Crítica: O Primeiro Homem (First Man)
Direção: Damien Chazelle
Elenco: Ryan Gosling, Claire Foy, Jason Clarke, Kyle Chandler, Corey Stoll, Patrick Fugit, Christopher Abbott, Ciarán Hinds, Olivia Hamilton, Pablo Schreiber e Brian d’Arcy James
Nota: 4/5
A primeira impressão sobre este O Primeiro Homem (mesmo sendo algo que devemos evitar sobre um filme antes de assisti-lo), seria de como o novo trabalho do diretor Damien Chazelle se encaixaria diante de um assunto que praticamente virou um gênero, e sempre forneceu obras que conseguiam explorar outros aspectos que simplesmente o fato do homem pisar na Lua pela primeira vez, transcendendo o imaginário, e dependendo do caso, trazendo histórias pouco conhecidas além do próprio aspecto da ficção científica em si. E neste contexto temos filmes como Os Eleitos (1982), Apollo 13 (1995), Lunar (2009), Estrelas Além do Tempo (2017) e o clássico maior 2001 (1969) e tantas outras obras com temática espacial; assim Challeze, demonstra ambição – com todos seus riscos – ainda maior em construir uma jornada épica pessoal, fugindo de uma zona de conforto de seus filmes anteriores.
Obviamente, seria quase impossível que o trabalho fugisse de certos clichês a filmes assim, como o sempre presente ufanismo americano, aquelas cenas de tensão se passando na sala de controle de Houston com os engenheiros tentando resolver os problemas que ocorrem no lançamento, a reação pública devido aos gastos com o programa espacial, etc. E nesta linha tênue entre ambição e pretensiosismo, o diretor transita naquela faixa entre representar algo novo dentro de um gênero ou simplesmente apresentar algo que admirava que foi talvez o grande dilema contextual, por exemplo, de La La Land – o que não o impediu de criar um alto grau de empatia com sua história. Todavia, o diretor constrói de maneira eficiente a base para o restante do filme desde o início, com um clima de tensão e um drama logo nas primeiras cenas e servindo como exemplo inicial da narrativa que irá predominar durante o restante toda a obra. Se nesta sequência temos um belo plano dos olhos de Armstrong com a silhueta da Terra – e sendo os olhos visto como os espelhos ou janelas da alma, não é por acaso que o diretor abusa de planos fechados e até primeiríssimos planos durante boa parte de projeção. O que é de qualquer maneira a prova do controle narrativa de Chazelle sobre o longa, trazendo assim belas rimas visuais ainda mais simbólicas e representativas para o filme, como o fato de constantemente a câmera focar as mãos do protagonista durante várias vezes como forma de expor seu senso de proteção, e claro, todo a representatividade que o gesto traz com relação a sua perda, que se torna a motivação maior para seu feito através de rimas visuais (algo que, sendo licença poética ou não, somente o cinema tem a capacidade de tornar aquilo belo).
O roteiro de Josh Singer (baseado no livro de James Hansen) ambientaliza a obra durante a corrida espacial nos anos 60, focando nos esforços americanos em mandar o homem à Lua antes dos russos, ao mesmo tempo em que acompanhamos os conflitos e dramas familiares de Neil Armstrong. Claro que sendo um dos momentos mais importantes e reconhecidos da humanidade, é elogiável que o longa consiga trazer um sentido de revitalização a um tema previamente conhecido, além do senso de urgência e principalmente de inserir o dilema pessoal e licença poética através de um homem em busca da redenção, repetindo a temática de protagonista masculino em busca de um sonho, como feito em Whiplash e La La Land. Todavia, ao contrário dos protagonistas dos premiados trabalhos anteriores do diretor, Armstrong não busca reconhecimento pleno, sendo assim ratificando a quebra de paradigma do diretor através de uma obra mais ambiciosa em sua temática introspectiva, como dito anteriormente.
