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Direção: David Fincher

Roteiro: David Giler, Walter Hill e Larry Ferguson

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Elenco: Sigourney Weaver, Charles Dance, Charles S. Dutton, Brian Glover, Paul McGann, Danny Webb, Pete Postlethewite, Christopher Fairbanks, Clive Mantle, Christopher John Fields, Carl Chase, Peter Guinness e Lance Henriksen

Amigos, boa parte das palavras aqui foram escritas originalmente há oito anos atrás; assim, peço desculpas pela imaturidade ou incongruências que possam surgir, coisa de quem ainda engatinhava nos textos. Contudo, ainda assim, a crítica permite ter uma ideia do que ainda penso sobre o filme em questão. Assim, o texto abaixo é mais uma pequena análise, sem necessariamente uma crítica em si, levando em conta também a versão estendida lançada em home vídeo.

O texto tem spoilers!

A série Alien tem uma grande importância na minha formação cinéfila, pois acompanhei a saga da Tenente Ripley de perto desde o início. Obviamente, por questões de idade, não pude ver Alien, o 8° Passageiro nos cinemas (somente pelas reprises na TV e principalmente com o advento do VHS); Todavia, Aliens – O Resgate e Alien 3 eu assisti em tela grande.

Escolhi o terceiro longa para analisar de maneira, digamos assim, mais pessoal, por me trazer boas memórias afetivas pela época em que assisti – e também por ser a obra mais subestimadas de toda a série e porque, neste mês de setembro, faz 26 anos de lançamento do longa nos cinemas (sim, como o tempo voa… e faço um pequeno exercício nostálgico ao lembrar aquele adolescente, seus medos, dúvidas e frustrações amorosas de quem ainda tinha um longo caminho a percorrer…). Inclusive, recentemente foi publicado que o diretor Terry Gillian recusou a direção do filme na época, cujo roteiro esta sendo transportado para os quadrinhos (clique aqui para saber mais).

Na época que o assisti o filme no saudoso e tradicional cinema Madureira 2 (algo que fará mais sentindo para parte dos cinéfilos cariocas) no distante ano de 1992, lembro-me – ao assistir o longa em conjunto com amigos de escola – dos mesmos reclamarem muito do filme ao final da sessão, principalmente devido àquele final em que a Ripley se joga ao vento e fogo! Mas, como fã da série, eu fiquei em cima do muro, pois entendia os motivos das reclamações; contudo, sentia que ainda existia algo a ser admirado – o que poderia ser minha veia cinéfila já se manifestando.

Obviamente que os motivos das reclamações eram explícitos e compreensíveis, mesmo que a opinião de adolescente sobre filmes não seja algo muito confiável devido à falta de bagagem e referências cinematográficas. Contudo, estas reclamações se mostravam coerentes pelo fato de Alien 3 ser completamente diferente do seu antecessor (Aliens – O Resgate) que já era totalmente diferente do clássico Alien, de 1979 – sendo esta diferença narrativa uma característica da série. Ou seja, se no segundo tínhamos um filme de ação desenfreada e personagens unidimensionais – bem com cara de anos 80 – dirigido por James Cameron, neste terceiro longa trocamos esta ação por um clima de suspense bem mais próximo do primeiro de 1979. Claro que o filme de Ridley Scott, sendo um dos maiores clássicos do cinema de terror e ficção, faz qualquer comparação injusta, mas o terceiro filme usa as mesmas estruturas do primeiro: um ambiente claustrofóbico como elemento fundamental e apenas uma criatura em ação. E acrescido de alegorias e questões religiosas, acaba por elevar a personagem de Sigourney Weaver a enfrentar decisões mais complexas e dolorosas (o que de certa maneira torna a terceira parte tematicamente mais ambiciosa que os antecessores no arco dramático e psicológico da protagonista).

