Direção: Sofia Coppola

Elenco: Cailee Spaeny, Jacob Elordi, Ari Cohen, Dagmara Dominczyk, Tim Post, Lynne Griffin, Dan Abramovici, Tim Dowler-Coltman e Olivia Barrett

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Uma das grandes dificuldades narrativas desse Priscilla de Sofia Coppola ocorre justamente ao trazer o ponto de vista de uma personalidade através de terceiros. No entanto, essa dificuldade soa ainda maior quando o filme demonstra o relacionamento entre Priscilla e Elvis Presley. Ao trazer o foco para a ação da primeira e nos fazer nos identificarmos com seus conflitos, é inversamente proporcional que o segundo seja trabalhado como base para ações da protagonista.

Mas estamos falando da figura mítica de Elvis, e, ao contrário do recente filme de Baz Luhrmann, aqui temos uma visão mais condenatória (com razão) do Rei do Rock. E talvez por andar entre um drama e uma cinebiografia em si (o filme é baseado na autobiografia da própria Priscilla que é também produtora e isso pode ter limitado a direção), o longa pode passar certo medo em mergulhar profundamente no relacionamento que foi se tornando cada vez mais tóxico para Priscilla e aceitar isso como uma normalidade, mesmo para época, e também quando envolve a figura de Elvis.

Se passando entre 1958 até meados dos anos 70, conhecemos inicialmente a jovem Priscilla Beaulieu (14 anos), filha de um militar, sendo apresentada a Elvis Presley (dez anos mais velho) enquanto esse estava no serviço militar na Alemanha. A paixão da jovem pelo músico já reabre o primeiro questionamento sobre como lidar com o assédio de um homem mais velho sobre uma pré-adolescente (e custodiar seus estudos torna as coisas ainda piores por soar tudo premeditado), ou, quando já casados, Priscila precisa lidar com o fato de passar despercebida diante da mídia e fãs e servir como esposa perfeita e aceitar todos os caprichos/machismo/arrogância de Elvis (“preciso que você esteja ai quando eu ligar” ou “muitas mulheres queriam compartilhar minha filosofia”).

priscillacartaz Crítica: PriscillaMesmo ocorrendo num período específico (mesmo que longo), a montagem tenta a todo custo fugir do padrão das cinebiografias: “como contar muitos fatos sem soar tudo apressado e episódico” ao pontuar a passagem do tempo através da carreira de Elvis (seja no seu retorno no famoso especial da TV em 1968 ou sua temporada em Las Vegas) sem necessariamente mostrar esses momentos de maneira ostensiva; novamente demonstrando que a direção teve que fazer uma força danada para não desequilibrar algo já problemático em sua estrutura, tanto que a figura do Coronel Parker (o famigerado empresário de Elvis) não surge no filme – e quando o faz é apenas numa rápida ligação – o que acaba sendo uma decisão acertada, pois seria um peso ainda maior para a narrativa (isso sem contar com devidas comparações com a atuação de Tom Hanks no filme de Luhrmann.

Sempre demonstrando segurança num ambiente dominado pelo marido, Cailee Spaeny transita bem entre o estado virginal de Priscilla até sua maturidade como esposa e mãe, mesmo que a atriz seja mais convincente como uma jovem de 14 anos que uma mulher com mais de 30 quando terminou o casamento com o cantor. Ficamos sempre nos perguntando o que move aquela mulher a suportar seu os caprichos do marido, um misto da paixão real com culta a personalidade de Elvis.

Mas Coppola consegue trabalhar de maneira eficaz alguns aspectos desse relacionamento através de elementos simples. Um exemplo é o fato de que Spaeny tem 1,55 cm de altura (Priscilla real tem por volta de 1,62 cm) o que reforça a subjugação diante de Elvis quando estão no mesmo plano e como ela precisa projetar o olhar bem acima de sua posição (Jacob Elordi tem quase 2 metros de altura contra os 1,82 cm do verdadeiro Elvis), e sendo inicialmente intencional ou não, ajudou a reforçar a dinâmica entre eles e inferiorização exigida na história.

Assim como é curioso notar a atuação de Jacob ao trazer um Elvis mais motivado pela sua introspectividade pautada por alguém já muito tempo afetado pelo devaneio da fama e suas consequências ao manter sempre um tom de voz baixo e quase fazendo um esforço para tentar se comunicar; algo totalmente diferente do enérgico personagem do próprio filme do Luhrmann. Fotografado por Philippe Le Sourd trazendo por várias vezes Priscilla em planos abertos para demonstrar o isolamento dela dentro da mansão de Graceland, a direção foca inicialmente a personagem com uma luz forte quando ainda em contato com os pais para aos pouco essas cores se perderem durante o relacionamento com Elvis; algo quebrando somente pelo bom trabalho de figurino em suas cores para representar a época em questão. Trabalho esse fundamental para representar a passagem do tempo ( como disse anteriormente, a atriz Cailee Spaeny tem apenas 25 anos), pois se já precisamos de um poder maior de abstração para aceitar ela representar grande espaçamento de idade, imagine sendo trabalho incorreto (penteados e figurinos) para envelhecer a atriz; seria comprometedor, o que não seja ser o caso aqui. A menos, claro, que o exagero das perucas seja um problema.

Mesmo com uma linha no roteiro que não permite grandes saltos emocionais para atrair o público numa história conhecida e previsível, Sofia Coppola entende e consegue em seu final (finalzinho mesmo) a necessidade de certa libertação feminina sem olhar para trás aqueles momentos em que ela sentiu-se como uma mulher sem qualquer lugar de fala.

Mesmo que momentâneo.

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FB_IMG_1634308426192-120x120 Crítica: Priscilla

Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a história ou acharem que Cinema começou nos anos 2000! De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

3 thoughts on “Crítica: Priscilla

  1. Achei a protagonista muito passiva, o filme todo é ela esperando Elvis voltar dos shows e sentindo ciúmes dele. Enredo não muito envolvente, enredo arrastado. Pode ser difícil contar uma história envolvendo Elvis sem que todos ao seu redor pareçam personagens coadjuvantes, e foi esse o caso. Me pergunto se era necessário fazer esse filme, não vi nada de especial, totalmente previsível do início ao fim. Até agora nenhum filme da filha de Coppola conseguiu me pegar

  2. Um filme sobre a Priscila Presley… interessante, mas nao sei se tão interessante a ponto de eu querer ver

    1. a lacração da vez é “empoderar” as mulheres dos homens biografados… será que vão fazer filmes dos maridos das mulheres biografadas, tipo… teremos filme do marido da Jaqueline Onassis? do marido da Liz Taylor? do namorado da Lady Di? (o principe nao conta, claro, o cara virou rei, vai ser obviamente biografado)… teremos filme do marido das irmãs tenistas Williams? do marido da Bete Davis? duvideodó mas não, vão dizer que isso não é lacração, bla bla bla

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