Direção: James Wan

Elenco: Jason Momoa, Amber Heard, Willem Dafoe, Patrick Wilson, Dolph Lundgren, Yahya Abdul-Mateen II, Temuera Morrison, Ludi Lin e Nicole Kidman

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Nota 3/5

Dentro do universo estabelecido por Homem de Aço, Batman Vs Superman, Mulher Maravilha e  Liga da Justiça, este Aquaman de James Wan, contando a origem – mesmo que  o personagem tenha surgido anteriormente em Liga da Justiça – de um dos personagens clássicos  do universo de super-heróis, jamais tem vergonha em assumir suas influências e excessos (para o bem ou para o mal), o que o torna completamente destoante dos outros filmes da DC, narrativamente falando. Uma ode carnavalesca inspirada em Star Wars, Senhor dos Anéis, Indiana Jones e até com ecos de Blade Runner, pitadas de Karatê Kid (!), Julio Verne, a lenda de Excalibur (Arthur, Excalibur, Rei… entenderam?) e doses shakespearianas no roteiro, devido ao conflito entre irmãos (como visto em Thor, por exemplo, que provavelmente foi umas das “fontes” narrativas deste longa, devido ao filme Ragnarok). Claro que esta salada em conjunto com a direção bem irregular e pouco sutil de Wan, em diversos momentos, e em conjunto com um roteiro capenga e preguiçoso não poderia dar certo em sua plenitude – e não dá – mesmo que seja bem vindo que o longa tenha momentos que criatividade visual e prenda a atenção na maioria de suas sequências de ação.

Arthur Curry (Jason Momoa, que mesmo não mostrando tantos recursos dramáticos, tem carisma, ratificando o encaixe perfeito para o papel com visual desleixado, bruto e à margem da sociedade), nascido do relacionamento entre um humano (Temuera Morrison) e a rainha Atlanna (Kidman, subaproveitada), precisa assumir o trono dos reinos aquáticos antes que seu irmão Rei Orm (Patrick Wilson, sempre um bom ator, mas aqui, caricato), una todos os exércitos marinhos e declare guerra aos humanos em conjunto com Rei Nereus (Lundgren, com uma bela barba ruiva) devido a poluição criada pelo homem – um subtexto pouco aproveitado, mas ainda assim bem-vindo. Contando com a ajuda de Vulko (DaFoe) e de Mera (Amber Heard, com uma vultosa e indefectível peruca vermelha, se mostrando forte ao assumir as ações, mas cujo o roteiro a transforma no final apenas na “mocinha a ser disputada” pelos outros protagonistas), Arthur precisa encontrar um poderoso tridente para reivindicar o trono e evitar a guerra! Ao mesmo tempo em que o vilão Mantra (Mateen II) busca sua vingança contra o herói. Bem, como dito no início do texto, tamanha mistura não poderia soar algo coeso sem prejudicar o andamento da história e durante boa parte do filme é nítida que a montagem tem o trabalho prejudicado devido a maioria das frentes, que não evoluem entre as sequências de ação e a narrativa do diretor.

Tanto que a partir de seus segundos iniciais somos apresentados ao filme em cenas com a trilha lá em cima, e não estamos falando necessariamente do recurso de in media res (jogando o espectador direto na ação), mas momentos que demonstram inquietação e pressa, que não permitem sentir algo. Assim, quando o filme assume sua versão (desculpem, mas não resisti) de Splash – Uma Sereia em minha Vida, e a obra precisa criar a identificação com o envolvimento entre o pai de Arthur e Atlanna, acaba falhando por (ratificando) não permitir alguma emoção verdadeira (fora uma maquiagem e visual digital sem vida e expositiva); e até a cena de luta protagonizada por Kidman, por mais que se tentasse criar uma sequência sem cortes  e movimentação de câmera menos convencional (o que é sempre bem vindo e elogiável), acaba incomodando pelo excesso.

Aliás, esta tentativa de agilizar a narrativa através dessas cenas de ação em um gênero em que o quesito edição sempre é problemático pela falta de timming, acaba soando bagunçado como podemos comprovar na sequência ocorrida dentro de um submarino; onde em uma mesma cena de luta o diretor movimenta a câmera para tudo que é lado, de maneira acelerada e até usando uma inexplicável câmera subjetiva. Isso sem mencionar que em determinado momento, um personagem que tem seus movimentos prejudicados por estar com parte do corpo submerso, ainda vê o uso de uma câmera lenta sem necessidade, ou o fato de se usar travelling apenas para movimentar a câmera – assim como também a necessidade de closes em personagens olhando de baixo para cima (algo bem artificial e irritante) e em alguns diálogos entre Vulko e o jovem Aquaman, somente para mostrar a maquiagem digital que rejuvenesce o personagem de DeFoe.

O roteiro de  David Leslie Johnson-McGoldrick e Will Beall infelizmente não faz o mínimo de esforço para tentar fugir de situações óbvias e clichês dos mais absurdos, principalmente aqueles que envolvem a dinâmica e tensão entre Aquaman e Mera. A sequência em que o casal se encontra na Itália é tão vergonhosa que fiquei com a sensação de uma live action de Shrek e Fiona (sendo que na animação, tal contexto cômico é assumido e contextualizado), principalmente no momento forçado do roteiro que uma criança surge do nada para entregar um livro que ”coincidentemente” faz referência a uma situação que Aquaman disse anteriormente sobre como chegaram ao local. Ademais, este mesmo humor irregular mostra que o diretor não tem a sensibilidade para executá-lo, uma vez que sempre que ocorre, já sabemos o que vai acontecer segundos antes – pela aquela pausa característica antes da gag acontecer, não ser tão sutil como deveria (com exceção talvez da piada ocorrida no bar envolvendo uma selfie).

