Crítica: Han Solo – Uma História Star Wars
Han Solo – Uma História Star Wars
Direção: Ron Howard
Elenco: Alden Ehrenreich, Emilia Clarke, Donald Glover, Woody Harrelson, Thandie Newton, Phoebe Waller-Bridge, Jon Favreau, Linda Hunt, Joonas Suotamo, Warwick Davis e Paul Bettany
Sem ter um grande envolvimento no cânone de Star Wars, o filme Han Solo – Uma História Star Wars, mostrando a “origem” do famoso mercenário visto pela primeira vez em Star Wars Episódio IV: Uma nova Esperança (1977), poderia facilmente correr o risco de se tornar uma obra menor, despretensiosa e até mesmo incapaz de despertar algum grande interesse dentro da saga… Todavia, é exatamente isso que acontece! Contudo, esta ausência de responsabilidade – algo que Rogue One, por exemplo, recebeu e suportou com méritos -, e tirando a questão de outro ator no papel pertencente a Harrison Ford (ainda que basicamente com uma diferença mínima de idade entre as duas versões do personagem), o filme dirigido por Ron Howard talvez tenha aqui seu maior trunfo: não querer ser algo maior do que poderia ser, e assim o mesmo pôde trazer alguns momentos não contados originalmente, como por exemplo como determinado personagem conheceu outro (não que fizesse falta, mas…), suas influências e também rimas visuais característica da série etc… Inclusive, o filme não tem a música tema e não desperdiça a oportunidade de mostrar algum tipo de ligação direta e simbólica pelo fato de trazer logo em seus segundos iniciais, um objeto de extremo simbolismo visto no recente Os Últimos Jedi.
Criado à margem da sociedade e sem um futuro que não seja da contravenção, o jovem Han Solo (Ehrenreich) em conjunto da namorada Qi’ra (Clarke) parte em fuga de um determinado grupo criminoso, mas depois de alguns imprevistos, Solo fará uma jornada até conhecer, no exército, um grupo de mercenários liderados por Beckett (Harrelson) e assim selar seu futuro com novos amigos e companheiros de luta. O roteiro do veterano Lawrence Kasdan (responsável por O Império Contra-ataca e O Retorno de Jedi, da trilogia clássica) e seu filho Jonathan Kasdan transforma Han Solo: Uma História Star Wars numa aventura de submundo, de personagens infratores num cenário em que o Império já está consolidado, buscando cada vez mais ampliar seu controle na galáxia (contundente, portanto, que o slogan “Junte-se ao império”, possa ser vista como uma alegoria explícita da propaganda de recrutamento americano para as guerra mundiais). Assim como é corajoso a decisão da direção – aumentando a independência do filme – de pouco usar o elemento do próprio Império de maneira propriamente dita, uma vez que, durante a projeção, vemos pouco os famosos soldados e naves imperiais.
Inclusive, a obra usa seus dois primeiros atos para apresentar sequências de perseguições quase ininterruptas, culminado na cena do trem que tematicamente traz, em seu contexto e visual, as influências que o moldaram, mostrando como Han Solo foi inspirado e criado para ser um fora da lei. É mais que bem vindo que tal inspiração do personagem seja vista através de um O Grande Roubo do Trem como se estivéssemos no velho oeste, e o fato da personagem da atriz Thandie Newton ter um visual remetendo ao típico dos anos 70 (cabelo e óculos da época). Não sendo a toa que, por vezes, o filme apresente planos típicos do gênero western, como a câmera focando a arma preste a ser sacada do coldre, cujo inimigo é visto de plano inferior por de trás das pernas do atirador; e mesmo que a sequência apresente alguns pequenos problemas em sua mise-en-scène pelos cortes rápidos demais (que a direção tenta corrigir como planos mais abertos), a perseguição se mostra importante e intensa, principalmente pelo desfecho de alguns personagens.
