Festival do Rio – 4° Parte (críticas)
Caros amigos, segue ( admito com certo atraso) a última parte das críticas de alguns filmes do Festival do Rio 2016. Infelizmente acabou e agora teremos que esperar 2017 para um novo festival e matar a saudade.
Neste ano assisti uma boa quantidade de filmes (menos do que eu queria) mas que deu oportunidade para conhecer filmes e temáticas diferentes, assim como assuntos que pouco conhecia. Este , repito, é o grande mote de um festival de cinema. Assisti filmes ruins? Sim. Bons? Com certeza. Mas aprendemos com qualquer tipo de filme, bons ou ruins. A experiência sempre será inesquecível.
A terra dos fantasmas vista pelos Bushmen
Direção: Simon Stadler
O documentário do diretor Simon Stadler mostra basicamente como uma cultura de um povo aos poucos vai sendo absorvida pela sociedade moderna quando, por fatores externos, mudam suas rotinas milenares. No caso deste A terra dos fantasmas vista pelos Bushmen depois de proibidos de caçar, os Bushmen são obrigados a posarem como atração turística para os brancos em troca de alguns trocados para se não morrerem de fome.
Entretanto, o mote principal deste filme é justamente o choque cultural que o documentário oferece quando alguns nativos, através de uma ONG, saem em viagem a Europa e o conflito e surpresa ( e no fundo uma crítica ao nosso modo de viver) acabam por tornar um belo estudo antropológico. Aqui abre também uma discussão se o fato de levarem essas pessoas a uma nova cultura não estaria acelerando sua própria extinção.
As andanças pelas capitais europeias soam como estivessem em contato com nossos antepassados (certa maneiras estamos) e ao vermos a visão deles sobre a sociedade atual é algo fascinante (e crítico). Ao mesmo tempo que eles veem tudo como uma riqueza (a ponto de cobiçá-la), os alemães como um povo de pessoas grandes e fantasmagóricos, os Bushmen jamais deixam de encarar estas diferenças de maneira crítica e alegre. Eles encaram tudo aquilo como uma experiência de vida, mas a necessidade de estar de volta para suas raízes sempre é colocada em evidência.
As opiniões deles são contundentemente simples , como o fato de reservarmos pouco tempo para conversamos como nossos semelhantes, na preocupação de ter mais do que podemos , nossa vida moderna sempre apressada, onde estamos sempre cansados. Neste contexto o documentário apresenta situações interessantes como quando levados ao um restaurante, ainda na Namíbia, os Bushmen são o centro das atenções com suas poucas vestimentas e a reação ao provarem pela primeira vez refrigerante.
Mas antes de tudo devemos lembrar que os próprios nativos não são totalmente aquele estereótipo que estamos acostumados. Eles querem caçar e comer carnes fresca e sangrenta vendo apenas uma girafa? sim. Comem com a mão e andam na tribo praticamente nus? sim. Mas também são pessoas normais em comportamento social, assim eles riem deles mesmos, fazem piadas sobre matrimônios como todos nós faríamos na nossa sociedade. Um filme que consegue manter nossa curiosidade e atenção da mudança acontecendo bem na nossa frente.
Cotação 3/5
Massimo Bottura: teatro da vida
Direção: Peter Svatek
Durante o Rio 2016 o premiado chef italiano Massimo Bottura inaugurou um restaurante na Lapa do seu projeto Gastroemotiva, onde aproveita alimentos que seriam descartados para realizar refeições para população desabrigada, refugiados, ex-viciados, prostitutas ou qualquer pessoa que precisa de um boa refeição feita pelo os melhores chefes de cada país (com muitos pratos a base de pão , o que fortalece o simbolismo) . Pessoas que sentam à mesa, se sentem um pouco incluídos e menos invisíveis para a sociedade ao comer pratos que custariam um alto preço nos restaurantes mundo afora.
O projeto em si é de grande valia e interesse, entretanto, o documentário apresenta uma narrativa cansativa ao tentar equilibrar as ações dos chefes com as histórias de pessoas que sofreram com abusos e violência em seu países. Tal equilíbrio é comprometido mais no terceiro ato por apresentar os vários restaurantes ao redor do mundo , inclusive praticamente passando batido pelo restaurante inaugurado no Rio durante as Olimpíadas.
Claro que estes relatos são fundamentais para o documentário, mas infelizmente o diretor enfraquece sua obra por não aprofundar outras questão principal: o que o mundo está fazendo para combater esse desperdício? Assim , devido a esta falta de aprofundamento e como realçado por um refugiado, estas pessoas parecem que são usadas pelo projeto como propaganda e não para discutir um assunto de extrema importância para o futuro da humanidade.
