HEAT – Um Livro, Um Filme, Um Jogo…
A ideia central dessa série de artigos, “Um Livro, Um Filme, Um Jogo”, é relacionar três diferentes formas de entretenimento, que tratem do mesmo assunto. Portanto, o artigo explora os traços comuns envolvendo um livro, filme e um jogo, e a forma como eles se relacionam uns com os outros. O jogo da vez é o Heat, e o assunto são as corridas automobilísticas.
Nesse momento vale lembrar, que qualquer lista é intrinsecamente arbitrária e depende muito da opinião do autor da lista. Considerando que pessoas diferentes têm pontos de vistas diferentes, é natural que qualquer um que leia o artigo tenha uma lista ligeiramente diferente. É natural que se pergunte “por que esse jogo ou esse tema e não aquele?”, ou se ache que outro livro/filme/jogo se encaixaria melhor na lista.
Isso dá espaço a uma das coisas muito interessantes de se escrever na Internet, que é a possibilidade de interação autor-leitor. Por isso a seção dos comentários está franqueada para que cada um deixe a sua opinião, ratificando as escolhas da lista, ou apresentando novas alternativas. Independente de se concordar ou discordar, todas as opiniões são muito bem vindas, com o único requisito de que se procure manter o respeito e o alto nível respeitoso e urbano dos comentários. As escolhas da lista serão justificadas, defendidas, e a divergência debatida, com quem se dispuser a isso, dentro do possível.
Seguindo nessa toada, há outro aspecto nessa série de artigos que vale a pena mencionar, em relação às indicações de livros e filmes. Os board games citados certamente já são conhecidos de todos, mas as citações das outras duas “mídias” (literatura e áudio visual) nem tanto. Alguns livros e séries, bem como alguns livros e coleções são bem antigos ou bem obscuros.
Imagem Google: O Hobbit (livro), O Hobbit (filme) e “Batalha dos Cinco Exércitos” (jogo) – apelou perdeu, camarada!!!!!
Isso foi proposital, justamente para sugerir novas possibilidades culturais, e de entretenimento puro e descompromissado, fora do lugar comum, para quem não conheça tais obras. Por isso a divergência e a apresentação de outras obras são tão importantes. A intenção é que surjam mais e mais citações alternativas, especialmente livros, para quem está órfão do George Martin e do Patrick Rothfuss, até hoje.
Outra coisa a se notar, como foi sugerido anteriormente, é que tanto livros quanto filmes não são usados aqui no sentido estrito. Por isso, “livro” engloba qualquer obrar escrita seja ela um livro, conto, reportagem, HQ, artigo científico, tese acadêmica e por aí vai. Do mesmo modo, o termo “filme” se refere aos filmes, mas também às séries, aos documentários, vídeos do Youtube e assemelhados. Só é interessante atentar para o detalhe, de que as três mídias devem ser relacionadas, mas preferencialmente não diretamente.
Não tem muita graça citar “O Hobbit” (livro), “O Hobbit” (filme) e “A Batalha dos Cincos Exércitos” (jogo). Agora, citar: “O Senhor dos Anéis” (livro), D&D Honra entre Rebeldes (filme) e Mage Knight Board Game (jogo), já deixa a coisa mais interessante. Nesse segundo caso, mesmo tendo como cenário um universo de fantasia medieval, as obras citadas não têm uma ligação direta. Outro ponto de atenção é que as eventuais citações nos comentários devem se ater ao assunto geral tratado no artigo (corridas automobilísticas, no presente caso). O exemplo acima tratou da fantasia medieval, porque esse é um tema mais fácil de relacionar obras, com ligação direta entre si. Assim sendo, esses exemplos ficariam melhor em um artigo abordando o tema da fantasia medieval (já no prelo).
Dito isso tudo, e sem mais delongas segue abaixo: “Um Livro, Um Filme, Um Jogo”.