Contudo, o design de produção de Bill Brzeski é realmente o grande destaque do filme ao conceber um atmosfera aquática, fantástica e diversificada. Lembra daquela versão clássica do Aquaman montado em cima de um cavalo marinho? Então, aqui os realizadores mantêm a ideia, mas expandido para um contexto mais “real” onde criaturas marinhas como tubarões são ornamentadas como montarias para as batalhas subaquáticas. Ademais, o visual de Atlântida traz elementos futuristas de uma megalópole com grandes construções, veículos e tráfegos infinitamente mais elaboradas, como fosse uma Coruscant submersa; elogiável também ao transformar alguns lugares do fundo do mar como um planeta inóspito e desconhecido como visto nas criaturas do fosso, cujo visual remete diretamente a uma fábula de terror, encadeando o melhor plano do filme quando os seres estão no encalços do protagonista carregando um sinalizador, em contraste com a escuridão do abismo. Assim como é interessante que parte da ação seja realizada a partir de um contraste como o fato de que Aquaman e Mera partam em busca do tal tridente em uma ambiente desértico antes de fazer a transição para o terceiro ato, ocorrido obviamente no oceano.

(Queria comentar rapidamente a questão de uma das resoluções da direção com o fato dos personagens falarem embaixo d’água. Claro que o poder da descrença em filmes assim deve ser elevado, mas a solução de criar vácuos para os personagens lutarem seria bem vindo se aplicado em todo filme; uma vez que vendo personagens agindo – e falando – como se estivessem em terra firme soa estranho. Não digo nem nas batalhas com bolhas de fogo embaixo d’água – em Star Wars o som se propaga no espaço e há explosões, fora que existem vulcões no fundo dos oceanos; mas enfim, talvez com o tempo, isso se torne mais natural e menos incômodo!)

Retomando, felizmente ainda assim as batalhas não se tornam mal ajambradas, como poderia acontecer com problemas de mise-en-scene e visual poluído, e as inspirações das sagas criadas por George Lucas e Peter Jackson ajudam, fazendo jus a uma produção deste porte; como podemos confirmar no clímax, que mesmo como muitos elementos em tela ainda conseguimos desfrutar da imponência dos efeitos, remetendo às batalhas diretamente vinda da Terra Média. Ademais, a mesma trilha sonora que normalmente sempre é usada sem parcimônia, aqui é interessante que em alguns momentos de uma batalha espacial (perdão, aquática) assume uma aura dos anos 80 devido ao som típico do jogos eletrônicos da época – algo tematicamente visto, por exemplo, em Os Guardiões Da Galáxia Vol. 2 .  E tais influências (culturais, no caso) também são vistas no próprio figurino, como o fato de Vulko claramente ter um conotação oriental (como um coque típico) devido a sua aura de mestre; assim como os soldados seguirem a mesma lógica ao se apresentarem com samurais vermelhos high tech que se impõem pela presença, por serem mais fortes que os soldados comuns (algo que não funciona, por exemplo, no visual de Mera, quando vestida de noiva que incomoda não pelas cores, mas pela artificialidade, apesar de bonito pela plasticidade), assim como o aparência do vilão Mantra não destoa do restante apesar de um capacete de gafanhoto (algo assim), mas que se mostra fiel às origens do personagem nos desenhos animados (caso minha memória não falhe).

Enfim, Aquaman aproveita a oportunidade em cumprir seu papel, não que seja algo difícil para uma produção deste porte e todos os recursos disponíveis (independente se bem usados ou não), mas ainda assim acredito ser o suficiente para fazer com que o personagem tenha alguma base mitológica e sem ficar sempre como coadjuvante para futuras continuações.

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FB_IMG_1634308426192-120x120 Crítica: Aquaman

Rodrigo Rodrigues

Eu gosto de Cinema e todas suas vertentes! Mas não aceito que tentem rescrever a história ou acharem que Cinema começou nos anos 2000! De resto ainda tentando descobrir o que estou fazendo aqui!

2 thoughts on “Crítica: Aquaman

  1. Mais um filme mediano, que a turminha leitora de quadrinhos vai endeusar seja pelo faturamento nas bilheterias seja pq o filme é da editora preferida deles. No fim é uma aventurinha mais ou menos, muitas cenas de ação em sequencia e quase sem historia no meio delas. Momoa com muita presença, muito carisma, mas sem uma atuação de primeira, preferindo fazer poses e dar gritinhos cool para parecer um personagem descolado. Mera tenta, mas tb nao consegue ser muito boa personagem, apesar da boa atriz Amber. Excelente ator, quase cai no cartunesco com o vilao Orm, quase… ja o Arraia Negra, bom visual, pessima historia, alias nao da pra entender pq os atlantes “contratam” ele pra matar o Aquaman, ao inves de mandar alguem deles mesmo… vai entender esses roteiros né

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