Festival do Rio – 3° Parte (críticas)
Caros amigos, seguem mais duas críticas curtas sobe dois longas que assisti no Festival do Rio 2016. Para minha alegria foram dois filme muitos bons , tanto o jovial Tramps quanto o melancólico e belíssimo AfterImage que acabou sendo o último filme do diretor Andrzej Wajda. São momentos como estes que um festival vale a pena, pois você não tem qualquer perspectiva do que verá e quando o filme agrada a experiência se torna ainda mais impactante.
Direção: Adam Leon
Elenco : Calum Turner, Grace Van Patten, Mike Birbiglia, Margaret Colin
Tramps foi outra agradável surpresa dentro do Festival do Rio 2016. Com uma história simples, uma direção competente e um casal de protagonistas bem entrosados dão ao público um agradável longa mistura de comédia de erros e um romance que remetem um pouco as produções dos anos 80.
Danny precisa substituir seu irmão mais velho numa entrega de uma mercadoria que não sabemos do que se trata. Depois de um pequeno desencontro, a transação não sai exatamente com Danny previa e se envolve com a jovem Ellie para desfazer seu erro. O longa causa aquela sensação nos expectadores que, mesmo ciente que determinada situação não terminará como planejado, não deixamos de identificarmos com a situações dos personagens e somos levados pela situações. Para ajudar na ambientalização, a fotografia aposta também em mostrar os cotidianos das cidades em que se passam as cenas incrementando por uma boa trilha sonora para engrandecer as cenas como Soul, Funk e Folk.
Outro grande mérito do filme é a questão da imprevisibilidade e o diálogo ágil principalmente vindo da bela atriz Grace Van Patten. O casal formado com o simpático Callum Turner é bem construído e o mérito do roteiro em fornecer apenas o suficiente para entendermos suas motivações dentro da história engrandece suas premissas (ela andando de cidade em cidade e ele um rapaz de descendência polonesa sem futuro que não seja de aventurar pelo mundo)
Mesmo que no seu terceiro ato tende a estabelecer mais um estilo romântico ( o que poderia enfraquecer a personagem feminina), a direção está ciente que poderia por tudo a perder e não exagera na dose e acaba deixando o público com uma agradável sensação. Enfim, um filme que me agradou e espero que possa entrar no circuito comercial.
Cotação 4/5
Direção: Andrzej Wajda
Elenco : BOGUSLAW LINDA, BRONISLAWA ZAMACHOWSKA, ZOFIA WICHLACZ
Infelizmente a coincidência falou mais alto e este foi o último filme do mestre ANDRZEJ WAJDA que faleceu na semana anterior a exibição deste fabuloso AfterImage, que trata sobre a repreensão artística e pessoal que o pintor Wladyslaw Strzeminsk sofreu do governo de Stalin pós segunda guerra.
O filme não é somente um retrato sobre a deterioração de um artista influente, mas um sopro crítico em prol da necessidade da arte jamais ser usada em prol a uma ideologia. Ou como disse o próprio protagonista, “A arte deve ser reconhecida não pelo utilitarismo, mas pela sua superioridade”. Isso não significa ser apolítica, jamais. A arte deve servir sempre ao povo, não aos governantes.
Para isso é brilhante vermos o desenvolvimento do longa baseado no vida e obra do pintor polonês (russo de nascença) que mesmo amputado de uma perna e braço jamais desistiu de sua genialidade. Assim não ficamos indiferentes ao seu declínio causado pela perseguição do governo, que tirou sistematicamente suas forças pessoais e profissionais ao ponto de não ter um vale para comprar comida ou autorização para exercer a pintura. Onde tudo isso acaba piorando seu relacionamento com sua filha, a ótima BRONISLAWA ZAMACHOWSKA numa atuação madura ao demonstrar , mesmo que inutilmente , algum apreço ou sentimento que não seja um respeito misturando com um pouco de rancor do relacionamento dela com a mãe da menina.
Andrzej Wajda não desperdiça uma cena sequer para fortalecer a construção do personagem; para isso a belíssima fotografia de Pawel Edelman é praticamente toda cinzenta que engrandece todo aquele cenário em que a polônia atravessava. Assim é interessantemente lógico que a única cena em que a cores vivas (e vida) se sobressaiam seja logo na cena de abertura quando vemos o protagonista ensinando seu alunos no meio a natureza para logo em seguida cairmos nas cores dessaturadas que marcaram todo o restante do longa (com destaque para as cenas em que o vermelho e estrategicamente inserido, como visto no figurino da filha tendo ao fundo uma locomotiva também com toques vermelhos).
Terminando de maneira melancólica, AfterImage é uma obra irrepreensível de um diretor que soube como poucos usar sua genialidade em prol da arte sem deixar de expor sua convicções ideológicas.
Cotação 5/5
Rodrigo Rodrigues
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