A abordagem feita pelo então estreante David Fincher (diretor de clipes, como o clássico Express Yourself de Madonna), surpreendeu quem esperava tiroteios e aliens em profusão. Se o filme não decepciona neste quesito, é visível que a obra deixa transparecer seus problemas a luz do dia e com hora marcada. Problemas estes que podemos atribuir à própria Fox que mutilou o filme como jamais visto; não apenas mutilou, mas mudaram completamente a visão do diretor para a obra, ao ponto de filmarem novamente certas cenas. Tornando sintomáticas as crises de bastidores ocasionado pelos prazos apertados, roteiro sendo reescrito constantemente, pressão sobre o próprio Fincher (como estreante, não tinha o poder de hoje) e problemas técnicos (como o fato de usarem pela primeira vez a recente tecnologia de CGI para construir o Alien, tornando o resultado bem artificial – muito mesmo – em quase todas as cenas em que o xenomorfo aparece).

Com o filme começando exatamente onde termina o anterior (Ripley vagando no espaço), a nave, devido a uma pane, cai em um planeta inóspito que serve de local para uma colônia penitenciária dominada por homens e sem armas de fogo (uma corajosa decisão de Fincher de contrastar imediatamente com seu antecessor). Os motivos da queda são explicados em cortes rápidos durante os créditos iniciais, tornando ágil a narrativa; todavia, a outra corajosa decisão de desvincular o máximo possível do antecessor é problemática em certo ponto por tornar algumas decisões forçadas e anticlimáticas, como o fato de eliminar os outros dois personagens sobreviventes do filme anterior (que fugiram com Ripley) e o fato da explicação do surgimento do ovo que deu origem à criatura deste terceiro longa ser do tipo “É assim e pronto”.

Contudo, o filme nos presenteia com belas sequências cheia de simbolismos, como a autópsia e posteriormente o funeral destes mesmos personagens que não sobreviveram, contrastando com o nascimento do alien incubado em um cão. Assim como a famosa sequência de perseguição através do ponto de vista do alien usando uma câmera subjuntiva e a cena (vista na foto acima) em que o a criatura avança sobre Ripley e recua ao sentir que a mesma está “contaminada”; destacando-se também a fotografia do veterano Alex Thomson (A Lenda e o Labirinto), falecido em 2007, tornando o filme quase uníssono com sua palheta granulada e marrom, um clima sombrio, suado, abafado e sujo. Ademais, na estreia de Fincher, podemos notar na narrativa sua assinatura e influências ao usar grandes cenários e posicionamento de câmera sempre de baixo para cima engrandecendo aquela atmosfera de um lugar grandiosamente decadente (como um inferno de metal inspirado em Metropolis de Fritz Lang, onde Ripley descerá ao mundo inferior e terá sua batalha final contra seu ”demônio interno”, uma transmissão final…).

O excelente elenco encabeçado por Weaver (que levou para casa mais de 5 milhões de dólares de cachê, valores altos para a época) ajuda bastante a trazer credibilidade e identificação com aqueles personagens jogados em uma prisão no espaço que, mesmo com todos usando o mesmo tipo de figurino (aumentando a homogeneidade) e de todos rasparem a cabeça – inclusive a própria Sigourney Weaver – o espectador não perde a distinção entre eles; pelo menos entre os personagens principais. Dentro destes destacamos Pete Postlethewite como David, Charles S. Dutton, uma espécie de reverendo que é a linha tênue que separa os outros prisioneiros de seus instintos mais cruéis devido a presença feminina de Ripley; e também o sempre ótimo Charles Dance como o médico que aceita sua pena como uma autoflagelação (sendo, inclusive, o responsável realmente pelo único envolvimento amoroso/sexual de Ripley durante a saga).

Claro, nem tudo são flores e o filme carece de um melhor ritmo (denunciando sua bagunçada edição) e algumas situações poderiam ser mais exploradas aproximando este Alien 3 do universo da conspiração envolvendo a empresa Wayland que deseja a todo custo usar o alien como arma militar (mesmo assim o longa não se esquece deste detalhe através da bela sequência final contando com a participação do eterno Bishop de Lance Henriksen). Mas ratifico que todos estes problemas são pura e exclusivamente culpa da Fox que cortou cenas e alterou sequências inteiras, fazendo com que o próprio David  Fincher renegasse o filme até hoje. Inclusive, tais cenas e sequências cortadas podem ser vistos no DVD ou Blu-Ray que trazem um espécie de “Director’s Cut” (entre aspas porque Fincher não reconhece tal versão). Cenas estas que fazem o filme se tornar algo mais complexo e coeso, mesmo que ainda permanecem os mesmos problemas narrativos (mas ainda assim, torna a obra bem mais apreciável).

