Crítica: The Flash
Direcao: Andy Muschietti
Elenco: Ezra Miller, Sasha Calle, Michael Shannon, Ron Livingston, Kiersey Clemons, Ben Affleck, Jeremy Irons, Saoirse-Monica Jackson, Maribel Verdú e Michael Keaton.
- Pode conter Spoilers
Os ponteiros do relógio girando lentamente é algo efêmero para alguém que tem na velocidade seu poder que, de tão extraordinário, é capaz de quebrar a barreia da física ao retornar no tempo com propósito de consertar o passado.
Dirigido por Andy Muschietti (It – capítulos 1 e 2), The Flash se alimenta do argumento de viagem no tempo inspirado por De Volta para o Futuro (que também inspirou a segunda parte do capitulo final dos filmes dos Vingadores) e da trama já vista em Homem de Aço – quando General Zod (Shannon) invade a Terra – e da Liga da Justiça (a fraca versão do cinema) quando o jovem Barry Allen (Miller) vive o drama de não conseguir provar a inocência do pai, acusado do assassinato da mãe.
No entanto, devido à sua a necessidade de discutir e explicar os desdobramentos e consequências dos atos do herói em voltar no passado, ou sobre inserções dos multiversos e seus perigos ao mexer com o espaço-tempo, The Flash fica, além de preso na sua forma, aparentando uma tentativa além da capacidade, como se tentasse discutir filosofia dentro de um Rock in Rio no sábado à noite durante um show de banda teen…
Inclusive o problema do roteiro faz com que os quinze minutos sem uma apresentação de trama, apenas um epilogo ou prólogo (sei lá onde se encaixaria) de Liga da Justiça com participação de Gal Gadot e de Ben Affleck – como Batman pela ultima vez. Quase um In medias res cuja sequência soa deslocada sem grandes funções para a trama principal, prejudicada ainda por um CGI falho, como visto na perseguição de moto; fazendo-me agradecer até hoje por Christopher Nolan usar efeitos práticos em The Dark Kinght. E na sequência de resgate do hospital que tive a (risível) sensação, mesmo que por segundos, de estar vendo o bebê Zezé d’Os Incríveis soar mais natural que aqui. Aliás, mesmo com o bom timing cômico de Ezra e seu carisma (algo que elogiei no filme da Liga da Justiça como um pontual alívio cômico) aqui ele é vítima dos diálogos que parece, a cada final de linha, ter que inserir uma brecha para uma piada; algo comum nos filme do “gênero”.
E isso ocorrendo durante um filme inteiro soa irritante e exaustivo e não confere o peso necessário para tentar discutir moralmente qualquer coisa sobre o que se propõe a fazer, mesmo que de forma expositiva pelos seus diálogos (“viva sua vida”, “suas cicatrizes é o que fizeram você hoje”), principalmente quando personagens que deveriam soar mais maduros (cientistas experientes parecem saído do ginásio e adultos fazendo papel de adolescentes de ressaca parecem ter saído daqueles filmes que o personagem novo entra no corpo do mais velho). E mesmo que Miller se “divida” para fazer duas versões (adolescente e adulto) diferenciando na postura vocal, por exemplo, não melhora muito, pois sua versão adolescente soa ainda mais irritante; talvez mais do que deveria!
Mas ainda assim é possível sentir algo por ele. Sua busca em salvar sua mãe comove, claro, e ver sua indignação com sua versão jovem não dando o valor soa sincera por alguns momentos. Mas num universo em que Marty McFly não é interpretado por Michael J. Fox (no caso, Eric Stoltz não foi demitido durante as filmagens do filme de 1985 como aconteceu na vida real) parece ser muito pouco para sabermos de maneira clara os desdobramentos da volta ao passado, cujo ponto de partida é uma espécie de arena cósmica permeada de personagens forjados a ferro e fogo pela busca que nunca chegará ao fim.
Isso porque tais filmes baseados em HQs não aprendem que o público (por mais que parte da audiência ignore o filme feito para ele mediante o uso de celular dentro da sala de cinema ou atrapalhando a sessão na tentativa de servir de guia de quadrinhos para o colega ao lado, de uma geração moldada a vídeos curtos), tal elemento precisa de tempo (ironia… não?) para sentir e identificar o que aqueles personagens sentem. Velocidade é uma coisa, agilidade é outra. E qualquer filme precisa disso.
Eu não consegui sentir que a raiva de Allen era forte ao ponto de motivar, mesmo que ocasionalmente, a abertura dos multiversos (algo que quando vi já estava acontecendo de tão inesperado que foi); algo completamente diferente, por exemplo, de Superman (1978), em que temos todo o tempo do mundo para sentir todo desespero e esforço do personagem no dilema de salvar milhões de pessoas e o amor de sua vida (me convencendo assim que ele possa até mesmo girar planeta ao contrário, mesmo que pareça – e é – absurdo). Tanto que, para apressar os sentimentos, a trilha sonora de The Flash precisa toda hora empurrar os sentimentos na tela, vide a cena final de Allen com a mãe no mercado.
