Tully_psoter Crítica: TullyTully

Diretor:  Jason Reitman

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Elenco:  Charlize Theron, Mackenzie Davis, Mark Duplass, Elaine Tan e Ron Livingston

O diretor Jason Reitman possui em sua filmografia obras que não passam despercebidas por manterem sempre uma atmosfera dramaticamente leve, mas sem necessariamente perder força em sua denúncia como pano fundo para análises de indivíduos comuns e seus pontos de vista; assim, suas obras são capazes de manterem uma chama para o tema que pretendem abraçar depois de assisti-los. Seja o mundo corporativo do tabaco em Obrigado por Fumar, a crise do desemprego em Amor sem Escalas (o melhor dele até o momento) e a tecnologia na sociedade atual visto no regular Homens, Mulheres e Filhos.

Repetindo novamente a parceira com a roteirista Diablo Cody (Juno e Jovens Adultos), Tully expõe alguns dos dilemas, dores e conflitos da gravidez que atingem várias etapas das experiências do universo feminino que soam quase como relatos pessoais da própria Diablo. Nada que não tenhamos visto anteriormente nas duas parcerias com Reitman; inclusive, Tully soa por momentos, uma longa ao mesmo tempo sem tanto humor, mas ainda sim otimista e capaz criar um sentindo de análise dos dramas da protagonista (inclusive, podendo servir simbolicamente com uma espécie de capítulo final dos próprios Juno e Jovens Adultos). Tanto que a fotografia de Eric Steelberg trabalha quase o tempo todo com cores quentes e bem iluminadas que engrandecem atmosfera de amor de Marlo (Theron) por seus filhos; como podemos comprovar logo na delicada cena inicial em que ela massageia o caçula ou na festa da filha mais velha onde predomina a luz e as cores mais delicadas como o rosa servindo como uma espécie de redenção para a protagonista.

O peso para Marlo estar grávida do terceiro filho, acaba criando certa aura romântica para o restante da sociedade que volta e meio solta um “Você está radiante” e “Sortuda”, mas que no fundo ela sente-se um lixo, onde sua libido é saciada vendo reality shows de garotos de programa para casadas). E por último, mas não deixando de ser o mais importante, um dos filhos possui um nível de autismo e a escola onde estuda não consegue ser capaz de atendê-lo de maneira eficiente e sobrecarregando ainda mais sua vida (ademais, é interessante que a direção insira alguns pontos de discussão da sociedade atual, como o fato de alguns pais atuais acabam terceirizando a criação dos filhos; como visto na cena em que os sobrinhos de Marlo comem separados dos pais em conjunto com uma babá).

Marlo é uma mulher que, com o tempo, e de maneira desanimadora admite que as mulheres “não se curam de seu passado, apenas são corrigidas”. Tanto que, para isso, a direção exemplifica bem o esgotamento psicológico através de planos e cortes rápidos simbolizando a exaustão de Marlo passando a noite trocando fralda, se levantando de madrugada para dar de mamar para filho e acordando exaurida. Assim, um elogio a interpretação de Charlize Theron não é mais que esperado para uma atriz que jamais decepciona; transformando sua protagonista numa mulher direta, sem cerimônias ao pedir ajudar financeira ao irmão e transitando entre o cansaço, cinismo, o sarcasmo e resiliência que somente uma mulher em sua condição poderia entender. Principalmente quando mais precisa da ajuda para criar o recém nascido e  ter literalmente um tempo para respirar, pouco obtém ajuda do marido Drew (Livingston) que, mesmo que o longa o trate com simpatia, ainda chegamos a ter certo desprezo pelo falta sensibilidade dele com a esposa, por Marlo estar completamente exausta e ter ainda que ouvir indiretas sobre a qualidade do jantar quando o marido chega em casa.

Mas, a partir do momento em que o irmão de Marlo,Craig (Duplass), a aconselha a contratar uma babá noturna para ter mais tempo livre para descansar, as coisas começam a mudar. E neste relacionamento com a cuidadora que a obra ganha em carisma e empatia. Surgindo na pele da ótima Mackenzie Davis que imprime doçura, vitalidade e inteligência; a personagem título é uma versão jovial de Marlo – tanto psicologicamente quanto fisicamente -, mas ainda com certa dose de melancolia por sabermos que ainda sim, sua personalidade contagiante e segura esconde uma série de medos e dúvidas sobre seu futuro. Ademais, o filme tem um tom por vezes juvenil devido a certas alegorias fantasiosas; como o fato da figura de uma sereia ser vista com um expurgo adolescente de sua mente personificada na presença de jovem que remete claramente a uma espécie de Mary Poppins moderna. Portanto, neste conflito de gerações, o roteiro abre espaço paras o debate sobre juventude, oportunidades desperdiçadas, amores perdidos e todos aquelas lembranças bem característica da roteirista; onde estas duas mulheres encontrarão na afinidade uma maneira de seguir em frente, e deixar o passado definitivamente para trás!

Entretanto, algumas decisões do roteiro se mostram pouco desnecessárias, como o fato da virada que a estória apresenta sobre a origem de Tully ; uma vez que é mais que óbvio a “ligação” entre a jovem e Marlo, pois seria muito mais delicado e eficiente que tal conclusão (já intrínseca) fosse feita sozinha pelo público – algo que o próprio cartaz deixa subentendido. E sendo a roteirista conhecedora dos conflitos do universo feminino, acaba que por momentos criando um peso maior para as mulheres: seria mesmo o fato de uma jornada de autodescobrimento – e a contratação de uma babá – o suficiente para por em ordem sua vida familiar? Ou o fato de ter que buscar formas para atender as necessidades e desejos sexuais do marido que passa as noites jogando vídeo game ser o ideal? Mas ratificando, que nada disso empobrece a narrativa e o poder de identificação da obra.

Portanto, Tully talvez não seja um filme completo sobre os dilemas apresentando, mas é eficiente e agradável em moldar os conflitos em sua abordagem de uma mulher em busca de uma direção. Até porque, a obra pede nossa empatia sobre a força que as mulheres precisar emanar e consequentemente a ajuda que precisam (como todos nós que fazemos parte de uma família precisamos) para jamais se sentirem sozinhas.

Nota 3/5

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Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a historia ou acharem que cinema começou nos anos 2000. De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

1 thought on “Crítica: Tully

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