No inicio deste “Director’s Cut”, temos um plano geral do planeta muito maior e mais demorado do que o dos cinemas, fazendo com que o espectador seja melhor inserido na atmosfera sombria e desolada do planeta prisão. Ademais, o Alien na versão dos cinemas sai do cachorro de um dos prisioneiros, enquanto na versão “Director’s Cut”, o Alien sai de um boi (algo assim), o que neste caso não destoa muito, pois a criatura continuou com a explicação de ser um quadrúpede e não bípede, mas foi uma cena bem filmada e jogada fora. Aliás, a cena em que o Alien sai do hospedeiro canino é mal ajambrada, remendada (existindo apenas para causar empatia maior por ser em um cão) e usando, inclusive, parte da cena original no matadouro com o próprio bovino.

E não para por aí, nos cinemas, o plano de aprisionar o Alien em um deposito não é bem sucedido, fazendo com que vários presos sejam mortos pela explosão causada acidentalmente por um destes ao ser atacado pelo Alien. No “Director’s Cut”, eles conseguem prender o Alien, que é solto por um prisioneiro que acha que a criatura é um entidade divina. A ausência desta sequência é talvez a mais lamentável de todas, pois ao compararmos as cenas, a do cinema ficou confusa devido aos cortes e ainda perdeu o peso pela questão religiosa (uns dos principais aspectos levantados pelo diretor). E na famosa sequência em que Ripley se joga para a morte, já contaminada pelo embrião do Alien, nos cinemas a Fox teve a cara de pau de fazer com que o bicho saísse do tórax da personagem e a mesma ainda teve tempo de segurar o bicho antes de morrer. Na versão “Director’s Cut” o bicho não sai da Ripley; ou seja, jogaram para o público desnecessariamente, fazendo com que o suicídio diminua em sua importância e significado.

Apesar de todos os problemas do filme na época, ele merece, depois de mais de duas décadas, que vejamos a versão completa ou não, fazendo um pequeno exercício para que o longa se redima das criticas negativas que sofreu. Alien 3 é um bom filme de ficção e mesmo com seus evidentes problemas não merece tanto desprezo como obra.

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FB_IMG_1634308426192-120x120 Análise: Alien 3

Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a história ou acharem que Cinema começou nos anos 2000! De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

12 thoughts on “Análise: Alien 3

  1. Pior que tem gente que literalmente apela para delírios, interpretações forçadíssimas sobre essa bomba. Como quando tem maluco que insiste que o filme faz referência à Aids. Pelo amor de Deus, o que um filme de alienígena que se passa numa colônia de monges celibatários malucos vai dar mote para abordar a Aids? É viajar demais na maionese.

  2. Mesmo descontando as mexidas da produção, vejo esse filme com muitos problemas… muitos mesmo (Ainda assim é bom/medio). A mistura de animatronico e CGI da critatura funciona nos closes e nas cenas em que ela esta parada, mas quando ela precisa andar, ficou terrivel, ate dando a impressao de que usaram stop-motion pra conseguir faze-la se movimentar. O uso do androide como toca-fitas ficou um deus ex machina, nada indica que ele poderia fazer o que fez, alem disso, se houvesse uma chance minima dele ficar funcionando, pq ninguem o aproveitou entao? a cena do cachorro foi tosquicima… como usaram parte do corte da cena do bovino, qd o alien nasce, é mostrado literalmente uma onda de sangue e fluidos saindo do animal, mas qd corta pro dog, ele tem um buraqinho no torax… mas o pior mesmo é justamente o mote do filme: a capsula de hibernacao de Ripley estava intacta, logo, como é que o facehugger entrou la e inoculou o alien no corpo dela??? é o tal “por que sim e pronto”… No mais, um filme de suspense e não de ação, ainda que com ação, porém ate nisso falha: qd resolvem queimar os dutos pra empurrar a criatura pra caixa metalica, ou qd saem correndo pelos tuneis, nao da pra entender patavinas do que esta acontecendo, so da pra acompanhar a historia por deducao “ah, estao tentando fazer isso e isso, blz, deixa rolar…”

