Crítica: História de um Casamento (Marriage Story)

4

Direção: Noah Baumbach

Elenco: Scarlett Johansson, Adam Driver, Laura Dern, Julia Greer, Azhy Robertson, Wallace Shawn, Mickey Sumner, Matthew Shear, Ray Liotta e Alan Alda

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Nota 4/5

O poder de identificação de uma obra é fundamental para que nos importemos com um personagem. Obviamente, se passamos por um processo longo e doloroso que seja o mesmo foco de um filme, todas as nossas memórias ajudam a construir um paralelo ainda mais profundo permeado de lembranças; e jamais, por não termos passado exatamente por pelo término de um divórcio (ainda mais envolvendo a guarda de uma criança), poderíamos tentar minimizar uma obra como essa.

Claro, se História de um Casamento, de Noah Baumbach, fosse construído em uma narrativa que apelasse constantemente para conflito melodramático, seria uma ato falho até mesmo comparado a outros dos diversos exemplos do gênero (ou que fosse até mesmo visto como um sub Kramer vs Kramer, um dos clássicos desse filão).

Contudo, o roteiro por ser do próprio diretor, já denuncia um cunho pessoal na obra, e por mais que o mesmo negue a veracidade dos fatos (ele foi casado e teve um divórcio complicado com a atriz Jennifer Jason Leigh), os acontecimentos têm um tom muito particular; apoiado em diálogos que vão de um misto de autopiedade e desejo de morte dita irresponsavelmente como um expurgo pelo seus personagens, História de um Casamento tem como principal mérito a direção dos atores e entrega de Scarlett Johansson e Adam Driver com uma intensidade única de ambas as partes. Tanto que não há nada mais emblemático que a cena em que os dois discutem no apartamento de Charlie numa tentativa, em vão, de algum tipo de redenção ou pedido de desculpas de algo completamente destruído; méritos, inclusive, para Baumbach, que usa competentes enquadramentos que realçam a distancia de indiferença dos dois, já realçados por cores frias de um apartamento sem vida devido às poucas lembranças contidas ou artificiais.

Mantendo um interesse pelo seu desenvolvimento, História de um Casamento fatalmente poderia trazer momentos de desinteresses na trama ou sensações exageradas, contudo, tem a proeza de criar saídas para a cada momento questionar os envolvidos. E a presença de Laura Dern como advogada de Nicole é uma peça fundamental, pois ao trazer uma intempestividade e dinamismo com tanta ferocidade, a atriz ainda é capaz de criar uma personagem multifacetada com um determinismo que soa quase como um egoísmo manipulador. Em contrapartida, a presença de Ray Liotta, como advogado de Charlie, transforma seu personagem como um último recurso de um jogo que há muito tempo ultrapassou um ponto sem retorno e que somente traz dor e ofensa depois da tentativa de trazer um pouco de humanidade ao processo – simbolizado com a desistência do sempre amável Alan Alda como o primeiro advogado de Charlie.

Portanto, neste momento, fica quase impossível desassociar a história ao próprio diretor por trazer o ponto de vista de Charlie ou sempre com as ações que arrastam o processo, caindo certa culpabilidade nas costas de Nicole em que ela é praticamente levada pelas ideias da personagem de Dern (sendo esta, ratificando, uma mulher brigando por espaço em um mundo que condena as mulheres).

Tudo isso comprova o nível de desgaste que Nicole e Charlie chegaram, sem que pudessem, em apenas uma conversa, tentar diminuir a indiferença que sentem pelo outro sem tomar caminhos oficiais que poderão pôr tudo a perder; o que seria fundamental para o desenvolvido do filho do casal. Ao invés disso, deixaram que a burocracia destruísse a vida do casal, e a presença da agente social, que poderia soar quase como um alívio cômico pelos seus transtornos, acaba criando um contraste desconfortável quando Charlie precisa provar sua capacidade como pai.

Se Charlie e Nicole se reencontrarão futuramente com a tentativa de reconciliarem, isso somente acontecerá fora da tela. Entretanto, o amor e carinho que tanto cultivaram durante anos foi abalado. Mas são pequenos gestos em prol maior que demonstram que, pelo menos, os dois terão uma direção a seguir, uma nova vida que não resgaste tanta dor.

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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

4 thoughts on “Crítica: História de um Casamento (Marriage Story)

  1. filme bom, mas nao é tudo isso nao… personagens estereotipados como os advogados por exemplo (o Ray Liotta beira uma sátira de advogado canastrão), uma visão nao igualitaria que poe a esposa meio que como a vilã do caso todo (a menos que seja a intencao) sao os defeitos do filme

  2. bela atuação de todos… filme otimo, que da uma pesada na mão no melodrama em um ou dois momentos (como a discussao no apartamento em que nada antes permitia aquele cenario como verossimil e eles discursam como uma peça de teatro e não como uma discussao real, apesar da evidente entrega dos atores) mas que no resto se segura de forma muito competente

  3. belo filme e pra quem como eu que passsou por algo similar doi ate ver tudo por fora assim mas é algo que muita gente passa, adorei, mexeu comigo

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