Corrida para a Glória – Ford vs Ferrari – Heat
Um Livro…
A Fórmula 1 é um dos esportes mais emocionantes e amados do mundo, reunindo incontáveis fãs há décadas. Um dos motivos para todo esse sucesso é sem dúvida as rivalidades históricas entre alguns pilotos, que renderam e ainda rendem disputas sensacionais. Não há como falar em Fórmula 1 sem citar os confrontos Fittipaldi vs Stewart (1972/1973), Piquet vs Mansell (1986/1987), Senna vs Prost (1988/1990), Schumacher vs. Häkkinen (1998/2000) e Hamilton vs. Verstappen (2021/2024).
Mas apesar de tudo, talvez nenhum destes duelos seja tão emblemático, quanto o confronto entre James Hunt e Nikki Lauda, especialmente na temporada de 1976. Esse é o assunto do livro “Corrida para a Glória”, leitura muito recomendada para todos os amantes do automobilismo.
Além de tratar dos aspectos ligados diretamente ao esporte, a obra também aborda o grande contraste entre as personalidades dos pilotos. Um não poderia ser mais diferente que o outro. De um lado o mulherengo, beberrão e hedonista inglês James Hunt. Do outro lado o comedido, discreto, metódico e determinado austríaco Niki Lauda. O primeiro era arrojado, assumia riscos e pilotava como se não houvesse amanhã. O segundo era estratégico, cirúrgico, e entendia muito tanto de pilotagem, quanto de mecânica, extraindo o máximo de seu carro, dentro e fora das pistas. O primeiro corria pela McLaren, enquanto o segundo pela Ferrari, e isso por si só já diz tudo em termos de confronto automobilístico.
Imagem Google: Grandes Rivalidades da Fórmula 1
Mesmo não sendo a primeira grande rivalidade (Emerson Fittipaldi e Jackie Stewart duelaram alguns anos antes), sem dúvida Hunt vs. Lauda foi talvez a maior. Obviamente há quem conteste isso, e diga que o duelo Senna vs. Prost foi maior, por influência do poderosíssimo bairrismo brasileiro, afinal é “o” Senna. Mas não há dúvida de que Hunt vs. Lauda foi mais importante, porque elevou a popularidade do esporte a um patamar mais alto. No início dos anos 90, 15 anos depois, essa tradição de rivalidade na Fórmula 1 já estava consolidada e era muito explorada pela mídia. É preciso lembrar também que entre esses dois duelos houve o confronto Piquet vs. Mansell, também muito importante, significativo e emocionante.
Conta também o fato de que em meados dos anos 70 haver bem menos tecnologia envolvida no esporte, do que no final dos anos 80. Assim sendo, na época de Hunt e Lauda, o resultado das corridas dependiam muito mais do piloto do que no tempo de Senna e Prost. Isso evidentemente não é um indicativo de aqueles sejam melhores pilotos do que estes (o que é discutível). Mas não há dúvida de que as condições em que se corria nos anos 70 eram bem mais difíceis que as às condições do final dos anos 80. Isso para não falar que as condições de segurança eram muito piores nos anos 70, dificultando absurdamente a vida dos pilotos, em termos psicológicos.
Só que a questão aqui não é definir qual confronto foi maior do que o outro. Do mesmo modo como os mais antigos dizem que Hunt vs. Lauda foi maior que Senna vs Prost, talvez os mais jovens digam Hamilton vs. Verstappen é maior que os dois primeiros.
Imagem Google: James Hunt e Niki Lauda
O fato é que o confronto Hunt vs. Lauda foi tão icônico que ainda hoje, passados quase 50 anos ainda se fala muito nele. E não é para menos, porque essa rivalidade parece mais o roteiro de um filme, do que a vida real. Ela é o tema do filme Rush – No Limite da Emoção (2013), muito menos fidedigno e mais fantasioso, que o livro “Corrida para a Glória”. A rivalidade entre os dois começa na temporada de 1975, com Lauda, franco favorito ao título, de repente vendo sua supremacia ameaçada por Hunt. Lauda se sagrou campeão, mas a briga estava apenas começando.
O ano seguinte, 1976, foi marcado pelo trágico acidente de Nurbrugring, no GP da Alemanha, envolvendo Niki Lauda, que quase o matou. Ele ficou preso dentro do carro em chamas, tendo o rosto desfigurado e sofrendo graves queimaduras. Mas o pior dano foi causado pela inalação de fumaça e gases superaquecidos que afetaram gravemente seus pulmões. Com isso, o título de James Hunt parecia garantido.