Visualmente, Han Solo: Uma História Star Wars é eficiente em se mostrar diversificado dentro de sua ambição e criando um interessante contraste pelo fato das três maiores sequência (o assalto ao trem na neve, a fuga para uma nebulosa e o clímax nas dunas) se passarem em lugares bem diferentes entre si. Todavia, são em alguns detalhes e rimas visuais que a obra se mantém ainda mais fiel às suas origens e lógica; como o fato da icônica Millennium ser vista pela primeira vez de maneira reverencial (como visto em Despertar da Força), as famosas manobras espaciais da nave sendo usadas pela primeira vez – em conjunto com a trilha de John Williams -, a cabine de tiro onde alguém sempre tem que soltar um “woo-hooo” e seu espaço interno apresentar sinais de rejuvenescimento; cujos corredores, cabine do piloto e até mesmo a famosa poltrona com o jogo de xadrez, se mostram praticamente novos. Onde podemos também mencionar, o interior da nave de Dryden Vos ser visto com um ambiente que remete à nave de Jabba do Episódio VI, sendo frequentado pela elite exploradora realçado pela um palheta de tons dourados.
E Han Solo – Uma História Star Wars traz mais uma personagem feminina relevante e forte para a saga, onde a dinâmica entre Solo e Qi’ra remete a uma espécie de Bonnie e Clyde espacial, cujos acontecimentos os levarão para destinos diferentes. Contando com um atuação segura de Emilia Clarke, a atriz faz com que Qi’ra tenha o domínio quando está em cena e uma identificação bem trabalhada pelo seu conflito interno devido ao que ela se tornou. Portanto, é quase sintomática a presença cheia de personalidade da androide L3 como copiloto de Lando na Millennium – remetendo também à presença marcante do androide K-2SO em Rogue One. A personagem rouba a cena quando presente e emana um sentido de engajamento, humor, senso de justiça forte ao ponto de nos identificarmos ainda mais com seu arco dramático multifacetado e consequentemente seu destino; como o fato de ela encontrar um propósito para sua existência em liderar uma pequena rebelião de robôs escravos e até mesmo abraçando um lado feminista e luta por direitos iguais. Cabendo, inclusive, diálogos beirando ao escárnio como o fato que um personagem masculino “não acharia o botão dela, nem que quisesse” – assim, é mais que elogiável o ótimo trabalho vocal de Phoebe Waller-Bridge imprimindo firmeza, sarcasmo e ironia nas suas falas (algo obviamente, para quem optar pela dublagem, irá perder).
Importante salientar que o bom ator Alden Ehrenreich consegue impor aquilo que é preciso para um papel como o de Han Solo: a juventude, esperteza e sagacidade típica. Todavia, o peso da presença de Harrison Ford recai sobre seus ombros constantemente; e mesmo que possamos considerar uma injustiça pelo seu bom trabalho e sua tentativa de incorporar nuances de Ford (e realmente ele faz) e difícil no decorrer do filme desconsiderar os maneirismos de Ford. Até porque, o filme fica numa linha tênue entre ser um filme de origem exatamente e uma história ocorrida pouco antes dos acontecimentos vistos em Uma Nova Esperança (lembrando que a diferença de idade atual entre Ehrenreich e Ford, quando este fez o filme em 1977, é de cinco anos; ao contrário, por exemplo, do Obi-Wan-Kenobi de Ewan McGregor que tinha 28 anos contra os 65 de Alec Guinness em 1977). Contudo, é elogiável que a dinâmica com Chewbacca permaneça a mesma, mesmo com atores diferentes, o que denuncia a força mítica daqueles personagens; e ainda conhecemos um pouco mais das motivações e dramas de Chewie. E se Ehrenreich carrega este peso, Donald Glover apresenta-se mais a vontade no papel de Lando Calrissian, ao ter espaço para explorar mais a personalidade do personagem interpretado por Billy Dee Williams e sem tanto peso (cujo figurino sempre se mostra nada discreto e colorido)
Mas, Woody Harrelson novamente confirma seu domínio de cena com seu Beckett, que se torna um fio condutor da narrativa por servir como exemplo para a personalidade de Han Solo, cujo arco se desenvolve sempre de maneira dúbia. Ou seja, um elenco capaz suficientemente de dar suporte narrativo ao jovem protagonista, algo que infelizmente não se tem no vilão interpretado por Paul Bettany, que transforma Dryden Vos num antagonista pouco interessante e quase caricato, mesmo que traga ainda uma crítica à elite que admira que ele “rastejou para fora do esgoto”, sem jamais abrir mão de seu poder para ajudar; até porque o próprio roteiro o transforma num subcomandante a mando de alguém mais poderoso (aqui representado num famoso personagem pouco aproveitado na franquia, caso realmente seja quem aparenta ser, enfim…).
