Crítica: Barbie
Barbie
Direção: Greta Gerwig
Elenco: Margot Robbie, Ryan Gosling, America Ferrera, Ariana Greenblatt, Issa Rae, Will Ferrell, Kate McKinnon, Alexandra Shipp, John Cena, Michael Cera, Ncuti Gatwa, Dua Lipa e Helen Mirren
Poucas vezes vi tanta mobilização para ver um filme como Barbie: inúmeras pessoas vestidas de rosa como prova que o alcance da obra é maior que poderia imaginar (claro que a forte campanha de marketing colaborou muito para isso). E não poderia negar que o filme tem qualidade suficiente para justificar a sua pretensão. Não como mero escapismo (e ficaria desapontado se alguém fosse ver somente com esse intuito), mas sim ao propor uma discussão do posicionamento feminista numa sociedade patriarcal. Ao mesmo tempo usa uma metalinguagem para criticar o próprio consumismo (algo que falarei mais a frente sobre a Mattel apoiar a causa).
Inclusive, vendo algumas reações de gente que acusou o filme serve “destruir da família” – e principalmente do patriarcado gritando contra “filme de boneca” – me deixa mais satisfeito , comprovando também que a diretora Greta Gerwig demonstra um amadurecimento narrativo crescente depois de Lady Bird e Adoráveis Mulheres. Assim, Barbie é uma obra divertida e quebra paradigmas de maneira corajosa logo na sua sequência de abertura ao fazer um parodia ao clássico de 2001 – Uma Odisseia no Espaço.
Roteirizado pela própria diretora em parceria com o marido – e também diretor Noah Baumbach -, Barbie segue essa tendência durante toda a projeção com um misto de comédia e pitadas de musical (cenas estas bem realizadas, contagiantes e contextualizadas com a proposta) com a diretora levantando questões contemporâneas e criticando uma auto projeção sofrida pelas meninas ao ver na figura da Barbie (Robbie, simplesmente perfeita para a personagem) uma imagem ideal em todos os sentidos desde o lançamento do brinquedo em 1959. Assim quando a Barbie (no caso a personagem) passa por um choque de realidade em sua aparência, ela precisa retornar ao mundo real e encontrar sua “dona” que passa por crise familiar e assim desfazer o encanto. Interessante notar, obviamente, a questão de sororidade é um forte elemento dentro do filme e tem uma cena que resume bem isso durante um encontro da Barbie e um idosa; o que não teria o efeito desejado se não fosse a desempenho delicado de Margot Robbie através de um close que poucas atrizes são capazes de fazer.
Contextualizado como uma mistura de fantasia de Mágico de Oz com doses de Matrix – e porque não de Pinóquio –, o posicionamento não é apenas eficiente na presença da Barbie estereotipada (achei brilhante esse nome), mas também nas outras personagens que simbolizam profissões que em outro ponto também podem ser uma forma de pressão. Tanto que em determinado momento uma personagem questiona se não poderia existir uma Barbie normal?
Trazendo uma uniformidade coerente com o “produto” em que toda a Barbie é chamada de “Barbie” e o “Ken” são obviamente todos pelo mesmo nome, o longa é ao mesmo tempo é sutil e escancarado ao expor constantemente a fragilidade masculina representado na figura de Ken (Gosling abraçando o personagem sem qualquer constrangimento) como um agente destruidor em relação ao ambiente que os cercam. Em contra partida todas as Barbies pensam no coletivo, inclusive político, assim como apontar o dedo para própria empresa Mattel em criações como Barbie grávida que acaba ficando a margem da sociedade com algo incomum aquele contexto. Portanto, até mesmo os personagens secundários são fundamentais para o contexto do filme como a presença do inseguro, mas prestativo Allan (Cera).
Criticando em todas as direções do universo dominado pelos homens, a diretora não poupa nenhuma área, seja no contexto histórico, musical ou até cinematográfico; e admito um choque (o que denuncia a qualidade do filme em servir de espelho e apontar o machismo) ao fazer uma rápida piada com O Poderoso Chefão, como o entendimento deste fosse algo intocável e exclusivo para os homens – ao ponto de ser usado com um artifício contra.
Filmado com uma palheta de cores que não poderiam ser mais chamativa, a direção acerta não somente a construção dessas cores nos detalhes daquele cenário, mas como isso serve também para fixar um sentimento totalmente diferente do visto no mundo real. Se Barbilândia é tomado obviamente pelo rosa, o mundo real e corporativo é sempre uma palheta fria , cuja Mattel e ambientalizado com mesas simétricas e os figurinos dos funcionários igualmente idênticos. Aliás, o trabalho de figurino é exemplar é didático para expor o estado dos personagens. Se Barbie vai sendo desconstruída de sua imagem perfeita até o final do filme, é interessante com Ken vai ao caminho inverso saindo do short e camiseta passando para roupa de caubói (um dos arquétipos do masculino americano) até um ostensivo casaco de peles.
Contando também com uma caprichada direção de artes, Barbie se preocupou com os mínimos detalhes serem calcados naquele universo fantástico, como o fato dos utensílios em geral serem desproporcionais e não terem uma função que não seja simbólica (a cena da batalha na praia é um grande exemplo) – o faz despertar as memórias afetivas de quem teve uma Barbie na infância . Além do mais, é interessante que o filme incremente uma atmosférica lúdica – quase teatral – com os cenários ao fundo que vão mudando de acordo com a situação; ou como o fato da casa da Barbie Estranha (a sempre ótima Kate McKinnon) refletir sua personalidade incomum através de seus contornos angulares e disformes remetendo as suas características.