Porém, contrariando todas as expectativas, inclusive ordens médicas, Niki Lauda voltou a correr e a disputar o título. O resultado só foi conhecido na última corrida em Fuji no GP do Japão. As condições climáticas muito adversas e o perigo de chuvas torrenciais durante a corrida fez Niki Lauda desistir de correr. Desse modo, bastava um terceiro lugar para Hunt se sagrar campeão e foi o que ocorreu, dando ao piloto inglês o seu único título na Fórmula 1.
Imagem Google: capa do livro
Os dois voltaram a se enfrentar em 1977, mas não no mesmo nível. Nessa temporada Niki Lauda se mostrou muito mais dominante, apesar de Hunt ainda ter dado algum trabalho. No fim, o gênio austríaco, que muitos achavam que não sobreviveria ao grave acidente, e muito menos voltaria a correr, ganhou seu segundo campeonato.
Alguns anos depois em 1979, Hunt se aposentou da Fórmula 1 e virou comentarista desportivo. Já Niki Lauda continuou competindo até 1985 com um breve hiato nas temporadas de 1980/1981, conquistando o tricampeonato (1975-1977-1984).
Como dito antes, o livro “Corrida para a Glória” aborda não apenas a rivalidade dentro das pistas, mas o confronto fora delas, mostrando os bastidores da disputa. Ele também coloca em destaque as personalidades e vidas pessoais tão opostas e distintas de Niki Lauda e James Hunt. Por isso esse livro é tão importante para todos os amantes do automobilismo, e para quem quer saber mais sobre a história do esporte.
Outros livros sobre automobilismo: Go Like Hell: Ford, Ferrari and Their Battle for Speed and Glory at Le Mans, Ayrton Senna: Uma Lenda a Toda a Velocidade, O Brasil na Fórmula 1, Formula One: The Champions 70 Years of Legendary f1, Ferrari: o Homem por Trás das Máquinas, Le Mans e suas Histórias.
Um filme…
Dada a escolha do livro nada mais natural que o filme escolhido fosse Rush – No Limite da Emoção de 2103, que conta a rivalidade entre James Hunt e Niki Lauda. Ocorre que é preciso considerar que mesmo a Fórmula 1, sendo o ápice do esporte, o automobilismo é muito maior que uma única categoria, por maior e mais espetacular que ela seja.
Além da Fórmula 1, existem Fórmula Indy, Nascar, Campeonato Mundial de Rally, Campeonato Mundial de Endurance, Truck Racings, Campeonatos GT, Off-Road, Campeonatos Classic, entre outros.
Essas outras categorias do automobilismo possuem provas tão tradicionais e prestigiadas quanto os principais Grades Prêmios como Mônaco, Interlagos, Suzuka, ou mais até. A Fórmula Indy é sinônimo das 500 milhas de Indianápolis, como Daytona 500 é símbolo da Nascar e Paris-Dakkar a prova de rali, mais famosa do mundo. Já o Campeonato Mundial de Endurance, testa não apenas a habilidade e qualidade de pilotos e carros, mas principalmente sua resistência. E é nessa categoria, que está uma das corridas mais famosas e tradicionais de todo o automobilismo: as 24 horas de Le Mans.
Como já dá para saber que o filme selecionado foi o excelente Ford vs Ferrari de 2019, estrelado por Matt Damon e Christian Bale. Damon faz o papel do lendário Carroll Shelby e Bale o papel do igualmente magnífico Ken Miles. A história retrata o já lendário e antológico confronto entre duas empresas que são sinônimo de carro. A Ferrari representando os carros superesportivos, o luxo e o status. A Ford por sua vez representando uma das maiores montadoras do mundo, cujos carros são virtualmente onipresentes, onde quer que se esteja.