Transformando seu clímax basicamente em confrontos individuais do que propriamente em algo maior, o longa mantém sua estrutura de sempre se manter num patamar abaixo de seus “irmãos mais famosos” da saga, plantando no protagonista as questões que ele enfrentará ao se juntar futuramente ao um velho e um jovem no deserto de Tatooine e ainda jogando com a velha afirmação (transformada posteriormente por George Lucas em pergunta) de que Han Solo atira primeiro! E mesmo que a obra não resolva todos os conflitos propositalmente (o que pode ser perigoso em querer deixar brechas futuras pelo filme sempre se assumir mais modesto), não chega a prejudicar a obra no geral e admito que com o passar do tempo mantém um interesse.
Nota 3/5
Rodrigo Rodrigues
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o filme que ninguem liga no fim é melhor que Last Jedi e melhor que Rise of Skywalker quem diria
interessante, eu nem ia ver o filme, depois de ler sua critica fiquei com vontade, acho que vou dar uma chance pro file do Solo e do “Chuí” rsrsrsrsrsrsrs
Joel
bem vindo
Todo filme merece uma chance que seja rs
Abraços
tao acabando com Star Wars… depois dos li xos do Despertar da Força e agora o patetico Ultimos Jedi, sai filme do cafajestao Solo… ja anunciaram filme do Bobba Fett… meu Deus! o que fizemos de errado????????????????????????
Greice Nicoli
Bem vindo
Acho que não é para tanto. Se nos concentrarmos no Han solo, realmente cabe uma discussão pela excesso ou a falta de necessidade. Mas Rogue One foi muito bom e os Ultimos Jedi discordo veementemente. De qualquer maneira, fique a vontade para opinar.
Abraços
Ótima crítica!!! Muito melhor que a da Folha!
Grevista
Bem vindo
Obrigado pelo elogio. E comparando com um grande veículo, fico mais lisonjeado.
abraços
tem que assistir esse filme numa boa, sem querer dele o peso de um Star Wars clássico (sim, estou me referindo ao 3, 4 e 5 e agora ao 7 e 8 que ja estão no mesmo patamar), assim vc vai se divertir numa boa, veja o filme e relaxe, eh vc q tem que ver o que o filme te entrega e nao achar que o filme TEM que te entregar algo
Em que momento cronologico da saga o filme se passa? Entre os filmes 3 e 4? Se sim, como pode ter elementos do filme 1???
Filme 1, seria o episódio I, filmado em 1999, o episódio 4, o primeiro a ser filmado, conhecido como A New Hope, é de 1977. A estória de Solo, vem muitos anos depois do episódio 1.
tb fui assistir sem ligar muito, e curti bastante, mas que o ator incomoda um pouco incomoda, e nao é por ser ruim, é pq nao é o Ford
Bem vindo (ou não, com este apelido rs)
Enfim, realmente por melhor que o ator seja, incomoda. São décadas com Harrison Ford, então seria quase impossível que o resultado fosse outro.