Seguindo esta lógica pessoal, O Primeiro Homem entrega belos momentos através de elementos como o elogiável trabalho das trilhas de som (comentarei logo abaixo) e principalmente – por manter a câmera sempre perto dos atores – com o fato de que a ação propriamente seja mais vista através dos ambientes internos que externos das cápsulas e foguetes, onde esta mesma câmera se mantém sempre trepidando e intensificando aquela atmosfera; o que de certa maneira evita problemas de mise-en-scene, mas prejudica o trabalho de design de produção por não permitir ter uma visão mais completa, algo que futuramente o diretor poderá corrigir na medida que se desenvolver mais como artista.
E é neste estudo de um personagem histórico e suas motivações que Ryan Gosling torna seu Armstrong um homem centrado, e capaz até mesmo de soar egoísta e frio em relação a própria esposa devido a perda deles e de se negar a despedir-se dos filhos antes da viagem. Sua expressão (mínima) sempre emanando aquela sensação de esgotamento traz novamente o ator para o lugar certo, de alguém sempre desconfortável; o que nos traz à ótima presença de Claire Foy como mulher do protagonista. Mesmo servindo como a personificação da esposa dos anos 60, a atriz imprime a força de alguém sabendo que vive na expectativa de que a qualquer momento o luto pode entrar pela porta, tanto que depois de receber uma visita, a primeira pergunta que faz ao marido é “Quem Foi?”.
Portanto, a linha sonora merece elogios por tentar trazer sempre a perspectiva para o espectador de maneira sensorial e fazendo aquilo que, por mais simples – e lógico – que seja, sempre será bem vindo; como a sequência da chegada na Lua, e através de uma câmera subjetiva, o espectador tem a mesma sensação que o astronauta ao pisar no satélite onde a falta de som é completa. E ao trazer este realismo poético, acaba que trazendo uma carga emocional inesperada quando Armstrong diz a famosa frase “Um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade“. Contudo, se em alguns momentos a trilha consegue criar um clima de tensão e suspense, em outros determinados momentos o compositor Justin Hurwitz (repetindo a parceria com o diretor dos dois filmes anteriores de Chazelle) permite que o espectador ouça (o que poderia ser certo exagero meu) os acorde da onipresente City of Stars de La La Land. Nada que possa prejudicar a obra por completo, mas, dependendo do caso pode soar um pouco de pretensão; até porque o filme tem em alguns momentos homenagens com planos remetendo ao Eleitos e até mesmo uma homenagem (espero) à um sequência de 2001, ao som de Danúbio Azul.
E se em seu clímax o arco de seu protagonista ainda se mantém como prioridade dentro das repercussões e empolgação mundial com o feito de Armstrong, O Primeiro Homem nos concede uma momento de total privação de alguém que precisou ir além de qualquer um para buscar um mar de tranquilidade.
Rodrigo Rodrigues
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filme bacana… mas a critica ta mais animada que o proprio filme hahaha falando serio, a opcao de focar no homem é legal, mas o Armstrong do filme é um cara chato pra dedéu, sempre contido, cara amarrada, monossilabico, entao a escolha acaba trazendo um resultado no minimo dubio… e nao sei se é verdade que o Buzz era daquele jeito, o Buzz é conhecido como alguem simpatico, no filme ele é retratado como um babaca idiota estupido, nao gostei nao… legal as cenas reais do Saturno 5, da Eagle e dos astronautas, enxertadas no filme, poucos sabem que sao cenas reais
considero acertada sua critica e as observacoes feitas porem discordo de que o tom do filme foi o correto, ainda que o diretor tenha dado uma visao mais pessoal do Neil o feito dele realmente pedia mais pompa e circunstancia na descida a lua, seria como fazer um filme do do Lula e nao ter nenhuma emocao em 2002 qd ele finalmente chega a presidencia saido do emprego na metalurgia merecia mais enfase e emocao, ate pq isso ia contrastar com o Neil, imagina ele la todo seriao e o filme mostrando o resto do mundo em festa com a caminhada dele na lua
parabens pela critica muito boa vou no sabado ver o filme normalmente suas opinioes batem com as minhas Rodrigo, tenho lido varias criticas suas
Monteiro
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Abraço
pode ser um filme sobre o ser humano mas o ato em si que o humano fez é provavelmente o maior da história da humanidade, logo, a retratação falou ao nao dar ao ato a grandiosidade que ele merecia
Paleto
Bem vindo
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Filme visto – “Primeiro Homem” (First Man) – 2018 – Universal/Dreamworks
A vida do astronauta norte-americano Neil Armstrong (Ryan Gosling) e sua jornada para se tornar o primeiro homem a andar na Lua. Os sacrifícios e custos de Neil e toda uma nação durante uma das mais perigosas missões na história das viagens espaciais. O filme não apenas foca suas missões (X-15, Gemini 8 e Apollo 11), mas também sua vida pessoal, seu difícil relacionamento com a família, a perda da filha que levou a uma angústia quase eterna e as perdas de amigos mortos em tragédias ao longo da corrida espacial.