Imagem Google: Ford vs Ferrari Pôster do Filme
Antes de falar do filme em si, se faz necessário dar algum contexto histórico. Nos anos de 1960 a Ferrari apesar de ainda contar com enorme prestígio, no mundo automobilístico, “a empresa a ser batida”, enfrentava dificuldades financeiras. A Ford também enfrentava dificuldades, mas de outra natureza. A empresa tinha pouca penetração entre os jovens e uma imagem associada ao “pai de família”.
Por isso a Ford de olho nessa fatia do mercado queria mudar sua imagem para a de uma empresa mais arrojada. Desse modo, a “gigante norte-americana” decidiu entrar no mundo das corridas automobilísticas, como forma de rejuvenescer sua imagem junto ao público consumidor.
Imagem Google: Ken Milles e Carroll Shelby
O filme se baseia em fatos reais iniciando com a participação de Shelby nas 24 horas de Le Mans, prova que ele ganhou em 1959. Depois passa pela tentativa frustrada de aquisição da Ferrari pela Ford, e a consequente humilhação pública, com os orgulhosos italianos desdenhando da proposta norte-americana. O filme segue com as dificuldades da Ford em desenvolver seu famoso Ford GT40, por questões burocráticas e de engenharia. Ele mostra ainda o começo da parceria entre Shelby e Miles, e chega ao ápice na corrida de Le Mans em 1966.
Um dos pontos fortes do filme é justamente mostrar os bastidores do mundo das corridas de velocidade. Para quem está de fora, parece simples, basta montar o carro, colocar na pista e correr. Mas a verdade é bem outra. A dificuldade dos construtores em fazer um carro cada vez melhor e se superar a todo o instante é imensa. Do mesmo modo, as questões burocráticas e empresariais, bem como a administração dos egos é um senhor desafio. O filme demonstra muito bem esse lado humano do automobilismo.
Imagem Google: Shelby e Henry Ford II, cena legal, mas inverídica.
Para quem procura uma boa indicação de leitura específica, vale destacar o livro Go Like Hell: Ford, Ferrari and Their Battle for Speed and Glory at Le Mans, de A.J. Baime. Esse foi o livro que serviu de inspiração para o filme, além do acesso aos documentos históricos da Ford, sobre o episódio. O livro está disponível na Amazon, e também é fundamental para os amantes de corridas. Porém, infelizmente, ele não tem versão em português.
Por fim, o filme Ford vs Ferrari é uma ótima indicação principalmente para aqueles que de tão acostumados coma Fórmula 1, acaba achando que o mundo automobilístico se resume apenas a essa categoria.
Outros filmes sobre automobilismo: Senna (2010), Grand Prix (1966), documentário “1” (2013), Rush – No Limite da Emoção (2013), Ferrari (2023), Weekend de um Campeão (1972), Dias de Trovão (1990), Alta Velocidade (2011), As 24 Horas de Le Mans (1971), Gran Turismo (2023).
Um Jogo…
Em se tratando de jogos abordando o automobilismo, não dá para deixar de falar do jogo “hypado” da vez, e bota “hypado” nisso, o Heat Pedal to the Metal. O jogo é de 2022, da editora Days of Wonder (Galápagos no Brasil), para 1 a 6 jogadores, com partidas de 30 a 60 minutos. O design é de Asger Harding Granerud e Daniel Skjold Pedersen com arte de Vicent Dutrait.
No Heat, os jogadores são pilotos de corrida, que dirigem seus carros e lutam para chegar na frente e receber a bandeira quadriculada. A movimentação é feita através de cartas de ação numeradas, limitadas pela marcha, que determinam quantos espaços o carro vai andar. Até aí nada de novo, porque diversos outros jogos de corrida mais antigos já utilizaram esse tipo de esquema de funcionamento. Cada jogador tem um mini tabuleiro próprio, que representa o cockpit do seu carro, só que isso também não é nada inédito. Basta dizer que o Fórmula 1 de 1962 já trazia esse recurso, aliás, de forma muito legal, com velocímetro e diversos outros marcadores.
