Crítica: O Exterminador do Futuro – Destino Sombrio (Terminator: Dark Fate)

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O Exterminador do Futuro – Destino Sombrio

Direção: Tim Miller

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Elenco: Linda Hamilton, Mackenzie Davis, Natalie Reyes, Gabriel Luna, Diego Boneta, Tom Hooper e Arnold Schwarzenegger.

Nota 3/5

Elevado ao status de clássico com ares de filme B, O Exterminador do Futuro (1984) se tornou referência moderna para filmes com futuros apocalípticos da luta Homem x Máquina, rendendo um continuação que marcou o início dos anos 90 ao trazer O Exterminador do Futuro 2 – Julgamento Final como o filme mais caro da história até então.

Após um hiato devido às aventuras de Schwarzenegger como governador da Califórnia, a série retornou (sem seu criador) no mais do mesmo O Exterminador do Futuro 3 – A Rebelião das Máquinas. E se os esquecíveis O Exterminador do Futuro – A Salvação e O Exterminador do Futuro – Gênesis praticamente afundaram na série na tentativa de reiniciar a saga, o que fizeram os realizadores deste O Exterminador do Futuro – Destino Sombrio? Ironicamente, retornaram ao início. Se era necessário ou não, cabe analisarmos, mas o diferencial da nova obra sem dúvida é trazer novamente Linda Hamilton e James Cameron (agora como produtor, depois de readquirir os direitos legais sobre a franquia).

Dirigido por Tim Miller (Deadpool), Exterminador do Futuro – Destino Sombrio já inicia com a entrevista dada por Sarah Connor enquanto presa no sanatório durante T2, buscando ignorar os três últimos filmes, ao mesmo tempo aumentando a ligação com o filme de 1991, mas quebrando de maneira até impactante e inesperada o elo com este mesmo T2, como se tentasse colocar a série novamente nos trilhos; neste ponto pode até soar como um problema quando um filme faz isso, como se dissesse: “Sabe aquela dedicação toda que teve com a história principal? Acabou”. Mas levando em conta toda a bagunça que a série virou depois de filmes cada vez mais problemáticos por esticar a história até onde não pudesse mais, Destino Sombrio tem seu risco calculado sendo bem vinda esta quebra de paradigma, por assim dizer. 

Passados 22 anos depois dos acontecimentos do Julgamento Final de T2, a jovem Dani Ramos (Reyes) começa a ser perseguida pelo androide (Luna) modelo RV-9 novamente enviado do futuro. Para proteção da jovem temos a soldado Grace (Davis), e a dupla contará ainda com a ajuda de Sarah Connor (Hamilton) na fuga do perigoso robô. Claro que o roteiro escrito a oito mãos (algo normalmente complicado, mesmo com a participação do próprio James Cameron e David S. Goyer) não foge à regra básica de “androide enviado do futuro para matar o líder da resistência antes de nascer”, mas ainda consegue chamar atenção por trazer os paralelos com o filme dirigido por James Cameron, assim como uma continuação natural dos acontecimentos anteriores, além de dar novos ares à série.

Tanto que ao tentarmos fazer um pequeno exercício temporal dos fatos pode soar desnecessário, pois o próprio filme não ajuda muito a explicar sobre os paradoxos temporais que possam surgir, mas somos suficientemente capazes de entender que a Skynet não existe mais no futuro (devido ao final do filme de 1991), surgindo em seu lugar um nova Inteligência Artificial que se voltou contra a humanidade no futuro próximo – mais precisamente em 2042, onde a tecnologia bélica/humana se tornou algo importantes (vide Grace).

Assim, mas não somente como um exercício de saudosismo (até porque é), o retorno de Linda Hamilton no papel que a consagrou é o maior chamariz do longa, tanto pela atriz assumir o personagem de maneira natural depois de quase 30 anos (!) como transmitir pela marcas do tempo, cabelos brancos, uma mulher resignada de dor, de voz rouca (algo importante, que a dublagem vai destruir) confirmando assim o protagonismo feminismo de maneira poderosa (não sendo a toa que sua primeira aparição é feita de maneira reverencial e bem explosiva, digamos assim, e cuja a famosa frase “I’ll be back” seja também dito por ela, de maneira um pouco diferente).

Ademais, mesmo contando com a mesma estrutura dos longas anteriores, o filme acaba funcionando até que bem em seu primeiro ato, mesmo sem seus elementos tradicionais, isso se deve principalmente pela direção correta de Miller e pela presença atlética de Mackenzie Davis como a misteriosa Grace, engrandecendo ainda mais o protagonismo feminino no filme. A atriz transmite segurança no papel, se tornado uma ótima presença diante da figura icônica de Sarah Connor e, mesmo que a personagem de Natalie Reyes traga momentos expositivos ao tentar explicar ao público o que está acontecendo, a interação das personagens funciona de maneira orgânica, uma vez que a personagem de Reyes seria uma versão da própria Sarah Connor no filme original de 1984, e Grace uma versão do filme de 1991.

