco: Josh Brolin, George Clooney, Alden Ehrenreich, Ralph Fiennes, Scarlett Johansson , Tilda Swinton, Chamming Tatum, Jonah Hill e Frances McDormand.
Poucos diretores, como os irmãos Coen, poderiam criar obras tão marcantes, distintas e ao mesmo tempo num exercício de metalinguagem. Mesmo usando constantemente em suas obras o humor negro e estudo de personagens sempre complexos, como uma grande comédia humana, não é difícil de apreciar e admirar este Ave, César que evoca talvez menos deste cenário por tratar de um assunto de maior abrangência: o próprio Cinema.
O novo trabalho dos diretores consegue, com a qualidade que lhes é característica, passar um panorama de toda a história cinematográfica americana – mais precisamente a Era de Ouro de Hollywood. Como dito antes, trata-se de um exercício constante de metalinguagem com estilos que se misturam entre si, como visto numa das cenas das filmagens de um épico, que devido ao enquadramento da tela, ficamos com uma visão de uma tela dentro da outra, ratificando o cinema real se misturando com o ficcional. O roteiro dos próprios diretores aborda de maneira econômica, mas não menos abrangente, todo o contexto e seus filmes que marcaram época. Assim passamos por estilos como western, os próprios épicos, os musicais e inicialmente o noir, onde Eddie Mannix (Brolin) é um famoso produtor responsável pelos bastidores dos filmes e suas estrelas. Mas quando o principal astro do estúdio Baird Withlock (Clooney) desparece, ele precisa se desdobrar para manter as aparências e abafar o escândalo diante da mídia.
Contando com um elenco estrelar, as atuações são propositalmente exageradas para demostrar certa descrença na imagem entre atores e personagens. Como podemos ver na gravação das cenas onde Withlock interpreta o general romano, onde a artificialidade da atuação dos atores está bem inserida no contexto, praticamente beirando ao caricato. Figuras importantes surgem no filme e, quando não influenciadas, são claramente copiadas de lendas do cinema. Como podemos ratificar a figura de Burt Gurney (Tatum) que rende homenagem a Gene Kelly por Marujo do Amor de 1945 e a personagem Carlotta Valdez (Osorio) claramente inspirada em Carmem Miranda. Mas um importante ponto, e talvez o mais polêmico, dentro destas abordagens, seja a feita sobre o contexto da “caças as bruxas” que reinou da época do Macarthismo. Visto como traidores, os roteiristas filiados ao partido comunista tiveram seu trabalhos censurados e foram até presos.
Assim, mesmo usando a ironia e humor para criticar, a direção não consegue tirar aquela sensação clichê paranoico-comunista que não pensa em outra coisa que não seja através dos olhos militares e nacionalistas, sem esquecer que ali tinham grandes profissionais que desejavam um bem estar social maior (como visto no recente Trumbo) sem abrir mão de seus ofícios. As sequências cômicas, além de terem a conotação e contexto histórico por mostrar os bastidores do cinema, são boas, sem obviamente, serem escrachadas, como na cena em que Mannix se reúne com líderes religiosos a fim de buscar agradar à abordagem de Deus num dos filmes. A cena que por si só trás todos a infindável discussão temática sobre como Jesus deve ser retratado na tela, serve para pincelar a influência religiosas dentro desta mesma indústria. Mesmo se aproveitando de poder contar estes bastidores do cinema, a direção não poupa o público em misturar o real como exercício de ficção, como na belíssima cena do bale aquático liderado por DeeAnna Moran (Johansson) onde naquele momento assumimos a visão do filme e não dos bastidores, que esteticamente lembra a sequência dos sonhos de O Grande Lebowski.
Ave, César mesmo sendo a obra com menos ação de personagens em sua essência, não deixa de ter a assinatura dos diretores que conhecem bem seu público, onde as resoluções se apresentam sem grandes reviravoltas, mas ainda sim com espaço para redenção humana.
Cotação 4/5
Rodrigo Rodrigues
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