Só que não é esse o diferencial do Heat. Um dos aspectos mais legais do jogo é a “gestão do calor”. Além de pilotarem, os jogadores têm de ficar atentos ao aquecimento de seus carros, que pode ser um problema sério, daí o nome do jogo. Além das cartas de movimentação, o jogador também tem cartas de calor, ou Heat cards, que ele usa para uma série de coisas. Para ajustar na questão do Heat, há o resfriamento através do uso de marchas mais baixas (movimentação menor), posição do carro e cartas especiais.
Imagem Ludopedia: HEAT – Pedal to the Metal
As cartas de heat também são fundamentais nas curvas, que têm uma marcação de velocidade. Se o carro passar rápido de mais e não tiver cartas de Heat para pagar, o carro pode rodar e receber uma penalidade.
O Heat possui diversos outros detalhes em seu funcionamento que o tornam muito divertido, mas vale lembrar que o objetivo aqui não é ensinar as regras. Existem diversos artigos e vídeos, muito mais eficientes, e recomendáveis, nesse sentido, nos fóruns de boards game. Mas voltando à questão do calor, isso é muito legal no Heat, porque remete a uma época, mais romântica, quando o automobilismo tinha muito menos tecnologia envolvida. Inclusive as miniaturas dos carros lembram muito os modelos de fórmula 1 da década de 1960.
Nessa época, não havia computador, redutor automático de velocidade nas curvas, e nem uma cacetada de sensores ultramodernos, dizendo o que havia de errado com o carro. O mecânico tinha que lidar com “mecânica”, literalmente, e o piloto tinha que guiar o carro no braço mesmo. Era a época de grandes titãs do esporte como Jackie Stewart, Jim Clark, Jack Brabham, Bruce McLaren, alguns deles fundadores de equipes que fizeram história.
O Heat tem outros fatores igualmente interessantes, entre eles a estratégia de curto e longo prazo, e o clima. Como o jogador tem um número limitado de cartas por turno, ele tem de pesar bem, se é melhor guardar ou jogar uma carta alta. Além disso, o jogo é muito dinâmico, portanto, o jogador precisa ir adequando sua estratégia de longo prazo, com o que ocorre em cada turno.
Imagem BGG: Miniaturas dos carros de corrida Heat
No caso do clima, o jogo utiliza recursos que fazem com que isso conte bastante mude totalmente o andamento da corrida. Esse é outro aspecto muito temático. Quem acompanha a Fórmula 1 há mais tempo, lembra do drama que era as equipes saberem quando trocar os pneus, e se ia mesmo chover ou não. Em alguns casos, esse aspecto praticamente determinava o resultado final das corridas de fórmula 1 nos áureos e tempos, e até hoje em dia. A questão do clima também está presente no Heat, e é um ponto muito positivo, e que muda bastante a partida.
Outro aspecto muito legal é a possibilidade de customização do jogo, principalmente através do uso de cartas especiais. Também cabe destacar que o jogo possui um modo de jogo básico e um modo de jogo avançado e os dois são muito divertidos.
O Heat é um sucesso de vendas não apenas no Brasil, mas no mundo todo, e conquistou uma verdadeira legião de fãs em pouco tempo. Isso é fundamental para longevidade do jogo, porque existe muito material produzido por essa comunidade de fãs. No caso do Brasil, em que as expansões e material extra nem sempre chegam, esse é um baita diferencial. Isso sem falar em quanto é legal poder adaptar para o jogo, os circuitos famosos, tanto de hoje quanto do passado. Essas pistas dos fãs também são fundamentais, para contrabalancear o fato do jogo base vir com poucas pistas.
Imagem Google: HEAT – Pista de Interlagos feita por um fã
Se há algo de negative a respeito dele é que o preço da edição nacional é um pouco mais salgado do que deveria. Além disso, dificilmente quem conseguiu comprar o jogo vai vender, pelo menos com preços viáveis, o que diminui a possibilidade dele aparecer nos Mercados de Usados tão cedo.
No cômputo geral o Heat é um excelente jogo, muito divertido, muito temático, e que traduz muito bem a emoção de uma corrida de carros. Para os amantes do automobilismo esse jogo é uma ótima pedida.
Outro jogos sobre Automobilismo: Rallyman, Downforce, Rallyman GT, Formula D, Race! Formula 90, Thunder Ally.