Abraços
Logo que anunciaram este filme, achei totalmente caça-níquel e inútil. É quase impossível depois de 40 anos e 4 filmes, vc dissociar a imagem de Han Solo com a do ator Harrison Ford, que o interpretou ao logo dos anos. Então o anuncio do filme foi logo seguido pelo um coro negativo de …Solo é Ford ! Eu também sou um fã conservador das antigas, já que acompanho os filmes desde a primeira trilogia (anos 70 e 80). Ao logo da produção, rumores que algo já estava errado desde o início, começaram a aparecer. Depois dos problemas de Rogue One (na qual boa parte dele teve que ser refeita), já se supunha que a Disney não perdoaria erros para suas produções milionárias seguintes. Surgiu a noticia com mais da metade do filme rodado que a dupla de diretores contratada, Phil Lord e Christopher Mille, havia sido demitida …uma bomba ! Então no meio do que parecia um caos certo de uma produção que nem deveria ter sido feita, chamaram as pressas um grande amigo de George Lucas, o experiente diretor Ron Howard. Ele logo mudou completamente o foco do filme, praticamente refez 75% das cenas, contratou novos “bons” atores, trouxe George Lucas e Harrison Ford para dar opiniões para o filme e dizem até que sugeriu que o ator Alden Ehrenreich fizesse um curso extra de interpretação…Assim, o custo do filme que deveria ser mais baixo, por ser um spin off da série, ficou bem acima do esperado, se tornado até agora o mais caro da franquia, algo em torno de US$ 250 milhões.
Os fãs chegam ao cinema, com aquela vontade enorme de ir embora, sabendo que está ali só para cumprir tabela….ai entra um paradoxo !!! 10 minutos depois, vc está na cadeira, torcendo para o mocinho e as cenas de ação, te deixando quase sem folego. Sim, o filme não é exatamente as mil maravilhas do mundo, mas em vista do que a cinessérie virou depois que o Mickey assumiu a franquia, podemos dizer…o FILME NÃO É DESASTRE !!! E o Harrison Ford ????? Bom, o bacana do filme é que ele realmente te coloca em uma produção “com cara de filme dos anos 70” além de ter um ótimo espírito do filme original de 1977 (incluindo aqueles gráficos ultrapassados daquela época). Vc realmente não para pra pensar sobre se Alden Ehrenreich fez ou o papel de Harrison Ford, mas sim, como a estória irá realmente fluir ao logo do filme. E flui muito bem. Os personagens dão vida ao passado do herói ganhando novas dimensões, assim, não dá pra ficar pensando em “com o Ford seria melhor ou o Ford não atuaria deste jeito”. Alias, a atuação do Ehrenreich é o que menos importa. Não que o papel do personagem principal foi diminuída, mas pela presença de vários personagens que cria uma trama coesa. Rogue One, foi um dos melhores desta nova safra também, mas ele só empolga do meio pra frente. Han Solo, é diferente. Já começa uma trama pulando para trama, com vários subtramas, que não deixa vc muito pensar, e é claro, vários elementos do futuro herói, são mostrados ao longo do filme, sem precisar “empurrar” uma cena. Destaques aqui para os atores veteranos Paul Bettany e Woody Harrelson. Donald Glover ficou meio caricato como Lando, mas as cenas onde Han ganha sua Millenium Falcon, deixa estes detalhes fracos para trás. E ainda o filme brinca com aquela lance: “Solo atira primeiro ou não ?”. O final surpresa também pode mexer com os fãs, trazendo algo do…Episódio I (mas não é o Jar Jar :)) . No fim, achei o filme como se fosse um western , só tirando a imagem do velho oeste selvagem, e te jogando em uma galaxia muito, muito distante… Tem até aquelas famosas sequencias de assalto em trem, de filme de bang bang. Pra diversão, dá pro gasto. Tem suas falhas sim, mas superou minhas expectativas, pra quem não esperava nada.
Nota 3 1/2 de 5