Review: Happy Negative Marriage
Semana passada, tivemos uma review de Kimi wa Pet, um josei que aborda os temas romance e carreira numa perspectiva feminina. Desta vez, venho apresentar um mangá com temas parecidos, mas numa perspectiva masculina. Happy Negative Marriage é um seinen, ou seja, um mangá para jovens adultos do público masculino, escrito e ilustrado por Amazume Ryuta, autor do mais conhecido Nana to Kaoru, um dos mehores sobre BDSM.
Vindo desde autor, não é de se surpreender que Happy Negative Marriage contenha uma boa dose de ecchi, que por pouco não ultrapassa a linha que o separa do hentai, portanto, menores de 18, dêem o fora daqui. Brincadeira, esta review é completamente safe for work, e irá seguir a linha de algumas anteriores, já que venho trazendo títulos de mangás e animes que tocam no tema do romance.
A premissa de Happy Negative Marriage é simples: Keitaro Satou é um homem aparentemente comum, que trabalha para uma empresa como o típico salaryman japonês e que acaba de completar 30 anos de idade. A única coisa que parece faltar em sua vida é uma esposa — mais uma vez, vemos a questão da relação entre idade e casamento — e seus pais já começam a pegar no seu pé para que ele não tarde em abandonar a solteirice.
Tão grande é a pressão que até um encontro com uma possível esposa é organizado pelos seus pais e pelo seu chefe, sem que Satou seja consultado! Satou não parece tão entusiasmado com a ideia de um omiai (encontro arranjado que pode resultar num casamento depois de um tempo), acostumado como está à vida em companhia dos amigos e colegas de trabalho que habitam o mesmo dormitório da empresa. A perspectiva de uma mudança radical na sua vida pacata, que viria com o casamento, e a pressão de colegas, pais e sociedade deixam Satou irritado inicialmente, mas conforme pensa sobre o assunto, suas idéias começam a mudar.
Isso porque Satou é o típico personagem completamente inexperiente quando se trata do sexo oposto, um tipo de personagem muito comum em mangás ecchi, aliás. Apesar dos 30, Satou nunca teve uma namorada e aquele encontro seria uma oportunidade de tentar mudar a situação. Mesmo não tendo grandes expectativas quanto à aparência ou personalidade de sua possível futura esposa, ou quanto ao seu próprio desempenho na entrevista, aos poucos, ele vai amadurecendo a ideia e sente que vale a pena tentar. Outro fator em jogo é a desfeita caso ele se recusasse a conhecer a moça, considerando que o omiai também fora arranjado pelo seu chefe de trabalho, conhecido da pretendente em questão.
Então, depois de conversar bastante com um dos seus amigos e senpai (veterano, aqui no caso, na empresa onde trabalha), Satou resolve ver a foto da mulher com quem irá se encontrar (isso mesmo, ele nem tinha se importado em ver a foto dela até então) e eis a surpresa: ele se depara com a foto de uma beldade. Para ficar mais claro, uma beldade naqueles padrões que os leitores de ecchi bem conhecem: olhos grandes e um sorriso meigo, compondo um rosto angelical, e um corpo que corresponde ao típico corpo violão, com um quadril largo e seios fartos.
Satou fica deslumbrado e, ao mesmo tempo, intimidado com a beleza de Shimako Akio, a moça com quem irá se encontrar. Aqui, já convém esclarecer algo para quem não chegou a ler o artigo anterior: como foi mencionado, um omiai (お見合い) se trata de um encontro entre duas pessoas que não se conhecem, mas que têm a intenção de se casar num futuro próximo. A própria composição da palavra em kanji já dá a idéia de ver (見る) e encontrar/conhecer (合う). Apesar de, atualmente, os casamentos por amor (renai-kekkon) superarem os casamentos resultantes de omiai (miai-kekkon), estes últimos ainda são recorrentes no Japão, e tais encontros costumam ser arranjados por conhecidos, como no caso de Satou. Outro método parecido que pode resultar em casamento são os encontros de pessoas inscritas numa agência de casamento.
É claro que um omiai não resulta em casamento sempre. Trata-se de uma oportunidade de duas pessoas se conhecerem e, conforme se encontrem outras vezes e se dêem bem, um casamento pode resultar daí. Pode até ser que venham a gostar uma da outra como se fossem um casal de namorados. Não é sempre que o amor floresce entre um casal que visa o casamento, mas não raro isso acontece. Hoje em dia, esse tipo de casamento arranjado é bem diferente do que existia décadas atrás já que, atualmente, a vontade dos noivos pesa mais que outrora. Antigamente, tais casamentos visavam muito mais à prosperidade da família e status social. Atualmente, isso não deixa de ser levado em consideração (uma pergunta comum, inclusive, é sobre a renda do futuro marido), mas a vontade dos noivos é mais respeitada.
Satou tem ciência disso e sabe que a impressão que Akio terá dele pode ser determinante na decisão final. Isso o deixa ansioso e ao mesmo tempo com baixas expectativas. Sua falta de experiência com mulheres o leva ao seu primeiro encontro com uma mentalidade bem pessimista. Assim que os dois se vêem pessoalmente, o nervosismo toma conta de Satou e podemos ver como Akio também lida com a situação. Não é só Satou quem tem dificuldades de quebrar o gelo inicial, Akio também parece ansiosa e imaginamos que nem ela tenha muita familiaridade com o sexo oposto.
Uma pesquisa de 2006, feita pelo governo japonês, revelou que 52.2% dos homens solteiros e 44.7% das mulheres solteiras com idades entre 18 e 34 anos não tinham nenhum tipo de relacionamento com pessoas do sexo oposto, nem mesmo de amizade. Isso mostra que, no caso do mangá aqui tratado, os personagens são caracterizados de maneira que não foge muito ao que ocorre na realidade.
Para a felicidade de Satou e Akio, as coisas começam a caminhar bem, e a forma como o encontro vai progredindo faz o leitor torcer pelos dois. A partir daí, vemos como eles lidam com a insegurança, como tentam passar uma boa impressão e como a possibilidade de um casamento vai se tornando, cada vez mais, uma certeza. Akio parece ser a pessoa perfeita e Satou parece estar se dando muito bem com ela, porém… é claro que tem caroço nesse angu, como todo bom mangá com situações em que tudo parece bom demais para ser verdade.
Leiam e descubram os desafios que aguardam o casal. Recomendo aos fãs de ecchi, em especial àqueles que gostam dos trabalhos do autor Amazume Ryuta, e que também curtem um desenvolvimento um pouco lento envolvendo romance. O mangá foi finalizado com 5 volumes no Japão, e com traduções em inglês (dos scanlators) já está no volume 3. Para os que preferem esperar, talvez leve um tempo para que tudo seja traduzido para o inglês. O mangá começou a ser publicado em 2009, na revista Gekkan Young King, e foi finalizado em 2014, com 33 capítulos. No mesmo ano, também foi lançado um um filme live-action adaptando a história.
Referências:
Lovesick Japan: sex, marriage, romance, law – Mark D. West
The Japanese Mind – Osamu Ikeno; Roger Davies (org.
Karina Moreira
Latest posts by Karina Moreira (see all)
- Anime: Pupa é tão ruim assim? - 04/03/2020
- Mangá: Gigantomachia - 27/04/2019
- Mangá: Zucker - 08/03/2019
- Mangá: Fushigi Yuugi - 08/02/2019
- Anime: Elfen Lied - 18/01/2019