Crítica: Rogue One – Uma História Star Wars
Rogue One – Uma História Star Wars
Direção: Gareth Edwards
Elenco: Felicity Jones, Diego Luna, Mads Mikkelsen, Donnie Yen, Alan Tudyk, Riz Ahmed, Jiang Wen e Forest Whitaker
Depois de ser comprada pela Disney, e de uma nova trilogia iniciada com o bem sucedido O Despertar da Força, a saga Star Wars agora se aventura por um terreno até certo ponto desconhecido. Ao trabalhar de maneira alternada histórias paralelas ou que nunca foram contadas de forma independente com filmes da trilogia principal, a franquia necessita mais do que simplesmente apelar para sua mística essência para criar novos mundos e narrativas, principalmente quando tais obras não abordarem diretamente personagens conhecidos do grande público.
Assim, usando parte importante da história já conhecida mas nunca retratada (o roubo dos planos de construção da Estrela da Morte mencionado em Uma Nova Esperança), Rogue One não é somente competente para apresentar uma obra com personalidade própria (começando pela ausência do tema de John Williams e das tradicionais ”cortinas” cortando as cenas) mas como mantém e varia de maneira cuidadosa todas a influências e característica da série.
A direção de Gareth Edwards consegue emular as referências dos antigos filmes, mas sempre soando como algo novo, vindo dos personagens e do contexto em que se passa o filme; como podemos comprovar na preocupação dos detalhes visuais do longa em repetir o mesmo visual tecnológico de Uma Nova Esperança, que poderia passar despercebido para o público em geral. Mas, ao ver aqueles painéis e monitores que refletiam a tecnologia da época mostra não somente o capricho como também a preocupação com a lógica, por “anteceder” o filme de 1977 (ou até mesmo a figura de Forest Whitaker como um visual digamos mais rústico de Darth Vader e as rápidas participações de outros conhecidos personagens).
E como estamos falando de contextualizar, convém usarmos o filme como metáfora para nossa sociedade atual. Nada mais importante que manter e ressaltar o conflito dos rebeldes (presentes durante toda a saga e aqui vistos como ”extremistas”) numa época em cada vez mais o mundo é invadido pelo reacionarismo, inserindo de maneira contundente (como feito nos episódios I, II e III) a questão política no filme. Esse ponto é ratificado ao vermos o ótimo Krennic (Mendelsohn) se tornando um vilão como um representante direto de uma mentalidade fascista que deseja trazer ”Paz e Segurança” a galáxia… destruindo planetas inteiros!
Gareth tomou outras decisões que se mostraram ousadas tanto quanto narrativa como de contexto. Se ele emula, na fotografia, a onipresença do Império usando o contraste entre luz e sombra no cruzadores idealizado por George Lucas, a decisão de mostrar o poderio da Estrela da Morte é um dos grandes destaque do filme. Diferentemente do apresentado no episódio IV, agora visualizamos o ataque de maneira lentamente destruidora na visão do habitantes do local, o que acaba ocasionando cenas com grande significado, principalmente no terceiro ato do longa – que faz referência histórica à batalha da Normandia na Segunda Guerra Mundial. Claro, que nem todas as decisões foram felizes, e a construção digital de dois importantes personagens clássicos causam mais desconforto (muito mesmo) pela sua artificialidade e exposição do que necessariamente servir a narrativa.
O design de produção é cuidadoso ao dar vida a lugares e planetas novos, não somente o entreposto inspirado em Blade Runner, com suas ruas apertadas, esfumaçadas e superpovoadas, como da uma maior dimensão da ocupação com as naves do império , assim como aquelas ocorridas no clímax – que visualmente falando – é um dos mais belos da saga por usar um ambiente litorâneo jamais explorado nos filmes.