Claro que a questão dos multiverso aqui permite que alguns clichês sejam amenizados e possibilidades sejam apresentadas, como o fato dele estar presente em atos que não estava antes, vide a cena em que Flash tenta salvar uma criança enquanto ocorre a invasão de Zod. Mas o grande atrativo é permitir tentativas em apostar em novas versões de fatos já conhecidos. Assim a presença da Supergirl (Calle) como única filha de Krypton soa interessante, uma vez que sua função no filme não se resume apenas a servir como tapa buraco para seu primo famoso (provavelmente devido ao imbróglio com Henry Cavill, que não vestirá mais o uniforme de Superman). E até mesmo a presença de General Zod é construída no ponto de vista daquele universo sem necessariamente copiar o que foi apresentado em O Homem de Aço.
Mas, sem dúvidas, o grande atrativo é a presença de Michael Keaton retornando ao papel de Batman depois de mais 30 anos desde sua ultima aparição como homem morcego em Batman Returns (1992). Não somente pela memória afetiva, mas soa interessante como personagens e sua quilometragem sirvam com uma figura que inspire segurança ao ajudar o protagonista e a satisfação dos fãs mais antigos ao ver o ator vestindo a roupa é garantida (a cena dele dando um pequeno sorriso no espelho não precisa dizer mais nada). Fora a referência aos quadrinhos de Reino do Amanhã.
Ao trazer Bruce Wayne já aposentado vivendo como um eremita dentro de sua mansão, por Gotham City não precisar mais de seus serviços por ser uma cidade segura agora, fiquei curioso como o personagem se encaixaria dentro desse universo atual. Não como historia em si, isso facilmente qualquer roteiro pode fazer, mas como seria a adaptação do Batman de Keaton tão visualmente diferente, por exemplo, do Batman de Affleck. E para minha surpresa soou fluído, quase como uma evolução natural do personagem que me despertou a curiosidade de como seriam os filmes se a parceria entre Keaton e Tim Burton tivesse continuado em vez de dar espaço a uma atmosfera mais leve dos neons de Joel Schumacher.
Ao abraçar a sensação de diversão, mas sem ignorar o passado, é curioso ver o personagem interagindo e agindo de maneira mais funcional e ágil que os filmes de 89 e 92 (a cena do ataque à estação russa é um deleite inclusive com uma gag impagável de Batman tentando afugentar um russo), até porque, como Burton tem um conceito visual maior que ação em si, não se permitiria fazer, por exemplo, o que Keaton faz nesse filme (ou pelo menos não consigo imaginar); elogiável, por mais óbvio que seja que a direção de arte traga os apetrechos e equipamentos compatíveis com sua geração (aparelho com flip, painéis analógicos como um grande laboratório de filme de terror e, claro, o batwing em que visualizamos todo seu potencial).
Mesmo apresentando sua batalha contra Zod de maneira satisfatória, usando planos abertos que ajudam o espectador a se situar de maneira clara, The Flash acaba se apressando novamente, uma vez que o filme tem apenas o desejo de criar brechas para as apresentações de referências e personagens de outras épocas (confesso que surpreendido fiquei com a cena final do filme). Assim, a única questão filosófica que pode despertar interesse é o fato de trazer recriações em CGI (artificial demais, diga-se de passagem) de atores já falecidos ou visões de super-heróis que nunca viram à luz do dia apenas para satisfazer parte do publico com referências, soando mais uma demonstração de poder comercial que utilidade narrativa (sim, ainda condeno moralmente coisas como a utilização do CGI para esse fim, como feito em Rogue One com a imagem do ator Peter Crushing e da própria Carrie Fisher).
O tema sobre os desdobramentos sobre voltar ao passado sempre gera discussões éticas, mas aqui, justamente quando deveria entregar em seu desfecho uma base para tal análise, a direção usa (pelo foi isso que senti) tal elemento para recomeçar algo que sequer conseguiu terminar.
Rodrigo Rodrigues
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eu curti bastante, nao é ruim mas tb nao é muito bom nao
um filme bem legal sim mesmo com o CGI
filme divertido, meio que encerra a atual fase da DC e livra caminho pra proxima fase do James Gunn (em qual papel vai nepotizar a esposa dele dessa vez? rs)… interessante que nao acho a fase Snyder ruim (mesmo com os excessos dele, melhor que algo insosso, prefiro sempre o autoral)… claro que teve bombas como MM1984, Liga da Justiça do Whedon, mas no geral nao foi ruim (tb nao foi otimo) e tem pelo menos 3 filmes muito bons: Homem de Aço, Mulher Maravilha e Aquaman (e a Liga do Snyder e BvS versao extendida sao bons tb, assim com O Shazam 1 e o Adao Negro, divertem sem compromisso e nao sao ruins) o problema foi comparar os filmes da DC com a fase Marvel pre Ultimato pq tinha filmes excelentes (da DC so o Homem de Aço é excelente), mas acho que exageram qd pegam pesado com os filmes da DC pré Gunn
The Flash é bem legal, não é um filmaço mas diverte bem. É fato que os filmes da DC sao em geral piores que os da Marvel, mas isso so vale ate Vingadores Ultimato… desde entao o nivel da Marvel baixou e agora ta tudo ali mais ou menos na mesma qualidade
quer dizer entao que toda a celeuma dos sommeliers de CGI era por UMA cena???
milagre, um critico que nao desgostou do filme so por causa do CGI zoado, meus parabens