Além do mais, o design de produção traz elementos não presentes nos filmes anteriores, como sequências se passando em ambientes com água e trazendo androides mais ágeis, com tentáculos inclusive;  mas nada disso no contexto geral pode ser assumido como novidade, até porque com cinco filmes anteriores, seria muito difícil trazer algum elemento novo neste aspecto. Inclusive ao introduzir elementos como híbridos humanos e máquinas, o longa acaba remetendo ao conceito visto no quarto filme. Contudo, é elogiável que ao trabalhar bem a dinâmica dos personagens principais, a direção subverta as convenções criadas no primeiro, usando humor como pano de fundo para a quebra com o que foi criado antes.

Mas, trazendo um elemento crítico político incomum à série, mesmo que de maneira simples, a direção acaba contextualizando a história ao alfinetar a política imigratória e de vigilância de Trump e sua prisões de mexicanos largados à própria sorte, onde até mesmo o nome do filme se transforma de O Exterminador “do” Futuro em O Exterminador “de” Futuro. Não sendo a toa que está ode armamentista seja um subterfúgio para um personagem dizer que servira no Afeganistão e tenha passe livre dentro de uma área de segurança.

Bem, e se leu até aqui deve ter reparado que não mencionei a presença de Schwarzenegger como T-800 (envelhecido, ao aproveitar um conceito visto no quinto filme), e se isso ocorreu foi pelo personagem acabar por se tornar uma espécie de coadjuvante de luxo. Claro que automaticamente, ao trazer novamente Sarah Connor, a presença do ator como o androide (e não consigo vê-lo repetir o papel, por mais intrínseco que seja) seria fundamental para agregar na dinâmica e conflitos entre os dois personagens, pós-acontecimentos de T2 e toda a ação conjunta no filme. Mas a direção acaba usando o personagem justamente para quebrar novamente paradigmas, ao subvertê-lo à sua própria imagem e criação (olha a expressão subverter novamente) ,transformando-o em uma pessoa “comum”, que cria “consciência” pelo passar do tempo com interação com humanos em situações inusitadas (o disfarce criado para se passar como humano serve bem à proposta), algo que não podemos esquecer, com isso tendo se iniciado em T2, com sua ligação afetiva criada por John Connor.

Vivendo em família, Schwarzenegger também se torna – além de um “pai” dedicado e bom ouvinte e bom em afazeres domésticos – uma crítica ao machismo condizente com o protagonismo feminino deste longa; e claro atinge a política de armas americana (“Estamos no Texas!”). E por mais estranho que possa aparentar – admito que inicialmente soa assim – ao vermos o que uma máquina programada para matar humanos se tornou, entendemos a proposta!

Contando com cenas de ação bem realizadas, Destino Sombrio poderia não ter uma qualidade narrativa como se estivesse nas mãos diretas de Cameron, mas traz eficientes sequências como a ocorrida dentro de um avião, culminando seu ápice dentro de usina hidrelétrica, onde a direção se arrisca até no uso de câmera lenta, que normalmente poderia arruinar a cena. Mas sabendo que os conflitos servem como preparação para as sequências de ação, o diretor evita prolongá-las além do limite, e se tal decisão teve ou não influência de James Cameron não sabemos; mas como “sutileza”, ao criar os conflitos dos personagens, não é um forte de Cameron, o diretor Tim Miller é econômico o suficiente para abordar determinada situação e seguir em frente, como podemos comprovar no diálogo entre Sarah e Dani em uma floresta.

Fechando de maneira definitiva alguns arcos (pelo menos assim espero), Exterminador do Futuro – Destino Sombrio acaba não fazendo muito esforço para entregar aquilo que se propõe. Se a franquia terá fôlego para mais, somente o tempo dirá. E como estamos falando de uma saga que mexe com o futuro e passado, fica difícil responder.

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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

7 thoughts on “Crítica: O Exterminador do Futuro – Destino Sombrio (Terminator: Dark Fate)

  1. Linda Hamilton sempre foi a protagonista, e galera reclamando dela estar em evidencia de novo. Fora isso o Schwarza ta bem e faz bem a franquia.

  2. achei diferente de vc Rodirog, achei o filme um monte de sequencia de acao que nao leva a nada e no meio algumas momentos de conversa, e as cenas de acao achei cansativas, como na sequencia que tem luta, batalha, conflito, ai qd vai acaba recomeça na agua, mais luta mais batalha nossa me cansou ate achei um filme no maximo regular

    1. Cap Patria
      Bem vindo
      Não tem problema. E sua opinião contrária é muito bem vinda por agregar e mostrar um lado diferente. Isso é importante do debate.
      E até certo ponto posso concordar com você , talvez a presença da Linda Hamilton e o fato de não cometer erros básicos nas cenas (corte rápidos ao ponto de não sabermos o que estamos vendo), podem ter contribuído para isso!

      Obrigado pela sua opinião
      Abraço

  3. que belezura de critica fiquei ate saudoso, so vi os 3 primeiros filmes, os demais pulei, vou ver esse agora, estou ansioso

    1. Lincoln
      Bem vindo
      Espero que goste do filme! Depois poder retornar dizendo o que achou!
      Abraço

  4. T2 é uma obra-prima dos filmes de ação… se esse segue sua historia com dignidade, ignorando as porcarias da franquia que vieram depois, ta otimo

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