Julgando os atletas como a si mesmo
Muito comum no Brasil – apesar de ocorrer também em alguns outros países, o desdém com nossos esportistas, quando não conseguem obter o sucesso que deles se espera, é um exercício curioso de julgar terceiros de forma muito mais criteriosa e implacável com que se julga a si mesmo.
Rubinho Barrichello, motivo de piada em nosso país, mesmo tendo sido o piloto que mais corridas fez na principal categoria do automobilismo mundial (onde ninguém sequer chega se não for muito bom de braço), e duas vezes vice-campeão mundial, é o maior exemplo desse comportamento, que também vitima nadadores, judocas, tenistas, ginastas, jogadores de vôlei, basquete, futebol, etc… praticamente nenhuma modalidade escapa da ira dos “especialistas de sofá”, que são excelentes em apontar o dedo para um determinado atleta e dizer: “É um lixo!”.
Mas quem são esses julgadores? Será que são tão bons no que fazem que podem dizer que alguém que não é campeão mundial ou medalhista olímpico não vale nada? O médico que achincalha o Felipe Massa, é considerado o melhor do mundo em sua especialidade? Ou pelo menos o segundo melhor do mundo, como o piloto foi? O comerciante que adora dizer que Robinho é uma porcaria porque nunca conseguiu ser o maior do planeta como queria (mesmo tendo jogado no Santos, no Real Madrid, no Milan e na Seleção Brasileira), é dono do melhor comércio do mundo em seu ramo? Do Brasil, então? Da sua cidade, pelo menos? O autônomo que tira sarro do tenista Thomaz Bellucci, já conquistou quantos prêmios internacionais em sua área de atuação? E o funcionário daquele escritório, que criticou de forma massacrante a Fabiana Murer e sua falha na Olimpíada… quantas comendas nacionais ou estaduais já recebeu pelo bom desempenho de sua profissão?
É evidente que o esporte não deve ser levado a sério em nível máximo, que críticas podem ser feitas, e que a “tiração de sarro” faz parte, mas também ocorre que muita gente passa do ponto na hora de julgar os atletas pelas conquistas de suas carreiras. Eles são pessoas, tão humanas quanto nós, sujeitos às mesmas fraquezas e erros no desempenho de sua profissão, e ainda por cima enfrentando, diariamente, os melhores do mundo em sua especialidade, e não são obrigados a vencer sempre, ou a vencer os maiores do planeta, para serem bons no que fazem. Muito bons.
Publicado originalmente na edição 1981 de 21/22 de fevereiro de 2015 do Jornal A Cidade
Foto: extra.globo.com
Ralph Luiz Solera
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