Enfim, Barbie é mais que eficiente em trazer a discussão do feminista às dificuldades que a mulheres enfrentam diariamente. O filme é bem encaixado entre sua forma e conteúdo propostos e mesmo com todo o contexto é importante que possamos cooptar suas mensagens. Para a masculinidade tóxica sobra a autorreflexão e não se restringir a padrões de modelos arcaicos.
Caso Mattel e o posicionamento do filme e indústria (Spoilers)
Dentro da arte, seria inocência afirmar que o lucro não seja levado em conta. Michelangelo, por exemplo, pintou a capela Sistina por encomenda. Mas também não podemos ser tão ignorantes achando que arte não possa subjugar o dinheiro. No cinema não é diferente, mesmo com sistema de estúdio, que durou aproximadamente até meados dos anos 60, existia um risco no equilíbrio entre o lucro e a visão do autor. E esse risco é o que movia o cinema, assim, até hoje, atores ou diretores aceitam fazer grandes produções para terem recursos ou espaço para obras mais autorais.
Aqui entra Barbie. É evidente que Greta Gerwig teve uma boa conversa com os representantes da empresa sobre o projeto cujo resultado na tela é de um equilíbrio incomum. Sendo uma grande surpresa que a própria empresa colaborou e permitiu que a diretora usasse o nome da Mattel de forma irônica (clima burocrático da empresa, consumismo etc..).
Mas vejo isso como um risco calculado como propaganda. E aí entra outra questão importante: Até que ponto esse equilíbrio estaria comprometido? Ou essa seria a maneira ideal de Barbie fizesse o público absorver a mensagem dentro de um produto cinematográfico ?
Basta notar que o CEO interpretado por Will Ferrell usa um figurino com partes rosa e até a sala dele o símbolo da empresa é colorido; como dissesse que apesar de tudo, a companhia está sendo modernizada. Isso sem contar com a presença de Ruth Handler (interpretada Rhea Perlman), criadora da boneca e uma das fundadoras da empresa, que por mais tenha contextualizado sua presença como uma mensagem de motivação é claro que soa claramente como uma limpada de imagem in memoriam corporativa.
Repetindo: isso não tira NENHUM dos méritos do filme! Isso é importante frisar.
Todavia, existem outros filmes recentes até sobre o feminino que mereciam tanta visibilidade quanto Barbie como, por exemplo, Entre Mulheres, Retrato de uma Jovem em Chamas ou até mesmo Adorável Mulheres que possuem uma abordagem mais delicada sobre o assunto, mas com peso de sua mensagem igualmente relevante.
De qualquer forma, como cinema, Barbie é bem vindo. Com uma grande mobilização e mesmo tendo a questão comercial e sua forma, ainda assim é uma visão de mundo da sua diretora; algo que os “filmes de bonecos” raramente fazem. Lembrando que o filme custou algo em torno de 100 milhões de dólares, bem abaixo do que as grandes produções atuais baseadas em HQ que custam o dobro. A indústria cinematográfica americana respira um pouco com o lançamento de Barbie e Oppenheimer (igualmente autoral) ; se isso significa um retorno dos Blockbusters a esses tipos de lançamentos em detrimento de um “gênero” único, somente o tempo dirá. Nesse momento há a justa greve dos sindicatos de atores e roteirista lutando pelo sobrevivência da própria indústria e
Rodrigo Rodrigues
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gostei do filme, é divertido, tirando umas duas lacradas alem da conta, mas claro que o hype foi so pela militancia que no fim nem se confirmou muito a nao ser a questao anti machismo
agora que o hype baixou podemos todos concordar que é um filme ok, muito abaixo do que a critica vendeu apenas pela agenda woke?
eu gostei achei dahora
a febre lacrate vai diminuindo, a apelo do filme tb… no fundo é uma comedinha mais ou menos com critica social ácida e pertinente (claro que exagera em momentos de pura militancia), realmente nao vale o ingresso pro cinema a nao ser que vc tenha um salario alto e nao ligue pra gastar uma grana que podia usar pra ver um filme que justifique o preço alto dos ingressos
filminho bobo, até tem umas partes engraçadas, mas na maior parte do tempo vc no máximo abre um sorrisinho pela metade… nao vale o preço de um ingresos no cinema melhor esperar sair na Netflix
é legal, mas realmente me arrependi de ter assistido no cinema, sucumbi ao hype
Adriano
Bem vindo
Quais os pontos que o decepcionaram no filme?
Abraço
o filme é legal, tem hora que da uma overdose de lacração contra o “patriarcado”, mas na maior parte do tempo as criticas sao boas e o filme é uma comedia legal
filme legal eu curti
a critica da a entender que o unico merito do filme é sua critica ao patriarcado e machismo ou seja, é um produto panfletario e nao um filme… para lutarmos por um mundo mais justo contra essa aberração de dominio masculino nao precisamos de filmes (ainda mais de comedia onde tudo pode ser relativisado) e sim de educação e leis que punam quem insiste em ser machista nos dias de hj
o filme que todo mundo quer ver pq sim e pronto (pq a propaganda foi muito bem feita) kkk