Conclusão
O livro “Corrida para a Glória”, o filme “Ford vs Ferrari” e o jogo “Heat” têm um denominador em comum evidente: o automobilismo. Mas esse não é o único ponto que os une. Os três (livro, filme e jogo, esse último um pouco menos), trazem além das corridas em si, também os bastidores. Não se trata apenas de saber quem venceu, mas também como venceu. Esses três formatos também mostram que o automobilismo é todo um microcosmo muito próprio, muito interessante, e verdadeiramente apaixonante.
Além disso, o livro e o filme mostram também o lado humano, as dificuldades técnicas, e os conflitos políticos entre as empresas envolvidas. Infelizmente, isso não é tão presente no jogo, por conta do formato, e pela necessidade de limitar o nível de complexidade e o tempo de partida.
Imagem Google: Livro, Filme e Jogo
No entanto, talvez fosse interessante uma eventual expansão ou nova versão incluir esses aspectos. Desse modo, a partida se dividiria em duas fases. Na primeira, haveria o processo de preparação das equipes, com a contratação dos engenheiros, montagem dos carros e seleção e treinamento dos pilotos. Essa fase se basearia em alocação de trabalhadores, draft de cartas, seleção de ações, ou alguma outra mecânica do gênero. Na segunda fase haveria a corrida em si, como acontece normalmente no jogo atualmente. A única questão é que ao invés de durar uma hora o jogo talvez durasse duas horas, e seria bem mais complexo. Isso é mais ou menos o que acontecia com o antigo jogo de futebol “Escrete”, em que primeiro se montava o time, e depois se disputava a partida.
Outra possibilidade seria fazer dois jogos ligados entre si. No primeiro jogo se montaria a equipe, e no segundo se disputaria a corrida. Essa ideia funcionaria no mesmo esquema da variante do famoso Century, em que se joga cada uma das três versões sucessivamente. Nesse caso há a vantagem de não ser necessário mexer no Heat, que já um sucesso de vendas, mas apenas lançar outro board game. Com isso, o jogador teria à sua disposição um jogo mais leve (Heat normal) e essa versão mais complexa (Heat montagem de equipe e corrida), dpois jogos correlatos.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
P.S. Quem porventura tiver interesse em textos no mesmo estilo pode encontrá-los acessando o canal iuribuscacio no Ludopedia ou a seção de Jogos de Tabuleiro no portal maxiverso.com.
https://ludopedia.com.br/canal/iuribuscacio
https://maxiverso.com.br/blog/category/nerdgeek/jogostabuleiro/
Iuri Buscácio
Latest posts by Iuri Buscácio (see all)
- Axis and Allies – Um Livro, Um Filme, Um Jogo… - 10/12/2024
- Atualização Sim, Mas Sem Perder a Essência - 26/11/2024
- Mansions of Madness – Um Livro, Um Filme, Um Jogo… - 13/11/2024
- Folclore Eslavo e Board Games – Indo Muito Além de The Witcher - 04/11/2024
- HEAT – Um Livro, Um Filme, Um Jogo… - 24/10/2024
parabens pelo texto gostei das curiosidades, agora vem o abacaxi: qual o melhor jogo de corrida que nao se assemelhe a um simulador? eu vou de Rallymant tb como o colega ai em cima, ja joguei quase todos os jogos de corrida so falta o Heat, e nao me falem em Downforce que aquilo ali é jogo de outra coisa,
Bom filme otimo jogo hahaha o livro eu nao conheço
Caro Sergio Cadeado
O livro também é muito bom, porque pode se aprofundar bem mais do que o filme. Outra coisa que vale a pena comentar é que um livro sério, documentando um caso real, não depende de certas “liberdades poéticas” como um filme. Se você só vê o filme, fica com a impressão de que Lauda e Hunt eram inimigos, quando na verdade eles eram apenas adversários, e inclusive amigos, mesmo que muito competitivos um com o outro.