Importante em seu contexto social mas incompleta em sua abordagem, este Massimo Bottura não consegue alcançar um debate diante dos fatos, mas ainda sim não podemos negar a necessidade de reflexão.
Cotação 3/5
Direção: Kevin Smith
Elenco: Lily-Rose Depp, Harley Quinn Smith, Adam Brody, Jack Depp, Tyler Posey, Austin Butler, Jennifer Schwalbach Smith e Johnny Depp
Kevin Smith deve ser achar muito bom no que faz e um porta voz de uma juventude ( tendo ele 46 anos) que ele trata como idiota. Jovens que passam o tempo todo a beira do celular onde sua preocupação seja exclusivamente festas. Claro que isso é comum, mas aqui chega a beira da babaquice , recheado de personagens que não passam de uma caricatura fabulesca – um deles o próprio Johnny Deep quase irreconhecível pela maquiagem.
Este Yoga Hosers é absurdo em sua narrativa que demonstra que o diretor parece desconhecer qualquer regra cinematográfica ao criar situações que não possuem qualquer ligação (que não seja para TENTAR causar riso) ou “efeitos especiais” de 5° categoria e enquadramentos que não fazem o menor sentido dentro da narrativa, como podemos constatar nas cenas ocorridas no “clímax” do filme em que o diretor abusa de ângulos holandeses usados sem qualquer sutileza- como apenas quisesse dizer : “olha como sou um bom diretor , eu sei fazer isso!”.
Confundido humor com repulsivo, Kevin Smith acha que uma gag física envolvendo menstruação seja o suficiente para causar gargalhadas. O roteiro ainda tenta criar referências com áreas inerente ao seu mundo como quadrinhos (ditas umas das especialidades dele) e referências a filmes como 12 anos de escravidão (obviamente para um piada de cunha racial), Sexta Feira 13…
É interessante , como jogasse para determinado público, o “diretor” tentar alfinetar os críticos cinematográficos que sempre entram em conflito com os fãs de quadrinhos por ”implicância” com filmes do gênero, como eles fossem culpados pela qualidade de obras como esta. A trama? Bem, duas garotas que trabalham numa loja de conveniência, devem lutar contra a invasão de miniaturas de homens salsichas (com fisionomias de Hitler) vindo do “inferno”, que se apoderam do corpo alheio entrando pelo ânus a mando de um cientista nazista congelado desde a segunda guerra e que faz imitações de astros de Hollywood. Sério.
Cotação 1/5
The Beatles: Eight Days a Week – The Touring Years
Direção: Ron Howard
Depois de 45 anos do fim da banda, seria este The Beatles: Eight Days a Week – The Touring Years relevante ao mostrar o surgimento da banda, seu sucesso e histerias das fãs? A resposta é que os Beatles sempre são relevantes a ponto de serem comparados, pela quantidade e qualidade, a Mozart. Principalmente para as novas gerações que conhecem com detalhes os pensamentos daqueles garotos de Liverpool que mudaram o cenário musical para sempre.
Como o fato da banda, devido ao fato que se apresentar em teatros para 5000 seria algo irracional, inaugurou turnês em grandes estádios (estes completamente despreparados tecnicamente ao ponto da banda sequer conseguir ouvir um ao outro).
O documentário abrande em sua maior parte o período do surgimento da banda até seu ultimo show ao vivo realizado em 1966 de maneira bem linear e sem grandes saltos apoiado em fartos e interessantes registros, como uma apresentação nas Filipinas.
Durante este período, vamos conhecendo e acompanhando todas as mudanças na personalidade do quarteto que inicialmente se mostravam sempre com brincadeiras até seu esgotamento mental, físico e pessoal devido à pressão que o mundo da musica faz (assim é interessante saber que durante a saída de um show, escondidos num carro frigorífico, os nervos estavam tão à flor da pele que ali mesmo decidiram por o fim as apresentações ao vivo da banda). O documentário não se esquece de inserir o contexto dos anos 60 e com o grupo se encaixava naquela década que mudou o mundo.
Não excluindo as polemica com a famosa frase de Lennon dizendo que o grupo era mais conhecido que Jesus (o que obrigou o compositor pedir desculpa mesmo ciente que tudo foi tirado do contexto), o diretor Ron Howard peca talvez por tentar criar uma imagem de final feliz para a banda quando, depois de apressar a narrativa durante o período de 1967 a 1971, exibe o famoso (e derradeiro) apresentação nos telhados da Apple em 1969, onde os integrantes sequer se falavam. Mas mesmo que tivessem em conflitos internos sem volta, mas no auge como artistas estamos cientes que aqueles garotos, ainda se amavam e nutriam um respeito entre eles que mesmo com as divergências (inerente a vida de todos) não deixaram de ser a maior banda de todos os tempos.
Nota 4/5
Rodrigo Rodrigues
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