  3. esse filme realmente é interessante, o 1 tem toda sua conhecida atmosfera e suspense – apesar de Scott usar alguns sustinhos faceis como o do gato que pula com o som e a musica explodindo, ou o de Dallas no tunel virando e dando de cara com a criatura, mas blz, passa – ai o 2 virou um filme de ação com zero suspense e quase nada de terror, ai parece que pro 3 disseram: perai vamo fazer direito de novo como no 1, e vira quase um remake/reboot (mesma comparação dos episodios 7 e 4 de Star Wars) do classico Alien, ao inves da Nostromo tem o planeta prisão, mas de fato muito bom o filme 3, ja o tema religioso é elogiavel mas ao mesmo tempo pelo que vc disse o Directors Cut tem uma falha, é dificil aceitar que alguem veja um xenomorfo como “deus”, por mais que as crenças do futuro em um filme de ficcao cientifica sejam diferentes… se visse a criatura como um demonio ou algo assim va la, mas como uma divindade, algo de deus – algo “feio” segundo a estetica religiosa, ja que foge da concepção de que Deus teria feito os homens “à sua imagem e semelhança”, realmente dificil de engolir, mas a parte das penitencias pessoais, das crenças religiosas, ai sim muito bem utilizado, o que vc acha Rodrigo?

    1. Rick
      Olá,
      Obrigado pelo elogio. Sempre defenderei Alien 3 rs

      Abraço e seja sempre bem vindo

  4. Tb sempre gostei desse filme e o acho superior ao 2, que é um filme de ação como qualquer outro, carecendo da mística e do mistério que envolve o Alien.
    A claustrofobia total do planeta prisão, associado à contenção religiosa auto imposta pelos detentos é um achado e o torna um filme singular.
    Ripley é minha heroína desde criança, qdo cheguei a ver o Oitavo Passageiro no cinema – e no Madureira 1, rsrs. E esse final do 3 é totalmente coerente ao que vimos dela. Ripley nunca decepciona. Foi uma conclusão à altura dessa grande personagem.

    1. Ripley tb sempre foi minha heroína, ainda mais pq no Alien ela nao parece, inicialmente, ser a protagonista.

    2. Michelle

      Bem vinda

      Realmente a personagem é iconica. E no filme de 1979 Sigourney Weaver não era incialmente a protagonista. Até porque, o elenco contava com atores do peso de Tom Skerritt, John Hurt, Iam Holm, Veronica Cartwright e Harry Dean Station

      Abraços

    3. Ana
      Bem vinda
      Então es uma ex-frequentadora do saudoso Madureira 1 e 2..rs
      Realmente o filme tem suas qualidades e fecha bem o arco. A lamentação é mais latente por causa dos problemas causados pela Fox…
      Abraço

  5. Quando o Fincher assumiu, uns três ou quatro diretores, já tinham passado pela produção. Então, eu realmente tiro a culpa dele, e boto nas mãos dos produtores gananciosos.
    O filme pra mim, ainda tem um impacto grande, quando vi no cinema, como vc, vi do Resgate pra frente na telona, só a pouco tempo, consegui ver o Alien original em uma sessão especial do Cinemark, ainda pra mim, uma obra prima sci-fi.

    O sacrifício de Ripley, foi algo que me comoveu muito. Isto porque ela sempre tentou impedir a todo custo que a companhia ficasse com a criatura, algo que eles queriam desde o primeiro filme e pra mim, nem haveria necessidade do Alien:ressurreição, o prego no caixão da franquia.

    Hoje dou uma nota 3 de 5. Tem vários problemas, mas uma boa escrita daria um filme um toque tão bom, quanto o primeiro Alien. Espero ler esta HQ do Gibson, pra ver o que originalmente eles queriam fazer.

  6. Pra mim é melhor que o 2… gosto dele mesmo na versão dos cinemas, apesar da cena final meio tosquinha da criatura saindo da Ripley. Mas de resto, um grande filme. Fincher ja mostrando a que veio, mostrando que ja era um diretor com dominio da linguagem cinematografica.

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