Direção: Josh Cooley

Elenco (Vozes): Tom Hanks, Tim Allen, Annie Potts, Tony Hale, Keegan-Michael Key, Madeleine McGraw, Christina Hendricks, Jordan Peele, Ally Maki, Jay Hernandez, Lori Alan, Joan Cusack, Bonnie Hunt, Kristen Schaal e Keanu Reeves

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Nota 4/5

Durante determinada cena vemos um dos personagens novos deste Toy Story 4 imaginando como reaver uma chave em poder de um senhorinha dona de uma loja de antiguidades, e seus métodos beiram ao sadismo pouco comum a série de animação iniciada em 1995. Contudo, este quarto capítulo dos brinquedos da Pixar consegue – não me refiro exatamente à cena descrita – a proeza encantar tanto criança dentro de suas brincadeiras e diversão quanto adultos através da discussão de assuntos atuais, de modo que não me arriscaria a usar a palavra desgaste ao trazer os conflitos, reflexão sobre sua própria existência, multidimensionalismo, ao mesmo tempo em que cria novos paradigmas, amadurecimento e rumos para a própria série, sem deixar de atingir seus objetivos iniciais!

Iniciado com uma espécie de prólogo/review, retornamos ao ponto onde Andy passa os cuidados dos brinquedos para as mãos da pequena Bonnie (McGraw), como visto no final do terceiro longa, mas sem antes introduzir elementos que conduzirão parte da trama referente a pastora de ovelhas Betty (Potts); ao mesmo tempo que Woody (Hanks) lidera o grupo de brinquedos na adaptação de sua nova dona na escola através do surgimento do personagem Forky/Garfo (Hale), de quem falarei mais a frente. Mas o roteiro de Andrew Stanton e Stephany Folsom não deseja apenas retornar com uma trama vista nos longas anteriores, por exemplo, mas elevar ao ponto de como aqueles personagens se comportam com um novo mundo; principalmente Woody, que antes era o brinquedo preferido de Andy, e agora ficou renegado ao fundo do armário uma vez que a sua dona tem a preferência por outros personagens. Ademais, a busca para chamar alguém de “dono” é uma trajetória que causa sempre um estranhamento para brinquedos que tem em seus dramas a inconformidade do abandono pelos seus antigos donos, tanto que Woody é quase um cavaleiro solitário com seu ideal nobre em ter um ambiente familiar, não importando o risco que corra.

Mas se o protagonismo de Woody era o viés dos filmes anteriores, aqui podemos dizer que as ações são conduzidas na maior parte por Betty e seu protagonismo feminino em trazer um novo e atual ponto de vista. Entendendo que aquele mundo onde ficava reclusa em uma casa era insuficiente, Betty é vista com uma andarilha, uma personagem forte que influencia as decisões de Woody e ainda subjuga elementos masculinos; reparem, por exemplo, no momento em que conhecemos o personagem Duke Caboom (Reeves), ele surge inicialmente em plano fechado para no plano seguinte surgir diminuto com relação a Betty. Inclusive, ao ter uma parte de seu corpo remendado (“isso sempre acontece”), Betty demonstra que a  independência feminina traz sequelas ao tentar se despir contra aquilo para o qual foi programada para “ser”.

Trazendo eficientes elementos humorísticos, a cargo principalmente dos personagens novos, como a inseparável dupla formada pela coelho e o pato ou o próprio Duke Caboom e sua auto-estima baixa, Toy Story 4 mantém com elogios a mesma dinâmica nas sequências de ação com aquelas tradicionais cenas em que o personagens precisam se esconder para não serem vistos – e aqui, se não estiver enganado, é a primeira vez que há uma interação dos humanos respondendo, mesmo que sem saber, a comandos feitos pelos brinquedos como visto em uma engraçada sequência usando o GPS. Ademais, mantendo uma evolução constante de sua qualidade na animação, é surpreendente que cada detalhe chega a ser assustador por naturalizar movimentos simples, mas que são importantes para entendermos os sentimentos de um personagem; como, por exemplo, no momento em que Bonnie chega em sala de aula e seu medo e insegurança são traduzidos pelos movimentos de suas mãos se retraindo; ou até mesmo o cuidado em trazer o brilho do rosto de Betty onde sentimos sua forma de porcelana – assim como o cuidado da mixagem em trazer o sons desta mesma porcelana se tocando quando as ovelhas se movem. Fora que o design de produção é inventivo ao fazer com que o universo da loja de antiguidades seja transformado em um ambiente transitando entre um filme de espionagem e principalmente de terror com seus cantos e passagem entre corredores como de uma mansão de um típico filme do gênero.