A produção executiva do filme, é de ninguém mais, ninguém menos que Steven Spielberg, que meio que timidamente produz o filme sem muito alarde. O diretor do filme é o jovem Damien Chazelle (La La Land), que tenta passar ao expectador o próprio sofrimento e angustia do personagem, bem como das pessoas ligadas a ele, principalmente sua esposa, Janet Armstrong (mais uma belíssima interpretação da britânica Clare Foy). Ray Gosling, parece meio parado e esquisitão, mas era assim a personalidade de Neil, hoje no panteão dos heróis da humanidade. Fato que o próprio Neil tentou correr toda a vida.
O filme tem um estado de tensão e agonia que realmente faz o espectador suar frio. Muita gente vai detestar o filme, por achar ele bem estranho. Não é realmente um filme de foguetes e conquistas, que já virou clichê, mas de um ser humano atormentado com suas perdas, que tem uma difícil missão em prol da sociedade, nação e sua própria família .
Quer mais ação, vá ver Apollo 13 ou Gravidade ou Perdido em Marte. O escritor Sir Arthur C. Clarke, faz uma ponta rápida (aparece em imagens da transmissão de TV das missões Apollo a lua). Temos também rapidamente o personagem de Chuck Yeager, no começo do filme, um antigo desafeto de Armstrong. A vida de Yeager, já havia sido retratada do filme “Os Eleitos”, que serve de referência para esta produção bem como “2001 – Uma odisséia no Espaço”, na cena da chegada a lua. O que o filme deixa bastante claro, é sobre Buzz Aldrin, aqui retratado como um cara “que gosta de aparecer”, em oposição ao recatado Armstrong.
Eu que sou fã da conquista do espaço, e tenho Armstrong como um dos ídolos heróis espaciais, fiquei bastante surpreso em saber de detalhes até então desconhecidos do grande público e da amargura que o homem carregou durante a vida, após a morte da filha. Eles não são super-herois de capas, não vá ao cinema pensando em atos de heroísmo. Eles são seres humanos como nós.
No mais o filme tem ótimos efeitos, consultoria da NASA e …não indicado para claustrofóbicos .
OBS: Houve uma chiadeira com relação a não presença da famosa cena de Neil ficando a bandeira americana na Lua e gerou revolta em alguns exaltados nacionalistas, tudo um mi mi mi idiota. O filme não é da “conquista americana”, isto é apenas um pano de fundo, o filme é sobre “um ser humano”.
Nota 5 de 5 (nota máximas, melhor filme do ano)
melhor que Guerra Civil? que Forma da Agua? vixi maria sera que tb vou achar tao bom
Excelente filme!
Renato
Bem vindo
Obrigado pelo comentário.
Primeiro Homem é um filmaço. Instrospectivo, anticlimático (no bom sentido), foca no homem e não no feito. Nada de acordes histéricos e cenas apoteóticas da descida na lua: tudo foi feito pela visão do astronauta mais low profile da História. Puramente técnico, nada teatral, preocupado só em cumprir sua missão. Quer ver pirotecnicas, ação e uma sequência antológica no espaço? Assiste Armageddon e segure a ojeriza à patriotada americana rsrsrs
bela critica demorou pra aparecer um ze mane dizendo que é chato o filme
Clincel
Bem vindo
Sempre tem. rs
filme chato, paradao, nao acontece nada, qd chega na lua vc espera o climax do filme e ve o astronauta fazendo cara de nao to nem ai fala serio como vcs gostam disso
Obrigado pelo seu comentário.