Além disso, o livro traça um retrato muito legal de como era a fórmula 1, nos anos setenta, quando os carros eram muito mais mecânicos do que eletrônicos. Naquela é poca o sujeito tinha que ser piloto mesmo, ou então nem consegui chegar até a fórmula 1. Se você se interessa pelo assunto eu acho que vale muito a pena, correr atrás de uma cópia.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
Heat me parece muito bom e ao mesmo tempo nao troco meu Rallyman GT por ele, ja que um jogo de corrida muito pesado não é o que eu espero, o que eu quero é um jogo leve e divertido pr a jogar com a familia e so isso mesmo, e se fosse pra pegar um pesadao eu iria optar pelo Formula1 90…
Cara Janaina Vyde
Eu costumo dizer que, no tocante à preferência, board games é igual a culinária. Cada um tem o seu prato preferido, que depende inteiramente do gosto pessoal. Portanto não existe isso de “esse jogo é obrigatório na coleção”. O que existe é jogo obrigatório para aquela determinada pessoa. Dessa maneira, se o Rallyman GT é o jogo que te diverte, você está corretíssima em mantê-lo, e não trocá-lo por nenhum outro. Agora, por outro lado, o fato de gostar de um jogo não invalida nem inviabiliza, que se experimente outros jogos, principalmente do mesmo gênero. Se uma pessoa só jogar o mesmo jogo sempre (e muita gente faz isso), por melhor que ele seja para a pessoa, ela nunca descobrirá um novo jogo, que pode eventualmente fazê-la gostar mais do que do antigo.
O único cuidado que se deve ter é evitar que se caia no “culto ao novo”, ou seja, trocar o antigo pelo novo, não porque o segundo seja melhor do que o primeiro, mas apenas porque é mais recente. Esse é um dos graves equívocos, na minha humilde opinião, que se comete no hobby dos jogos de tabuleiro, e que é bastante democrático, porque atinge tanto aos veteranos quanto aos iniciantes. Obviamente as coisas evoluem e o novo se constrói em cima de erros e acertos do antigo. Os board games evidentemente não estão imunes a isso, e o natural é que uma reimplementação de um jogo antigo, melhores eventuais falhas do anterior, mas isso não é uma regra, e nem sempre é isso que ocorre. Cada caso deve ser avaliado por cada pessoa, porque para o Chico o jogo mais novo pode ser melhor, e para o Francisco não. Eu por exemplo, prefiro muito mais o excelente Invasores do Mar do Norte de 2015, do que a sua nova versão o Invasores de Scythia de 2020, que eu considero inferior. Mas essa é apenas a minha opinião, e muitas outras pessoas preferiram o Invasores de Scythia. Nem eu nem elas estamos nem certos, nem errados, nesse aspecto.
Quanto a questão do peso e complexidade, apesar disso também envolver bastante a opinião pessoal, eu não vejo o Heat como tão mais pesado que o Rallyman GT. Eu acho que os dois são bem equivalentes nesse quesito, e ambos são jogos leves, agradáveis, familiares e um tanto o quanto fáceis de jogar. No BGG, inclusive o peso do Rallyman GT (2.21) é ligeiramente acima do peso do Heat: Pedal to the Metal (2.19).
A principal diferença que eu vejo entre os dois é o preço, e aí a disparidade é realmente muito grande. No Mercado de Usados do Ludopedia se consegue comprar o Rallyman GT por algo em torno de 200 reais. Já o Heat, que esgotou rapidamente e nem se encontra mais para comprar, foi lançado por 500 reais, e com a escassez, certamente dentro em breve aparecerão cópias usadas custando entre 700 e 800 reais. Nesse aspecto, o Rallyman GT é uma ótima alternativa para quem gostaria de ter comprado o Heat, mas não conseguiu ou não teve dinheiro suficiente, porque o preço do segundo veio realmente muito alto.
