Crítica: Furiosa: Uma Saga Mad Max

7

Direção: George Miller

Elenco: Anya Taylor-Joy, Chris Hemsworth, Tom Burke, Alyla Browne, George Shevtsov, Angus Sampson, Elsa Pataky, Nathan Jones, Rahel Romahn, Charlee Fraser, David Collins, David Field e Lachy Hulme

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Furiosa: Uma Saga Mad Max é o quinto filme da franquia Mad Max onde George Miller tenta expandir de maneira mais complexa uma iconografia religiosa com pitadas de ópera bufa misturada com filme bíblico. Iconografia que coincidentemente vimos no recente Planetas dos Macacos: O Reinado em que os acontecimento podem ser vistos como versículos em que podem se perder, modificados de acordo com quem conta ou quem houve os fatos através dos tempos.

Não sendo menos emblemático que a presença feminina fortalecida pelo sentimento de vingança contra essa sociedade que sempre crucificou a mulher como ameaça ao seu status quo seja o ponto de partida para esse Furiosa; e não deixa de ser interessante notarmos como o diretor foi moldando essa percepção durante seus filmes através das décadas – tanto que no ultimo filme da trilogia clássica (Mad Max – Além da Cúpula do Trovão de 1985) a presença de Tina Turner acaba por momentos ofuscando o próprio Mel Gibson.

A violência de uma terra devastada pela ganância dependente do combustível fóssil (ou água, ou comida, ou…) é somente mais uma das centenas de guerras travadas pelo homem através dos séculos. Paraísos foram destruídos pelos pecados dos homens e ícones vistos como salvadores de um mundo sem esperança. Portanto, sempre haverá o terror e uma classe dominante com interesse em manter seus privilégios, sobrepujando os mais necessitados e a pouca beleza e racionalidade que ainda pode existir nesse cenário apocalíptico.

Esse caldeirão de ideias (algumas reaproveitadas) é envolto por um tanque de gasolina em chamas através das estradas desérticas da Austrália, cuja pegada enérgica do diretor de 79 anos é uma aula de narrativa cinematográfica. Portanto, ao contrário de Fury Road, Furiosa: Uma Saga Mad Max não se limita a ser somente um filme com os personagens indo literalmente do ponto “A” ao ponto “B”, mas uma epopeia de acerto de contas através dos anos da jovem Furiosa (interpretada pela ótima Alyla Brown quando criança e depois por Anya Taylor-Joy) contra o tirano Dementus (Hemsworth).

Contudo, por mais incômodo que seja falar, o roteiro de Nick Lathouris, em conjunto com o próprio Miller, é um filme de origem! E filmes de origem correm riscos muitas vezes desnecessários. Até porque já tínhamos elementos suficientes para entender as motivações e personalidade da Furiosa em Fury Road sem necessariamente precisarmos de um longa para contar essas ações; assim tudo o que vemos na tela relacionada à personagem soa apenas como uma tentativa frágil de recontar uma história com elementos conhecidos; claro que saber como ela perdeu o braço ou como era o local onde foi criada pode despertar uma curiosidade, mas para mim ainda serve muito pouco como justificativa.

Furisa_c Crítica: Furiosa: Uma Saga Mad MaxMas isso não tem nada a ver com a presença de Anya Taylor-Joy, pelo contrário, a atriz evoca selvageria e destreza em sobreviver a todo custo, sendo interessante como a atriz – ao seu modo – tenta emular a expressão pelo olhar e o andar firme e determinado de Charlize Theron.

Mas rever alguns vilões que já sabemos seus destinos futuros soa menos impactante. Principalmente aqueles que brilharam pela imponência física dentro da ação, mas que aqui ficam limitados ao segundo plano como os filhos de Immortan Joe. Ao ponto que Chris Hemsworth, através também de uma maquiagem e prótese que o deixa rapidamente de maneira caricatural, é um ponto moral do filme. Exagerado em sua visão de líder, por vezes soando até imaturo, ele usa da violência e a cafonice pra subjulgar seus seguidores. Pode funcionar em determinados momentos, mas talvez nunca soe ameaçador de verdade; mas ainda assim tem um propósito de usar seu poder como tábua de salvação pessoal para suas perdas.

Fora que a presença (boa, diga-se de passagem) de Praetorian Jack (Burke) é claramente uma cópia do Max de Tom Hardy, cuja evolução do relacionamento com a jovem furiosa é dado com as poucas palavras e simbologia dos gestos entre eles, com seus significados também sendo bem construídos. Mas ainda assim, é uma roupagem nova para os mesmos conceitos que já vimos.

Fora que alguns pontos me perturbaram, como a explicação (ou falta) sobre o destino do local em que Furiosa morava quando criança. Sabemos o que aconteceu em Fury Road ou pelo menos vemos o que aconteceu sem necessariamente saber como – o que dramaticamente funcionou e foi suficiente; mas se aqui era para servir como um filme de origem, que abraçassem logo a premissa e mostrassem tudo (algo que não faria mais sentido fazer em num filme futuro devido ao gancho final de Furiosa). Assim como não fica muito claro porque a personagem fica tanto tempo sob as ordens de Immortan Joe para somente anos depois (em Fury Road) ela decidir fugir da cidadela em busca da sua terra natal.