O roteiro de Chris Weitz e Tony Gilroy inicia-se com a fugitiva Jyn (Jones) sendo convocada pela rebelião para que descubra o paradeiro de um antigo aliado de seu pai que obteve informações dos planos de destruição do Império. Os acontecimentos estão sempre levando o filme adiante, o que é uma característica de um bom roteiro. Entretanto, isso não significa que aqui não tenhamos alguns problemas, assim é visível que o longa inicialmente aparente não ser muito claro em definir quem é quem ou qual sua intenção com as mudanças de cenários ou quando, no seu segundo ato, o filme perde um tempo desnecessário que não leva a lugar algum, principalmente os diálogos expositivos de incentivo que beiram ao sentimentalismo. Mas, depois que o filme se encaminha para suas resoluções, o longa recupera seu ritmo e volta a reconquistar o espectador.
Tal elemento (roteiro) é suficientemente capaz, mesmo não contando com nenhum suporte vindo de personagens conhecidos (ao contrário de O Despertar da Força), de criar figuras em sua maioria identificáveis com seus conflitos pessoais e redenções. Mesmo que, na minha opinião, Felicity Jones, não se mostre tão carismática a ponto de criarmos uma identificação – como com uma Ray, por exemplo – sua Jyn Erso é capaz de manter sua personalidade forte o bastante para para fazer jus ao segundo protagonismo feminino – e a multirracialidade – dentro da saga. A atriz rende momentos em que se mostra capaz de invocar emoção engrandecendo sua personagem, como na cena em que Jyn assiste a gravação de seu pai (Mikkelsen) e as motivações que o fizeram trabalhar para o Império. Assim, como é elogiável que seu relacionamento com Cassian Ardor (Luna) não caia na armadilha fácil de um relacionamento de amor e ódio como normalmente poderia acontecer.
Mas dentro destes personagens, Chirrut Imwe (Yen) se destaca como um espécie de monge dotado de grandes habilidades mesmo com sua deficiência visual. Um indivíduo conhecedor da Força, mas que carrega dentro de sua persona doses suficientes para causar um sentimento de benevolência e pena pela sua devoção por algo que ele acredita, mas nunca realmente exerceu. E o andróide K-2SO, surgindo de maneira sarcástica e dono das melhores tiradas do filme, cria um boa dinâmica conflitante com a protagonista, bem diferente dos andróides que normalmente estamos acostumados na série (personalidade dada pela voz do ator Alan Tudyk, que obviamente a dublagem irá destruir).
Empolgante durante todo seu clímax e usando a tradicional estrutura com sequências de ação paralelas (mesmo com certos clichês como visto no personagem de Riz Ahmed), as cenas não somente são um deleite para o público com personagens míticos entrando em ação, como é capaz de causar o sentimento de desespero e preocupação pelo destino dos elementos envolvidos, dando um nova dimensão aos fatos posteriores.
Cotação 4/5
Rodrigo Rodrigues
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um filme legal, mas que nao tem a pegada de Star Wars… se vc tira a cena do corredor, passa a ser um filme beeeeem esquecível… com personagens bobocas (tirando o Chirrut) com os quais pouco nos importamos, e uma trama padrão de assalto/sabotagem, redonda, mas padrão… repetindo: tirando a cena do corredor, fica um filme que nao fede nem cheira, logo, nao pode ser tao bom como alguns haters dizem (é o melhor SW novo e bla bla bla)
concordo plenamente… sem a cena do Vader, é um filme bem mais ou menos, tipo Solo…
aquela cena do Vader no final… apesar de durar alguns segundos apenas, acabou sendo a MELHOR coisa do Vader em Star Wars!! quem diria
Limpbiskit
Bem vindo
Obrigado pelo comentário.
Realmente, uma cena que foi incluída as pressas foi arrebatadora.
Abraços
espero muito desse filme… vou ver hoje!
Marcela,
Espero que possa retornar aqui em breve com sua opinião sobre o filme.
Obrigado e abraços.
bela crítica… uma das mais lúcidas que li sobre o filme, sem fanboysismo nem parcialidade… parabens!
Jonas
Obrigado pelo seu comentário.
Tento sempre manter a imparcialidade e embasar os textos com critérios cinematográficos e exemplos tirados do próprio filme. Esse é um dos papéis da crítica.
Espero que tenha gostado do filme também.
Abraços