O que nos traz a personagem de Gabby Gabby (Hendricks) que devido a um defeito de fábrica jamais teve a oportunidade de ter um dono/dona, a tornando uma presença cujo arco dramático não a torna exatamente uma vilã; mas ao mesmo tempo que sua persona é justificada pela busca de uma identidade, Gabby se mostra amedrontadora principalmente pelo contraste de sua doce aparência, como visto, por exemplo, no personagem Lotso de Toy Story 3. Inclusive, é elogiável que tal elemento de terror seja engrandecido pela inclusão de seus ajudantes (bonecos ventríloquos transmitindo o conceito de terror, não somente pelo fato de tais figuras sempre trazerem certo incômodo tanto por sua aparência inanimada, mas pelo seu andar disforme de marionetes criadas para serem usadas pelos adultos e assim não possuir qualquer tipo de personalidade própria, como os outros).

Ademais, tal lógica se aplica também para Forky/Garfo que é consciente de sua natureza deformada e traz um elemento tolo e destrutivo, mas melancolicamente doce, um poder de negação em se reconhecer importante para Boonie, por saber que sua própria criação foge de algo “lógico” dentro daquele universo em que pela primeira vez vemos um “brinquedo” ganhar vida sem necessariamente ser algo de uma linha de produção. Entretanto, é visível que o longa apresenta problemas ao praticamente renegar os personagens antigos a mero coadjuvantes, inclusive o próprio Buzz Lightyear (Allen) que tem pouco tempo de tela para render, mas essas questões se mostram insuficientes para prejudicar a obra (até porque acabam rendendo boas piadas, como o unicórnio e seu desejo em relação ao pai de Bonnie).

Se no filme anterior praticamente decretamos o ápice dramático da série na cena do incinerador, em Toy Story 4 o clímax é impactante dramaticamente pelo(s) sacrifício(s) por um bem maior de todos realmente acontecer de maneira simbólica; não necessariamente uma perda (calma), mas por entendermos que certas jornadas um dia chegam ao fim para novas etapas e relacionamentos começarem sem necessidade de se esquecer tudo o que passou. As amizades se mantém, as lembranças das aventuras também, portanto, “Ao infinito… e além!”.

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FB_IMG_1634308426192-120x120 Crítica: Toy Story 4

Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

16 thoughts on “Crítica: Toy Story 4

  1. esses caras sao incriveis mesmo tinham fechado a seri no tercero filme de forma espetacular aio anunciam o quarto film e eu pensei la vem vao zoar Toy Story mas que nada o film e sensacional assistam

    1. Gio Mello
      Uma coisa que aprendi é nunca duvidar da PIXAR.
      Abraço

    1. Nanda
      Bem vinda
      muito obrigado pelo comentário e elogio!
      abraço

    1. RapideX
      Bem vindo
      Melhor que o terceiro acho bem difícil, até porque a carga dramática é bem maior (principalmente a cena final)
      Abraço

  2. Pixar é fogo faz excelentes filmes pra familia, os pequenos se divertem com as aventuras dos brinquedos, os mais velhos se debulham em lagrimas pelos dramas dos brinquedos rsrsrsrsrs

    1. Mah Shana
      Bem vinda
      Ate comentei isso anteriormente: a maior qualidade da Pixar é justamente essa!
      Abraço

  3. Rodrigo vc nao acha que esse filme passou um pouco do ponto no drama, tirando o lado ludico e engraçado que era o tom da serie ate entao?

    1. Artur
      Bem vindo
      Acho que não, o humor ainda permanece sem problemas. Até porque a grande qualidade da Pixar é justamente saber equilibrar o lado lúdico para as crianças ao mesmo tempo que trabalha outras questões mais voltadas para os adultos como a perda (morte inclusive), passagem da infância para vida adulta etc.

      Abraço Artur e volte sempre.

  4. Boa critica. O bom de suas criticas é que vc nao escolhe lados, nao se mostra a favor ou contra, nao critica decisoes corporativas, vc simplesmente analisa o filme e ponto e eu gosto disso. Menos é mais. Parabens.

    1. Josi
      Bem vinda
      Obrigado pelo elogio ! Acho que a imparcialidade é fundamental. Claro que sempre tem algo de sujeito, mas procuro sempre passar um pouco do que aprendo.
      Abraço

  5. sei la heim pra mim a serie tinha que ter acabado no 3 mesmo, foi tudo redondinho tava finalizado, mas os caras nao querem saber, o que vale é a grana, money talks, ai vao la efazemmais um o 4, deve vir ai o 5, o 6… e ao infinito e alem igual Star Wars

    1. Antonio
      Bem vindo
      Eu concordo que o exagero de filmes é algo arriscado por não saberem parar. fato. E se terminasse no 3, estaria de bom tamanho mesmo.
      Mas se ainda consegue extrair alguém coisa, devemos analisar e se divertir quando possível rs
      Abraço

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