Enfim, em uma análise crítica de um filme devemos sempre nos atentar também para o “como” é, e não necessariamente “sobre” o que é. Apesar de que aqui tenhamos essas ressalvas. Dito isso, George Miller molda a franquia Mad Max ao seu bel prazer para se tornar tudo um épico de ação. Claro, devido à sua estrutura, Furiosa acaba soando mais paulatino devido o formato capitular do filme, mas sem perder a essência característica da série nas cenas; ou mais precisamente no visual estabelecido em Fury Road.

Impressionante como o diretor tem total controle do uso da câmera e sabe guiar o olhar do espectador, sempre mantendo na maior parte de tempo os planos abertos para acompanharmos o posicionamento dos elementos em cena, fluindo juntos na movimentação dos carros; com ele, não se perde nada (não chegamos aqui ao brilhantismo do impacto técnico causado pelo Fury Road, mas ainda é infinitamente melhor e maior que 99% dos filmes de ação feitos na atualidade).

Assim como ele sabe quando trabalhar certo descanso ao publico no silêncio da personagem ocultando toda fúria pela sua perda, após uma determinada sequencia.

Um desses grandes exemplos é na sequência em que Furiosa e Praetorian Jack tentam invadir uma das cidadelas em que o veículo sendo perseguido como um animal preso em uma armadilha culmina numa rima visual de crucificação simbólica da protagonista. Além do mais, a fotografia de Fury Road (a cargo de John Seale), que soube tão bem explorar os contrastes de maneira tão pulsante em cores, chega a Furiosa: Uma Saga Mad Max (agora a cargo de Simon Duggan), parecendo apenas repetir o trabalho iniciado no anterior, mas ainda tentando alguns riscos como apresentar um cenário de floresta (algo incomum à saga) ou trazendo e emulando o plano característico dos filmes com enquadramentos dos motoristas, com movimentos rápidos da câmera e até planos sugerindo um embate típico de filmes de Western (adorei essa cena, diga-se de passagem).

Isso, inclusive, ajuda com a mise-en-scene auxiliando na compreensão dos detalhes do ótimo trabalho da direção de arte; e o maior exemplo é a presença da máquina de guerra e na concepção das cidadelas, com características próprias devido à função exercidas por esses locais, como aquela com aspecto de refinaria. Ademais, se em Fury Road visualizamos o poderoso veículo, mas já com marcas do uso incessante nas batalhas, aqui visualizamos os detalhes esculpidos no tanque de combustível ou as proteções de cordas das alavancas recém-construídas em que os garotos de guerra se balançam entre elas e que foram uns dos grandes momentos de Fury Road. Inclusive, é inventivo que a direção torne alguns itens práticos condizentes a aquele mundo como o fato de a troca de um pneu de moto (algo normalmente mais complexo) ser feita em poucos segundos, ou criminoso usando paraquedas para evitar ataques terrestres.

 Furiosa: Uma Saga Mad Max não chega à altura de seu antecessor, inclusive constantemente incluí (de maneira natural) Fury Road no texto como forma de comparação ou necessidade de lembrarmos de todos os acontecimentos posteriores como chancela de aprovação para Furiosa – em que os créditos finais não deixam de me dar razão.

George Miller saber mexer com seu universo como bem entender e talvez tenhamos mais filmes futuramente (ainda sob sua tutela?) trazendo seus conceitos políticos, sociais ou religiosos. E como disse anteriormente, qualquer um de seus filme das saga é superior em sua forma e conteúdo à maioria dos filmes de ação atuais. Independente das reações sobre o filme, estarei sempre ao lado de Furiosa.

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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a história ou acharem que Cinema começou nos anos 2000! De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

7 thoughts on “Crítica: Furiosa: Uma Saga Mad Max

  1. muito bom mas pra mim meio que ja deu esse template do George Miller de regiao devastada, desertica, perseguicao de carros com momentos pirotecnicos absurdos, personagens tipicamente posapocalipticos e todo o pacote que vem junto, me saturou

  2. quer me convencer que o Immortan troca sua posição pela menina e na mesma noite ela some e tudo bem, fica tudo por isso mesmo, ele nao procura, nao vai atras, nao responsabiliza ninguem, e do nada depois uma tal Furioza surge e ganha a confianca de todo mundo la assim???

  3. Um bom filme, mas sinceramente, vcs nao enjoam do mesmo tom de sempre nos filmes do Miller, desde o segundo Mad Max que tudo é mais ou menos igual, so muda a paleta de cores

  4. Furiosa me surpreendeu. Gostei mais do que Estrada em Fúria, talvez porque não achei muito bacana a atuação do Tom Hardy , já que a Charlize Theron roubou os holofotes, de forma positiva. Anya Taylor-Joy, conseguiu imprimir uma boa interpretação como Furiosa, já a canastrice de Chris Hemsworth, quase faz o filme se perder, também gostei do Tom Burke, com um personagem mais humano da estória.

  5. finalmente alguem que admite que a historia de Estrada da Fúria é rasa como um pires: carros correndo num deserto o filme inteiro

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