Crítica: Sicário – Dia do Soldado (Sicario: Day of the Soldado)
Direção: Stefano Sollima
Roteiro: Taylor Sheridan
Elenco: Benicio Del Toro, Josh Brolin, Isabela Moner, Elijah Rodriguez, Catherine Keener, Raoul Trujillo, Jeffrey Donovan, Manuel Garcia-Rulfo, Bruno Bichir e Matthew Modine
Nota 3/5
Quando anunciado, Sicário 2: Dia do Soldado, continuação do excelente Sicário: Terra de Ninguém (2015), dirigido por Dennis Villeneuve, imediatamente trouxe consigo a responsabilidade de, pelo menos, manter a qualidade narrativa e complexa do primeiro filme. Claro que seria quase impossível que o diretor Stefano Sollima conseguisse chegar próximo da elegância e a dubiedade do filme de um dos melhores diretores da atualidade, que auxiliado pela excepcional trilha sonora de Jóhann Jóhannsson (precocemente falecido em 2018), tornou o filme anterior numa obra memorável. Contudo, Sollima, mesmo não conseguindo desenvolver alguns pontos temáticos, ainda sim invoca um eficiente clima de tensão durante vários momentos, auxiliado pela sempre forte presença de seu elenco.
Com os personagens principais já estabelecidos (desta vez sem a presença de Emily Blunt), o roteiro de Taylor Sheridan, retoma a discussão sobre o tráfico e imigração na fronteira entre o México e Estados Unidos, ao mesmo tempo em que o agente Matt Graver (Brolin) investiga o terrorismo doméstico depois de um atentado que pode estar relacionado com o cartel mexicano; para isso, Graver irá recrutar o mercenário Alejandro (Del Toro) em seu plano de jogar os cartéis um contra o outro – algo que depois de dois atos, já não sabemos exatamente porque estão fazendo isso! Ou seja, o roteiro de Sheridan, ao contrário do filme de 2015, procura de maneira superficial e bagunçada discutir os assuntos que acabam sendo relegados durante parte do filme em detrimento das (boas) sequências de ação. Por exemplo, em um determinado momento – isso logo no primeiro ato – há uma importante cena que traz consequências trágicas para inocentes relacionado à questão do terrorismo interno, mas cujo elemento é completamente descartado no restante do filme, sem qualquer explicação. Fora que ao tentar inserir a questão política americana, a mesma é feita de maneira resumida em apenas alguns diálogos da personagem da atriz Catherine Keener, como representante do secretário de defesa americano, dizendo os velhos clichês sobre o poderio da justiça americana, etc.
Torna-se interessante, mas de certo ponto não tão funcional em seu resultado final, que o roteiro crie duas linhas paralelas que vão aos poucos se encontrando durante o filme e que diferem um pouco da dinâmica do primeiro longa. Se antes tínhamos a interação centrada entre os conflitos de Blunt, Brolin e Del Toro, agora este último se torna uma espécie de âncora/guardião para um dos personagens adolescentes que se encontram em caminhos similares em seus arcos relacionados ao tráfico. Assim, tanto Isabel Reyes (Moner) quanto Miguel (Rodriguez) se tornam personagens suficientemente capazes de criar algum tipo de urgência pela boa presença dos dois jovens atores (principalmente a primeira), mas infelizmente a direção insiste no sentimentalismo no relacionamento de Alejandro e a jovem Isabel, o que acaba enfraquecendo tal narrativa. Neste caso, se o filme fosse algo inédito, com personagens que não conhecemos anteriormente, esta abordagem teria menos peso, mas ao lembrarmos quem é o personagem de Del Toro e o que ele foi capaz de fazer, acaba que não funcionando como deveria. Todavia, retificando, isso não empalidece a atuação de ninguém, pelo contrário, tanto Del Toro quanto Josh Brolin são ameaçadores e transmitem um segurança em suas composições e expressões como poucos conseguem fazer.
O que nos traz à verdadeira intenção da direção: emular ou fazer jus às sequências de ação e estado de ameaça do filme anterior; e de certo ponto, Sicário: Dia do Soldado consegue impor uma tensão eficaz durante tais momentos. Nada, como disse antes, que possa chegar perto, por exemplo, da sequência do pedágio vista no filme de 2015 (uma aula de como conduzir uma cena), mas ainda assim são bem eficientes, como a sequência do sequestro (onde mesmo cientes do contexto que cerca aquele momento, somos cooptados pelo momento de tensão), ou quando, numa cena de emboscada, a fotografia de Dariusz Wolski cria um clima claustrofóbico razoável (que em conjunto com a boa edição sonora nos insere de maneira orgânica na ação). E por falar na trilha, chegamos a outro ponto de desacordo, pois elaborada por Hildur Guonadóttir (claramente querendo recriar a essência de Jóhann Jóhannsson), a mesma usa e abusa dos sons dissonantes e acordes que engrandecem as cenas em que são usados – mesmo que por momentos soe deslocada pelo excesso, por ser usada onde claramente não era necessária uma trilha sequer.
Enfim, conseguindo em seu terceiro ato criar um momento em que chegamos a nos preocuparmos com um destes personagens principais (algo elogiável dentro de uma narrativa), é uma pena que tal momento sirva apenas para fazer uma reviravolta desnecessária e por vezes podendo soar absurda pela sua resolução. Assim, Sicário: Dia do Soldado se sustenta dentro do seu limite narrativo (ao ponto de se autosabotar às vezes) e contando muito pela presença de seu elenco e toda a essência exclusivamente carregada do filme anterior.
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Rodrigo Rodrigues
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Eu também não fiquei muito contente, principalmente pelo roteiro. Quando foi lançado fiquei empolgadas em ver pelo grande elenco!Principalmente pelo Benicio del Toro, um ator tão versátil. Eu adorei quando a vi em Apenas o Começo. Assisti na hbo streaming e achei demais! Eu adorei as cenas, são muito boas além de ser uma ótima produção. Recomendo a todos.
assisti hoje ficou bem abaixo do primeiro que falta a Blunt faz mas o Del Toro continua muito bem
Calibre
Bem vindo
Realmente ficou abaixo do primeiro, mas seria uma missão quase impossível por o diretor do anterior ter sido Denis Villeneuve.rs
Abraços