Porém, também não se pode deixar de notar a enorme disparidade de posições no ranking do BGG. Tudo bem que Heat é o “último melhor jogo de todos os tempos da semana”, com o HYPE e o FOMO nas alturas. Mas mesmo assim, e com tudo isso, o Heat ocupa a posição #40 no ranking geral e #4 no ranking de jogos familiares. Já o Rallyman GT ocupa a posição #1.182 no ranking geral e #288 no ranking família. Nem todo o hype do mundo seria capaz de justificar uma disparidade desse tamanho. Acresce também que ranking não é a única medida se um jogo é melhor que outro ou não. Mas além de ser a percepção geral de milhares de pessoas que curtem board games ao redor do mundo, o ranking também é uma medida
No fim, mais uma vez na minha humilde opinião, apesar das eventuais diferenças, ambos são ótimos jogos de corrida e a qualquer pessoa ficará muito bem servida tanto com um, quanto com o outro.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
muito interessante o texto… eu vi Ford vs Ferrari e apesar do maniqueismo da producao (que é americana), o filme é ótimo e por ser um caso “veridico” é ainda mais tocante o que ocorre com o piloto americano, e o eterno Batman esta incrivel no papel, recomendo muito
Caro Jebediah
Muito obrigado e que bom que você achou interessante.
Quanto ao filme, é preciso lembrar que trata-se de uma adaptação. E sendo um filme norte-americano alguma coisas já são esperadas, e em alguns casos para curtir realmente o filme é necessário ligar o modo “suspensão de descrença”.
A cena do “passeio selvagem” do Shelby com o Henry Ford III, por exemplo, apesar de muito jamais aconteceu na realidade, e foi incluída apenas para incluir drama na história. Além de ser totalmente improvável que o proprietário e CEO de uma empresa do tamanho da Ford entrasse em um carro de corrida (é preciso lembrar que nos anos 60, carros de corrida eram muito mais perigosos e mortíferos do que hoje em dia), mesmo que isso acontecesse, haveria todo um aparato de segurança. Nem o próprio Shelby entraria em um protótipo sem no mínimo um capacete.
Do mesmo modo, é preciso lembrar que não foram apenas o Shelby e o Miles (e aqui cabe um pequeno esclarecimento porque o personagem do Christian Bale era britânico), mas sim toda uma equipe dos melhores engenheiros de carros da época que o Ford contratou para vencer o Ferrari de Le Mans. A humilhação pública envolvendo a recusa no processo de aquisição da montadora italiana, pela gigante norte-americana foi bastante real, e o Ford queria vencer a qualquer custo, para recuperar ao menos um pouco da dignidade afrontada.
É preciso ter em mente também que havia muito dinheiro envolvido, porque que a Ford tinha perdido muito espaço entre os jovens, que não compravam mais carros da marca, por acharem que ela era “coisa de pais de família e aposentados”. Por isso a disputa Ford e Ferrari teve também um aspecto econômico muito forte, e não uma mero capricho de um magnata milionário como ficou parecendo no filme. Como a Ford não conseguiu comprar a Ferrari só restava a ela tentar vencer a rival, na corrida de mais prestígio da época.
Do mesmo modo, a forma como o Leo BeeBee foi retratado ficou muito fora da realidade. Ele não foi de forma alguma o vilão que queria sabotar o Shelby e o Miles, e acabar com o sonho de um carro de corrida da Ford. Ele foi nada mais nada menos um homem de negócios absolutamente comum, igual a milhares de outros que transitavam ao redor do Henry Ford III. Mas é aquilo, Hollywood reza por uma cartilha que dificilmente é abandonada em seus filmes, ou seja, sempre tem de haver um protagonista e um vilão, bem como doses cavalares de drama, mesmo que se tenha de inventar alguma coisa, para a história ficar mais legal. Mesmo que o filme seja baseado em fatos reais.
Quem leu o livro do Chesley Sully Sullenberger ou do Tony Mendez sabe muito bem que tanto o incidente na aterrisagem no Rio Hudson, quanto a retirada dos diplomatas americanos do Irã em 1979, foram muito menos dramáticas e menos aventureiras do que o que foi retratado nos filmes.
Por fim, é preciso lembrar também que as pessoas não assistem filmes querendo um retrato fiel das histórias, mas sim uma versão adaptada, com romance, drama, aventura, emoção e é claro, um bom vilão para dar um tempero a mais. Se não fosse assim, em se tratando de um história real, as pessoas assistiriam documentários e não filmes.
Um abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio